EM BUDA OU PESTE? (2)

Russell na pole: surpresa monstruosa em Hungaroring

SÃO PAULO (surpresa, e sem chuva)George Russell, ele mesmo, larga na pole para o GP da Hungria amanhã. É a primeira do piloto inglês na F-1. Demorou 73 GPs para chegar lá. Mas apenas 14 vestindo o macacão da Mercedes – os 13 deste ano mais o GP de Sakhir de 2020, que disputou no lugar de Lewis Hamilton. Jorginho se torna o 105º piloto a fazer uma pole-position na história da categoria. Foi uma tremenda surpresa. Maior ainda porque conseguiu a façanha no seco, batendo a favorita Ferrari naquilo que a gente costuma chamar de CNTP — condições naturais de temperatura de pressão.

O tempo de Russell, com uma volta excepcional no apagar das luzes do Q3, foi de 1min17s377. Ficou 0s044 à frente do segundo colocado, o ferrarista Carlos Sainz, e 0s190 diante de Charles Leclerc, terceiro com a outra Ferrari. Lewis Hamilton ficou apenas em sétimo, a 0s765 do jovem companheiro. Um problema reportado em sua asa móvel, que não funcionou, justifica a diferença entre o #44 e o #63. Verstappen, que teve problemas técnicos no Q3, larga em décimo.

O grid na Hungria: embaralhado, ainda que no seco

Depois da chuvarada do início da tarde em Hungaroring (o terceiro treino livre começou às 13h locais), o tempo deu uma firmada e a classificação aconteceu já sem água e com pista inteiramente seca – o asfalto do circuito magiar costuma secar muito rápido. Mas quem olhasse para o alto notaria nuvens muito carregadas rondando o autódromo. Por isso, no Q1, todos se apressaram em ir para a pista porque o céu poderia desabar a qualquer instante.

A temperatura, que na sexta-feira ultrapassara os 30°C, era de 22°C no início do Q1, com 30°C no asfalto – chegara a 50°C no dia anterior. Verstappen foi o primeiro a entrar logo na casa de 1min18s, fazendo 1min18s792 no início da sessão. A Mercedes, recuperada do mau desempenho de ontem – tudo que tentou em termos de ajustes foi jogado no lixo –, ciscava ali por perto, com Hamilton e Russell não muito distantes da Red Bull e da Ferrari. Era um prenúncio do que estava por vir.

Os tempos do Q1 foram muito apertados. Faltando 1min30s para a quadriculada, a diferença entre Verstappen, então líder, e Latifi, o 15º, era de menos de 1s. Com o cronômetro zerado, todo mundo estava na pista com volta aberta. E Hamilton, quem diria, ficou com o melhor tempo: 1min18s374. Russell, quem diria de novo, foi o segundo, 0s033 atrás. Sainz, Verstappen e Norris ficaram nas cinco primeiras posições. Leclerc terminou numa discreta oitava colocação. Stroll, o último a escapar da eliminação, ficou menos de 1s atrás de Lewis. Dançaram, pela ordem, Tsunoda, Albon, Vettel, Gasly e Latifi.

Hamilton: P1 no Q1

Sobre os degolados, algumas palavras. Vettel quase chorou, por causa do esforço dos mecânicos para arrumarem seu carro, batido no treino livre. Gasly teve sua melhor volta cancelada, por exceder o limite da pista na curva 5, e ficou fora. E a noite de Cinderela de Latifi (explicações sobre a fábula vivida pelo canadense nas caixinhas coloridas abaixo) acabou quando ele errou na última curva, depois de ter feito, vejam vocês, o melhor primeiro setor de todos na sua volta rápida. Larga em último. Como de costume.

Verstappen entrou na casa de 1min17s pela primeira vez no fim de semana, com 1min17s703 em sua primeira saída dos boxes no Q2, um tempo muito bom. Alonso, quem diria de novo mais uma vez, colou nele com uma diferença de 0s201. E nada de chuva.

A Ferrari parecia estar guardando alguma coisa para a hora da decisão. Foi só nos últimos momentos da segunda parte da classificação que Charlinho deu sinal de vida, com um tempo apenas 0s065 pior que o de Verstappen, desalojando Alonso do segundo lugar.

O grande derrotado do Q2 foi Sergio Pérez, que teve uma volta apagada por ultrapassar limites de pista — depois devolvida — e quando fez nova tentativa pegou tráfego e ficou apenas em 11º. Uma tragédia para um piloto da Red Bull não avançar ao Q3. Zhou, Magnussen, Stroll e Schumacher vieram depois dele e foram para o chuveiro mais cedo.

