PAÍS SEM PERUAS
RIO (só derrota) – Não bastassem todas as desgraças que acometem o Brasil desde o golpe que tirou Dilma da presidência — o resto é tudo consequência, incluindo essa tragédia ambulante que empesteia o Planalto e o bando de hienas que o segue –, somos agora um país sem peruas.
(O que têm a ver as peruas com política?, vai relinchar alguém, e eu respondo que estabeleço as relações que bem entender aqui, aproveitando para informar que não fornecemos alfafa a bolsominions famintos.)
No final de janeiro, a Fiat encerrou a produção da Weekend (que nasceu como Palio Weekend em 1997), colocando assim um ponto final no segmento que inaugurou a indústria automobilística brasileira em 1956 com essa aí embaixo.
Para quem não sabe (duvido que alguém ainda não conheça essa história), o primeiro carro nacional foi a peruinha DKW fabricada pela Vemag, baseada no modelo F91 da Auto Union alemã — também conhecida lá como Universal.
Aqui, ela nasceu como camioneta DKW-Vemag e sua produção durou pouco mais de um ano. Foi apresentada ao mundo no dia 19 de novembro de 1956 e montada nessa configuração até o fim de 1957. Em 1958, a Vemag lançou o sedã com a grade ovalada e sua namorada que mais tarde, em 1961, seria batizada de Vemaguet.
A propósito, essa azul aí em cima é minha e foi o décimo carro montado pela Vemag, o que faz dela, possivelmente, o automóvel genuinamente brasileiro mais antigo ainda a rodar por aí. Sim, é minha, não vendo, não empresto e nem alugo. Apenas nove carros foram montados antes dela na fábrica do Ipiranga e não se tem notícia das anteriores. Desse modelo, aliás, conhecem-se apenas cinco unidades sobreviventes. Das feitas 1957 tem menos ainda — eu só sei de uma.
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Mas voltemos às peruas. Com o fim da Weekend, nenhuma montadora instalada no Brasil tem peruas no seu portfólio. Um país que já teve Variant, Belina, Caravan, Marajó, Quantum, Royale, Panorama, Elba, Variant II, Brasília (considero uma peruinha), Parati, Ipanema, além da já citada Vemaguet e a inacreditavelmente linda Jangada, nos anos 60, agora é obrigado a conviver exclusivamente com essas bombas que chamam de SUVs.
Sem elas, tende a desaparecer o termo “perua” para designar as namoradas e esposas e irmãzinhas mais novas dos sedãs e cupês das quais são derivadas. Todas as peruas, até onde eu sei, vieram depois de suas versões masculinas. Mesmo a Variant, que se bem me lembro veio antes do Zé do Caixão e continuou firme e forte depois da morte deste, prontamente substituído pelo TL. A Caravan, por exemplo, é namorada do Opala. A Quantum, do Santana. A Panorama, do 147. A Parati, do Gol e do Voyage — tipo Dona Flor. A Belina, do Corcel. A Marajó, do Chevette. A Ipanema, do Kadett. A Jangada, do Simca Chambord. A Vemaguet, claro, do Belcar.
Lá fora, perua é “wagon”, ou “station-wagon”. Minhas duas peruas Lada, por isso, são chamadas pelos admiradores da indústria soviética simplesmente de SW. São namoradas do Laika. O pior de tudo é que daqui a algum tempo ninguém mais vai falar perua para se referir a esse tipo de carro e ficarei sem saber a origem da palavra no universo dos automóveis brasileiros — nunca ninguém me explicou direito de onde veio esse negócio de “perua”.
Mas já nem ligo mais, e se morrer sem saber, dane-se. Porque um país sem peruas é um país sem futuro.
A galera de hoje não sabe o que é una perua. No trabalho comentei que tive uma Belina e um milenium foi no Google procurar o que era e disse: ah, é tipo un Del Rey SW. Parabéns por manter essa linda coleção de carros.
Li só hoje. Mas hoje de manhã vi uma Quantum na minha cidade.
Adorava minha Parati GL 1.8 91. Me arrependo até hoje de ter vendido.
