HÁ 38 ANOS
RIO (and?) – Não sei se tenho muito a comemorar nestes dias mais do que sombrios, mas hoje faz 38 anos que estreei como jornalista, com um textinho publicado no extinto “Popular da Tarde” em 19 de abril de 1982. Há alguns anos, quando se completaram três décadas desta irrelevante efeméride pessoal, rabisquei umas linhas. Reproduzo aqui.
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Eu lembro do título: “A importância de um bom técnico”. Bom título, preciso, direto, não deixa muitas dúvidas. Um bom técnico é importante. Não há dúvidas quanto a isso. Em duas linhas, preencheu uma coluna do jornal e lá se foi o texto, até o pé, elogiando José Poy, o bom técnico. Sem assinatura, mas era meu, e eu achava que era bom.
No metrô, vi um cara lendo o jornal. Casualmente estava na mesma página do técnico importante, e portanto havia alguma chance de ele estar lendo o que escrevi. Podia estar lendo os outros, também, mas não se deve descartar a possibilidade de ter sido atraído por aquele título, que falava de um técnico e de sua importância. Talvez ele mesmo fosse um técnico de alguma coisa, ou desejasse sê-lo. Em eletrônica, farmácia, gestão contábil, telecomunicações, nutrição, mamografia, próteses dentárias, abreugrafia, medicina nuclear, revelação & ampliação. Fosse ele um técnico, ou desejasse sê-lo, claro que concordaria com a assertiva daquele título, a importância de ser bom, pode ter se identificado, pode ter feito uma autocrítica, será que sou bom, afinal?, o jornal diz que é importante ser um bom técnico, jornal sabe das coisas.
Eu estava de pé no vagão, indo para a faculdade num complexo sistema de baldeações de linhas, trens e ônibus, mas fiquei ali, ao lado do sujeito, esperando por algum sinal de que ele estava lendo o que eu tinha datilografado no dia anterior em laudas amareladas de papel jornal em cujo cabeçalho era necessário preencher alguns campos como a data, a editoria, o autor, a retranca, o tamanho, e as instruções muito claras: 70 toques por linha, espaço duplo para o revisor fazer suas anotações. Qualquer sinal, um meneio, um olhar de esgueio para o lado, talvez procurando quem também concordasse com ele e com o jornal.
Ao tirar o papel da velha Remington na noite anterior, olhei para aquilo como se olha para o Santo Graal, o pergaminho da sabedoria, as escrituras sagradas, ali via meu futuro e todos os próximos dias da minha vida, e não me importei muito com a indiferença dos outros naquela enorme redação barulhenta, quente e esfumaçada, com um gigantesco mapa múndi na parede de fundo encimado por relógios marcando a hora de São Paulo, Londres, Nova York e Moscou. Para aqueles repórteres, redatores e editores concentrados em suas próprias laudas, elas já não eram mais nada de especial, apenas a conclusão de mais um dia de trabalho, suas laudas saíam dos rolos das máquinas vigorosamente e eram imediatamente levadas pelos contínuos à oficina onde linotipistas transformariam suas letras, palavras e frases em blocos de chumbo, que de lá seguiriam para o setor de clichês, que por sua vez embrulhariam os blocos de chumbo nas laudas manchadas de tinta com elásticos, e de lá elas seguiriam para os gráficos que disporiam os blocos de chumbo um ao lado do outro como num quebra-cabeças, seguindo a diagramação, e os blocos se transformariam em chapas tipográficas que seguiriam para as rotativas onde virariam páginas e, de madrugada, seriam transportados em Kombis para as bancas da cidade.
O sujeito no metrô tinha ido à banca naquele dia, possivelmente se interessou por alguma coisa na primeira página, talvez tivesse o hábito de comprar aquele jornal de logotipo azul todos os dias, e enquanto seguia para seu trabalho, ou de volta para casa, é impossível determinar, abriu o jornal na página onde alguém falava sobre a importância de um bom técnico, e este, anônimo, era eu, e estava ali ao seu lado, torcendo para que ele lesse, para que concordasse, ou discordasse, para que chegasse em casa e, de poucas palavras, enquanto a mulher colocava a mesa para o jantar de todos os dias, comentasse com ela que era importante ser um bom técnico, que por isso mesmo iria procurar um curso no Senac ou no Senai, o jornal dizia que isso era importante, devia ser, pois. Não importava que o técnico em questão era um técnico de futebol, que treinava a Portuguesa, isso era de somenos, a afirmação do título, essa sim devia ser levada a sério. É importante ser um bom técnico, disse o sujeito agora já decidido, raspando o prato e entornando o último gole da cerveja gelada que sua mulher sempre colocava no congelador meia hora antes de ele chegar do trabalho, tomando a decisão definitiva de, no dia seguinte, tratar de ser um bom técnico na vida.
Era uma segunda-feira, dia 19 de abril de 1982, e pela primeira vez alguém há de ter lido alguma coisa que escrevi.
Parabéns Flávio! Tens o dom da escrita. O acompanho desde o início do blog – bons tempos do VELOZ-HP, Leo e outros “monstros” – e continuo curtindo muito teus posts sobre carros, automobilismo, aviação, arquitetura e etc.
Saúde e paz nessa belíssima profissão.
