Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ALEMANHA (5)

SÃO PAULO (não deixem de notar que o dia está lindo em SP) – Não há muito o que falar do GP da Alemanha, tamanha a cagada da Ferrari nas voltas finais. Este GP vai ser lembrado pela presepada, mais uma, e não por aquilo que aconteceu na pista. E até que teve bastante coisa, […]

SÃO PAULO (não deixem de notar que o dia está lindo em SP) – Não há muito o que falar do GP da Alemanha, tamanha a cagada da Ferrari nas voltas finais. Este GP vai ser lembrado pela presepada, mais uma, e não por aquilo que aconteceu na pista. E até que teve bastante coisa, como a largada pavorosa de Vettel, que resolveu mandar Alonso para o muro em vez de se preocupar em seguir em linha reta. O que Massa fez, assumindo a liderança.

Foi bacana também a briga lá atrás, entre Mercedes e Renault, principalmente. Kobayashi quase pontuou, De la Rosa esteve perto e fez burrada, Webber teve um dia dos velhos tempos, absolutamente discreto, e a Williams, tão bem nos treinos, decepcionou.

Mas nada foi melhor que a sutileza radiofônica da Ferrari. “Fe-li-pe, Fer-nan-do es-tá mais rá-pi-do que vo-cê. Con-fir-me que en-ten-deu es-ta men-sa-gem”, começou Rob Smedley, como se estivesse num bunker em Londres conversando com Winston Churchill em código, com medo de os nazistas interceptarem a mensagem. Por que não criaram uma senha mais criativa? Algo assim: “Felipe, a sobremesa hoje é cheese-cake com calda de framboesa”. “Calda de framboesa” é para deixar passar; se dissesse “calda de amoras”, poderia manter a posição. E o teatrinho no final? “Felipe Massa is back!” Tenham dó. Mais: Alonso perguntando de um problema de câmbio no carro do companheiro! Afemaria. Querem enganar quem, exatamente?

Aula de interpretação já, é tudo que dá para recomendar a esses caras. Ou que fiquem quietos. Principalmente porque aquele “sorry” do mesmo Smedley acabou denunciando tudo.

As ordens de equipe que interferem no resultado de uma corrida são proibidas. Isso já seria suficiente para punir a Ferrari. Mas a regra é besta. Porque se fosse uma decisão de título, ninguém iria discutir o que aconteceu. Imaginem na última corrida do ano Alonso em primeiro, Massa em segundo precisando vencer para ser campeão, o que aconteceria? O mesmo. Alonso deixaria Massa passar e ponto final. E todos achariam certo. Portanto, uma regra que é sujeita ao momento de um campeonato não funciona. Por que punir hoje e não punir, por exemplo, numa eventual ordem em fim de temporada, quando algo parecido torna-se aceitável?

A questão toda é ética e esportiva. Regulamento que diz que ninguém pode ser antidesportivo é meio idiota. Isso está implícito em qualquer esporte. Colocar no papel a obrigação de ser honesto leva a situações ridículas como a de hoje. Nisso, Coulthard tem razão. Ele disse que a FIA deve aceitar que uma equipe tome suas decisões. Pode-se gostar ou não delas, mas deve-se reconhecer o direito que os times têm de fazer o que acham melhor. E cabe aos pilotos aceitarem ou não a posição que lhes é imposta.

Exigir ética, lisura e honestidade por escrito é bobagem. Essas coisas ou a gente tem, ou não tem.