SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

A IMAGEM DA CORRIDA

Pérez na rua: habitat natural

SÃO PAULO (próxima!) – Não sou o maior admirador de Sergio Pérez, mas não se pode negar que a marca de cinco vitórias em circuitos de rua é digna de nota, aplausos e elogios. O mexicano parece se transformar nesse tipo de pista. Sua vitória domingo — repetindo a de sábado, na Sprint — foi inatacável. Por isso escolhi a foto acima como a mais representativa do fim de semana do Azerbaijão: Checo na rua, onde se sente melhor.

E qual seria o segredo de Pérez nas corridas urbanas? Eu, sinceramente, não sei. Há um claro padrão se desenhando, porém. Que meu hermano Diego Mejía, que conheci pequenininho quando trabalhava só na Rádio Caracol da Colômbia, tenta explicar no vídeo abaixo. Deliciem-se.

Isso posto, a F-1 vive o pior momento de sua história? A péssima qualidade do espetáculo em Baku colocou a questão em pauta, ainda que possa parecer um pouco exagerada numa primeira olhada.

Mas é uma boa discussão, e dada a ausência de emoções e de eventos interessantes no GP do Azerbaijão, vou indicar mais um vídeo, este de Victor Martins, comandante-em-chefe do Grande Prêmio. Ele elenca uma série de patuscadas da categoria neste ano, que culminaram com a corrida sem sal de domingo encerrada com uma quase tragédia nos boxes. E depois de assistir, vá ao rescaldão da prova — e reconheça meu esforço danado para encontrar assuntos em torno desse GP…

A FRASE DE BAKU

“Pode juntar tudo e jogar no lixo”

Verstappen, sobre o novo formato dos fins de semana de Sprint
O abraço de Pérez e Verstappen: oitava dobradinha da dupla

O atual bicampeão não é o maior fã das mudanças que a Liberty vem promovendo na F-1, mas nunca tinha sido tão claro e direto ao falar sobre elas. O holandês reclamou das duas classificações — acha que elas banalizam o momento solene de fazer aquela volta voadora que todos sonham — e não leva muita fé na multiplicação de Sprints. Quebrou o pau com Russell no sábado. E, no domingo, estava claramente desinteressado em lutar pela vitória.

Está registrada sua insatisfação. E não que seja muito importante, concordo com ele. Considero essa coisa de fazer um treino livre apenas e confinar os carros em Parque Fechado, reprimindo o trabalho de pilotos, técnicos, engenheiros, mecânicos & o escambau, um atentado contra a natureza da F-1. E um desperdício de talento. As melhores cabeças do automobilismo estão na F-1. E a Liberty não deixa que trabalhem para fazer algo básico em qualquer esporte: melhorar seu rendimento.

É uma aberração.

O NÚMERO DO AZERBAIJÃO

25

…dobradinhas na história alcançou a Red Bull, a oitava com a dupla Verstappen-Pérez (o mexicano chegou na frente em duas delas, ambas neste ano). A dupla mais vitoriosa, disparado, foi Vettel-Webber. Ele fizeram 16 dobradinhas entre 2009 e 2013 — o alemão venceu 13 delas. Ricciardo e Verstappen foram responsáveis por um isolado 1-2 na Malásia, em 2016. A Red Bull é a quinta maior nas estatísticas de dobradinhas, perdendo para Ferrari (85), Mercedes (59), McLaren (48) e Williams (33).

Adrian Newey renovou seu contrato com a equipe austríaca “por muitos anos”. É hoje o gênio solitário das pranchetas, e aí não há nenhuma licença poética. O projetista desenha seus carros com lapiseira, compasso, régua e esquadro. Tem ideias fabulosas e uma compreensão de princípios aerodinâmicos que nenhum túnel de vento movido a inteligência artificial seria capaz de contestar.

Engenheiro aeronáutico que trabalhou na Copersucar e na Indy antes de começar a ganhar tudo na F-1, Newey conquistou títulos mundiais na Williams (92, 93, 94, 96 e 97), McLaren (98) e Red Bull (de 2010 a 2013 e em 2022). Isso só considerando as taças de Construtores — 11, para quem está com preguiça de fazer a conta. Além desses, Hakkinen, em 1999 na McLaren, e Verstappen, em 2021 na Red Bull, também foram campeões em carros seus.

