MURO, 30 (1)

RIO (Berlim, te amo) – De hoje até o dia 9 de novembro, quando se completam 30 anos da queda do Muro de Berlim, vou tentar postar todos os dias alguma coisa que ainda não tenha sido vista ou dita (por mim, que fique claro) sobre a DDR, a Guerra Fria, Berlim.

Começo com este ótimo vídeo feito pela BWM, que me foi enviado pelo Wilson Payossin pelo Facebook. Ele lembra a história real do alemão-ocidental Klaus-Günter Jacobi, hoje com 79 anos, que em 1963 ajudou a tirar de Berlim Oriental seu amigo de infância Manfred Koster, que havia sido convocado para o Exército da DDR.

Jacobi e sua família haviam fugido da Alemanha Oriental antes da construção do Muro, que se deu em 1961. Manfred ficou. Um belo dia, atravessou a fronteira com os documentos do irmão Hans, que tinha autorização para ir a Berlim Ocidental, e contou ao amigo que queria desertar.

Klaus, então, bolou o plano. Tinha uma BMW-Isetta comprada dois anos antes e possuía noções de mecânica. Fez uma modificação atrás do banco de forma a criar um espaço ao lado do motor para alojar o fugitivo. Basicamente, foi necessário tirar o tanque original de 13 litros e trocar por uma pequena lata de dois litros, com gasolina suficiente apenas para cruzar a fronteira. O problema é que Manfred tinha 1,87 m de altura.

Outras mudanças foram feitas, como cortar o para-lama para proteger o passageiro clandestino do cano de escapamento. Ninguém iria desconfiar de uma BMW-Isetta, que mal acomodava duas pessoas no seu único banco. Essa era sua esperança. Mas ele não podia ir para Berlim Oriental buscar o amigo, porque era também um fugitivo.

[bannergoogle]

Quem atravessou o carrinho para o lado comunista foi uma dupla de estudantes, dispostos a ajudar na fuga. Um foi atrás de Fusca, para dar cobertura. Em Berlim Oriental, encontraram Manfred e o levaram para uma área distante da cidade onde trocaram o tanque original pela pequena lata, abrindo espaço para o amigo de Klaus.

A operação demorou mais do que o esperado, um fazendeiro chegou a desconfiar do movimento esquisito daquele pessoal, e eles ainda ficaram uma hora na fila da inspeção suando frio. Klaus, do lado ocidental, fumava um cigarro atrás do outro, desesperado com a possibilidade de os guardas da fronteira descobrirem seu amigo. Se isso acontecesse, a vida de Manfred estava acabada.

No fim, perto da meia-noite, eles conseguiram. Os guardas, de fato, não suspeitaram que aquele carro minúsculo fosse capaz de esconder alguém.

Inspirados pelo sucesso da empreitada, os estudantes ainda conseguiriam levar mais oito alemães-orientais para Berlim Ocidental em outra BMW-Isetta transformada seguindo o projeto de Klaus. A original, que fez a primeira fuga, foi destruída. Dela sobrou apenas uma chave do compartimento do motor. Uma réplica se encontra hoje no museu de Checkpoint Charlie, na Friedrichstrasse — onde Klaus trabalha e conta sua história aos milhares de turistas que visitam o local.

A história, com gráficos das modificações, fotos e mais detalhes, está no site da BMW (em inglês).

[bannergoogle]

Subscribe
Notify of
guest

14 Comentários
Newest
Oldest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
CRSJ
4 anos atrás

Trinta anos se passaram parecendo que a Queda do Muro de Berlim nunca aconteceria para quem viveu essa época dura da Guerra Fria.
Os alemãs ainda ficaram divididos Psicologicamente por um bom tempo depois da queda do muro.

jader
jader
4 anos atrás

Mas por que o jovem Manfred queria fugir de Berlim Oriental?

Alfredinho
Alfredinho
4 anos atrás

O mundo só será realmente livre, quando último muro de um simples quintal deixar de existir.

Nilton Camargo
Nilton Camargo
4 anos atrás

FANTÁSTICA a história……. como escreveu NICK B “nos impulsiona a manter a fé na humanidade”.

Francisco Picorelli
Francisco Picorelli
4 anos atrás

Sempre bom “viajar” através dos seus Escritos. Obrigado

Thiago Moyses
Thiago Moyses
4 anos atrás

Agora como morador de Berlin, mesmo que por míseros um ano e meio, a história fica mais vívida. Aproveitei o feriado para buscar meu filho em Heidelberg e ficar alguns dias na cidade comigo. Estou morando, inclusive, na parte oriental. Mais ou menos perto da Olga Benário Prestes Straße. Adoro a cidade. Eu já leio o nome BMW como os alemães, hehehe. Agora que percebi a fonte usada e o W.

Pepe
Pepe
4 anos atrás

Genial mesmo, incrível !!!! E ainda tem gente que defende o comunismo, se fosse bom não proibiam seus habitantes de entrar ou sair desses paises, como se a eles pertencessem, ou não ??? Abs a todos

j2c
j2c
Reply to  Pepe
4 anos atrás

Verdade, tem país q separa famílias imigrantes e os manda p “campos de concentração”, deve ser país comunista tbm…

Fernando de Almeida
Fernando de Almeida
4 anos atrás

Que historia incrível, obrigado FG por mais essa. Vou aproveitar e te dar uma dica de leitura (talvez vc ja conheça, senao fica a dica) O livro chama-se Pureza de Jonathan Franzen. A Alemanha Oriental nao é o assunto principal, mas uma boa parte da historia se passa la nos anos 70/80 e o autor consegue nos colocar do la de lá do muro de uma forma muito realista, livrasso. Grd Abs

Luciano
Luciano
4 anos atrás

Esse é um herói! Viva a liberdade e a democracia!

Nick B
Nick B
4 anos atrás

História fascinante, dessas que a gente lê e, mesmo antiga, nos impulsiona a manter a fé na humanidade.

E já adorei a série logo de cara, Fla. Viva Muro, 30!

Nick B

Fernando
Fernando
Reply to  Nick B
4 anos atrás

Viva Muro??

Edu Zeiro
Edu Zeiro
Reply to  Nick B
4 anos atrás

Aí, sugestão para o próximo Rádio Nick B.: alguma música do show “The Wall” na beira do que restou do muro. Quem sabe “Confortably Numb”, com o Van Morrison?