Vamos sentir falta destes carros maravilhosos, eu praticamente aprendi a dirigir em uma Paraty 1988 e também tive uma Palio Weekend 2008. São carro versateis, com bastante espaço, bem mais uteis que as grandalhonas e desajeitadas SUVs.
Ô vida ingrata. Os melhores e mais divertidos dos poucos carros que a família teve, eram peruas e alguém quis que não ficássemos com nenhuma.
Em uma ocasião nós perdemos um ônibus e meu pai levou o time inteiro na caravam pro parque Celso Daniel em Santo André (11 moleques) divididos em setores. Perdemos o jogo de virada por 2×1 e tivemos (os 11) que limpar, aspirar e lavar o carro na volta que foi batizado de “Caravana do Amor”.
– FG nunca vamos esquecer e daqui a 30,50 anos, peruas ainda serão peruas.
Eu tive uma Marajó. Era bem legal. Cabia muita coisa dentro.
Parabéns pela sua Vemag , é linda demais !
Boa noite!
É um bando de quadrúpede esses coxinhas que seguem a “baleia azul”. Estão destruindo as camadas mais humildes da população. Os assalariados, cada vez com menor rendimento. Renda nunca foi tão mal distribuída. Nem o 45 conseguiu chegar tão longe com um desgoverno.
Lembro bem da Variant azul claro 1974 de meu pai/minha mãe.
Abraço e continue sendo uma de nossas vozes contra toda podridão atual.
Ah Flavinho! Saudades imensas do meu Escort SW 1997 GL 1.8…
Andava que era uma belezinha… Infelizmente não devem voltar mesmo as nossas peruinhas…
Ainda recupero uma dessas pra passear nos finais de semana..
Faltou a Mini Clubman, Subaru Outback e Porsche Panamera Sport Turismo. Ainda vendidas Zero Km no País.
Concordo que é muito triste não ter mais peruas à disposição. Esses SUVs apanham feio no quesito porta-malas.
Apesar de não serem projetos nacionais, Toyota Corolla Fielder e Renault Mégane Grand Tour eram opções bem bacanas também.
Ah, falou colocar que o namorado da Royale era o Versailles (variante do Santana nos tempos da Autolatina)
Lamentável….. adoro as Camionetes, camionetas, peruas, wagon´s…. e elas se foram…
O desaparecimento das peruas é reflexo da modernização da indústria automobilista. Apesar de eu gostar delas (já tive uma Parati é uma Quantum) acho que o mercado, hoje, possui produtos mais interessantes
FG, abra o seu coração para os SUV’s, deixe esse rancor de lado.
Nada a ver com política, acho que vc precisa urgentemente trocar de área jornalística. Tu fala mais de política no seu twitter do que esporte! SUVs é uma tendência em razão das ruas esburacadas no país; e o que falar das enchentes…
Você me paga quanto por mês para dizer o que eu devo abordar nas minhas redes sociais? Desculpe, acho que não tenho recebido nada do meu novo patrão…
Tem gente que perde a oportunidade de ficar calado….
Uma pena as montadoras não fazerem mais esses carros, como membro de uma família grande (tenho 3 irmãos) a “perua” sempre esteve presente em nossas vidas, meu pai sempre gostou desse tipo de carro, tanto que ele teve Belina, panorama, 4 caravans (sendo que a última uma comodoro 1987 está com ele até hoje).
Lembro de nossas longas viagens em família a bordo de peruas, o sucesso entre a criançada era enorme, tanto que todas as crianças da família queriam ir no carro do Tio Ronaldo (meu pai) só para ir fazendo a festa no “chiqueirinho”.
Eu queria achar uma fielder da toyota, apesar de ser importada era um bom carro também, quem teve esse carro só fala bem.
Só não gostei de você ter envolvido as hienas. elas são úteis.
Era tanta opção que a gente esquece… faltou ainda Fielder, Mégane Gran Tour, 206 e 207 (que eram a mesma com a cara diferente, mas enfim…). Agora só tem importadas, pra mais de 200 mil minions, Volvo V60 e Audi A4 Avant, essa última seria bisneta da DKW Universal?
