Blog do Flavio Gomes
Diários de viagem

AVENTURAS EM 4 ARGOLAS

ZWICKAU (próxima parada…) – Meninos e meninas, eu vi. Vi todas as fábricas da Auto Union, vi onde nasceu a Audi, onde eram feitos os Wanderer e os Horch, vi a maior fábrica de motos do mundo, em Zschopau, de onde saiu a minha 72 anos atrás, vi a casa de August Horch, o museu […]

ZWICKAU (próxima parada…) – Meninos e meninas, eu vi. Vi todas as fábricas da Auto Union, vi onde nasceu a Audi, onde eram feitos os Wanderer e os Horch, vi a maior fábrica de motos do mundo, em Zschopau, de onde saiu a minha 72 anos atrás, vi a casa de August Horch, o museu que conta a história do automóvel em Zwickau, vi a Sachsenring, com o enorme S do capô dos Trabant na fachada, a fábrica vazia agora, sem uso algum, assim como o enorme prédio da administração da Auto Union em Chemnitz, que foi convertido em hospital pelo governo comunista e hoje também está vazio, e o cabeção de Marx, e as ruínas da fábrica da DKW perto de Zschopau, que os russos permitiram que continuasse funcionando por um tempo, e outra que foi transformada em fábrica de geladeiras pelas autoridades da RDA, mergulhei profundamente na história das quatro argolas — que é muito maior do que se imagina, e está viva na memória de muita gente e, principalmente, nas rodas de máquinas maravilhosas que eu só conhecia por fotos e, agora, sei que todos existem.

Vieram carros de toda a Alemanha, além de Bélgica, Suíça, Holanda, Suécia, Dinamarca, Noruega, Inglaterra, Escócia, Portugal, Luxemburgo, França, Áustria e Itália, quase 300, de todos os modelos que só existiam na minha imaginação. Alguns perfeitos e impecáveis, outros com a pátina do tempo, aqueles pecadinhos do uso frequente, e as motos, as motos!, e a feira de peças… Da década de 30 em diante, tudo, absolutamente tudo, e o auge do encontro com o passeio de 130 km de Zwickau até Zschopau, passando pelas pequenas vilas da Alemanha Oriental, que vai sendo reconstruída aos poucos e apagando seu passado recente.

Passeio feito de DKW, claro, e não era qualquer um, não: um cabriolet 1956 amarelo claro, que não fazia um barulhinho sequer, o motor mais silencioso que de qualquer carro zero, tudo funcionando, a capota abaixada, o sol na moleira, os acenos das pessoas nas estradas, os amigos na Schnellaster recém-restaurada por quem sabe do assunto, meio século no tempo, é isso que senti, que tinha voltado 50 anos no tempo ao olhar para a frente e ver DKWs, para trás, mais DKWs, as estradas coloridas, a navegação precisa (é, tem de ter navegador, ou navegadora, porque tudo começa em comboio, mas o comboio se desfaz depois de dois ou três quilômetros, e aí é cada um por si, com navegação e “roadbook”). E a gente ainda se perde, e volta, e encontra outros DKWs perdidos, e dá risada e segue em frente.

Bem, não vou ficar enchendo vocês com uma interminável descrição de sensações que possivelmente só interessam a mim, nem vou atolar este espaço com as mais de 300 fotos que tirei, porque é coisa demais. Deixo apenas uma pequena galeria para molhar a boca.

E, depois, preciso pegar a estrada de novo porque vou mais para o Leste, a antiga RDA sumiu com os Trabis, as Barkas, os Wartburgs, incrível como eles ficaram raros, então só me resta ir um pouco mais para o Leste, e é para lá que eu vou.