GIRA MONDO, GIRA

GUARUJÁ (incroyable) – Quando ouvi falar pela primeira vez, achei, de verdade, que a referência era à Monark das bicicletas. Aqui cabe uma longa digressão. Sempre fui Monark. Sempre. Embora minha primeira bicicleta (a gente dizia “bici”, e não “bike”) tenha sido uma Caloi verde alface, foi só quando ganhei uma Tigrão que me senti plenamente feliz pela primeira vez na vida. Igual a essa da foto. Está à venda no Mercado Livre por 4,5 mil reais. O anúncio está pausado. Foi minha sorte.

Era azul. Idêntica. Eu sofrera um grave acidente com a Caloi no Rio, ao descer a rampa da garagem fugindo de um cachorro e entrando pela porta da cozinha do apartamento, que estava aberta e ficava no fim do pequeno corredor do elevador. Bati no armário debaixo da pia e aquela lata que cobre a corrente entrou na minha canela. Sangrou muito, minha mãe teve de lavar o ferimento na banheira. Ostento orgulhosamente a cicatriz até hoje, meio século depois.

Com a Tigrão, o acidente foi menos momentoso e dele ninguém soube, exceto eu mesmo. Ocorreu numa calçada na cidade de São Vicente depois de alguma chuva. Havia um buraco e a água que o preenchia não me assustou. Achei que era só a falta de uma parte do calçamento. Não, era um buraco, mesmo. No meio do caminho tinha um buraco. Tinha um buraco no meio do caminho. Tinha um buraco. No meio do caminho tinha um buraco. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha um buraco. Tinha um buraco. Tinha um buraco no meio do caminho. No meio do caminho tinha um buraco.

E eu caí no buraco. A roda dianteira, menor que a traseira, emborcou no buraco. Eu voei por cima do guidão e caí na calçada. Mas como lutava judô, a queda foi seguida de um rolamento e ferimentos não houve. Recolhi a bicicleta com a ajuda de transeuntes e segui meu caminho. Amassou o para-lama. Nunca contei a ninguém sobre esse sinistro. Eu prezava minhas coisas. Um amassão no para-lamas era uma experiência de quase-morte. Nunca me recuperei.

Mas acho que me esqueci no dia seguinte, e a Tigrão me acompanhou durante anos. Quando a Caloi lançou a Caloi 10, desdenhei. A Monark colocou a Positron nas lojas. Se me fosse dado a escolher, atleta convocado pela seleção brasileira de ciclismo, diria sem pestanejar: Positron. Da Monark.

Quando ouvi falar pela primeira vez, achei que era homônimo do Ardiles. Osvaldo Ardiles, volante do Instituto de Córdoba, do Huracán, campeão mundial de 1978 pela Argentina, vendido ao Tottenham junto com Ricardo Villa, bicampeão da FA Cup em 1981 e 1982, campeão da Copa da UEFA em 1984, que jogou contra o Leicester um dia depois de a Argentina invadir as Malvinas começando a guerra mais non-sense de todos os tempos, e a torcida dos Spurs, às ofensas da gente do Leicester, gritava “Argentina! Argentina!” e porra!, tinha começado uma guerra um dia antes, mas Ossie, como Ardiles era chamado na Inglaterra, era ídolo demais, homem demais, honrado demais, foda-se a guerra.

Ardiles fez um filme com o Pelé, “Fuga para a vitória”, que é bom, incrível. Sylvester Stallone era o goleiro. Ardiles era o número 2 da seleção argentina, que numerava seus jogadores por ordem alfabética. Me ajudem: Alonso era o número 1? Fillol era 5 ou 6. Eu achava muito esquisito, aquilo. Para mim, goleiro deveria ser sempre 1. Mas a Argentina tinha um cara da linha que era 1. E o Ardiles era 2.

Mas o Monark da semana não era minha Tigrão, e peço perdão a Ardiles pela associação, ainda que torta, a um cara de nome parecido que se divertiu imitando Adolf Hitler.

Dois nazistinhas, porque é isso que são, e podem negar até o fim dos tempos. Dois filhos da puta que acham que não têm nenhuma responsabilidade diante de uma câmera e de um microfone. Dois produtos dessa desgraça que virou a internet. Dois frutos dessa calamidade que virou o Brasil. Paridos por essa indigência intelectual e moral que emergiu depois da eleição do mais repugnante, sujo, desagradável, ascoso e nauseante ser que já pisou sobre a Terra.

Monark, a bicicleta, e Ardiles, perdão.

