Blog do Flavio Gomes
F-1

SURPRESAS? SÓ SE ALONSO VOLTAR

RIO (quanta coisa!) – Os dois anúncios feitos hoje na Europa não chegaram a surpreender. Quando Vettel avisou que estava de saída, imediatamente o nome de Sainz Jr. apareceu para preencher seu lugar e, ato contínuo, Ricciardo passou a ser o nome da McLaren. Havia outras possibilidades, mas elas demandariam muita conversa — Vettel na […]

RIO (quanta coisa!) – Os dois anúncios feitos hoje na Europa não chegaram a surpreender. Quando Vettel avisou que estava de saída, imediatamente o nome de Sainz Jr. apareceu para preencher seu lugar e, ato contínuo, Ricciardo passou a ser o nome da McLaren.

Havia outras possibilidades, mas elas demandariam muita conversa — Vettel na McLaren, por exemplo, ou Hamilton na Ferrari e Seb na Mercedes. As equipes preferiram mover rapidamente suas peças de forma pouco traumática.

Ricciardo sai deixando a Renault — leia-se Cyril Abiteboul — puta da vida, mas os franceses sabem que, para o australiano, a proposta era irrecusável. Não se sabe quando e se a Renault voltará a vencer sem uma reestruturação técnica e de gestão que, neste momento, não parece muito clara no horizonte. A montadora, como toda a indústria automobilística mundial, tem outras prioridades num momento em que a economia derrete. E ainda precisa resolver o caso pendente de Carlos Ghosn.

Na McLaren, a convivência com Norris tende a ser pacífica. Nenhum dos dois tem perfil de encrenqueiro. Daniel também não deve ter custado muito. A equipe estava em condições melhores de negociar do que o piloto. Já Sainz Jr. sai em paz. Em que pese o fato de ser ótimo piloto, nunca foi a primeira opção de ninguém — Red Bull/Toro Rosso, Renault ou mesmo McLaren. A equipe inglesa, da mesma forma, sabe que uma proposta da Ferrari é difícil de cobrir, seja do ponto de vista financeiro, seja do ponto de vista esportivo.

Em Maranello, o espanhol vai incomodar Leclerc mais do que Vettel incomodaria. A Ferrari, entre Charlinho e Tião, já tinha escolhido seu predileto ao renovar o contrato do monegasco até 2024. Sainz será uma novidade. Pode, de repente, numa equipe muito volúvel, se tornar o novo amor. Tudo vai depender de seu desempenho nas primeiras provas. Leclerc, muito precocemente, se vê diante da mesma situação que Vettel viveu quando ele próprio ganhou seu crachá do time italiano. É ele, agora, que terá de lidar com uma ameaça. Carlos chega como franco atirador.

Resta saber o que será da Renault e de Sebastian. Sem grandes nomes no mercado, o único movimento de impacto para o time amarelo seria buscar Alonso de volta. E por que não o próprio Vettel? Porque o alemão, acredito, não aceitaria abraçar um projeto cheio de incertezas. Para Alonso, tudo bem. O que vier para ele, nessa altura da carreira, é lucro. Ele ainda gosta de correr — suas incursões pelo WEC e Indianápolis deixam isso claro. Vettel, acho, toparia alguma maluquice — como uma Aston Martin sob o comando de Toto Wolff, por exemplo. Mesmo assim, é difícil. Minha impressão é a de que ele pendura o capacete. Vai depender um pouco do que fizer em 2020, também. O tetracampeão tirou um peso das costas ao decidir deixar a Ferrari e vai usar a temporada que nem se sabe se teremos para decidir, internamente, o que quer da vida. Só então estudará as opções que terá, e ninguém sabe direito o que o futuro reserva — para a F-1 e para o mundo.

Por fim, uma palavrinha sobre Vettel. O cara tem quatro títulos no currículo e, ao contrário do que muita gente prega por aí genericamente, não conquistou suas taças num período hegemônico da Red Bull. Pelo menos duas delas, as de 2010 e 2012, foram ganhas com disputas muito ferrenhas contra adversários fortíssimos — entre eles a Ferrari de Alonso. Perder para Ricciardo num ano e Leclerc em outro não significa que seja um piloto menor do que é. Quando o sujeito ganha quatro campeonatos, é normal que se desmotive um pouco ao perceber que está num carro que não tem chances de ser campeão. E, aí, não se importa muito em ser batido pelo companheiro de equipe. Hamilton já foi derrotado por Button na McLaren, lembrem-se. É uma característica de grandes campeões. Seu talento não pode ser desprezado. A questão, agora, é saber qual o tamanho de sua vontade de continuar numa F-1 que, definitivamente, lhe parece mais aborrecida do que divertida.