LATINHA RING (2)

Verstappen interpela Pérez: treta na primeira volta

SÃO PAULO (hoje tem Lusa!) – A chuva deu uma animada no sábado austríaco e Max Verstappen somou mais oito pontos na classificação ao vencer a Sprint, com Sergio Pérez em segundo e Carlos Sainz em terceiro. O holandês, bem cedinho, fez a pole para a minicorrida com pista úmida na classificação batizada de Shootout, que teve algumas surpresas no grid: Lando Norris em terceiro, Nico Hülkenberg em quarto e as duas Mercedes lá no fundão.

Na sessão que definiu o grid, todos usaram pneus slicks, apesar do asfalto tinhoso. Mas a pista foi secando, secando, e Verstappen acabou andando no ritmo que lhe deu a pole para o GP da Áustria ontem, na casa de 1min04s. Só que entre a classificação e a Sprint choveu mais e a prova teve de ser iniciada com pneus intermediários. Foi assim que todos alinharam, exceção feita a Valtteri Bottas, que colocou pneus médios. Mas já ao fim da volta de apresentação foi para os boxes e calçou seu carro com borracha mais apropriada para a pista molhada.

E graças à chuva corrida não foi ruim, como a de Baku — a primeira das seis Sprints desta temporada. Na largada, Pérez conseguiu fazer a primeira curva na frente de Verstappen e espremeu o companheiro, que teve de colocar duas rodas na grama. Nas duas curvas seguintes a dupla da Red Bull se estranhou um pouco e no fim o líder do Mundial reassumiu a ponta, reclamando pelo rádio.

Largada tensa entre a dupla da Red Bull: quase bateram

Naquele vai-não-vai, Pérez perdeu também o segundo lugar para Hülkenberg, e aí as coisas ficaram muito fáceis para o holandês. Quando Checo conseguiu passar o alemão da Haas, na volta 12, o parceiro já estava 10s à frente. Não havia mais o que fazer. Foi quando, pelo rádio, a Red Bull pediu a Verstappen “considerações sobre as condições da pista”. “Considero que estão boas, não o suficiente para colocar pneus slicks, mas o asfalto é de boa qualidade e o cenário, idílico”, respondeu. “Vejo vaquinhas e pequenos chalés alpinos nas encostas, o verde aqui é mais verde que acolá, adoro este lugar, a tranquilidade, o ritmo mais lento das pessoas, a falta de pressa no ir e vir, quando me aposentar é aqui que quero viver.”

A prova era curta, 24 voltas, e na metade da contenda algumas brigas entretinham o público, como Hamilton x Magnussen e Leclerc x Norris. O inglês da McLaren, terceiro no grid, havia perdido muitas posições na primeira volta e buscava uma recuperação. Na volta 14, uma disputa se desenhava entre os pilotos da Aston Martin, com Lance Stroll em quinto e Fernando Alonso em sexto. Stroll ligou para o pai e pediu para Alonso não brigar com ele. “Filho, é uma corrida de carros…”, respondeu o dono da equipe, desligando o microfone e comentando com o chefe do time: “Ele é muito mimado, é tudo culpa da mãe dele. Foi criado com iogurte grego e granola de tapioca.”

Início de prova na chuva: disputas no meio do pelotão

Na volta 16, outro rádio interessante, que fui anotando palavra por palavra enquanto o pau comia na pista. De Russell, para a Mercedes: “Olá, amigos, creio que a pista está secando. Não sei se o bastante para trocarmos pneus, talvez, quem sabe… Gostaria de saber a opinião de todos, Toto, Lewis, o pessoal na fábrica… O que vocês acham? Seria o caso de pararmos nos boxes? Se for o caso, haveria uma possibilidade de…”. Nesse momento, George foi interrompido bruscamente por seu impaciente engenheiro. “Você já está nos boxes e já trocamos seus pneus, meu caro. Se não for incômodo, engate a primeira E VOLTE PARA A CORRIDA, CACETE!”

“Não precisava gritar…”, resmungou Russell, voltando na última posição. Mas não foi o único a ter a ideia de colocar pneus para pista seca. Vários pilotos fizeram o mesmo para tentar alguma coisa nas voltas finais. Um deles foi Hülkenberg, que voltou à pista em 12º e foi escalando o pelotão para buscar pelo menos uma posição entre os oito primeiros que ganham pontos na Sprint.

