AS DELÍCIAS DO ESCREVER

SÃO PAULO (saudades das pastilhas) – A dica foi do Panda, o texto está no blog do Ricardo Soares. Só entende quem suou a camisa, suou mesmo, porque não havia ar-condicionado, no quarto andar da Barão de Limeira em meio às metrancas das Remington para, no fim da noite, catar a criança recém-saída das rotativas. E achar um monte de erros, dizer que ficou uma merda, arrumar tudo, e no dia seguinte fazer tudo de novo.

O jornalismo como o conheci não existe mais, e aqui não é mais um caso de nostalgite aguda, mas apenas uma constatação. Os jornais estão se tornando quase desnecessários, porque são ruins. Talvez tenham sido sempre ruins (mas não eram; faço a concessão apenas para que não me acusem, de novo, de viver do passado), mas eles eram importantes e era neles que todos buscavam esse negócio chamado informação.

Éramos os donos da informação. A internet nos tirou, de nós, jornalistas, o título de proprietários das notícias. Elas estão aqui, ali, em todo lugar, a um clique do computador ou do celular. Nâo há mais furos ou surpresas. Nada que se guarde para o dia seguinte.

Tudo se sabe, a velocidade é estonteante. Mas, no fundo, continuamos sem saber de nada. E o mundo precisa de alguém que organize as coisas, porque senão todos enlouquecem. Aí voltamos nós, jornalistas, para organizar as coisas. Só que em outros meios. O jornal de papel vai ficando para trás, o barulho da Redação, assim mesmo, com R maiúsculo (uma de nossas manias; a Redação é nosso templo), é apenas um rumor que ficou para trás, que talvez os cientistas reencontrem no futuro, como o eco do Big Bang.

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Paulo Franco
16 anos atrás

Olha, ruim , mas ruim mesmo é o jornal A Gazeta do Povo de Curitiba.
Alem de chupar TUDO da Folha, ainda informa as locais atrasado e TODO DIA, (não falha um!) aparece pelo menos um erro de português.
Se alguem achar pouco, eu digo que aprendi a ler e comecei a escrever no colo do meu pai, nas aparas de papel daquele Estadão de outrora.
Portanto, uma das funções básicas de um jornal é divulgar corretamente uma lingua, para ajudar a formar o povo da sua nação.
Paulo Franco

Cesar Costa
Cesar Costa
16 anos atrás

Não acho que os jornais perderam espaço pra internet não Tio Gomes. Há mais de 20 anos dou aulas de Jornalismo Impresso na faculdade que mais coloca profissionais no mercado do Rio (não por culpa minha, é claro!). E olha que tenho alguns ex-alunos que agora estão no mercado que eram fraquíssimos. O problema é que de uns cinco anos pra cá os alunos acham que não precisam saber de nada. Não lêem jornais, revistas, não ouvem rádios de notícias e sequer o Jornal Nacional, porque acham que a internet supre essa falta de informação. Por outro lado, os jornais deixaram de ir além da notícia que sai na TV, no rádio ou na internet. Limitam-se a reproduzir declarações, até para se precaverem da má formação dos profissionais (é mais fácil reproduzir o que disse a autoridade, sem questioná-la, porque aí diminui a margem de êrro). Além disso, é impressionante a quantidade de gente joevem nas redações. Do chefe ao repórter todos tem menos de 30 e seguem a escola do Jornalismo de citações (ou aspas). Mas não sou pessimista: os jornais investiram em tecnologia, impressão, parques gráficos, distribuição, telemarketing etc etc etc. Uma hora alguém vai acabar investindo em mão-de-obra mais qualificada….

lago
lago
16 anos atrás

fg, nós, leitores, ao menos os costumazes, não buscamos apenas as notícias, mas também a opinião. não apenas as que respeitamos, mas também a que confrontamos. exemplo: politica. nem por isso deixamos de respeitá-lo.

