Blog do Flavio Gomes
F-1

MILANESAS (3)

SÃO PAULO (ui) – Pois o caso Briatore-Nelsinho-Renault-Cingapura assumiu proporções nunca antes vistas na F-1. Virou um tiroteio de acusações pessoais que hoje chegaram ao auge, suponho, com as insinuações de Briatore de que Nelsinho tinha um caso homossexual com um homem mais velho. (Claro que se a família Piquet resolver responder no mesmo tom, […]

SÃO PAULO (ui) – Pois o caso Briatore-Nelsinho-Renault-Cingapura assumiu proporções nunca antes vistas na F-1. Virou um tiroteio de acusações pessoais que hoje chegaram ao auge, suponho, com as insinuações de Briatore de que Nelsinho tinha um caso homossexual com um homem mais velho.

(Claro que se a família Piquet resolver responder no mesmo tom, terá farta munição sobre a não muito ortodoxa vida sexual-porno-erótica de Briatore, que vive posando de tanguinha nas praias da Sardenha. Portanto, o auge ainda pode ser mais alto. Ou baixo, dependendo do ponto de vista.)

O diretor da Renault soltou o verbo em Monza. Disse que a Renault já entrou com processos criminais contra Nelson Filho e Nelson Pai — e se for preciso, vai Nelson Espírito Santo para a roda. Acusações: chantagem e extorsão.

“Nós não fizemos nada. O fato de estarmos processando os dois prova que estamos confiantes. Nelsinho nunca teve performance. É um garoto mimado que sempre correu com sua própria equipe, o melhor carro, sempre teve seu pai do lado. Quando chegou numa competição de verdade, perdeu a cabeça. É muito frágil.”

Aí vem a parte mais escabrosa e cabeluda. Que não carece de apuração. Não tem nada a ver com as coisas da pista. Expõe ressentimentos. Porque mesmo se forem verdadeiras as afirmações de Briatore, dizem respeito à vida pessoal de Nelsinho, e não à sua atividade profissional. Briatore é um escroto. Mas se Nelsinho está mentindo só para implodir sua cabeça, como ele afirma, é compreensível e nada surpreendente que um escroto como ele diga o que disse:

“Ele [Piquet Jr] me acusou pesadamente de lhe fazer romper um relacionamento com um amigo, e isso eu devo dizer, porque foi seu pai quem me pediu isso. Ele vivia com esse senhor. Não se sabe que tipo de relação eles tinham. O pai estava muito preocupado. Viviam juntos, e o pai me pediu para interferir. Fiz Nelsinho se mudar de Oxford para meu prédio em Londres, onde eu podia mantê-lo sob controle.”

Não sei quem é a tal pessoa. Também não me interessa minimamente. Mas sei que Nelsinho é o que a molecada chama de “pegador”. Já ouvi histórias. E foda-se, a vida sexual de ninguém me interessa muito. Neste caso, o que interessa é perceber a que nível as coisas chegaram. Briatore está espumando de ódio. Diz que as denúncias à Renault foram feitas pelos dois Nelsons, e que o pai “todos conhecem”:

“Ele degradou a imagem de todo mundo. Fez isso com Senna, com a mulher de Mansell, todos sabem como ele é.”

Virou briga de rua. Mas que não será tratada como tal pelo Conselho Mundial da FIA — embora o interesse pessoal de Max Mosley pelo caso possa ter aumentado depois do surgimento desse, hum, componente picante na história.

Nelsinho terá de provar que lhe deram a ordem de se espatifar no muro. Provar que fez de propósito não bastará. No máximo, vão lhe dizer que é uma besta, ou um barbeiro. O crime precisa de um mandante. Se não tiver, o criminoso será só ele. Que terá feito o que fez apenas para garantir o emprego e, pior, estaria mentindo para arrastar com ele os pescoços de desafetos.

Existe a chance, ainda, de nada ter acontecido. Sim, de Nelsinho ter apenas errado, batido, feito cagada (não teria sido a primeira), e um ano depois, por conta de uma relação tumultuada e horrorosa com a equipe e seus chefes, elaborar essa história toda para incriminar os inimigos, mesmo sob o risco de dar um tiro na própria cabeça e acabar com sua carreira.

É difícil acreditar em imaginação tão fértil, porém. O depoimento de Nelsinho é muito detalhado, embora Briatore contra-argumente (tem hífen, essa merda?) que seria impossível desenhar uma corrida na 14ª volta, prever tudo que aconteceria depois.

“Massa teve problemas, Kubica teve problemas, seis ou sete tiveram problemas. Como prever isso depois de 14 voltas?”

Já não sei direito o que pensar disso tudo — se é verdade que a Renault pediu e ele obedeceu e se arrependeu, se o time insinuou e ele captou a mensagem, se Nelsinho está mentindo, não pediram nada e ele fez mesmo assim, se não foi nada disso e ele apenas bateu o carro, como disse à época, e Alonso deu um rabo inacreditável.

Dizer que fico triste pelo esporte seria hipocrisia. Caguei, isso não afeta o esporte, e mesmo se afetasse, não tenho nada com isso. No fundo, é apenas um barraco digno dos piores programas de TV. Do ponto de vista jornalístico, o caso é ótimo, rende manchetes e audiência. O povo gosta de uma putaria, quem há de negar?

Sinto, sim, pelo nome Piquet e tudo que representou no passado, para a história do automobilismo brasileiro e internacional. É uma tristeza biográfica, digamos assim. Porque, no fim das contas, ele, ídolo de tanta gente, está metido nessa baixaria toda.

Os ídolos são mesmo de barro. Todos eles.