Newey tem apenas 64 anos. E um entusiasmo juvenil renovado a cada mudança de regulamento. É o principal nome da equipe desde sempre. Mais do que qualquer piloto, guru ou chefe falastrão.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS só de Pérez, e por isso a galeria abaixo para homenageá-lo. A primeira montagem é bem interessante. São suas seis vitórias na categoria. Só a primeira, pela Racing Point, num circuito permanente. Foi em 2020 no anel externo de Sakhir, em plena pandemia. Parece que foi em outra vida. Poderia incluir Tsunoda nessa lista raquítica de coisas positivas do GP. Afinal, ele terminou em décimo, enquanto o festejado De Vries segue decepcionando com a pequena AlphaTauri. Mas ele também bateu sábado. E, convenhamos, décimo numa F-1 que vive uma temporada de nível baixíssimo de competitividade — tirando Red Bull e Aston Martin, as demais equipes têm sido uma vergonha — não chega a ser uma façanha épica.

NÃO GOSTAMOS do resto. E pode piorar. Semana que vem é em Miami, aquela pista ridícula.

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Paulo Z
Paulo Z
11 meses atrás

Essa é a nova F1…feita para agradar a geração Tik Tok com suas dancinhas ridículas e bobinhas.
No fundo no fundo o Tio Bernie estava certo.

Fabiano
Fabiano
11 meses atrás

Perfeito!

René Campos
René Campos
11 meses atrás

Fizeram um fim de semana que teve uns 45 minutos pra ajustar os carros.
As duas corridas foram péssimas, aí ficam se perguntando por quê.
Nenhuma atividade vai ser feita em alto nível sem preparação.

Edison
Edison
11 meses atrás

Aí que saudade
De quando a F1
Corria em pistas de verdade
Baku, depois Miami, ninguém merece

CHAGAS
CHAGAS
11 meses atrás

Não entendo o mau humor do blogueiro dizendo que a pista de Miami é ridícula. Ano passado mesmo com o asfalto ainda “meio verde” foi das melhores corridas do ano com direito a SC, depois da relargada briga por vitória entre Max e Leclerc, briga pelo pódio entre Sainz e Perez com direito e “xis”, briga entre Russel e Hamilton o menino tendo que devolver posição e ultrapassando o multi campeão de novo. O meio do pelotão saindo faísca, as zonas de abertura de DRS funcionando bem. Batidas, encostões, xingamentos no rádio.
O horário é ótimo pra tomar uma cerveja, e esse ano tirando o 1-2 da RBR vai ser um “Deus nos acuda” pro resto do pelotão.

Wagner
Wagner
11 meses atrás

Ótimo artigo como sempre!

EDU
EDU
11 meses atrás

QUE DELÍCIA….!!!

Paulo Rickli
Paulo Rickli
11 meses atrás

Esses seus textos circulam em outros países ? Acho um desperdício se a mídia internacional especializada em F1 , não têm Flávio Gomes como escriba e colaborador .

Felipe
Felipe
11 meses atrás

Temos a tendência de achar que o passado foi melhor, mas confesso que estou procurando na memória uma época da F1 (desde que assisto) pior que agora
Não é pela hegemonia da Red Bull, tivemos McLaren, Willian, Ferrari, Mercedes….
Mas não me lembro de uma sequência de corridas que me desse sono. Infelizmente

Celio Ferreira
Celio Ferreira
11 meses atrás

Será que a F1 está tão ruim assim , ou é a incompetência de nove
equipes vendo a Red bull passear ? Deixo esta análise para os
amigos comentaristas…

AndreN
AndreN
Reply to  Celio Ferreira
11 meses atrás

Ferrari, Aston Martin e Mercedes tem desempenhos próximo e a briga pelo último lugar do pódio não é empolgante como já foi.

Em comparação com o ano passado, os carros estão piores para seguir uns aos outros. Com o DRS não há disputa pela ultrapassagem: ou se chega a menos de 1s de diferença e passa sem dificuldade, no meio de alguma reta, ou ficam num DRS train e ninguem passa ninguem na mesma.

