TARQUINI, 60 (E 40)

SÃO PAULO (tadinho) – Alexandre Neves mandou ontem, e coloco aqui com um dia de atraso. É que Gabriele Tarquini fez 60 anos ontem e merece nosso respeito. Porque tem um recorde que ninguém mais vai bater: é o piloto que mais tentou se classificar para um GP e não conseguiu: 40 vezes. QUARENTA!

Para os mais novos entenderem, o italiano esteve na F-1 numa época em que tinha mais carro para correr do que vaga no grid. Tempos das famosas pré-classificações. Quando a FIA anunciou em 1986 que iria banir os motores turbo a partir de 1989, muitas equipes pequenas vislumbraram a chance de disputar o Mundial e foram se preparando para entrar no campeonato. A categoria ficaria mais barata e bastariam um chassi, um motor aspirado que podia ser comprado em qualquer supermercado, quatro pneus, um pouco de gasolina e um piloto disposto a bancar a aventura.

Em 1988, 31 pilotos se inscreveram para o campeonato. Mas o regulamento só permitia a presença de 26 carros no grid e 30 participando da classificação. Os novatos, então, passaram a disputar a pré, que qualificava quatro carros para participar das sessões que definiriam o grid. A sessão acontecia das 8h às 9h na sexta-feira. Em geral, os que avançavam da pré acabavam caindo na classificação propriamente dita e nem largavam.

Em 1989, com o fim definitivo dos motores turbo, o Mundial teve incríveis 39 inscritos ao longo da temporada. A turma da pré chegou a ter 13 carros disputando quatro vagas para a classificação, que continuava comportando 30 participantes. Milagres ocorreram, como o de Roberto Moreno ao sair da pré para conseguir um lugar no grid do GP de Mônaco de 1992 na impagável Andrea Moda. Essa farra deliciosa acabou no GP da Hungria daquele ano, quando a Brabham faliu e o número de inscritos não ultrapassava os 30, dispensando a pré-classificação — mas, ainda assim, se o sujeito não terminasse entre os 26 melhores nos chamados “treinos oficiais” ficava de fora do GP.

Pois Tarquini foi eliminado do grid oito vezes em 1988 pela Coloni, 31 vezes de 1989 a 1991 com a AGS e uma vez em 1991 na Fondmetal. Dessas 40 eliminações, 15 se deram depois de passar pela pré-classificação. Em outras 25 ocasiões, nem chegou a lutar por uma vaga no grid e ficou na pré, mesmo. O cara acordava cedo. E ia embora para casa cedo, também.

Que ninguém acabe com a reputação de Tarquini só por isso, porém. Em 2009, aos 47 anos e 266 dias de idade, ele se tornou o piloto mais velho a conquistar um título mundial chancelado pela FIA, o Mundial de Turismo (WTCC), correndo pela Seat. E o blogueiro Zago lembra nos comentários que ele foi campeão de novo em 2018, de Hyundai, aos 56 anos — o campeonato tinha mudado de nome para WTCR, mas não consegui descobrir se ele seguia com status de Mundial. De qualquer maneira, aos 47 ou 56, esse recorde também é dele e quero ver alguém tirar!

Em tempo: Gabriele não se classificou 40 vezes, mas largou em 38 GPs em sua passagem pela F-1 entre 1987, quando estreou, e 1995 — ao voltar para a categoria depois de dois anos ausente. Participou de corridas pela Osella (um GP), Coloni (oito), AGS (13), Fondmetal (15) e Tyrrell (um). Sua melhor participação foi no México em 1989, sexto colocado com a AGS — seu único ponto na F-1, já que naqueles tempos só os seis primeiros pontuavam. É verdade que não viu a quadriculada muitas vezes. Só terminou 12 das 38 provas que começou. Na conta dos abandonos, foram 24 quebras, uma batida e uma rodada. Mas se o sistema de pontuação fosse generoso como hoje, com os dez primeiros marcando, teria feito seus pontinhos com três honrosos oitavos lugares no Canadá em 1988 pela Coloni, em Ímola em 1989 e nos EUA em 1991, ambas pela AGS.

Tem boas histórias para contar o simpático Tarquini, 60. Fora que seu capacete era um arraso.

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GUs
GUs
2 anos atrás

Aquele rapaz dos bancos (Hermann, talvez?) acho que foi colega de equipe dele na Ferrari, quando corriam com a F-40 no Mundial de não lembro o quê. O brasileiro disse que Tarquini era extremamente veloz, um piloto realmente muito interessante.

Mariachi
Mariachi
2 anos atrás

O capacete do Tarquini tinha essa teia no fundo porque ele gostava do homem-aranha! Sempre achei genial!

