CARNAVAL
SÃO PAULO (alalaô) – Eu não ia escrever nada sobre o Carnaval, porque no fundo não tenho muito o que dizer. Não desfilo na avenida, nunca tive a chance de sair num bloco de rua no Rio, nunca vi de perto os cabeçudos de Olinda, nunca enchi a cara nas cidades históricas de Minas, sequer tenho uma escola preferida. Não sou Portela, nem Mangueira, nem Beija-Flor, nem Nenê, Rosas, Camisa. Sei dois ou três sambas-enredo de cor, e nem sei de que anos são, se ganharam ou perderam.
Todos os anos tenho a impressão não de que eu não ligo para o Carnaval, mas sim de que ele não dá bola para mim. Talvez eu não seja um folião digno dele. Talvez eu tenha medo do Carnaval.
Apesar dessa rejeição que me parece unilateral, gosto de ver as pessoas felizes na TV. Gosto de ver os repórteres que dizem todos os anos as mesmas coisas, as imagens aéreas das ruas tomadas por gente alegre e pulando, o Brasil que, se eu tivesse a chance de vê-lo do alto, de um ônibus espacial, pareceria estar pulsando de um jeito que só aqui, mesmo.
Gosto de saber que as pessoas estão felizes.
Já tive meus carnavais, não sou totalmente ruim da cabeça. Já fui a Salvador e saí de pipoca atrás do trio de Armandinho, Dodô & Osmar, mas não fiquei bêbado o bastante para achar aquilo do caralho, achei apenas legal, assim como a Banda Eva, o Chiclete com Banana, vi todos eles passarem pelo Campo Grande, mas foi só uma vez, não posso dizer, como todos dizem, que o Carnaval da Bahia é isso, é aquilo. Apenas é.
Meus melhores carnavais foram em clubes no interior, eu já era mais que adolescente, já tinha até carro, tomava bastante cerveja e me arriscava num lança-perfume que entrava escondido com a irmã mais velha do amigo. Nunca passou disso, eu gostava mesmo era de pular até cansar. Aos 18, 19 anos, achava que tinha direito de pular até cansar. Já trabalhava duro o ano todo, não tinha muitas folgas, estudava à noite, achava, sim, que tinha direito de encontrar a cabrocha que eu tanto amei. Nunca encontrei. Hoje acho que não tenho direito a nada, muito menos a uma cabrocha.
Depois o Carnaval foi fugindo de mim, e eu dele. Sem ressentimentos. Hoje li, incrível, um bom texto sobre Carnaval assinado por José Sarney. Não riam. Saiu na “Folha”. Nada nostálgico, ao contrário: os carnavais d’antanho eram um saco, bom é hoje, peitos e bundas, velho tarado. Mas ele tem razão. Carnaval não piora, nem melhora. Carnaval apenas é. Cada um faz o seu.
Meus meninos queriam ver os desfiles no Sambódromo. Vou tentar levá-los no domingo à noite, segundo grupo, eles estão acostumados com seu pai de segunda divisão, acho que vão gostar do mesmo jeito. Terei de contar histórias sobre as escolas, ainda bem que algumas grandes caíram, pelo menos terei o que dizer da Nenê ou da Camisa. Acho. Na hora eu invento. Um deles, o maiorzinho, começou a fazer aula de percussão. Está animado com tambores, tamborins, surdos, caixas. Vai gostar de ver uma bateria. Será meu Carnaval.
Mas eu dizia que não ia escrever nada sobre o Carnaval, e não ia mesmo, e já escrevi demais, até receber uma dica de música de um blogueiro, Maurício Camargo. Deste clipe aqui, não riam de novo. Air Supply, “Lost in Love”. Não tem nada a ver com Carnaval, mas tem a ver comigo. Ou com o eu que eu era quando tinha 10 ou 11 ou 12 anos. No Carnaval, a gente ia para a praia. Tirando os confetes e as fugas dos motoristas irados que levavam água no carro das minhas bisnagas de ótima pontaria e alta precisão, o Carnaval era ir para a praia e fazer bailinho de noite nas casas daqueles que tinham casas, e não apartamentos.
Eu escutei essa música e lembrei dos bailinhos que se misturavam aos carnavais, e de como me arrumava para dançar com as meninas, calça e camisa e sapato, na praia e no Carnaval, vejam só. Lembro que tinha sempre no bolso uma balinha que nunca vou me esquecer dela, chamava Cert’s, era bom para dar uns beijos, nos bailinhos e no cinema que ficava no centrinho, que hoje virou boliche.
