ÁLBUM (SOBRE RODAS) DE FAMÍLIA

SÃO PAULO (reativando!) – Essa é uma seção deste blog que ficou adormecida por muito tempo. Mas já é hora de voltar, porque geralmente as histórias e as fotos são maravilhosas.

Para quem não lembra, antigamente eu pedia para a blogaiada mandar fotos de família nas quais aparecessem carros (ou motos, ônibus, caminhões, tratores, qualquer coisa sobre rodas). Creio que muitas dessas imagens desapareceram nas postagens antigas pelo motivo que expliquei outro dia — elas ficavam hospedadas em outros servidores, e quando fizemos as várias migrações do blog (do iG para o MSN, depois para o UOL, depois para o GP na plataforma WordPress), simplesmente sumiram. Os textos, pelo menos, sobreviveram.

Para estimular vocês, seguem exemplos de fotos de época ótimas para a sessão. Meus amigos do grupo de DKW no WhatsApp andaram mandando. Caprichem, vasculhem os álbuns de fotos de papel na casa dos pais ou dos avós, e mandem para [email protected]. Com boas descrições, claro! Quem sabe a sua aparece por aqui…

Para ver as imagens acima em tamanho maior, é só clicar em cada um delas. Pela ordem, da esquerda para a direita começando lá no alto: 1) uma Vemaguet que, por ter capota branca, deveria ser 1962 ou 1963. Mas ela não tem portas suicidas, então pode ser primeira série de 1964, ainda com a capota branca. É minha aposta. Pela construção da casa, a foto foi tirada na região sul do Brasil; 2) “Família Areta 1966”, diz a pequena inscrição sob a imagem da Lambretta com três garotinhas. Seria no Brasil? Essa pintura da placa no para-lama não era muito comum aqui. E a casa lá atrás tem uma cara de Itália… O que será que conseguimos descobrir sobre a família Areta? 3) Temos aí um lindo Aero Willys “bolinha”, modelo feito de março de 1960 a meados de 1962. Isso porque em 1962 a Willys reestilizou o carro, construindo um novo que pode ser considerado o primeiro projeto de automóvel para produção em linha feito exclusivamente no Brasil. Neste vídeo aqui, restaurado pela Dana, há um curto e extraordinário documentário sobre o primeiro Aero realmente brasileiro — o “bolinha” veio pronto dos EUA, e foi um fracasso lá. O filme, produzido por Jean Manzon, histórico fotógrafo/cineasta/documentarista francês radicado no Brasil, é narrado pelo próprio carro! Nenhuma pista sobre a foto — onde e quando. 4) A foto do Simca tem cara de ter sido tirada no interior de São Paulo — essas casas e esse tipo de calçamento são típicos. Mas pode ser em qualquer outro lugar. O que dá para tentar adivinhar é a época em que ela foi batida: depois de 1970, quando as placas amarelas com duas letras e quatro números foram adotadas no país. 5) Bom, essa aí está fácil para quem conhece DKW. É um Fissore fabricado no máximo até 1966, o que dá para saber pelas lanternas traseiras — o modelo 1967, último de produção, é diferente. A molecada está meio aborrecida por ter de ficar posando para a foto, mas ajudou bastante: deu para ver que o carro é de Mineiros (GO) e também foi clicado depois de 1970. 6) Mais um Fissore, estacionado na frente de um Fusca, com placas antigas. Passando por eles, um lambreteiro profissional!

Algo que sempre, sempre mesmo, me pergunto quando vejo essas fotos: por onde andarão essas pessoas e esses carros? Muitos, claro, já morreram. As pessoas, digo. São fotos que têm 50, 60, 70 anos. Mas veículos, como bem sabemos, têm a incrível e invejável capacidade de rumar para a eternidade. Uma única foto dessas dá um livro. A gente pode imaginar o que quiser observando os detalhes, os olhares, as roupas, as feições…

Adoro essa sessão, não sei por que coloquei na gaveta.

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Wagner
Wagner
4 meses atrás

Simca Chambord, também conhecido como “Belo Antônio”, pelo fato de ele ser bonito mas com pouca potência (alusão ao filme italiano em que o Mastroianni fazia um personagem impotente).

Hilton V Pezzoni
Hilton V Pezzoni
4 meses atrás

Na foto 1, no capuz do motor do fusca que está ao fundo há o ‘1.300’ cilindrada do motor do fusca tigrão 1.300 modelo 1967, então a foto foi tirada do final de 1966 em diante.

Alex Matias
Alex Matias
4 meses atrás

O Simca é um dos últimos fabricados. Um EmsiSul 1967.

Gil
Gil
4 meses atrás

O Aero Willys necessariamente é um modelo 1960 ou 1961, o 1962 tinha os frisos laterais retos e não existia mais a versão saia e blusa.

O Simca Chambord, pelo emblema bicolor na grade, já tinha o motor EmiSul, portanto é um modelo 1966 segunda série ou 1967, último ano de sua produção.

André Parreira
André Parreira
4 meses atrás

Muito boa essa seção Flávio. Sempre achei essas fotos curiosas, devo ter algumas nos álbuns de família, vou procurar, para colaborar com a seção.

É engraçado como antigamente os carros de suas épocas eram considerados membros da família. Ainda há carros assim, são esses mesmos, que hoje são antigos e passaram de pai para filho. Dificilmente um carro atual é tratado dessa forma por uma família, é um objeto que serve somente à sua função, de locomoção. E digo por mim, não tenho esse apego com o carro que temos, mas tenho memórias com os carros que meus pais tiveram. Tenho a intenção de em algum momento comprar um carrinho antigo e dar uma nova vida a ele e poder criar novas memórias automotivas.

Curiosamente ao ler esse post, me lembrei desse vídeo do link abaixo, do pai ensinando a filha a ligar seu Fusca. É muito legal ver a alegria da menina.
https://www.instagram.com/p/C0fKBMbRXrT/

Glauber Cordeiro
Glauber Cordeiro
4 meses atrás

Não sigo a profissão, muito pelo contrário, trabalho em banco, estatística e tal (área de exatas, baita incongruência!!!), mas fiz faculdade de História na USP, por não trabalhar na área não me considero Historiador!!
Mas uma coisa que aprendi neste curso, nessa vida né, pois, primeiro são anos de dedicação, e depois é ele que te molda, a partir dele vc definiu seu futuro! É que a escrita é tudo!! Se com o espectador presente, já acontece “ruídos” na conversa, ele ausente fica mais complexo ainda!!

Tudo isso para quê?

A forma como você escreve é fascinante, você é formado em Comunicação, Jornalista, o que novamente reforça que a escrita é tudo, mas esse texto teve um trabalho de busca histórica tão bonito!! (relacionar a arquitetura à época, por exemplo)

Posso estar parecendo piegas e puxa-saco, mas parabéns!!

Ainda existe gente que sabe escrever hoje em dia, e ler o que eles escrevem é inspirador!!