EM DILMUM (1)
SÃO PAULO (faz parte) – A imagem acima mostra bem o que foi o primeiro dia de treinos para o GP do Bahrein, abrindo a temporada 2022 da Fórmula 1. Um Hamilton cabisbaixo, abatido, amuado, desalentado, esmorecido, prostrado, desiludido, derrotado. Que diabo de carro fizeram pra mim neste ano?, perguntava-se o inglês sob o novo capacete em roxo e amarelo fluorescente desenhado pelo brasileiro Raí Caldato, que há anos cuida do invólucro que cobre o cocuruto do heptacampeão mundial.
Ótimo capacete, diga-se de passagem — como sempre assinala o Craque Neto –, já que será bem mais fácil identificá-lo na pista do que se continuasse usando o modelo escuro em preto e roxo que vestiu no ano passado. George Russell, seu novo companheiro, também tem capacete preto com um discreto filete vermelho. De noite, todos os capacetes são pardos, é o que reza o ditado. No caso de Hamilton, agora ele se parece com o do ex-amigo e ex-rival Nico Rosberg nos primeiros tempos de Mercedes, lembram?
Mas isso não importa agora, é apenas perfumaria, o que interessa saber é: que diabo de carro fez a Mercedes neste ano? “Temos muitos problemas. Grandes problemas, bem maiores que no passado. Que não serão resolvidos em curto prazo. Mexemos em muita coisa no carro hoje e nenhuma mudança funcionou”, disse o piloto. Russell contribuiu para jogar mais sombras sobre o futuro próximo da equipe que venceu os últimos oito títulos mundiais de Construtores e sete de Pilotos entre 2014 e 2020. “Vai levar tempo. Não estamos na briga aqui. Vai ser um fim de semana para limitar os danos. Em condição de corrida estamos mais de um segundo mais lentos que Ferrari e Red Bull. Equipes como AlphaTauri e Alfa Romeo estão no mesmo ritmo que a gente, talvez até melhores.”
Uau. Mercedes brigando com AlphaTauri e Alra Romeo, já pensaram? Divertido é. Principalmente se Bottas, por exemplo, conseguir andar na frente dos carros prateados — o que já conseguiu hoje parcialmente, se colocando em sexto lugar no segundo treino livre; George foi o quarto e Hamilton, o nono. Os tempos estão aí embaixo. Sugiro uma lupa, caso não estejam enxergando nada. Cortesia da nova infografia da F-1, que reduziu o tamanho das fontes (letras seria termo mais adequado e menos informatizado, creio, mas já era, ninguém mais fala letra, só fala fonte) para que ninguém veja nada, mesmo.
Eis aí uma surpresa, a Alfa Romeo nas mãos de Bottas, que no entanto já teve um problema de motor e precisou trocar um componente daqueles que não podem ser trocados ao bel prazer da equipe. Mas como o campeonato nem começou, não teve punição. Guanyu Zhou, seu companheiro, ficou bem para trás, mas é estreante e não tem muito problema começar assim. Outra surpresa, enorme: a Haas.
A equipe que no ano passado se arrastou e que poucas semanas atrás perdeu patrocínio e piloto russos, conseguiu andar bem na última semana nos testes lá mesmo no Bahrein e não é que hoje confirmou que, ao menos, não será uma piada pronta para alegrar “Drive to survive”? Schumaquinho em oitavo e Magnussen em décimo. Tá bom pra vocês?, diria Günther Steiner, estrela da Netflix.
E aí a gente fecha com os demais coadjuvantes antes de entrar na análise um pouco mais detida da turma da frente. Aqui, destaquemos o bom quinto lugar de Alonso, e o desempenho interessante de Gasly e Tsunoda no treino diurno, com sol e calor (de noite o carro perdeu rendimento). Pronto, do pessoal da meiúca falamos tudo. Agora, aos ponteiros.
Verstappen foi o mais rápido do dia com 1min31s936. Perto dele, de verdade, só Leclerc, que fez um tempo 0s087 pior. O terceiro colocado, a outra Ferrari, de Sainz, ficou mais de meio segundo atrás. Hamilton terminou o dia a 1s208 do holandês que defende o título mundial. Russell foi um pouquinho melhor, 0s593 mais lento.