Bailinhos para beijar as meninas, bailes nos clubes no interior ao som de marchinhas e sambas-enredo, um trio elétrico em Salvador, não, não posso dizer que tenha um padrão carnavalesco, que ensaio o samba o ano inteiro, não, apenas olho de longe, como faço com quase tudo, procurando não incomodar ninguém, sem inveja alguma dessa felicidade coletiva, pelo contrário, olho tudo admirado e quase extático, esperando que, um dia, o Carnaval me aceite de volta.
Carnaval: pra ficar ouvindo funk, sertanejo brega, nas alturas, sol de rachar, gente andando quase nu pra cima e pra baixo, homens tentando nos agarrar como se isso fosse o máximo, e cheiro de urina por todo lado?! Acho que passei esse momento no lugar errado, da próxima vez tentarei o interior…
Caramba passou aonde? Praia Grande?
hic…
eu já disse isso, um monte de informação sem importância para mim, mas de tempos em tempos um ótimo texto e umas imagens legais, realmente este blog é imprescindivel. Parabéns.
Certamente o “carnaval”,por um lado passa um espírito dos mais positivos e atraentes…e aqui no Rio, as “marchinhas” retornaram com força…tipo “olha a cabeleira do Zezé,será que ele é,será que ele é…” enfim,minha saudosa avó iria ficar encantada e sambaria,no mais nobre sentido da palavra !
Bomba! Bomba!
Em crima de Carnaval! Anunciada a dupla da Stefan:
CHANDOKA E NAVAGINA!!!
Se a dupla da Lotus já era um tremendo MICO, essa agora…. CHUMBÃO!!!
De leeeeveeee…
ADEMAN QUE EU VOU EM FRENTE!!!
; )
Flavio, curti alguns anos de carnaval em bailes dos clubes do interior e depois alguns anos viajando apenas e não curtindo mais porque achei que estava velho e meu relacionamento ja era um saco, hj solteiro, e no rio, acredite, o Carnaval me aceitou de volta ou melhor, sentia uma chamado de alegria, tipo “venha se divertir, venha sentir alegria” foi meio que inevitável, e foi maravilhoso, não sei se sentirei esse chamado todo ano, mas gostaria…ah gostaria…por que foi mt bom e espero mais ano que vem…sempre é hora…abraços
perdão, álcool.
Carnaval é a coisa mais entediante do universo. É burro, óbvio e grotesco. É previsível e de mau gosto. Cheira a ácool e vômito.
Alcool, mulheres amigoss, festas, risadas, historias para a vida toda…
Realmente eh chato.
Fica em casa sozinho jogando paciência, que vai ser muuito mais legal.
O que eu tenho a dizer? Brilhante esse texto (e não estou jogando confete, apesar de ser carnaval).
Ola FG,
Tambem a tempos que pra mim carnaval é um saco. Prefiro curtir meus bb´s (pra que ninguem entenda mal, meus FILHOS).
Fuçando o mundo do automobilismo, vi mais uma declaração brilhante do Kimi.”Se estou em um lugar (por merito) e alguem me paga para pra sair…Então…”. Será que algum piloto da F1 foi ou será tão sincero como Kimi ? Pra mim é Schumi e colado nele o Kimi.
tem gente que gosta de ser do contra………..
Calma Flavio… nunca é tarde para aprender o que é Carnaval…
No proximo ano faça como a Filosofa Marta… relaxa e goza…
Carnaval é muito mais simples do que parece…saia por ai com um pequeno grupo de amigos e de um monte de risadas… receita facil para entrar na folia.
Abraços
Imperador… nessa época… “do Samba”.
Ate que quando vc nao esta falando mal de Rubens os seus textos sao legais de ler……..he he
Nao tenho esse tipo de problema porque vivo em Curitiba. Aqui a maioria da populacao nao sabe mesmo o que eh carnaval………
1 abraco
Ahahahahaha, essa foi demais…
“Ate que quando vc nao esta falando mal de Rubens os seus textos sao legais de ler”…
Assino embaixo…
Até o livro do boto desse maluco aí eu já comprei!
Não sei porque mas simpatizo com a figura…
Assim como simpatizo com o Rubinho…
Pena que ele não simpatiza tb… :-(
Ah como é bom acordar e ler um texto tão bonito…
Eu vou contra a maré, eu adoro Carnaval, mas infelizmente ele mudou. Lembro dos bailes lá do Clube Araraquarense, os pais com os amigos numa mesa no salão, e a gente pulando e cantando as marchinhas e os sambas-enredo mais famosos. Sei muitos sambas-enredo de cor, alguns ganharam, outros não.