Na 20ª volta, Nico já era o oitavo colocado, a 14s de Norris. Os sete primeiros não tinham trocado pneus e nem iriam, porque a prova estava no fim. Na 22ª, Alonso colou em Stroll, então quarto colocado, e o menino entrou no rádio de novo berrando. “Pai! Pai! Olha ele aqui! Fala pra ele ir embora! Ele quer me passar! Fala pra ele parar!”, e Lawrence, o pai, repetiu o que havia dito antes. “Filho, é uma corrida de carros…”, e desligando novamente o microfone cochichou com o chefe do time: “Sempre foi assim. Qualquer coisa, chamava o pai. Na escola, roubavam o lanche dele e o que fazia? Pegava o celular e me ligava chorando. Eu em reuniões de negócios, do outro lado do mundo, tendo de resolver briga de lanche na escola. É culpa da mãe. Da mãe e da vó. Só tomava Toddynho, porque Nescau dava dor de barriga”.

Os três primeiros na Sprint: placas em vez de troféus

Da turma que colocou slicks, Hülkenberg acabou sendo o destaque da Sprint, chegando à sexta posição. Foi aí que recebeu a quadriculada, atrás de Verstappen, Pérez, Sainz, Stroll e Alonso, os cinco primeiros, que terminaram a corridinha com os pneus com que largaram, intermediários. Ocon, em sétimo, e Russell, em oitavo, fecharam a zona de pontos. Foi a quarta vitória de Max em provas Sprint.

Ao final da corrida, assim que estacionou o carro, o holandês foi até Pérez para interpelá-lo pelo esfrega-esfrega da primeira volta. O mexicano tentou explicar que não o viu ao lado, entregou a posição, e procurou não esticar muito o assunto para não entrar em atrito com o primeiro piloto do time. “Conversamos, e está tudo bem”. Max também não alimentou polêmicas. “Foi um pouco complicado, mas consegui controlar o carro [na grama] e depois disso fiz minha corrida”, disse. Intramuros, porém, Verstappen foi mais duro. “Não foi nada OK. Poderíamos ter batido.”

Van ‘t Hoff, 18 anos: acidente fatal em Spa

Não houve muita festa depois da corrida, porque antes da largada chegou a notícia da morte do jovem Dilano Van ‘t Hoff, 18 anos, na prova #2 da FRECA (Fórmula Regional Europeia) em Spa-Francorchamps. O acidente aconteceu na reta Kemmel, trecho de altíssima velocidade no circuito belga. Holandês como Verstappen, o piloto da também holandesa MP Motorsport perdeu o controle debaixo de muita chuva e foi atingido em cheio pelo carro de Adam Fitzgerald. Foi uma batida semelhante à que matou o francês Anthoine Hubert na mesma pista em 2019, numa corrida de F-2.

A falta de visibilidade na chuva foi tema de algumas entrevistas e Alonso foi um dos mais veementes ao avaliar a validade de se correr no molhado com monopostos. “Não dá para enxergar nada, eu sei que as pessoas não entendem direito as bandeiras vermelhas, as interrupções… Mas com as velocidades desses carros hoje e o tanto de spray que os pneus jogam para trás, é muito perigoso.”

A previsão para amanhã na região de Spielberg é de tempo seco. O GP da Áustria, nona etapa do campeonato, começa às 10h. Às 19h, hoje, tem “Fórmula Gomes” lá no YouTube, não esqueçam!

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lagerbeer
lagerbeer
10 meses atrás

O que ocorreu em SPA é triste demais .. e ocorreu mesmo depois da reforma .. acho que não tem mais jeito de ajustar a pista pela geografia …

Edison
Edison
10 meses atrás

A melhor parte do texto são as traduções livres dos rádios. Um simples “Still intermediaries” vira uma longa conversa do Max com a equipe. Muito bom.

Marcos Bassi
Marcos Bassi
10 meses atrás

De novo…”casodeque” alguem que larga de décima segunda até vigésima….sem estar disputando título…vai se arrebentar nessa chatura? Só teve emoção, alguma, por conta da chuva. Essa mudança, criando um apêndice para o fim de semana, não dá muito certo não, tirando Interlagos que teve sprints legais até agora.

Marcus
Marcus
10 meses atrás

Chovia demais em Spa, pelo que pareceu na tv. Correr naquelas condições, ainda mais uma categoria de acesso, é temerário.

Megas Alexandros
Megas Alexandros
Reply to  Marcus
10 meses atrás

Estava assistindo a corrida, já tinha acabado o tempo de prova, mas mandaram o Safety Car entrar pra darem ao menos uma volta “valendo” no final. Aí já nas primeiras curvas o segundo colocado rodou sozinho e foi deslizando pela lateral. Todo mundo foi passando. O Van’T Hoff era o 19º, e bateu nele (nenhuma câmera mostra a batida), e alguns poucos acabaram se envolvendo no acidente também.