Pérez, eliminado no Q2: decepção para a Red Bull

A primeira bateria de voltas rápidas no Q3 foi, para dizer o mínimo, espantosa. Carlos Sainz virou 1min17s505 e enfiou quase meio segundo em Leclerc, que ficou em terceiro porque Russell se enfiou provisoriamente na segunda posição. Verstappen cometeu um erro no início de sua volta e ficou apenas com o sétimo tempo.

Nesse cenário, os minutos finais de uma classificação acabam sendo muito tensos para aqueles que têm muito a perder. Claro que estamos falando de Max e Charlinho. Para os outros, estava tudo mais ou menos bem. Sainz, então, torcia para que o mundo acabasse em barranco para morrer encostado e na pole.

Problemas para Verstappen: sem potência

Verstappen saiu dos boxes já reclamando que não tinha potência em seu motor. O engenheiro mandou que ele mexesse nos botões do volante. Uma combinação misteriosa: “4-8-15-16-23-42”, disse. “Não está funcionando nada”, respondeu Max. Seu sábado estava comprometido e acabado. Sainz melhorou seu tempo. Leclerc, também. Mas…

Mas foi George Russell quem, incrivelmente, colocou a Mercedes na pole pela primeira vez no ano, com uma volta beirando a perfeição. Quem diria de novo, mais uma vez e novamente. Um espetáculo, uma redenção para a equipe alemã. Sainz terminou em segundo, seguido por Leclerc, Norris, Ocon, Alonso, Hamilton, Bottas, Ricciardo e Verstappen em décimo. O líder do Mundial saiu de carro cuspindo marimbondos. Russell, saltitando numa alegria incontida.

Derrubou todas as casas de apostas.

Russell: volta mágica, primeira pole da Mercedes no ano

“Hoje não foi um dia bom”, admitiu Leclerc. Os pneus não funcionaram direito no carro da Ferrari, talvez por causa das temperaturas bem mais baixas que o esperado. “Ainda não entendemos o que aconteceu.” Sainz, com o outro carro vermelho, bufou. “Achei que tinha o ritmo para fazer a pole, mas cometi um erro na minha volta. Parabéns para o George.”

Parabéns para o George. Todos deram parabéns para o George. Sorrindo, o inglês da Mercedes deu sua primeira entrevista olhando para as arquibancadas que o aplaudiam de pé. “Estou na lua! Ontem tivemos talvez a pior sexta-feira do ano e hoje mudou tudo. Não sei se estamos de volta, temos de ver amanhã, o ritmo de corrida da Ferrari é muito forte, mas foi um dia mesmo muito especial para nós”, falou.

Antes de terminar o textão do dia com algum gran finale emocionante, a alegria das caixinhas coloridas:

LALÁ LÁ – O melhor do sábado em Budapeste foi o terceiro treino livre. Nicholas Latifi, ele, a lenda, o mito, terminou em primeiro. No rádio, quando avisado pela equipe que era P1, disse, humildemente: “Eu estava mesmo me perguntando se esses aplausos eram para mim…”. Porque houve aplausos de verdade da torcida na arquibancada, além de um festival de sorrisos nos boxes da Williams.

ÁGUA – Foi uma sessão, a de Latifi, realizada 100% do tempo com chuva e pista molhada. Alonso foi o primeiro a usar pneus intermediários e foi com esses que, no fim, vieram os melhores tempos. Atrás do canadense ficou Leclerc e, em terceiro, Albon. Sim, Albon! Que foi extraoficialmente confirmado pela Williams para continuar no time em 2003. O chefe Jost Capito disse à TV alemã que ele fica. É bom lembrar que o tailandês está na Williams emprestado pela Red Bull.

REGISTRE-SE – Para os anais: o tempo de Latifi, P1 pela primeira vez numa sessão oficial da F-1, foi de 1min41s480. E ele não foi pouco mais rápido que os outros, não. Meteu 0s661 em Leclerc. A única intercorrência da sessão, apesar da chuva intensa e da pista encharcada, foi uma batida leve de Vettel quando faltavam 9min para o final do treino. Seu carro foi retirado rapidamente e na retomada das atividades, com 4min de tempo disponível, Latifi brilhou.

MECÂNICO, TAMBÉM – E, por causa da batida, a Aston Martin teve de trabalhar rápido para arrumar o carro de Vettel em tempo para a classificação. O time de mecânicos, por isso, precisou ser reforçado. E quem foi lá trabalhar nos boxes? Ele mesmo, Vettel. Outra lenda, outro mito.

Há uma possibilidade de chuva para amanhã no horário da corrida, 10h de Brasília. Menor que hoje, mas existe. Seja como for, no molhado ou no seco, quem larga na pole na Hungria sempre tem a obrigação de, pelo menos, sonhar com uma vitória. Ainda que o carro não seja o melhor do mundo.