Os pneus são ridiculos: ao mesmo tempo que não têm diferença de desempenho o suficiente para proporcionar diferentes estratégias, também não oferecem possibilidade de os pilotos forçarem para tentar alguma coisa na pista.

As corridas do WEC estão infinitamente melhores, mesmo com o domínio da Toyota na categoria HY.

Vitor Rodrigues
Vitor Rodrigues
Reply to  Celio Ferreira
11 meses atrás

Corridas monótonas ou com uma equipe dominante, já tivemos em outras oportunidades. A diferença na temporada atual está no calendário inchado, com pistas insossas e as lambanças na organização da Liberty.

Toni Martin
Toni Martin
Reply to  Celio Ferreira
11 meses atrás

Interessante sua provocação, nem vamos considerar as nove, fiquemos por enquanto com Ferrari e Mercedes, equipes que até pouco tempo atras passeavam nos autodromos dando-se ao luxo de escolher o vencedor…… onde esta a força deles?, desaprendeream a fazer carros de corrida? e a experiencia???, parecem os USA que dizem ter ido a Lua há 50 anos atras e agora que tem-se muito mais tecnologia não conseguem voltar,,,,,Um argumento é que as regras mudaram, sim, mas mudaram pra REDBULL também. Outro argumento é que os vinte carros, fora as batidas e quebras, sempre vão chegar numa sequencia e não todos juntos, claro, o problema é que a sequencia é sempre a mesma….. não devemos culpar MAX e RBR, pelo contrario, devemos ovacioná-los, devemos é chuitar o traseiro gordo da Ferrari e do Toto Wolf para que façam alguma coisas. Se tivessemos pelo menos 3 equipes disputando as demais podem ser meras figurantes.

Plinio
Plinio
11 meses atrás

Pior momento da história da F1? Considero um enorme exagero. As forças e fraquezas da F1 se misturam e deixam tudo nublado. O fato de ser uma competição de construtores faz da categoria a maior de todas do automobilismo com sobras. Mas cria disparidades enormes desde sempre, especialmente a partir da segunda metade dos anos 80 quando os carros passaram a quebrar cada vez menos. Eu gosto das experimentações da liberty, mesmo quando não funcionam, como foi o caso de Baku. Vale a tentativa. Agora, se eu fosse o campeão reinante, liderando novamente o campeonato, com o melhor carro (por muito) do grid também reclamaria. Classificar na correria e bater roda em uma corrida curta com outros pilotos que tem menos a perder não tem vantagem nenhuma para Max. Fosse a três ou quatro anos ele adoraria jogar o carro em cima de Hamilton em uma corrida curta. É a vida!!! Aliás, Verstappen reclamando de Russel é só uma demonstração da teoria da relatividade automobilística. Se sou eu que bato está certo. Se batem em mim está errado. Verstappen é um bom discípulo de Schumacher e Senna nesse quesito. Errado não está. A história mostra que a disputa de narrativas também é importante para vencer.

Talles
Talles
11 meses atrás

Vitórias de Checo na “rua”:

Azerbaijão 2021 – Max liderava e o pneu explodiu na reta dos boxes quando liderava
Monaco 2022 – Aquela batida no fim do Q3 para travar o grid e incompetência da Ferrari
Singapura 2022 – Max tem seu Q3 prejudicado pela equipe e larga em 7o 
Jeddah 2023 – Max larga em 15º por quebra no Q1
Azerbaijão 2023 – Max é chamado para pit num iminente SC quando liderava a prova

Conclusão: Perez não venceu “no braço” nenhuma dessas corridas. Dou crédito á última prova por manter um ritmo forte impedindo a chegada do Max. Mas todas as provas vencidas contaram com o fator sorte. Ele não é bom, é bem mediano. E esse título ofende Ayrton Senna, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, pelo menos. Todo o “hype” (eu não sei como traduzir esse termo) é marketing para tentar criar um rival para o Max, já que ele está sobrando. Bottas daria mais trabalho para Max.