Nada indica que esse quadro vá mudar muito amanhã na classificação. A Mercedes tentou tudo para melhorar seu carro hoje, trocando até o assoalho de Hamilton. Não deu certo. Há quem aposte na Ferrari como “carro a ser batido”, nas palavras do chefe da Red Bull, Christian Horner. Talvez ele esteja apenas jogando para a torcida. Max é favorito à pole e à vitória — prognóstico que vem sendo feito desde o final da pré-temporada.
A McLaren foi a decepção do dia com Norris e Ricciardo lá para trás. A Aston Martin também não andou nada, o que é uma pena. Vettel, afastado por Covid, vai sofrer neste ano. Hülkenberg, o substituto oficial, ficou em 17º mas, pelo menos, fez tempos muito parecidos com os de Stroll — uma façanha para quem nunca tinha guiado esses carros novos.
No ano passado, o melhor tempo da sexta-feira fora de Verstappen, também, 1min30s847. Os carros, portanto, não estão muito mais lentos do que em 2021 — coisa de um segundo no caso da Red Bull. A pole de Max no GP barenita da última temporada foi obtida com uma volta em 1min28s997. Acho que vai ficar perto disso na classificação de amanhã.
É um começo de temporada interessante, esse. As primeiras corridas serão marcadas pela luta da Mercedes para se tornar competitiva. Carro que nasce mal, a gente sabe, é difícil de arrumar. Mas não estamos falando de um time qualquer. Por enquanto, o discurso da equipe prateada é: temos potencial, só precisamos encontrá-lo. Dá trabalho. É uma situação à qual Hamilton se desacostumou nos últimos tempos, exceção feita ao ano passado — quando a equipe claudicou no início, mas se recuperou rápido e venceu três das quatro primeiras etapas do campeonato.
Às 19h estaremos no “Fórmula Gomes” para falar do primeiro dia no Bahrein. Apareçam!
Perrengues e brilhos à parte, o que me intrigou mesmo foi o título que encabeçará as postagens sobre o fim de semana, e por isso fui ao Google pra tentar descobrir do que se tratava. E descobri, claro, o sentido que fazia. Assim, ressalto nesse meu comentário: além de conteúdo jornalístico de qualidade, este blog e seu autor são fonte pura de conhecimento. Como educador, só tenho a agradecer.
Patrón terá bastante trabalho.
Impossível o Russell não estar pensando como Airton em 94: “Pqp, quando chegou a minha vez cagaram no carro.”
Macambúzio, outro adjetivo pro Sr Hamilton.
A Mercedes não fez um carro pra ver os outros passar , para a terceira corrida
a história será outra…vamos aguardar
Sim, é só um treino, mas me chamou a atenção os analistas não relacionarem lé com cré… as equipes clientes do motor Ferrari (Haas e Alfa Romeo) estão dando um banho nas equipes clientes do motor Mercedes (McLaren, Aston Martin e Williams). Não é nada, não é nada e pode ser que não seja nada mesmo. Ou é um sinal de que os motores Ferrari voltaram a rugir alto depois de três anos. Acho que pelo menos até a fase europeia a tendência vai ser a gente ver esses dois times (Haas e Alfa Romeo) somando alguns bons pontinhos. E que bom.
Incrível como mudou o ambiente da Haas para melhor
Hamilton; nas atitudes, na luta contra os poderosos, na luta contra os melhores carros dos adversários, no engajamento social, na luta pelos menos favorecidos, um ídolo nacional (mundial), um ser espetacular, um mártir de historia de contos de fada… Hamilton… cada dia mais Senna.
Tirando o melodrama midiático (fico imaginando a F-1 na Globo e o Galvão o chamando de Hamilton Senna) acredito que a Mercedes apenas está passando pelo que o resto dos time passou nos últimos 8 anos… segue o jogo. Que 2022 seja espetacular e que se o Hamilton não tiver o melhor carro que ele repita alguns milagres de “Donington” ou de “Monaco” para o deleite de seus seguidores.
Tá com cara que Max vai nadar de braçada este ano. Sei lá. A ver.
“Na minha vez, cagaram o carro” – Russell, George
Não fala isso… dá de os caras terem uma etapa na Italia…