Também gosto de assistir os desfiles, e tenho uma escola preferida, meu coração é verde e rosa!
Tu é bom até quando tenta ser chato, hein? Impressionante e lindo!
Beijo!
Lindo FG!
Parabéns pelo texto… Podes não ter encontrado a “Cabrocha”, mas encontrou – como vc chama nos seus textos “Ela” que te deu os Gominhos e que hj fazem o seu carnaval!
Identifiquei-me absolutamente com seu texto. Realmente Air Suply não tem nada a ver com carnaval, mas também tem a ver comigo.
os bailinhos, o lance da vassoura… tocava as lentinhas, eram bailes de garagem!
foram nesses bailes que comecei a tocar e a beijar as menininhas…
saudades do fim dos anos 80!
Antes de completar 50 anos, venha passar um carnaval aqui em Olinda, cidade onde moro hoje. Não precisa se acotovelar nas ladeiras, mas só ficar em uma casa e ver os blocos passando do alto. Já vai valer a pena.
Palavras de um paulista que demorou, mas conseguiu perceber que pular Carnaval pode ser bom pra caramba.
Flavio
Mais um texto maravilhoso!
Espero que algum dia escreva outro livro novamente… E de preferência com textos (ou crônicas, nem sei o nome correto), desse tipo ou iguais as do Rock’n’Rio, ou a do apê que você morou lá no Rio…. Ahhh ou a dos times de botão…
Todas sensacionais!
Abraços!
Cara, posso dizer que eu me vi no ultimo parágrafo.. sou exatamente assim. Um abraço
Ah os bailes nos salões do interior,
Que saudades.
Muito melhor do que o carnaval da Bahia.
Flavio,
Continuo sonhando que que um dia escreverei como voce, acho ate que vou te contratar para escrever um texto desses so pra mim.
Paulo Artur
Vancouver, Canada.
Flávio,
Como sempre, um show de texto!
Bom Carnaval.
Abs
Voce sabe que de vez em quando voce acerta uma!
Belissimo texto! houve muita inspiração, interessante que e assim que eu tambem me vejo com relação ao carnaval! Parabens!!! Nota 10!
Texto muito bom , assim como aqueles da viagem com o Trabant. Otimos!!
(estilo que lembra muito Feliz Ano Velho do Marcelo Rubens Paiva ).
MUITO bom seu texto, parabéns!
Subscrevo ao relator!
Belo texto, tenho 40 anos e no ano passado sai no chiclete ,nunca é tarde para começar e terminar, é muito bom mas o mundo tem muita coisa boa e variar é sempre o melhor.
Em tempo aquele seu oculos de enxergar de perto é muito engraçado chicken little
Pare de se desculpar FG…. a opinião eh sua e exclusivamente sua… se vc curtiu do seu jeito, ao menos vc tem passado pra contar para nós… diferente de mta gente… q acha q curte a vida!!!
Belo texto! Parabéns…..
que tal essa aki tbm?
http://www.youtube.com/watch?v=IF2U7zTpdTQ&feature=related
Bem legal o texto Flávio, meu caranaval mais diferente aconteceu em 2003 e 2004 quando passei na Canção Nova em Cachoeira Paulista. Mas esse ano está sendo bem diferente, preparativo para a faculdade e ultima semana na atual empresa, bom caranaval Flávio.
Bom, como veterano, já tive carnavais do cacete, muitos no interior, outros na praia outros aqui no Rio mesmo. Não sou “aquele” folião, não sei sambar, mas realmente a alegria contagia, a gente carrega pedra o ano todo, então esquecer tudo por 4 dias é uma boa. Esse ano tô chochinho em casa, mas acho que vou dar um pulo no Centro pra ver o Bola Preta. Se fose outra época, emendava com o Maracanã, para, quem sabe, ver o Fluzão dar um sacode no Vasco…
Valeu o texto. Air Supply é muito “mela cueca”, hein…
Sensacional o texto. Parabéns e úm ótimo carnaval para você!!!
Nunca fui muito entusiasmado com Carnaval. Lembro de ter ficado fortemente gripado num deles, e fiquei assistindo a TV Cultura, que naquele ano encheu a programação com filmes clássicos em preto e branco – coisa que nem canal pago faz hoje em dia. Os filmes eram anunciados como antídotos para quem não gostava da festa.
