Blog do Flavio Gomes
F-1

NO RÁDIO

RIO (legal, bem legal) – O Pedro Araújo me mandou o vídeo acima com a íntegra do GP da Alemanha de 2000, primeira vitória de Barrichello na F-1 — que fez 20 anos semana passada. Foi colocado sobre as imagens o som da nossa transmissão pela Jovem Pan. Alguns detalhes legais merecem ser lembrados. O […]

RIO (legal, bem legal) – O Pedro Araújo me mandou o vídeo acima com a íntegra do GP da Alemanha de 2000, primeira vitória de Barrichello na F-1 — que fez 20 anos semana passada. Foi colocado sobre as imagens o som da nossa transmissão pela Jovem Pan. Alguns detalhes legais merecem ser lembrados. O Vander Luiz estava narrando a prova, com o afastamento temporário do Nilson César naquele ano — o amigo teve alguns problemas pessoais nos primeiros meses do ano. Eu não lembrava direito, mas nesse período eu fazia às vezes o papel de narrador, como se vê na largada. O Vander dava uma ancorada na transmissão e o Claudio Carsughi comentava. E assim seguiríamos até o Nilson poder narrar de novo.

Aos 47min do vídeo, momento chave da prova: a invasão da pista por um maluco que protestava contra a Mercedes-Benz — era um francês, ex-funcionário da empresa. A 1h20min, eu chamo o Vander e ele não responde. Tinha caído a linha dele nos estúdios da avenida Paulista. Eu percebo que tinha algo errado, toco o barco e de repente entra o Nilson para assumir a transmissão.

Reproduzo abaixo texto do Vander postado nos comentários do vídeo relatando o que aconteceu. Leiam, é bacana demais!

Além da primeira vitória de Rubens Barrichello, essa corrida tem uma passagem emocionante envolvendo a equipe de esportes da Jovem Pan e que explica o motivo de não ter narrado a bandeirada final. O Nilson César era o locutor titular da Fórmula 1 e no início de 2000 teve síndrome do pânico e ficou afastado do trabalho por um período. Felizmente ele superou o problema e aos poucos retornou às transmissões. Na sua ausência tive a honra de tentar substituí-lo na F-1. Narrei também vários jogos seguidos. É oportuno lembrar que foi o Nilson que me levou para a Jovem Pan em 1996. No GP da Alemanha, o Nilson estava na casa dele em Sorocaba e o seu Tuta (dono da Jovem Pan) combinou que ele faria algumas participações por telefone para que fosse pegando novamente o ritmo. A chamada embocadura. Foi aí que ocorreu um momento dos mais emocionantes. Aliás, dois momentos grande emoção. No comando da central técnica estava o Luiz Inaldo da Silva e a coordenaação da jornada era feita pelo repórter Fredy Júnior. Em certo momento, o Luiz Inaldo foi ao banheiro e o Arthur Figueroa ficou no seu lugar. Em uma das entradas do Nilson, o som do nosso estúdio (a gente não narrava do estúdio principal) perdeu a conexão com a central e não entrava no ar. Coisas do rádio. A gente dentro da rádio não conseguia entrar no ar. Tanto que o Flavio me chama e não respondo. Foi tudo muito rápido, como na F-1. O Rubinho perto da primeira vitória, o Fredy voando até o banheiro atrás do Inaldo e eu correndo para o estúdio principal. O Figueroa também foi muito rápido. Avisou o Nilson do problema técnico e falou que ele deveria assumir o comando da jornada e narrar a volta final. Já no estúdio e em condições de entrar no ar, não teria o mínimo sentido interromper a narração do Nilson. O momento era de torcer pelo Rubinho e pelo Nilson, os dois grandes vitoriosos daquele domingo histórico. Mas a história tem o capítulo final. Assim que tudo foi normalizado, voltei para o estúdio auxiliar ao lado do Carsughi. O Milton Neves já estava pronto para comandar o “Plantão de Domingo”, mas acho que a gente estendeu um pouco a jornada com as participações do Flavinho. Tudo era só alegria até que o Carlos Humberto Paulino, o Larinha (técnico de som), bateu no vidro com o telefone avisando que tinha uma ligação pra mim. Falei que não dava para atender. Estava no ar. Fiquei gelado quando o Larinha falou pausadamente e do outro lado do vidro. A leitura labial foi clara: “Atende que é o seu Tuta”. Caminhei até a central imaginando que vinha bronca. Acho que a central nunca foi tão distante, mas ainda não era o destino final. O Larinha falou que o seu Tuta tinha ligado em um telefone na redação. Foi outra longa caminhada, talvez mais longa que os quase 7 quilômetros do circuito de Hockenheim. Parece que todo mundo da redação estava olhando pra mim e que vinha uma gigantesca bronca. Pensei até em demissão. Afinal, o seu Tuta não era de ligar, muito menos para falar comigo. Falei, timidamente, “alô”. E ouvi a voz do seu Tuta acima do tom de costume dizendo mais ou menos isso: “Muito bom! O Rubinho ganhou e recuperamos o nosso locutor. Faz agora mesmo um texto para uma chamada com a volta final e coloca o máximo que vezes que puder!”. Foi um domingo histórico e não somente pela primeira vitória do Rubinho Barrichello.

O resto é história, como se diz. Depois disso, evento que a psicologia deve explicar como um gatilho emocional ou coisa do gênero, Nilson voltou a narrar com a competência de sempre e eu lembro que até chorei na sala de imprensa com a recuperação dele naquela situação. Sabia que estávamos vivendo um momento histórico — para a F-1, no Brasil, e para a rádio e o Nilson, em particular. Alguns colegas estrangeiros acharam que eu estava emocionado com a vitória de um compatriota, o que não era exatamente meu estilo. Mas explicar tudo aquilo para alguém, naquela hora, seria impossível. Então, que achassem o que quisessem.

Foi muito bom “rever” essa transmissão. E olha que eu não narrava mal, não!