3284-2956

Por PLÍNIO ROCHA*

Eu nunca trabalhei na Warm Up. Diretamente, pelo menos, nunca. Mas sempre quis. No fundo, não sei bem por quê. Na época em que mais tive contato com o Flavio Gomes, era repórter do “Lance!”. Ele abastecia o jornal com o noticiário da Fórmula 1. Nós nos falávamos quase todo dia. A maioria das vezes por e-mail. Coisa rápida. “Vai mandar texto hoje? Vou. Sobre o quê? Sobre tal. O tamanho que eu tenho aqui é esse. Pega lá no site da agência, vou colocar para todo mundo, e você usa como quiser. Tá bom, tchau. Tchau.”

E assim funcionava.

Vez ou outra, mudava o roteiro. Eu tocava uns cadernos de apresentação das temporadas, e o Flavio ajudava. Ele escrevia uma coisa ou outra, eu fazia o mesmo. Em edições especiais, como a da primeira vitória do Barrichello, idem. Nos recordes de Michael Schumacher também era assim.

E a coisa fluía.

Fluía bem, há de se dizer. Mas, de vez em quando, até para quebrar a rotina, eu ligava no escritório. “Fala, Gomes, como vai?” “Fala, Rocha!” “Precisava combinar uma coisa com você, por isso liguei.”

Na maioria das vezes, dava para resolver por e-mail. Mas era legal discar ali oito números. Fazia com que eu estivesse mais próximo da Warm Up. Fazia com que eu fosse membro da equipe, ao lado de caras que eram meus amigos, como o Everaldo Marques e o Tales Torraga, além do Gomes.

Eram caras que eu admirava. O Everaldo foi meu companheiro de Rádio Jovem Pan, anos antes. Grande cabeça do jornalismo. O Tales me gerava certa inveja, porque tinha uma memória incrível. Lembrava de coisas que eu só colocava no papel depois de checar guias e livros. Era meio impressionante, para mim, naquela época.

E o Flavio era tipo um exemplo. Quando eu trabalhava na Pan e recebi a proposta para me mudar para o “Lance!”, foi para ele que eu pedi conselho. Não apenas porque ele trabalhava nos dois veículos, na época, mas porque eu achava que ele sabia das coisas. Não sabia tanto assim, mas me deu um conselho valioso, que mudou a minha vida e foi responsável por tudo o que sou hoje: “Vai correndo, Rocha. Só quem ganha dinheiro com rádio são Milton Neves e Wanderley Nogueira. Nem pensa”.

Eu fiz isso. E tudo aconteceu da melhor maneira possível. Não me arrependo em momento algum de ter seguido à risca aquelas poucas palavras, ditas nos fundos de um dos estúdios da Pan no intervalo de um bloco e outro do “Hora da Verdade”, que ele apresentava no fim da tarde, começo da noite.

Com o passar dos anos, eu me entrosei ainda mais com os caras porque gostávamos, todos, de automobilismo. Era natural. Foram centenas de edições do diário com essa parceria. Mas na Warm Up, mesmo, eu havia pisado uma única vez. Inventei uma desculpa qualquer, estava na Paulista, peguei o elevador e disse que tinha de combinar detalhes de um caderno especial. Besteira.

Minha maneira de estar no escritório da Paulista, que o Flavio deixa com certa nostalgia, percebo, era discando 3284-2956. Quando fazia isso, me transportava da redação no bairro do Limão para aquele espaço. Um espaço que eu quis ocupar por muito tempo, mas, depois soube, ocupei. Quando o Gomes diz que todo mundo que, bem ou mal, trabalhou com ele fez parte daquela equipe, eu volto no tempo e me realizo.

Quando eu tiver um filho, vou falar para ele que trabalhei com aquele pessoal. Sem medo de estar criando uma história, contando papo. E, se ele perguntar se é verdade, eu digo que sei o telefone de cor até hoje. E ponto final.

prinioroxa* Às vezes me escrevem, ou encontram, e contam histórias parecidas. Que dei um conselho, que escrevi não sei o quê que inspirou não sei o que lá, que influenciei nisso ou naquilo. Quase nunca lembro do ocorrido. Mas deste episódio com o Plínio Rocha, me lembro. Porque ele seguiu mesmo, e rápido. Foi dentro do estúdio. Ele se agachou atrás da cadeira (ou estava de pé?) e perguntou o que eu achava. Respondi. Poucos dias depois, tinha ido embora da rádio e fiquei com medo que desse errado. Não deu. Rocha trabalha hoje no “Diário de S.Paulo”. Estivemos juntos em Pequim. Fiquei orgulhoso de ver o moleque que sabia mais de natação do que todos. Mas não sei bem se sou a pessoa certa para dar conselhos. Na dúvida, procurem sempre uma segunda opinião. É mais seguro.

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Wilian Esteves
Wilian Esteves
7 anos atrás

Coitado de quem está com esse número agora. Vai chover ligações kkk