Talvez o melhor Carnaval que tenha passado foi numa terça-feira gorda, que coincidiu com meu aniversário. Estava fazendo uma viajem de estudos na Itália e naquele dia calhou de estarmos em Veneza.
Conheci uma moça linda, de olhos azuis escondidos sob uma máscara. Ela se propôs a fazer uma pintura em meu rosto e pedi um bigode de Salvador Dali. Foi mágico. Mas deu meia-noite e a festa simplesmente acabou. Todos foram deixando a Praça de São Marcos enquanto os sinos da Igreja badalavam. A polícia veio varrendo os bêbados e tive que me despedir da italianinha.
No dia seguinte peguei um trem para Milão. Foi a quarta-feira de cinzas mais cinzenta de todas. Sabia que nunca mais ia ver de novo aquele belo par de olhos azuis, extremamente encantadores.
Texto de um grande jornalista/colunista.A identificação com meu padrão de vida é quase 100%.Também tive carnavais crianças e adolecentes.Pelos motivos obvios. Quando criança, pelo fascinio das fantasias, confetes e serpentinas, e lança perfumes, que eram liberadas.Quando adolecente, atraz das meninas de familia quase boa, que se libertavam nos folguedos de Momo.Depois, feriados importantes para viagens a praia. Maravilhas em Santos, depois em Maresias, quando nem havia estrada.Isolamento total.E a paixão pelo automobilismo sempre fazendo estragos familiares, ocupando o tempo que seria compartilhado com a noiva, e /ou familia. É, acho que carnaval foi passado. Longinquo.Mas, como voce, admiro as pessoas felizes com a festa.
Bom texto, sabe sinceramente carnaval não é comigo, eu odeio mesmo, não suporto essa sensação que se pode tudo e ninguém é de ningém. Nesses dias lembro apenas do meu velho e querido avô que sempre refletia, esse”carnavá é uma porquera, saco” grande vô!!!!
Eu só queria saber o seguinte, Flavio, por que aqui tem tanta opção de compartilhamento (é Facebook, MySpace, Orkut… até um tal de de.li.cious!) mas não tem o tradicional ‘envie esta mensagem’?! Tão mais simpático, tão mais simples e tão mais condizente com as estórias do blog. Eu aprendi digitação em máquina de escrever no Senac, cara!
Ôxe, nunca vieste a Olinda?! Então não sabes o que é carnaval…
Bela crônica, FG, o que não é surpresa. Bom Carnaval pro clã.
Uma questão: será que a multidão nas ruas, pululante e pulante, está mesmo feliz? Ou o carnaval não passa de mais uma grande manobra de massas?
Teoria da conspiração? Rei Momo é agente da CIA? Um pouco de alienação não mata ninguem…
hehehe
Flávio,
Muito bom o texto. Me identifico com muita coisa que você escreve, Pois somos da mesma geração, temos estórias parecidas, aonde tínhamos que batalhar pelo que queríamos e lidar com limitações – leia-se falta de grana.
Em tempo: gostei de ver a palavra “extática” incluída no texto. É incomum e deixa muita gente questionando um possível erro de grafia. É a nossa língua portuguesa, complicadíssima e rica.
Vê se aparece por aqui no ano que vem.
Ninguém pode dizer que o Air Supply eram só uns rostinhos bonitos no mundo do showbiz… :-)
Brincar Carnaval? Eu quero é pegar fôlego pro resto do ano que vem aí…
A cada dia ganhas mais meu respeito. Agora com um pequeno pia’ e morando no Brooklin, acho que não preciso mais do carnaval. Abraço CV
Muito bom texto!!
É cara… vc percebe que está ficando velho quando começa a ouvir muito o Paul McCartney, Air Supply, Bread… essas coisas. Eu estou nessa também, até Abba tem umas duas que já estou gostando… é o fim! Mas isso acontece porque o mundo roda e roda.
Belo texto esse seu sobre o carnaval.
É tudo isso sim, e ainda por cima humilde…=D smack
molengotengo detected…
Meu carnaval vai ser na Santa Casa de Belo Horizonte, cuidando de outras pessoas que também não terão carnaval, sem ganhar nenhum dinheiro com isso.
Eu lhe digo que de alguma forma,você será recompesado.
Deus te abençoe.
Meu carnaval é nas montanhas,ou em um aconchegante “hotel fazenda”. Curto apenas o feriado em si. Mas a felicidade e vivacidade das pessoas nessa época é contagiante sim.