Blog do Flavio Gomes
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SÃO PAULO (ficou nisso) – Os 100 mil dinheiros que a Ferrari pagou de multa por dizer claro e bom som “Felipe, Fernando is faster than you” em Hockehneim foram a única punição ao time pelas ordens dadas na Alemanha. O Conselho Mundial acaba de livrar a cara dos italianos, assumindo que as regras são […]

SÃO PAULO (ficou nisso) – Os 100 mil dinheiros que a Ferrari pagou de multa por dizer claro e bom som “Felipe, Fernando is faster than you” em Hockehneim foram a única punição ao time pelas ordens dadas na Alemanha. O Conselho Mundial acaba de livrar a cara dos italianos, assumindo que as regras são inúteis, e deverão ser mudadas.

Bem, antes de mais nada, informo ao dileto público que acho essas ordens ridículas, na maioria das vezes. Mas aceitáveis, em outras. Ridículas como foram na Áustria em 2002 e mesmo nesse GP alemão um mês e meio atrás. Aceitáveis quando se trata de uma decisão de título, na reta final de uma temporada, como tantas vezes se viu e em outras tantas ninguém percebeu.

Uma regra que tenta disciplinar algo que às vezes é ridículo e outras é aceitável acaba não tendo efeito algum. É hipócrita e fantasiosa. Se a Ferrari manda Massa parar o carro na última prova do ano para Alonso ser campeão, todos, inclusive os adversários, dirão que faz sentido. É um caso da categoria “aceitável”. Fazer o que fez em 2002, no começo do Mundial, foi ridículo. Pedir para Felipe abrir mão de uma vitória na metade do campeonato, no dia em que fazia um ano de seu acidente, também.

As equipes, para driblar a regra boba, criaram códigos. Todo mundo sabe disso. A questão é simples. Falei disso naquela semana de Hockenheim. Não mudo uma linha. Cada equipe faz com seus pilotos o que bem entender, desde que não mande ninguém bater em adversários, ou jogar o carro no muro. O que acontece entre eles é problema deles. E cada equipe, claro, que aguente as consequências: a antipatia do público, o nariz torto dos rivais, uma eventual execração pública, a irritação de patrocinadores.

E os pilotos? Idem. Se aceitarem as regras impostas por seus patrões, que assumam as consequências. Sempre se pode dizer “não”, como está fazendo Webber, que peitou a Red Bull. E nem por isso foi demitido. Sempre se pode dizer “sim”, como fez Raikkonen na China com Massa em 2008, e nunca se queixou pelos cantos por causa disso. Ou mesmo Schumacher na Malásia em 1999, para ajudar Irvine. O que não dá é para obedecer e, depois, ficar de biquinho, fazendo tromba. Como Massa em Hockenheim e Barrichello na Áustria — esta, uma tromba secular, que perdura até hoje. E tem outra: a alguns pilotos, equipe nenhuma tem coragem de pedir para tirar o pé. Há aqueles mais, digamos, flexíveis. E outros que mandariam o chefe à merda pelo rádio, via Embratel, para resolver depois o que fazer.

No mais, fica para o torcedor a missão de julgar. E para os dirigentes das equipes missão de definir condutas. Há aqueles, como Frank Williams e Ron Dennis, que em geral liberam seus pupilos e já perderam campeonatos por causa disso. Mas têm uma imagem de bons desportistas. Há aqueles, como Jean Todt e seus discípulos, que cagam para os pilotos e para o público, e têm uma imagem de maus desportistas. E há aqueles como os da Red Bull, que não sabem direito o que fazer e não têm imagem alguma. Mas uma hora é bem possível que tenham de escolher uma.

Que se mude de uma vez por todas essa regra boba. Ética, lisura, princípios, honestidade, como também já escrevi em algum lugar, não se exige por escrito. Ou tem, ou não tem.