UM FILME

Prometi, acho que num vídeo, que toda semana iria deixar neste “Gira mondo” uma dica de filme, uma de livro, quem sabe de música, quiçá um bar, um restaurante, sei lá. Algo que alguém possa ver e dizer: puxa, isso é legal. Então vou cumprir a promessa. “A Mão de Deus” (Netflix) é um filme delicado e delicioso, como sabe ser a Itália quando quer. Tem a ver com futebol e com a Argentina de Ardiles. Mas não é só isso. Se passa em Nápoles nos anos 80. Sou cada vez mais apaixonado pelos anos 80. Tenho muita saudade dos meus 20 e poucos anos, acho que é isso.

UM LIVRO

“Esta história”, de Alessandro Baricco, para nós que gostamos de carros e corridas. Tem na Amazon baratinho. Mas é sobre qual piloto, qual campeonato?, perguntará alguém. Eu diria que é sobre todos os pilotos e todos os campeonatos. O livro que eu gostaria de ter escrito. Baricco escreveu pela última vez no Twitter em 22 de janeiro. Para dizer aos seus leitores que estava com leucemia. Ele tem 64 anos. Espero que esteja bem.

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GUs
GUs
2 anos atrás

Tive a Monark 10, na minha imaginação de pré-adolescente, era uma espécie de RD350LC das bicicletas, já que tinha posição de “pilotagem esportiva”. Mas antes dela, uma Caloi Cross foi minha companheira de aventuras nos anos 80.

FERNANDO AMARAL
FERNANDO AMARAL
2 anos atrás

Ola Flavio, antes de mais nada, esta dando gosto de ver nossa Lusa na A2, sera que subimos neste ano ? Se me permite, sugiro a leitura de um novo livro, Dave Grohl – O contador de historias….como sempre vejo suas postagens Radio Blog, achei que voce iria gostar deste livro, o cara tem um talento muito parecido, para contar historias, a um cara torcedor da Lusa e que ama DKW rsrs….vale muito a pena para quem viveu o auge grunge….abracos

Carlos
Carlos
2 anos atrás

Procuro evitar o uso das palavras “idiota”, “imbecil” e afins. Mas como foi Umberto eco que disse, é justificável abrir uma exceção: “Social media gives legions of idiots the right to speak when they once only spoke at a bar after a glass of wine, without harming the community … but now they have the same right to speak as a Nobel Prize winner. It’s the invasion of the idiots.”
No mais, acredito (e espero) que os dois possam se redimir.

Mauricio Rocha
Mauricio Rocha
2 anos atrás

O conhecimento salva, e nós carecemos muito dele!

PRNDSL
PRNDSL
2 anos atrás

Uma semana antes do mentecapto aparecer na mídia, coloquei minha Monark 10 1982 (que estava a muitos anos desmontada no armário da garagem) no mecânico. Devidamente recuperada e 95% original (o selim quebrou todo e já não é o original) está pronta para rodar ! Ela fez sucesso na loja !

André
André
2 anos atrás

Lembro do Ardiles jogando com a 1.

Alexandre
Alexandre
2 anos atrás

Quero que Bolsonaro se fodaaa, mas vc dizer que ele é o pior ser que pisou na face da terra, ai é vc que está elogiando o Hitler.

Fil
Fil
2 anos atrás

Um lindo livro.

Paulo Leite
Paulo Leite
2 anos atrás

Ótimo texto, mais claro impossível. A merda é um nazista de meia-tijela denegrir o nome da minha bicicleta favorita, dá vontade de enfiar de goela abaixo dele, com guidon e tudo. Inclusive esse sujeito falou ontem que ‘iria com prazer’ visitar o museu do holocausto de Curitiba. Ele sente ‘prazer’ na visita mas será que gozará de prazer ao ver as cenas do holocausto ? Que FDP. É aquela história de sempre, quase todo bolsonarista é nazista mas todo nazista é bolsonarista.
Esse Gira é muito legal. Parabéns de novo.

Barreto
Barreto
2 anos atrás

Triste de ver o sem noção entorpecido falando m… diante de dois deputados federais e depois do programa todos posarem para foto, felizes como se nada tivesse acontecido.

João Henrique Leme
João Henrique Leme
2 anos atrás

Ah! Esqueci de complementar…com relação aos idiotas citados, a “natureza cuida deles”.

João Henrique Leme
João Henrique Leme
2 anos atrás

Minha primeira bike foi uma monareta Monark dobrável, vermelha cereja. Eu ficava sempre para trás nas corridinhas de rua, pois os meus amigos já tinham Caloi Cross. Meu primeiro ciclomotor (Mobilete é Caloi) também foi Monark. Pus guidão Tomaselli, aros três palitos, correia e escape dimensionado. Bons tempos.