Este foi uma das melhores postagens que vi aqui.
Parabéns.
Prezado F&G : São 38 (trinta e oito) anos de registros, matérias jornalísticas, reportagens, algumas vezes documentários, notas explicativas, a transição da máquina de datilografar para o PC, evolução da tecnologia do telefone ao iphone , contos ,outras vezes narrativas importantes (morte do piloto A. Senna), o desastre do fim dos pilotos brasucas na F-1, a evolução na F-1, entrevistas , o canal do blog. O esporte como notícia, ou entretimento ,Show, ou melhor ainda Fraudes : ( Fifa ) , F-1 , futebol no Brasil, Olimpíadas, Mundial de futebol. Sim existe leitor de todas as naturezas, gostos . Obrigado por sua autenticidade . Por fim aposto uma Pizza que L. hamilton vai bater o Record de Michael Shumacher , de Poles , títulos.
Parabéns, Flavio!!!!!. Tenho muito orgulho de ter sentado a mesa com você e ouvido todos aqueles deliciosos causos. Você escreve bem e fala melhor ainda.
Pelo texto aqui apresentado, já sabemos que o sucesso da carreira é mais do que merecido.
Flávio, um dia me deparei com este documentário do The New York Times (o fim da antiga tecnologia de impressão) e fiquei boquiaberto… https://www.youtube.com/watch?v=1MGjFKs9bnU
Parabéns e Obrigado Flávio!!!!!! Um carreira brilhante com muito combustível ainda pra queimar!!!!!!
Parabéns, Flavio. Esse acervo de fotos é apenas uma das provas de sua competência e resistência de permanecer anos nesse ramo do jornalismo, e também a versatilidade para figurar em diferentes mídias. Mas uma pergunta que não consigo superar: como é que você, se formando em Rádio e TV foi parar justamente… no jornal? Não conheço o curso, não sei se são formações que se entrelaçam e se assemelham, então daí vem minha curiosidade. De todo modo, obrigado por ter optado e persistido em nos contemplar com o melhor portal de automobilismo do Brasil.
Parabéns Flávio Gomes!!! Sou seu fã!!
Vamos a luta companheiro!!!
Parabéns Flávio! Você é um dos melhores jornalistas do Brasil!
Parabéns pela carreira. Saiba que sempre terá alguém lendo seus textos…
Quase um Gaspari do jornalismo esportivo… pelo estilo de escrita…
Flavio,
Parabéns pela data emblemática para sua carreira, no mais, SUCESSO, nunca perca a sua essência, vida longa………
Parabéns Flávio por sua trajetória profissional e como pessoa determinada.
Li e leio ótimos texto que ajuda muito a refletir sobre esses dias tristes que estamos vivendo, saúde, cultura e política.
Tenha em nós seus leitores como o combustível de seu dia dia nos novos textos que virão. Um forte abraço de um veterano seguidor de seu blog.
Parabéns! Flávio = Qualidade, integridade, simpatia e profissionalismo genialmente serviços em textos de irrepreensível Português.
Parabens Flavio!
Parabéns por toda essa trajetória!!
Te desejo muito sucesso sempre!!
Por curiosidade, se puderes responder, quais das fotos acima são as mais especiais? Claro que todas certamente lhe trazem ótimas memórias, mas tem alguma que se destaca no meio das demais? Se eu pudesse aparecer do seu lado em alguma destas fotos, escolheria a 2 ou a 3.
Abraços!!
Que carreira! Demais as fotos, acompanho você faz uns 14 anos, e nunca deixei de ler o que você escreveu por aqui. Parabéns!
Além disso, somente para informar que meu livro chegou certinho. Tinha comprado e chegou todo arrebentado a editora mandou outro, até com outro autógrafo seu. Demais a atenção e o trabalho deles. Obrigado.
Olá Flavinho! Já viu isso? São Paulo 1969…https://www.youtube.com/watch?v=F4d4x9o9gQw
O Flavio teve cabelo um dia!
Sumaré interior de SP ? Campo de provas da Pirelli ?
Não, acho que ele quis dizer o bairro da capital…
Parabéns pela tragetória FG!
Uma data importante como está deve sempre ser reverenciada!
Continue com seus comentários e textos sobre o AUTOMOBILISMO, pois são lúcidos e impecavelmente escritos!
Abraços e longevidade!!
Álvaro!!
FG, hoje é um dia realmente sombrio. Deve haver não mais que 200 pessoas na avenida onde moro gritando AI-5. Mesmo assim, está em curso um ataque sem precedentes à democracia, à liberdade e à saúde das pessoas.
Perdão pelo desabafo. Parabéns pela data e pela coluna, que foram um consolo para mim.
Parabéns…. leio a tempos….
Não dou muita bola para anos, escrever bem mexe com quem sabe alguma coisa, identificação!
Siga assim… sempre! Vida longa aos carros e motos…
Parabéns FG e muito obrigado por tantos excelentes textos.
Sou leitor diário do blog, já comprei dois livros mas ainda me falta o Dois Cigarros.
O Gerd recebi a pouco tempo e adorei os adesivos e o pequeno pôster.
Continue escrevendo para continuarmos lendo?
Gde abraço e felicidades!
Simão