Ver o mundo

SÃO PAULO (sonho de todos) – Republico o “press-release” porque a história é ótima, e boas histórias merecem ser contadas. Agradecimentos ao Pandini, que me enviou.

Viajar pelo mundo de automóvel não é uma aventura incomum nos dias de hoje. Mas as coisas mudam de figura quando tal viagem é feita a bordo de um Citroën DS, versão break (station wagon). Manuel Boileau, francês de 36 anos, já percorreu 36 países (incluindo o Brasil, onde chegou em meados de outubro) fazendo reportagens com crianças de cada país para o projeto Lunaya, que reverterá em recursos para a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

A escolha do Citroën DS deveu-se “por amor ao carro”, segundo Manuel. “Ando de DS desde que tenho carteira de motorista. É um modelo excepcional, com uma concepção da década de 1950, porém muito avançado em relação a seu tempo. Um exemplo perfeito em termo de inovação tecnológica e de design”, elogia. “É um veículo mítico na França: ele marcou a história do país, pois o DS salvou a vida do presidente Charles de Gaulle quando do atentado do Petit Clamart.”

Além do aspecto histórico e sentimental, Manuel leva em conta a robustez do DS e sua mecânica simples, sem eletrônica ou injeção: o modelo escolhido para a aventura é básico e pode ser consertado em qualquer país. “Trago comigo algumas peças de reposição e faço eu mesmo eventuais consertos. Só recorro a oficinas quando preciso de conhecimentos específicos ou de ferramentas que não tenho no carro.”

Mesmo sem ter relação oficial com a Citroën, Manuel recebe total atenção das concessionárias da marca nos países que visita.

Pelo acordo firmado com a Unicef, o Lunaya faz reportagens com crianças de cada país visitado. São feitas três perguntas às crianças encontradas: “Qual é o seu sonho?”, “O que você quer ser quando crescer?” e “O que significa ser adulto?”. Uma criança escolhida ao acaso põe sua mão coberta de tinta sobre o capô do DS. Após a viagem, o capô será leiloado em Paris, com renda revertida para a Unicef. “As crianças são oriundas de todos os níveis sociais e culturais. Procuro nas escolas, nos orfanatos ou simplesmente na rua ou em parques”, explica Manuel.

Um aspecto interessante e que torna a viagem ainda mais inusitada, ao menos para os dias de hoje, é que Manuel não usa GPS nem telefone celular por satélite para se localizar: “Prefiro os bons e velhos mapas de papel, que são mais fáceis de encontrar. Quando acho que estou perdido, pergunto o caminho às pessoas. É uma outra maneira de entrar em contato com a população local, qualquer que seja o idioma. É claro que às vezes isso cria situações engraçadas”.

No Brasil, por exemplo, Manuel afirmou ter sido muito bem atendido pelos policiais aos quais recorreu quando precisou de informações. “Às vezes eles me param nas estradas, mas é mais para olhar o carro e fazer perguntas sobre o DS, um carro que eles não conhecem”, conta. Manuel só não gostou muito das estradas brasileiras. “Conheci caminhos muito piores em outros países. Mas devo confessar que as estradas que peguei no Brasil até agora não eram de muito boa qualidade, mesmo com pedágios caros. Na França, estamos acostumados a pagar para ter estradas de excelente qualidade”, compara.

Suas preocupações diárias são encontrar um lugar seguro para estacionar o Citroën DS e dormir dentro do carro. Manuel também procura todos os dias por lugares para tomar banho e água potável. “A motivação maior de uma viagem como esta é fazer cada dia ser diferente do outro. Por exemplo, estar ao lado das cataratas do Iguaçu e três dias depois estar no centro de São Paulo. Da janela de meu carro, pude ver o Gange (rio sagrado indiano), templos budistas, a estátua da Liberdade, o Grande Cânion e as pirâmides astecas no México. E, em breve, o Corcovado, no Rio de Janeiro…”

A Lunaya é uma associação composta por cinco pessoas, todas voluntárias. “Eu sou o único a viajar. As outras pessoas ajudam a partir da França, implementando todas nossas ações: venda de camisetas e cartões postais, relações com a imprensa e trabalho com o rádio.” O nome é resultante de duas palavras do idioma espanhol: “Luna” (lua) e “aya” ou “alla” (lá, ao longe). “A lua faz sonhar”, ressalta Manuel. “Andar na lua tem sido um desafio humano, algo extraordinário. ‘Lunaya’ poderia significar: ‘Vamos ver lá ao longe se a lua é a mesma'”, explica.

A escolha dos países a serem percorridos foi feita com antecedência, mas o roteiro dentro de cada país varia em função de fatores diversos: “Alguns países foram escolhidos por vontade de conhecê-los. Outros não faziam parte do projeto inicial, mas entraram para facilitar a viagem. Por exemplo, não era possível cruzar Mianmar (Birmânia) para chegar à Tailândia a partir da Índia. A alternativa foi pegar um barco para Cingapura”.