Edu Zeiro
Edu Zeiro
2 anos atrás

Eu penso que o messias deles está mais pra anticristo: é falso, prega a violência e a intolerância, tem desprezo profundo por quaiquer emoções humanas que não o ódio, é de um egoísmo extremo e veio para destruir o pouco de bom que já construímos. O mais impressionante é o tanto de zumbis que ele conseguiu arregimentar para suas hostes de insensíveis cabeças ocas, a maioria se arrotando cristãs, quando estão mais para satãs. Sobre bicicletas, sempre tive Calois, uma dobrável azul escura e uma 10 marchas azul calcinha, essa meu meio de transporte até quando tirei carteira.

Alexandre Figueiró
Alexandre Figueiró
2 anos atrás

A possibilidade que a internet trouxe de permitir espaço a posicionamentos tão desumanos é a mesma que temos de elogiar e agradecer a textos como esses. Então, mesmo não tendo o costume de escrever, não resisti e vou engordar a segunda alternativa.
A copa de 78 é a primeira que vi. De forma inconsciente ou mesmo influenciado por alguém, torci pra Holanda na final. E tinha a lembrança da 1 do Ardiles e a 5 do Fillol. Obviamente misturei as copas.
Também me veio a lembrança da tigrão de um primo. Aprendi a andar de bici nela.
Minha capotada pra frente foi numa Caloi vermelha e que quase ninguém sabe. Positron veio depois com um dos primeiros salários.
Sobre os acontecimentos, não vale a pena um pingo no i. Que sejam despejados no lixo e esquecidos.

Obrigado pelo texto, Flavio.

Last edited 2 anos atrás by Alexandre Figueiró
Antonio Luiz Siqueira
Antonio Luiz Siqueira
2 anos atrás

Olá Flávio. Nem vou perder tempo com os personagens citados e torço com fervor para que o tempo se encarregue deles com o destino que merecem……o esquecimento.
Quanto a Ardiles para mim o melhor daquela seleção Argentina. Nem Kempes, Passarella, Tarantini ou Luque…..que Jogador, que classe. Agora quanto às bicicletas eu era da turma da Caloi e por coincidência a minha primeira foi uma dobrável verde alface que teve um destino trágico ( quebrou na dobradiça ). Já a seguinte foi uma Fórmula C amarela, coisa linda e depois veio uma C-!0 prata.
Resolvi escrever pois você me fez relembrar o maior capote que tomei na minha vida com uma bicicleta. Recém empossado da C-10, resolvi sair para a primeira volta. Desci a rua Rio Bonito e entrei na Rua Olarias e talvez inspirado pela vizinhança assumi a posição de corrida no guidão. Quando eu passei em frente ao posto Ipiranga da rua, um carro saia do mesmo e instintivamente eu apenas freiei como fazia na Fórmula C…….resultado eu passei por cima da bicicleta e encaixei a cabeça no vão do para-choque de um fusca estacionado, com as pernas no vidro traseiro. Não preciso dizer a quantidade de aplauso que recebi do pessoal do posto.
Abraços.

flavio
flavio
2 anos atrás

bolsonarismo, racismo e nazismo. É o mais profundo esgoto da nossa sociedade, escorrendo livremente.

Sergio Pires Trancoso
Sergio Pires Trancoso
2 anos atrás

Não vou nem dizer que o texto é excelente. Ah, vou dizer sim: Que texto excelente!!!

Plinio
Plinio
2 anos atrás

Sempre me perguntei como as pessoas puderam compactuar ou se deixar enganar pelo nazismo naquela Alemanha da primeira metade do século 20. Existem explicações sobre a devastação que a Alemanha sofreu na primeira guerra e outros blablablas. Tudo isso é importante. Só que no fundo é uma constatação da escrotidão humana mesmo. O Brasil de hoje demonstra isso. Continuo me perguntando como as pessoas compactuam com isso, agora no meu quintal, pessoas que eu conheço e até tinha em alta conta. Quero acreditar que essas pessoas estão envoltas em uma névoa obscurantista que vai passar em algum momento. Ou pelo menos, que os expoentes maiores desse tipo de escrotidão voltem para o esgoto de onde saíram.

Marcus
Marcus
2 anos atrás

Os dois indigitados não merecem menção. Já foram para o lixo a que pertencem. E é mais do que hora de youtubers e influenciadores sem preparo acadêmico e intelectual serem responsabilizados pelas barbaridades que fazem e falam.