Flávio, os teus filhos compartilham da tua paixão por carros clássicos?
E quando você partir (daqui a 100 anos, claro), tua coleção será enterrada, ou cremada contigo?
Serão doadas aos teus amigos que sabem do teu apreço e carinho pelas balzaquianas motorizadas?
Ou será inaugurado um museu (pode ser em vida, claro) onde terá uma placa avisando para anti-sovieticos, que a presença deles poderá ser abordada por um membro da KGB, e consequências desagradáveis poderão ocorrer?
Ou tudo será vendido e a receita será doada as pensionistas e aposentados da fábrica Vemag? (Será que existem?).
Um grande abraço, e esse país está cada vez mais cinza. Pelo fim de SUVs, e retorno obrigatório das peruas. Lançou um modelo sedã, a fábrica é obrigada a fazer a namorada dele.
Veraneio?
A barca!
Quando eu era criança, só havia uma perua: a Kombi.
Tô contigo e não abro. Eu tive uma Nissan Livina (moderninha até) que chamavam de minivan, mas para mim o espírito daquele carrão era o de perua mesmo. Lá nas antigas era apaixonado pela Elba que meu pai dirigia pra firma e quando vi a Ipanema com aquela traseira achatada pela primeira vez fiquei maravilhado. Estas mudanças que a indústria impõe são injustas porque mexem com amores que elas mesmas despertam em nós. É como tirar o doce da gente. Uma sacanagem.
Não esqueçamos da Suprema (Ômega)! Linda de morrer…
Eu tenho a minha Fielder, dez anos comigo já. Adoro as SW.
As peruas eram muito legais, do jeito que anda a moda SUV, logo se vão os hatchs e os sedans….
O fim das peruas no Brasil 2020 explica muita coisa.
Que pena. Além das charmosas, as peruas já inspiraram um clássico da MPB: https://www.youtube.com/watch?v=YwpsvwGOeVk
Primeiro carro nacional foi a Romi isetta, fabricada alguns meses antes da perua Dkw.
Já expliquei várias vezes que a Romi-Isetta, do ponto de vista legal, não era considerada um automóvel por não ter lugar para quatro pessoas, pelo menos duas portas e espaço para bagagem.
Sei disso, já li várias vezes também, só escrevi porque continuam propagando esse erro cometido pelo Geia. Sem sentido hoje em dia defender o conceito de carro estipulado nos anos 50 por burocratas.
Abraço a todos.
Mas era esse o conceito nos anos 50. Porque… estávamos nos anos 50. Sendo assim, o primeiro carro brasileiro é a Universal da Vemag.
Tinha também a Scala.
Que na verdade era uma belina mais luxuosa que acompanhava a linha do Ford Del Rey.
A Spin da GM, não é uma perua?
Pelo que eu sei é minivan.
Minivan
Tenho dúvida se é um carro.
O duster poderia ser considerado?
Duster? Não sei nem se poderia ser considerado um carro quanto mais uma Perua! #savethewagons
No documento do meu está escrito “camionete”.
SUV, assim como Kwid, que o fabricante insiste em dizer que é um mini-SUV
Lá de 1997 ainda dá pra lembrar da GM Corsa Wagon (a 1.6 era linda!) e a Escort SW Zetec. E também a peruinha do 206 Escapade.
Eu achava a maçaneta das portas dos passageiros dessa peruinha 206 muito muderna na época hehe
A Jangada (SIMCA) para mim a mais bonita.
Flavio, você esqueceu da Ipanema.
Verdade. Vou acrescentar.
A Fiat Elba, meu pai teve duas, a última com motor 1.5 andava uma barbaridade!
E da Ômega Suprema
Tenho uma Omega Suprema Diamond… motor 3.0 que anda junto com 4.1. + 1 Omega GLS 2.0 e um Omega CD 4.1…. Melhor GM já feito no Brasil, depois do Ágile, Cobalt, Spin e Cruze claro…..kkkkkkk