Inicialmente prevista para durar entre 18 e 20 meses, a aventura de Manuel deverá ser encerrada após 2 anos e 8 meses (32 meses). A partida oficial aconteceu em 28 de maio de 2005 e a chegada está prevista para meados de fevereiro de 2008. Antes da partida, foram necessários dois anos de preparação para organizar a viagem (procura de parceiros, preparação completa do Citroën DS, documentação do carro e do motorista, vistos e seguros) e assegurar a verba necessária (cerca de US$ 30.000).

Patrocinadores e apoiadores (principais):
Unicef − Para as reportagens sobre as crianças do mundo.
Dondel − Pela organização interna do DS (cama, refrigerador, fogão e outros equipamentos).
Citroën Ets Blondeau − Preparação técnica do DS e peças mecânicas de reposição.
Fnac e rádio Fajet − Contatos com a mídia francesa e difusão das aventuras em tempo real.
DS ID Club de France − Clube de Citroën e veículos antigos para ajuda técnica e suporte logístico (envio de peças em caso de problema durante a jornada).

Países visitados:
1) França (maio 2005)
2) Alemanha (junho 2005)
3) República Tcheca (junho/julho 2005)
4) Polônia (julho 2005)
5) República Eslovaca (julho 2005)
6) Hungria (julho 2005)
7) Romênia (agosto 2005)
8) Bulgária (agosto 2005)
9) Turquia (agosto/setembro 2005)
10) Irã (setembro 2005)
11) Paquistão (setembro 2005)
12) Índia (outubro 2005)
13) Nepal (novembro 2005)
14) Índia (novembro/dezembro 2005)
15) Cingapura (dezembro 2005)
16) Malásia (dezembro 2005/janeiro 2006)
17) Tailândia (janeiro/fevereiro 2006)
18) Laos (fevereiro 2006)
19) Vietnã (março/abril 2006)
20) Camboja (abril/maio 2006) e volta ao Vietnã (junho/julho/agosto 2006)
21) Canadá (setembro/outubro 2006)
22) Estados Unidos (outubro/novembro/dezembro 2006 e janeiro 2007)
23) México (janeiro/fevereiro 2007)
24) Guatemala (fevereiro 2007)
25) El Salvador (março 2007)
26) Honduras, somente em trânsito (março 2007)
27) Nicarágua (março 2007)
28) Costa Rica (março 2007)
29) Panamá (abril/maio 2007)
30) Colômbia (maio 2007)
31) Equador (junho 2007)
32) Peru (junho/julho 2007)
33) Bolívia (julho 2007)
34) Chile (julho/agosto 2007)
35) Argentina (setembro/outubro 2007)
36) Brasil (outubro 2007)

Próximos países: Senegal, Mauritânia, Marrocos, Espanha, Portugal e França.

Para saber mais: www.lunaya.fr

Aplausos efusivos, boa sorte em sua jornada, Manuel!

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André Buriti
16 anos atrás

Eu viajei no início do ano pra Salvador, de Fusca, um 1300 recém reformado, ano 75.
Não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, basta fazer um bom planejamento da viagem com as opções de pernoite devidamente pesquisadas, não precisa ser um hotel cinco estrelas, existem bons hotéis pelas estradas, geralmente perto de pequenas cidades.
O mais importante é não ter pressa de chegar, saber seu limite e o do carro, não escapei de alguns sustos, como as estradas destruiídas pelas chuvas e um enguiço ou outro, mas faz parte da aventura.
É como dizem o melhor da viagem está no caminho, não na chegada.

Beto Traballi
Beto Traballi
16 anos atrás

Bonne Voyage.

R/T
R/T
16 anos atrás

Esse cara passou hoje aqui em São Sebastião, com essa DS Break, até comentei com quem estava batendo um papo sobre a presença deste carro tão raro pelas bandas de cá

Pelo jeito estava indo pra Ilhabela, ou vindo de lá

.
.
16 anos atrás

teste

Pedro Jungbluth
Pedro Jungbluth
16 anos atrás

Ele não gastou 30 mil nisso não… Não consigo acreditar que viajar seja tão barato!

Caio, o de Santos
Caio, o de Santos
16 anos atrás

Ah, eu faria.
Largaria tudo e iria.
Claro, depois de ganhar na MegaSena.
Só não sei com que carro iria!