Endurancer
Endurancer
2 anos atrás

Eu assisti uma corrida do WTCC em Curitiba em que, de Seat, o Tarquini se não me engano ganhou a primeira corrida e largou em oitavo na segunda, com grid invertido. O que lembro bem é que ele terminou bem a primeira e largou mais atrás na segunda. A primeira corrida era com largada lançada, e a segunda, largada parada. Na segunda largada o Tarquini deu uma arrancada, botou o carro pelo lado de fora de todo mundo e passou uns 4 ou 5 caras antes de chegar na chicane no final da reta . Vi depois ele fazer algo parecido algumas outras vezes. O Tarquini larga muito bem comparado à maioria dos pilotos de turismo. Pode ter largado poucas vezes na F1, mas a experiência de largar de monopostos ajudou bastante.

Fabio
Fabio
2 anos atrás

Não sei porque, mas esse “quarenta” me lembrou de quando você, o Fábio Seixas e o Odinei Edson trabalhavam na Radio Bandeirantes e vocês sempre ficavam repetindo quareeenta, até hoje não sei o motivo.

daniel
daniel
Reply to  Fabio
2 anos atrás

Se não muito me engano, era uma rádio espanhola que tinha um horário com as quarenta mais pedidas ou mais tocadas, e a chamada tinha esse “quareeeeenta”. Também até onde me lembro, o Seixas que trouxe para a transmissão e foi ficando. Isso me “assombra” até hj, não posso ver um 40… rs

Fabio
Fabio
Reply to  daniel
2 anos atrás

Mais de 20 anos pra descobrir isso, hahaha, valeu.

Thiago Azevedo
Thiago Azevedo
2 anos atrás

Essa fase de pré-qualificação é legal porque é uma galera tarada. Mas, pela grana que vai, é uma crueldade…
Piloto bom não classificar é sinal que não há milagre no automobilismo.

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
2 anos atrás

Lembro de madrugar em Interlagos para ver a “pré” na sexta feira.

Zago
Zago
2 anos atrás

Flavio, o Tarquini foi campeão do WTCR (que é o novo WTCC) em 2018, com 56 anos!!! o_O

Last edited 2 anos atrás by Zago
Anderson Assis
Anderson Assis
2 anos atrás

Em 2019 ele ainda estava na ativa, assisti uma corrida do WTCR em Vila Real, Portugal e ele estava firme lá. Aposentou neste ano de 2022.

Marcos Costa
Marcos Costa
2 anos atrás

Tem uma galera interessante neste “record” de não largadas.
40 – Gabrielle Tarquini
37 – Bertrand Gachot
35 – Piercarlo Ghinzani
33 – Roberto Moreno
26 – Arturo Merzario e Nicola Larini
25 – Yannick Dalmas e Bernd Schneider
24 – Stefan Johansson e Eric Van de Poele
22 – Aguri Suzuki
21 – Michele Alboreto e Olivier Grouillard
20 – Alex Caffi e Paul Belmondo

Menção honrosa
Claudio Langes – 14 tentativas, nenhuma largada
Pedro Chaves – 13 tentativas, nenhuma largada
Volker Weidler – 10 tentativas, nenhuma largada

Marcus
Marcus
Reply to  Marcos Costa
2 anos atrás

Alguns dos nomes brilharam enquanto tiveram bólidos pelo menos decentes. Um – Alboreto – poderia ter sido campeão se a Ferrari não tivesse sido tão incompetente.

Marcus
Marcus
2 anos atrás

Tarquini é o Moreno italiano. Na verdade, teve menos chances ainda – o Moreno ainda andou de Benetton ao menos – e nunca teve um carro à altura do seu talento. O que ele fez no México em 89 não foi muito menos que o Moreno em Monaco-92, ainda que a AGS não fosse tão indigna quanto a Andrea Moda. Merece respeito, e tinha mesmo um casco lindo.

Luciano K
Luciano K
2 anos atrás

Bela homenagem Flávio!. Tarquini na minha opinião era a versão italiana do nosso Roberto Puppo Moreno, ambos conseguiam milagres com as cadeiras elétricas do final de grid da F1. Salvo engano, os dois foram responsáveis pelos dois únicos pontos da AGS na F1.

João Henrique Leme
João Henrique Leme
2 anos atrás

Fez milagre! Conseguiu pontuar!

Pedro Leonardo
Pedro Leonardo
2 anos atrás

Tarquini, um lutador.

Marcio K
Marcio K
2 anos atrás

Ele era muito resiliente ou tb tinha muito dinheiro?

Endurancer
Endurancer
Reply to  Marcio K
2 anos atrás

Eu acho que se tivesse muito dinheiro não estava correndo profissionalmente até quase os 60

Antonio
Antonio
2 anos atrás

Tive a oportunidade de vê-lo correr, 3 vezes, na WTCC, em Curitiba. Bom piloto e boa gente o carequinha, nunca negando uma foto ou autógrafo.