É o caso da Mercedes de Russell. Que virou o jogo de uma maneira incomum de ontem para hoje. Hamilton disse que se não fosse o problema da asa móvel, uma primeira fila prateada não deveria ser descartada. São os mistérios deste campeonato. Justo a Mercedes, que tem tanta dificuldade para aquecer os pneus, conseguiu fazê-lo num dia frio com temperaturas no asfalto que, normalmente, fariam Hamilton e Russell se desesperarem. Dá para ganhar? Uai, por que não?

É uma corrida totalmente aberta. A Red Bull não contava com um sábado tão ruim, com Verstappen em décimo e Pérez em 11º — pior grid do ano para o time. A estratégia é clara: pontuar como der, enfiar a viola no saco e seguir para as férias ainda com uma boa folga na tabela. Qualquer coisa melhor que um quarto lugar, amanhã, será comemorado como um gol aos 45 do segundo tempo. A Ferrari foi surpreendida com as dificuldades para fazer os pneus funcionarem. Mas aposta no ritmo de seus carros com tanque cheio e em longas séries de voltas. A Mercedes não imaginava largar na pole, o que vier é lucro.

No fim, nem precisou de chuva para embaralhar o grid e gerar a expectativa de uma grande corrida em Hungaroring. Foi tudo no seco, mesmo. O crupiê não quis se molhar. Distribuiu as cartas de outro jeito. Enfiou Russell na pole, Norris em quarto, Ocon em quinto, Alonso em sexto, Verstappen em décimo. Vai ser legal, amanhã. Se bobear, podemos ter uma das melhores corridas do ano.

Falaremos disso às 19h no YouTube, onde temos uma emissora de televisão.

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14 Comentários
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SulIvan
SulIvan
1 ano atrás

Imaginem se as Ferraris se enroscam já na saída? Daí sim teremos o VERDADEIRO BANQUETE DOS MENDIGOS !!!!

Marcos Alvarenga
Marcos Alvarenga
1 ano atrás

Apesar de não ser mineiro você usa a palavra uai em seus escritos com maestria.

Renato Flores
Renato Flores
1 ano atrás

KKKKKKKKK

Saquei na hora os números de Lost. Muito bom!

Edson
Edson
Reply to  Renato Flores
1 ano atrás

Desconfiei que fosse isso…..

CHAGAS
CHAGAS
1 ano atrás

Russel literalmente fez chover.

SulIvan
SulIvan
1 ano atrás

Se chover Geroge consegue segurar o pelotão mas no seco deve ser engolido pelas FERRARIS e talvez até por VERSTAPPEN s este conseguir passar pelos mis lentos sem muita perda de tempo, pódio pode ser 1-LEC com Sainz sacrificado, 2-SAINZ e 3-O HOLANDÊS VOADOR MaxVerstappen ou até mesmo George, e o resto sera o resto. Sergio P5 ou P4 e MAX P4 ou P3. MAS tudo pode mudar: chuva , estrategias de pitsstops-pneus, safety cars, etc,,,,, tem tudo pra ser uma corrida intensa, veremos então.

Edson
Edson
1 ano atrás

Agora só falta temos uma bela panca na largada amanhã para alguns favoritos ficarem pelo caminho. Verstapen no meio do grid não está muito acostumado com a confusão.

Luciano Brito
Luciano Brito
1 ano atrás

Mercedes promete depois das férias. Será que Hamilton fará estratégia para Russell tentar vencer amanhã?

Junior
Junior
1 ano atrás

Sera que Russell esta começando a contar uma história de piloto campeão? Ele é ainda uma promessa, mas sera campeão quando ganhar um bom carro ?

Cristiano Lopes
Cristiano Lopes
1 ano atrás

Boa a sacada. Red Bull is “Lost” in Budapest.

Last edited 1 ano atrás by Cristiano Lopes
Rafael N
Rafael N
1 ano atrás

Eu comentei muitas corridas atrás, que certos pilotos novos que dá gosto de ver. E Russell goj um dos que citei a época. Que linda essa pole position hoje!

Marcus
Marcus
1 ano atrás

Eu, muito errado, pensei que a RBR fosse se dar bem na Hungria. O Latifi pode não estar à altura da F1, mas parece ser muito gente boa.

Plinio
Plinio
1 ano atrás

Classificação surpreendente. Ótimo. Talvez isso ajude a incrementar a corrida nessa pista terrível. É curva em cima de curva. A pista é estreita e a reta nem é tão grande assim. Os enormes carros da F1 formam um belo trenzinho.

murilo
murilo
1 ano atrás

Achismo: Amanhã Leclerc vence, Sainz em segundo após liderar a corrida toda e ceder a vitória por ordem de equipe, e Verstappen se recupera pra chegar em terceiro. Russel 4º, Hamilton 5º, Alonso 6º. Corrida chata.