MOTOLAND
SÃO PAULO (aplausos) – Mais uma contribuição luxuosa de blogueiro-motoqueiro que segue na íntegra. A história enviada pelo Arno Ulrich Jr. é simplesmente maravilhosa:
“Boa tarde Flavio, tudi bem por aí? Assisti à sua matéria da moto DKW 1936 e achei espetacular, e resolvi compartilhar contigo a história da minha TWN (Triumph Werke Nurnberg) 1952 Modelo BDG-250. Sou de União da Vitória (PR), divisa com Porto União (SC). Meu pai, em 1954, teve uma desse modelo que comprou 0 km. Alguns anos depois vendeu e arrependeu-se. No inicio dos anos 80 , ficou sabendo que o pai do ex-piloto Mauricio Gugelmin tinha uma na cidade de Guarapuava (PR), foi lá em comprou. A moto estava bem judiada.
Como meu pai era mecânico na concessionária Honda e nossa casa próxima à loja, durante o dia ele fazia os serviços nas motos da revenda e de noite ia cuidar da restauração da TWN. Na época eu devia ter uns 6 ou 7 anos de idade e o acompanhava. Todos lá de casa andaram muito nessa moto, até que no final dos anos 80 ela estragou, e o pai vendo que eu já estava com uns 13 anos não fez questão de consertá-la, pois sabia que não teria sossego comigo louco pra andar.
Em 1993 fiz minha CNH. No mesmo dia ele já providenciou os reparos necessários, e de 93 a 96 era minha locomoção diária. Em 1996 ele a vendeu para um primo em Curitiba para inteirar o dinheiro para comprar seu Escort Hobby 1996 (até hoje na família com 70 mil km todo original). Me cortou o coração ver aquela moto indo embora na carreta e prometi para mim mesmo que um dia ela voltaria para casa.
Em 2004 fui visitar esse primo e acordamos dele me vender pelo mesmo valor que pagou para o pai. Passaram-se duas semanas e ele me ligou perguntando se eu não iria buscar a moto. Falei que sim, mas que precisava juntar o dinheiro. Aí veio o banho de água fria: estava desfeito o negócio, pois ele precisava da venda imediata. Passaram-se anos, e de vez em quando estando por Curitiba eu passava lá na casa dele, e ele já sabia que era para ver a moto. Já me levava direto no barracão onde tem a coleção de jipes para eu matar a saudades. No ano de 2017 fui visitá-lo, com os dólares no bolso (para não precisarmos discutir câmbio). Ele disse que os veículos antigos estavam em alta e que a moto valorizou bastante, mas que iria pensar no assunto. Em janeiro de 2018 me ligou e falou o valor que queria: cinco vezes mais do que tinha pagado para o pai. Respondi que se me pedisse R$ 100.000 e eu tivesse, compraria devido ao valor sentimental. Mas que não havia interesse.
Bem, em junho de 2018 estava almoçando com os Bodes do Asfalto e me deu um estalo de ir visitá-lo. Cheguei com a proposta pronta. Queria pagar X, ele queria Y, logo X+Y/2= Z, e Z eu pagaria naquela hora. Se me pedisse R$ 3.000 eu até pensaria, mas minha proposta era aquela. Para minha surpresa, a resposta foi: me paga o Z e mais o que tem de documentação atrasada. Perguntei quanto era, e me disse que algo em torno de R$ 800,00. Consultei o Detran e os débitos eram de R$ 762,00… Fechei o negocio na hora e já transferi o dinheiro, antes que ele se arrependesse! Só falei: agora a moto é minha, deixa ela aí para eu ver onde levar para fazer funcionar e transportar para União da Vitória.
A moto ficou dois meses em Curitiba, sem ninguém saber, para dar um banho de loja nela. Pouco tempo depois, com ela toda restaurada e placa preta, num sábado de manhã cheguei com a moto rodando na casa do meu pai, com 82 anos… Os olhos dele brilhavam e se encheram de lágrimas ao ver a Xiluque, como ele chamava. Passava a mão em cada detalhe e lembrava de como ele fez cada coisa na época em que a restaurou.
Meu pai nos deixou em julho do ano passado, mas pode ver a moto de volta ao lar.”
Gosto dessas fotos com “soft-rail”… éramos imortais!
Linda a moto e o relato!
Emocionante.
Estórias assim é que fazem a vida valer a pena.
Pais e avós deveriam ser eternos. São em nossos pensamentos, mas que falta faz um abraço.
Que bela história…parabéns ao Arno
Que bela história, isso não é apenas uma motocicleta, é alguém da família sobre rodas. Parabéns ao proprietário pelo bom senso em buscar seu parente distante.
Prezado F&G : Um final sensacional merece um filme , uma boa história, e assim mais uma obra de arte que foi resgatada. Muito legal.
Ah! Essas histórias de amor, de família, de máquinas, de veículos que de inanimados nada têm… Caíram vários ciscos no meu olho quando li porque, além de toda a beleza da história em si, sou apaixonado por motos.
FG,
perdoe o “off topic” mas vou compartilhar aqui com seu leitores.
Leilão ai em São Paulo.
https://www.superbid.net/oferta/fiat-alfa-romeo-1965-1965-placa-final-5-sp-ref-pka-1957627
Meu sonho de consumo e tive a oportunidade de dirigir 3 versões.
2.150
2.300
E o mais maravilhoso de todos, o 2.150 com “restomod” do 2.300
Em Petrópolis – RJ tinham 2, um branco e um verde metálico.
Pena que meu salário de recuperação fiscal já com 6 anos sem reajuste nenhum não me permita fazer uma loucura.
Estupendo, apenas isso…
Que show de moto. E que história legal!!!
Linda história. Saiu lágrimas. Essas lembranças de nossos pais. Parabéns
Simplesmente sensacional…
Muito emocionante.
Quem disse que um veículo é apenas uma coisa?
Não, não é.
Primo casca dura esse, hein?