Blog do Flavio Gomes
F-1

NADA AINDA

SÃO PAULO (saudades da “GE”) – Acho que já contei essa história antes. Eu trabalhava na “Folha”, era janeiro, nenhum campeonato tinha começado, não tínhamos notícia, enfim. Eu era pauteiro da editoria de Esportes. Minha rotina era chegar bem cedo, antes das 7h, quando fazíamos a primeira reunião. Batia o olho na concorrência direta (“Estadão”, […]

SÃO PAULO (saudades da “GE”) – Acho que já contei essa história antes. Eu trabalhava na “Folha”, era janeiro, nenhum campeonato tinha começado, não tínhamos notícia, enfim. Eu era pauteiro da editoria de Esportes. Minha rotina era chegar bem cedo, antes das 7h, quando fazíamos a primeira reunião. Batia o olho na concorrência direta (“Estadão”, “JB”, “JT” e “O Globo”) fazia a pauta, ia para a reunião com os outros pauteiros para “vender” nosso material do dia, então voltava para minha mesa, pegava um café com a tia do café cujo nome já não lembro, acendia um Lucky Strike e abria os jornais esportivos para ver o que eles estavam dando. Eram três, “A Gazeta Esportiva”, o “Jornal dos Sports”, do Rio, e meu querido e saudoso “Popular da Tarde”, o POP, onde comecei minha carreira — a propósito, fiquei lisonjeado ao descobrir este pequeno texto de 2010, onde meu nome é mencionado ao lado de gigantes como Antero Greco, Fiori Gigliotti, Mário Moraes, Pedro Luiz, Randal Juliano…

Esses jornais tinham de encher suas páginas, com notícia, ou não. Duas ou três para os chamados grandes da capital, um pouco menos para o Santos, menos ainda para a Lusa. Mas era muito bom ler os esportivos, com suas seções de esportes amadores, de futebol do interior, as colunas dos meus ídolos no jornalismo, o cheiro de papel, a tinta nos dedos. Em janeiro era duro arrumar informação para tanto espaço, mas para isso existiam os setoristas especializados em encher linguiça em tempos de escassez de notícias.

Aí pego a “Gazeta”, e na página 3 começava o noticiário do Palmeiras, com a enorme manchete, em maiúsculas: “NADA AINDA”.

E eram três páginas de “nada ainda”, ou seja, nada, absolutamente nada, uma aula de jornalismo, de talento, de picardia, encher três páginas de “nada ainda”, porque no dia anterior o Palmeiras não tinha contratado ninguém, não tinha vendido ninguém, talvez o novo técnico não tivesse sido escolhido, nem a tabela do campeonato tinha sido divulgada, enfim, não tinha acontecido nada, picas, e por isso a indiscutível honestidade da manchete que chamava para vários textos nas três páginas vindouras com nada, nada de notícia, zero de informação.

Conto tudo isso para dizer que hoje a cúpula da McLaren se reuniu em Woking para decidir quem vai correr ao lado de Alonso em 2015, mas não resolveu nada.

Nada ainda.

(Mas o Victor Martins acha que já está tudo decidido a favor de Magnussen. E informa que se isso acontecer, Button pega um avião para a Alemanha e assina com a Audi para o lugar de Kristensen. É bem provável.)