Rogério Magalhães
Rogério Magalhães
16 anos atrás

Não sei, mas acho que o problema já vem da formação, nas faculdades… pelo menos quando tentei retomar o curso em 2005, tudo me pareceu asséptico demais, aqueles laboratórios em que só se ouvia um leve barulho do ar condicionado, onde até as vozes ficavam abafadas… bem diferente de quando eu estava engajado no curso de jornalismo, 12 anos atrás, cuja redação da Metodista era assim, repleta de máquinas de escrever… fazer laudas de rádio ou para o jornal na correria, naquela zona… mas era legal…

Isso naquilo que, no futebol, se chama de “na base”… daí para essas redações como o Ricardo bem definiu, é um pulo…

Mas acho que essa mudança de comportamento não se resume apenas às redações… a sociedade como um todo está assim, mais isolada, mais longe da boa alegria, do bom papo tete-a-tete, com muita risada e festa… é só mais um ponto a reforçar como o mundo está ficando chato… e olha que sou relativamente novo e não vivi muita coisa para trás…

Renato
Renato
16 anos atrás

Na verdade os jornalistas têm culpa e muita.

Hoje jornais, revistas, televisão e rádio são palco de uma fogueira de vaidades sem tamanho.

Repórteres e principalmente colunistas sentem-se donos da verdade absoluta.

O que importa e a versão e não a verdade. A versão vende e dá status aos caçadores de furos.

A versão tem tempo na TV e espaço nas páginas. A verdade não.

Quando a imprensa planta notas e versões, muitas vezes destruindo reputações é o vale tudo.

Quando contestam a versão, com provas, é cerceamento da liberdade de imprensa.

O pseudo poder subiu à cabeça dos jornalistas e os poucos que ainda se prezam a tentar honrar a hoje não tão honrosa profissão são excluídos, não tem espaço e são logo rotulados como reativos, simpatizantes disto ou aquilo e por aí vai…

Por isso deixei de ler jornal e ver noticiários na TV a tempos.
Honestamente não faz falta….

Gomes
Gomes
16 anos atrás

Sim, estou seguindo de perto. Briga boa. A semanal pediu direito de resposta. Nassif é do bem. A semanal, não. Assim, é fácil escolher um lado.

Nick B.
Nick B.
16 anos atrás

Fla,
só para completar o meu comentário anterior:
Você tem acompanhado o blog do Luis Nassif?

Ele tem exposto literalmente o modus operandi criminoso com que certa revista opera.

Abração.

Nick B.

Laguna
Laguna
16 anos atrás

Flavio,
O texto reflete tudo o que nós, representes da velha (nem tanta assim né?) guarda, vem sentindo nas redações hoje em dia. Talvez o ponto que mais me pegou no texto foi em relação ao culto às celebridades. É simplesmente irritante e nojento o modo como os veículos (todos, sem exceção) dão espaço a bobagens como BBBs, modelos, atrizes, pseudo-atrizes e por aí vai.
Está mesmo muito chato trabalhar com jornalismo hoje em dia, especialmente quando é a coisa que vc mais gosta de fazer na vida.

Abração

adriano
adriano
16 anos atrás

Nada me agrada mais do que saber que os jornalistas não são mais proprietários das notícias.

Tuta
Tuta
16 anos atrás

Pode crer, Goma, Redação é um templo mesmo. Convivi com focas e feras por 12 anos na pequena R da Gazeta do Sul aqui de Santa Cruz do Sul, e foram tempos muito legais. Agora, quanto a rotular, só tenho uma coisa a dizer sobre os rótulos: Eles quase sempre escondem o conteúdo.

Nick B.
Nick B.
16 anos atrás

Fla,

Eu não sei se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá dos olhos teus
Esta cor que azuleja o dia.

Interessante demais, este post, brôu.
Primeiro porque, vira e mexe, acesso ao blog do Ricardo, que tem coisas muito legais. Principalmente quando ele deu um belo chute no traseiro de certo colunista-cão-de-guarda de uma certa revistinha semanal metida a besta.
Evidentemente, que o dito cujo ficou bravinho e ficou distribuindo suas grosserias, destemperos e maldades (engraçado, esse sujeito. Deve ter guardado algum trauma da infância mal vivida no interior de SP – um dia posso até contar umas coisinhas que sei da figura, mas sinceramente acho que é perda de tempo).

Enfim, ótima pedida a citação do blog do Ricardo Soares.

Além disso, pode parecer incrível, mas essa noite sonhei com redação de jornal, aquele ritmo maluco de fechamento etc.
E hoje você publica isso.
Demais!

Abração.

Nick B.
(ouvindo Djavan, Samurai).