Primeira vitória na categoria do fenômeno italiano Andrea Kimi Antonelli ficou em segundo plano…

CHAGAS
CHAGAS
Reply to  Megas Alexandros
10 meses atrás

Viu errado, a volta vigente era a penúltima.

MARCIO HENRIQUE MARTINS DE REZENDE
MARCIO HENRIQUE MARTINS DE REZENDE
10 meses atrás

A corrida foi boa, mas o posto do Flávio é muito melhor!!
Eu queria ver pelo menos uma vez no ano o Verstapen siar da corrida por um acidente..

Chupez Alonso
Chupez Alonso
Reply to  MARCIO HENRIQUE MARTINS DE REZENDE
10 meses atrás

Alguém que torce para outro alguém se acidentar é um débil mental.

Antonio
Antonio
10 meses atrás

Aston Martin está estranha. Parece apenas uma equipe para o Stroll brincar. E o Alonso aparentemente está de acordo com isso. Tem que ser mais profissional.

Leonisio Barroso
Leonisio Barroso
10 meses atrás

Perez foi ousado mas perigosa atitude, de fato !

Leonisio Barroso
Leonisio Barroso
10 meses atrás

Gostei da investida do Perez pra cima do Max. Acho que tem que fazer isso mesmo, até porque não renovará o seu contrato – Na minha opinião.

Nilto
Nilto
10 meses atrás

Corrida de carros, realmente é muito perigoso. Tem que ter coragem quando se é profissional e sabedor dos riscos.

Paulo Mendes
Paulo Mendes
10 meses atrás

Acompanho a F1 desde a época do motorista do INELEGÍVEL, e acho que nunca vi uma dominância tão grande quanto a do genro do motorista do INELEGÍVEL. O garoto enxaqueca e o carro são muito bons

Chupez Alonso
Chupez Alonso
10 meses atrás

Curto circuito esse de Steven, numa corrida sprint de poucas voltas e o cara enfia 20s na concorrência.

É.

Rumo ao Octa…

Celio Ferreira
Celio Ferreira
Reply to  Chupez Alonso
10 meses atrás

Hoje ficou provado a incompetência de Perez, 20 segundos , carros iguais,
é melhor voltar pro México e comer Guaca mole

Chupez Alonso
Chupez Alonso
Reply to  Celio Ferreira
10 meses atrás

Acho pior querer atacar o Max na largada e jogá-lo para a grama molhada.

Tem que ser muito Burrito para fazer uma estupidez dessa.

Barreto
Barreto
10 meses atrás

Pérez precisa aprender que é o segundo piloto, hoje correu riscos desnecessários na largada.
Foi ultrapassado por Hulkenberg e só recuperou a posição quando a pista foi secando e a Haas virou abóbora.
Daí em diante a diferença para Verstapen foi de 10 para 21 segundos na corrida tamanho 1/3. Numa inteira daria 1 minuto?
Falando em abóbora, Norris, coitado não consegue largar bem, seja culpa dele ou dos outros.
Amanhã Max colocará quanto tempo na rapa?

Luciano Frigeri
Luciano Frigeri
10 meses atrás

Nada de novo no reino. Max dominante, claro! Mas cá entre nós: ele tá ficando um chato de galocha. Reclama do Perez, das linhas da pista…

Jean
Jean
10 meses atrás

Pelo visto passaremos o resto do ano dizendo “Só dá Verstappen, mas não reclamemos, é a história diante de nossos olhos blá blá blá…” (não é uma crítica a ti, Flávio). O fato é: puta chatice, só dá o cara, faça chuva ou faça sol, neste multiverso ou no outro, de pneu duro ou pneu furado, só dá Verstappen. Que porre…

No mais, texto excelente esse seu, como sempre, FG.

Paulo F.
Paulo F.
10 meses atrás

O Desafio ao Galo é mais emocionante! Graças a Dorna existe a MotoGP!

Chagas
Chagas
Reply to  Paulo F.
10 meses atrás

Puta merda. Tu achou a Sprint ruim? Meu Deus tu acha que convence alguém?
Barbaridade.

Odair
Odair
10 meses atrás

Muito bom . Parabéns pelo texto

Wagner
Wagner
10 meses atrás

Valeu Flávio, pela boa leitura de sempre.

Poliano
Poliano
10 meses atrás

Max parece imbatível em qualquer condição de pista, acaba sendo um pouco previsível quem vai ganhar amanhã, mas do segundo para baixo, vai ser uma corrida bem interessante.