Uziel
Uziel
2 anos atrás

Flavio, muito obrigado por voltar a fazer textos mais longos. Sua mistura de ironia, poesia, sabedoria e indignação é cativante. E valeu pela dica do livro. Não achei o recomendado mas consegui outros do mesmo autor.

lagerbeer
lagerbeer
2 anos atrás

banzo dos anos 80 .. melhor decada da minha vida

Luis Felipe
Luis Felipe
2 anos atrás

Eu acho, apenas acho, que não podemos, ou melhor, não deveríamos vilanizar a internet como a causa-mor de todos os nossos males. Acredito muito na banalidade do Mal, assim mesmo, com maiúscula, da Hannah Arendt. Sim, Hannah não usava maiúscula. Mas eu uso. Ele, o Mal, sempre esteve e estará entre nós. Isso é um fato. Não se trata de crença mística ou delírio. Simplesmente não gostávamos de admitir isso, embora não negássemos. A internet está, isso sim, pondo essa gente que antes ou nem sabíamos que existia ou, se sabíamos, se fingia de legal entre nós – e todo psicopata faz isso – ao lume. Claro que é doloroso e muito revoltante saber que existem desgraças de alcunha Bolsonaro, Kataguiri, Adrilles et caterva no nosso meio. Mas existem. E o pior, estão no poder. Mas vai passar. Tudo passa. O tal “furacão conservador” de 2018 que se pressupunhava mais eterno que os diamantes passará à história como uma teratogenia da política brasileira. Resta-nos é entender como impedir que essa gente asquerosa jamais, eu disse jamais, volte ao protagonismo que hoje ainda tem. Eu não me conformo, por exemplo, que um juizeco patético e semianalfabeto de 1² instância de Curitiba pôde fazer as barbaridades que fez. Mas fez. E todos, sem exceção, pagamos por isso. Essa será a nossa luta daqui em diante: evitar que Lava Jatos e Bolsonaros da vida voltem a nos infelicitar. Sem mimimi, como eles gostam tanto de dizer por aí.

Marcos Bassi
Marcos Bassi
2 anos atrás

Um show de horrores estes caras. Ontem, o tal presidente da fundação palmares, disse que Moise, o rapaz assassinado, era um vagabundo. Impressionante como eles falam e ninguém faz nada. Eu nunca imaginei que veria os piores escrotos da terra serem venerados dessa forma. Tem gente que ri e aplaude.

Obs pra deixar a raiva pra lá: eu era fascinado pela BMX, a bicicleta que imitava uma motoca.

Jonivan
Jonivan
2 anos atrás

Nazistinhas de m… mesmo, sem dó nem piedade. Que esses bostas voltem logo para as profundezas de onde saíram e sumam.

Quanto a bicicletas, talvez pela propaganda televisiva, sempre tive quedas pela Caloi, embora minha infância pobre nos anos 80 de arrocho salarial e recessão não permitissem que meu pai, motorista da Viação Itapemirim (quando era uma potência), nos desse tão luxuoso regalo.

Quanto ao Ardilles, foi o 2 na copa de 78 (Norberto Alonso era o 1 e Ubaldo Fillol era o 5), mas em 82 ele foi o 1 (Fillol era o 7). Em 86, a dona FIFA disse que 1 era goleiro e ponto, acabando com a excentricidade dos hermanos…

Last edited 2 anos atrás by Jonivan
João Luiz Marques
João Luiz Marques
Reply to  Jonivan
2 anos atrás

grande bobagem da fifa, o brasil foi campeao em 58 com gilmar usando a 3!!!! me parece q o goleiro de portugal em 1966 também usava a 3, e teve também o goleiro da holanda em 1974 que usava a 8. Eu era criança em 1982 (e acompanhava o futebol muito mais do que hoje) e achava o máximo o Fillol usando a 7

Eduardo Lopes
Eduardo Lopes
2 anos atrás

Mordaça nesses 2 babacas. Esse papo de querer debater é pura balela. E se não conseguir mostrar o tamanho da estupidez e ela ganhar corpo? Para que ressuscitar o que está morto para mostrar que deve estar morto? Ha tempos que estes 2 sujeitos precisam ser calados.

Cesar Antunes
Cesar Antunes
2 anos atrás

Fillol usava a 5. Nunca esquecerei porque à época, eu com 8 anos, era goleiro no colégio. E me imaginava jogando com a 5 do goleiraço argentino. Boas recordações me trouxeste agora, Flavinho. Obrigado!

Carlos Pereira
Carlos Pereira
2 anos atrás

Que há idiotas no mundo, não me assusta. Me assusta, é que há quem apoie e até idolatra esses idiotas. Personagens que quando gritavam e esperneavam, o publico ria, achava graça e dizia que tudo bem, era só brincadeira, agora avançam numa escalada de ofender, agredir e incentivar atitudes das mais cruéis contra tudo e todos. Essa escalada é visível em qualquer noticiário. E tem quem acha tudo bem.

Davi LC de Oliveira
Davi LC de Oliveira
2 anos atrás

Flávio pra vc q tem uma noção de mundo maior q a minha, já q viajou a mtos lugares, viveu mais q eu no presente momento, viu os frutos do progressismo em várias partes, como vc se sente nesse buraco civilizatório q nossa terra entrou nesses anos?

Davi LC de Oliveira
Davi LC de Oliveira
Reply to  Flavio Gomes
2 anos atrás

eu sinto tristeza e desesperança