Gustavo
Gustavo
16 anos atrás

Fantástico,

E pensar que me chamaram de louco quando fui de São Paulo a Buenos Aires de NIva……

Walter
Walter
16 anos atrás

Certeza que quando ele viu o preço da gasolina aqui, ele pediu mais U$ 30.000,00…

reginaldo Nat rock
reginaldo Nat rock
16 anos atrás

A oportunidade veio e…passou. Perdi o bonde da aventura pelo mundo. Por mais de vinte anos, viajei pelo pais , conhecendo profissionalmente lugares espetaculares que ainda penso em rever e mostrar para minha filha. Alguns ela já conheceu. Europa, somente viagens curtas.
Ao fim, não posso me queixar.
Meu caríssimo Comendattori, minha mulher topa uma nova aventura como essa só que, nem pensar em acampar ou dormir num carro. Tem que ser num hotel. Aí, perde a graça né não?
E o carinha viaja de Citroen. Seu irmão mais velho, o traction avant é o meu graal.
Estou bem perto de um. Como o FG escreveu meses atras a respeito de um Voyage de uma senhora perto da casa dele, repito o mesmo comentário ” um dia ele vende,”

E olha o farnel chegando gente.

Lucas Carioli
Lucas Carioli
16 anos atrás

Sensacional! Esse cara é o “Amyr Klink sobre rodas”!

Viajar de carro é o máximo, adoro. Já sonhei em rodar o mundo com meu Kadett GS, mas tenho pena de colocá-lo pra sofrer, ainda que acredite que vá resistir bravamente. Sem falar que o banco de trás é apertado pra cacete. Não dá pra dormir ali sem pegar um tremendo torcicolo.

Sobre os DS, concordo que sejam carros fantásticos assim como seu antecessor, o Traction Avant.

Abraços!

André Pedralho
André Pedralho
16 anos atrás

Falando em viagem, recomendo o blog http://www.rockpesado.com.br. É de um cara q trabalha comigo e saiu de Manaus e foi até Montevidéu de moto. Será q um dia terei tempo e dinheiro pra fazer viagens assim?

Acarloz
Acarloz
16 anos atrás

Commendatore, melhor a patroa não ler esse seu scrap hein…

Maurício Morais
Maurício Morais
16 anos atrás

Bela iniciativa, unindo o útil ao agradável, Manuel vai traçando um mapa da infância no mundo. Muito bom, parabéns.
É legal ver o blog se abrir para causas nobres com essa.

Ricardo
Ricardo
16 anos atrás

Olá,
Taí um sonho de muita gente. Como diz o Ceregatti, nestas horas as raízes atrapalham um pouco. Já “mochilei” muito na Europa entre 84 e 85. No Brasil tambem fiz algumas loucuras (SP a Natal de fusca 76, p. ex.) mas volta ao mundo (ainda) não dei não.
Quem sabe se pinta um patrocício ?
[ ]´s

Fernando Barenco
Fernando Barenco
16 anos atrás

É meu sonho e aposto que de muita gente também, fazer uma viagem como essas. Pena que não temos tempo, ou dinheiro, ou coragem mesmo de realizar nossos sonhos. Aí a vida passa…

Claudio Ceregatti
Claudio Ceregatti
16 anos atrás

Que inveja sinto agora…
Viajei muito de moto pelo Brasil, entre 1977 e 1984. E quase nada de carro pela Europa, em 1994 e 1996.
Sorvi cada palavra desse texto, do nosso honorável amigo Panda como se fosse eu.
Esse é um sonho que difícilmente realizarei, a não ser que fique viúvo.
Cair no mundo, pegar a estrada, ver o chão passar.
Conhecer lugares, não entender pessoas, se perder completamente.
Não ter hora, nem lugar, nem destino certo: Apenas incerto.
A mesma alegria solitária do piloto dentro do seu capacete, mas sem capacete.
Pena que fiz pouco disso, queria muito, muito mais.
Só na próxima encarnação.
Ou na viuvez, se houver.
Acho que não.

Ze Rodrigo
Ze Rodrigo
16 anos atrás

Pois é, eu li outro dia sobre este assunto no jornal e fiquei pensando porque que eu nunca fiz algo parecido. O cara é o máximo, e o carro também!
:-)))

Rafael Chinini
Rafael Chinini
16 anos atrás

linda iniciativa, e potima aventura.
Carro realmente bem diferente e inovador.
Parabéns pela divulgação, pq a TV não mostra isso….só vai mostrar caso ele morra, um aviçao caia em cima, ou coisa do tipo.
Precisamos de notícias boas!

Belair
Belair
16 anos atrás

Parabens ao Manuel e a Voce tambem FG, por conseguir simplesmente repassar uma boa história. Como é que voce faz para esconder tão bem a inveja de ver alguem realizar assim o sonho de todo amante de carros?

Rogério Magalhães
Rogério Magalhães
16 anos atrás

Simplesmente sensacional !!! Uma senhora aventura… isso sim é conhecer o mundo…

Acarloz
Acarloz
16 anos atrás

Que aventura hein! acho que muita gente cultiva esse sonho, mas poucos teriam a coragem e o desprendimento para realizá-lo.

Abraço