Blog do Flavio Gomes
F-1

BARCELONETAS (11)

SÃO PAULO (another day in the office) – Desculpem a demora. É que como venho recebendo alguns telefonemas ameaçadores, sempre em italiano, resolvi gravar todas as ligações que vêm do exterior. Cautela e caldo de galinha, sabem como é… Querem que eu revele a identidade secreta de Gola Profonda, parece que já descobriram que informações […]

SÃO PAULO (another day in the office) – Desculpem a demora. É que como venho recebendo alguns telefonemas ameaçadores, sempre em italiano, resolvi gravar todas as ligações que vêm do exterior. Cautela e caldo de galinha, sabem como é… Querem que eu revele a identidade secreta de Gola Profonda, parece que já descobriram que informações sigilosas e confidenciais estão saindo de dentro da equipe. Mas não posso. Preciso preservar minhas fontes, mesmo se elas passem a impressão de ser meio amalucadas, como é o caso de Gola. Acabei de falar com ele. A transcrição é que demorou um pouco. Vai já traduzido, porque Profonda, vocês devem imaginar, não é brasileiro.

– Gomes?

– Onde você está?

– Na catedral do Gaudí. Preciso te contar umas coisas.

– Você sempre precisa contar umas coisas, Gola. Desembucha. E fala rápido, estão me pressionando para que eu conte quem você é. Só não contei ainda porque não sei.

– Ótimo. Vamos continuar assim. Quer que eu comece por onde?

– Raikkonen.

– Raikkonen. Estava felicíssimo. Desde a primeira volta. Quando o Bourdais e o Buemi bateram, ele começou a falar “chupa, palhaços” no rádio. Dois a menos, disse. Perguntou se o vesgo tinha morrido. Cortamos o rádio com medo de punição da FIA. Cada vez que ele passava pela reta dos boxes, dava uma banana para todos nós. Aí ligamos o rádio e o chamamos para um pit stop.

– E ele?

– Parou no meio da pista. Desligou o carro e parou.

– Como assim? Sem mais nem menos?

– Começou a rir e disse que não tinha pneus para colocar, por isso não ia adiantar fazer pit stop algum. Fomos ver atrás dos boxes. Não tinha mesmo. E ele continuou gargalhando. Disse que ontem tínhamos deixado ele nos boxes para economizar um jogo de pneus, agora foda-se. “Cadê os pneus?”, perguntou o engenheiro, desesperado. “Vendi”, disse o Kimi. “Já que não usei, vendi para um cara na estrada.” Estão reunidos agora. Querem saber por quanto ele vendeu e quem vai ficar com a grana.

– E agora?

– Agora, não sei. Eram macios, valem mais. Também quero minha parte.

– Não, agora o que vai acontecer? Vão mandar ele embora?

– Não, só estamos vendo mesmo quanto vai dar para cada um.

– OK, e o Felipe?

– Felicíssimo.

– Felicíssimo? Pô, acabou a gasolina!

– Pois é. Mas quase deu. Foi a primeira corrida que fizemos com o motor flex. Por isso que deu errado. Ainda estamos calculando o consumo com álcool. Vocês ouviram o rádio?

– Ouvimos. Uma hora ele perguntou “what can I do?”.

– E a resposta foi para o ar?

– Não.

– É. O erro foi dele. Por isso não colocaram no ar, para não queimar o filme do coitado. É que quando ele perguntou, a gente mandou passar para o gás. E ele não passou. Por isso acabou o combustível. Mas tenho novidades para você.

– Quais?

– Mandei no seu e-mail duas fotos que me mandaram da fábrica ontem. Uma é do carro novo do Felipe para Mônaco. Mais econômico, perfeito para andar na rua. A outra é do pacote para o Kimi usar na próxima corrida. Mas não publique, senão vão saber que fui eu quem mandou.

– Vou publicar.

– Se você publicar, eu desapareço.

– Lamento, vou publicar.

E Gola desligou. É minha obrigação publicar, tenho leitores, não posso omitir informações. Aí estão as fotos. O vermelhinho é o carro do Felipe. O outro, o que será usado pelo Raikkonen. Parece que é o Badoer que está testando, na foto, mas não tenho certeza. O número 4 não deixa muita margem a dúvidas, porém. É com esse que o Kimi vai agora. Espero que Gola reconsidere e volte a fazer contato. Mas pode ser que, depois dessa, ele suma de vez.