Blog do Flavio Gomes
#69

SPASIBO, MEIANOV!

SÃO PAULO (o que virá?) – Foi no dia 15 de outubro de 2008 que liguei o Meianov pela primeira vez. O momento, histórico para alguém sem grandes histórias como eu, foi até registrado em vídeo. Eu estava feliz com o brinquedo. Naquele ano, aposentei o bravo #96, que hoje está todo pimpão no museu […]

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SÃO PAULO (o que virá?) – Foi no dia 15 de outubro de 2008 que liguei o Meianov pela primeira vez. O momento, histórico para alguém sem grandes histórias como eu, foi até registrado em vídeo. Eu estava feliz com o brinquedo. Naquele ano, aposentei o bravo #96, que hoje está todo pimpão no museu do Paulo Trevisan em Passo Fundo. Não havia mais o que tirar de um carro que conseguia, na melhor de suas voltas, virar em 2min35s em Interlagos. Naquela altura, a turma da frente já esbarrava nos 2min00. A intermediária brincava entre 2min10s e 2min15s. Os carros que lá atrás, em 2003, andavam mais ou menos no mesmo ritmo do DKW já haviam deixado a categoria.

O Laika que viria a se tornar célebre como Meianov, criação de um blogueiro, foi comprado em junho daquele ano. Pronto em outubro, estrearia em Londrina no II GP do Café. Não estreou. Quando ligamos o carro no box, ruídos estranhos nos aconselharam a não tentar nada. Corri com o Corcel II Pac-Man do Nenê Finotti. Foi um fim de semana legal, apesar da frustração de não poder correr com o Ladinha.

No dia 20 de novembro de 2008, finalmente ele foi para a pista, em Interlagos. Ainda com freios originais, que não freavam, virou 2min24s6 na sua melhor volta em treino. Bati, naquele dia. Na corrida de estreia, dois dias depois, com a traseira amassada, terminei em 22° entre os 33 que largaram, registrando 2min22s366 na volta mais rápida.

Meianov teve três pinturas, a primeira delas em vermelho, azul e branco, cores da Rússia, que foi usada durante toda a temporada de 2009. Em 2010 ele foi pintado de MIG, a mais marcante. que perdurou até julho de 2013, quando ele assumiu a pintura das bolinhas vermelhas com a qual se aposentou sábado.

Isso mesmo. A trajetória do Meianov terminou sábado, dia 24 de janeiro de 2015, depois de seis anos ralando em Interlagos, Londrina, Velopark e Velo Città. Não tenho o número exato, mas foram cerca de 60 corridas com ele. A gente tem de saber a hora de parar, não é mesmo, garoto?

A Classic Cup ficou rápida demais. O pessoal da ponta já está virando em 1min58s, e nosso valente soviético, na melhor volta de sua vida, bateu em 2min14s421 em janeiro de 2012. Quando ele estreou, em 2008, 2min14s era um tempo que me colocaria no meio do grid. Longe da turma da frente, mas num bolo com quatro ou cinco carros. Sábado, na abertura da temporada 2015, me classifiquei em 26° com o tempo medíocre de 2min19s049, entre 28 carros. Se tivesse repetido os 2min14s de três anos atrás, largaria em 24°. Não faria diferença nenhuma. Se eu conseguisse um dia chegar em 2min10s, que era a meta para esse carro desde o início, seria o 21° no grid.

Resumindo, não dá mais. No grid de sábado, quem virou 2min02s, um tempo de pole até outro dia, ficou em décimo. A brincadeira ficou forte. A pole foi do Denísio Casarini, com 1min58s054 a bordo de uma Berlineta Interlagos tubular com motor AP. Antonio Chambel, de Passat, ficou em segundo com 1min58s839. Não é pra mim. Melhor: não é pro Meianov.

Na corrida, apesar de uma largada decente, já na primeira volta a temperatura de óleo começou a subir muito rápido. Na quarta ou quinta volta, bateu nos 150°C e resolvi deixar quebrar. Começou a vazar água, e não parei. Fiquei me arrastando com um misto de raiva, autocomiseração, vergonha e tristeza. Tristeza porque decidi ali mesmo que seria sua última corrida, e ele não merecia terminar assim, arrebentado com fumaça para todos os lados.

Na nona volta, depois de virar acima de 2min40s, parei. Meianov chegou em silêncio no box 20, com o motor desligado e sem nenhuma fanfarra para homenageá-lo. Parei, desliguei a chave geral e agradeci. Foram seis anos felizes, de poucos resultados e muita luta para melhorar o carrinho, sem grana para investir e torcendo para ele não quebrar para não gastar mais ainda. Havia sempre a opção de espetar um AP naquele capô, mas me recuso a correr com um motor de marca diferente do carro. É questão de princípio, não tenho nada contra quem faz, mas eu não faço. Nasceu Lada, vai morrer Lada.

Passei ótimos momentos naquela cabine, comemorei cada segundo que baixei no cronômetro comigo mesmo, numa solidão serena e gostosa. Me orgulho do que esse carrinho fez em seis anos, ainda que as glórias tenham sido raras, talvez nenhuma. Ainda assim, por questões de regulamento, e como era o único inscrito na categoria CO2, para carros com motores originais até 1.600 cc, ganhou um troféu no sábado. De primeiro lugar, uma homenagem involuntária que talvez os deuses do automobilismo tenham prestado ao destemido Lada fabricado por operários soviéticos num país que nem existe mais.

Quando vi que minha melhor volta sábado foi registrada em 2min23s046, entendi que era hora de parar. Ele voltou aos tempos de 2008. Me deu um recado muito claro. Cansei, Gomes, me deixa descansar um pouco.

Assim será, Meianov velho de guerra. Mas como dizia nosso amigo e guru Veloz HP, a luta kontinua. Spasibo, camarada.