Paulo E T Vasconcellos
Paulo E T Vasconcellos
Reply to  Talles
11 meses atrás

ótima análise, concordo com tudo, incluindo o Bottas

imagine um Keke Rosberg ao lado do Max…

Wagner
Wagner
11 meses atrás

Esta é a melhor frase do texto:

“Newey tem apenas 64 anos”

Sinto-me representado pelo ilustre escriba.

Allan Guimarães
Allan Guimarães
11 meses atrás

Preciso de pedir desculpas pelo achismo, do alto de quem bebe a gasolina da F1 desee 1981, de que DiVrido iria destruir Tsunada. Nunca errei tanto num julgamento! Sim, são poucas corridas, mas o Holandês bocudo (não é metáfora, a boca do menino é sa largura da cara dele!) Tem se mostrado bola forissima!

Sérgio Lima
Sérgio Lima
Reply to  Allan Guimarães
11 meses atrás

Eu torço para o Tsunoda. DeVries chegou cheio de marra, falando um monte naquele programa do streming que ia fazer e acontecer…até agora nada.
O japonês é boca suja, mas é um guri que tem talento e garra pra disputar e defender posição.

robertão
robertão
11 meses atrás

Flavio. Vc escreveu “…e Red Bull (de 2010 a 2013 e em 2022)”
2021 não entra na conta?
abs

robertão
robertão
Reply to  Flavio Gomes
11 meses atrás

Valeu.

Paulo Maia
Paulo Maia
11 meses atrás

O Pérez não é especialista em circuito de rua, o Verstapen é que amarela quando vê o muro perto.

RS GT
RS GT
11 meses atrás

Acho que o maior erro de Baku foi a posição de abertura da asa móvel, muito distante do início da reta. Não haveria espaço pra atuação efetiva da asa, mesmo entre as Red Bulls

Noé
Noé
11 meses atrás

com Segio Perez, o Txeko, não se brinca principalmente montado numa REDBULL, Txeko é humilde simples mas sempre disposto a luta e que á o contrario de muito piloto sensação por ai. Os quatro primeiros pilotos do grid correram e deram algum espetaculo, os demais, sabendo que nada podiam esmo, foram só desfilando, infelizmente. o dominio RBR é algoinimaginavel, o dominio mercedes durou mais(até agora) mais era mais fraquinho.

lagerbeer
lagerbeer
11 meses atrás

Acho que GP Miami para ter alguma emoção só se enfiar uns aligatorzinhos nas lagoas em volta da pista

Barreto
Barreto
11 meses atrás

Não falem mal de Miami. A Liberty já falou que a pista está melhor, pois os barcos agora estarão numa água verdadeira e não na cenográfica.

Marcus
Marcus
Reply to  Barreto
11 meses atrás

Falo mal, muito mal de Miami. Aquilo é uma das epítomes do mau gosto, como Las Vegas, uma coisa medonha. E ainda é reduto do gado.

Edison
Edison
Reply to  Barreto
11 meses atrás

Miami pra ficar ruim tem que melhorar muito

J Hunt
J Hunt
11 meses atrás

Tenho fontes seguras garantindo que Ecclestone volta ao cenário da F1 para retomar a proposta de chuvas artificiais.
Bernie adquiriu as patentes das antenas Haarp, as mesmas responsáveis por enviar chuvas, sem piedade, aos manifestantes nas portas de quartéis no Brasil.

O pacote que o velhinho inglês vai oferecer envolve ainda grid invertido, lastro aplicado aos primeiros colocados da corrida anterior, câmbio manual, fim da comunicação por rádio, fan boost, draft de calouros da F2, reabastecimento e a volta de Michael Masi na direção de provas.

A volta de Michael Masi não faria muita diferença, considerando as decisões das corridas de 2023. É só uma pimentinha.

Last edited 11 meses atrás by J Hunt
Klaus
Klaus
Reply to  J Hunt
11 meses atrás

Na verdade basta voltar o reabastecimento e liberar um pouco mais de consumo para mais potência. E solta a tigrada na pista pra ver o pau quebrando…

Marcio
Marcio
11 meses atrás

Agora podemos usar o termo “o circo da F-1” sem preocupações em ofender os fãs mais tradicionais.