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Verstappen: começando o ano como terminou, na frente

SÃO PAULO (água no chope) – Desde o início da pré-temporada, passando pelos treinos de ontem e hoje no Bahrein, Max Verstappen não andou na frente de verdade em nenhum momento. Nenhum massacre, nenhuma humilhação, tempos discretos, poucos sinais de que uma nova carnificina era iminente.

Mesmo assim, todo mundo dizia: ele é o favorito, vai ganhar a corrida, vai ganhar todas as corridas, vai ser campeão de novo, acabem logo com essa Fórmula 1!

Bem, talvez o holandês não tenha neste ano tanta facilidade como em 2023, é difícil repetir algo como 21 vitórias em 22 provas, mas tudo que todo mundo dizia era verdade. Ele é o favorito, vai ganhar a corrida deste sábado, vai ser campeão de novo.

Se vai levar todas, não sei. Acabar com a F-1? Não exagerem.

O grid no Bahrein: melhor tempo foi de Leclerc no Q2

Max e a Red Bull não estavam propriamente escondendo o jogo, nem jogando milho aos pombos quando escolheram não trucidar a concorrência desde a primeira sessão livre do ano. Era apenas uma opção. Estratégia. E ninguém se iludiu muito, mesmo, com Ferrari e Mercedes se revezando nas primeiras posições. Ninguém com mais de dois neurônios, pelo menos. Houve um ou outro que olhou para as tabelas de tempos e saiu proclamando a decadência rubrotaurina, o fim de um ciclo, os efeitos do caso envolvendo o sátiro dos energéticos, que esfacelou o time por dentro. As redes sociais estão cheias de publicações assim, disfarçadas de jornalismo. São os produtores de conteúdo que produzem tais conteúdos — exaltando um primeiro lugar da Ferrari, um brilhareco da Mercedes, a ressureição de Ricciardo, a volta da competitividade, a proximidade do apocalipse.

Mas isso não passa de onanismo digital. A verdade é: quando precisou, Verstappen acelerou. E encontrou a potência que sua equipe vinha economizando, porque não é preciso se esgoelar para fazer voltas rápidas quando não há pontos em jogo.

Hoje, havia uma pole a disputar. A impressão que a Red Bull deixou no autódromo barenita foi a de que finalmente, depois de três dias de pré-temporada, três treinos livres e um Q1, resolveu ligar seu carro. Para todos saberem com quem terão de lidar neste ano.

O RB20 é um carrão: azar da concorrência

A sexta-feira começou com a Ferrari fechando o terceiro treino livre do fim de semana (que não vai até domingo; a corrida é amanhã por causa do Ramadã, o que já foi explicado) e Verstappen em quarto, ainda com o sol da tarde e temperaturas amenas no deserto — coisa de 20°C. A hora da verdade, todos esperavam, seria a classificação depois do pôr do sol. Vamos ver do que esse RB20 é capaz, pensavam todos — secretamente, talvez, torcendo para que não fosse capaz de muita coisa, abrindo a possibilidade de um campeonato mais disputado.

No Q1, a dupla ferrarista foi para a pista com pneus médios, já que o asfalto do Bahrein é do tipo come-borracha. Vieram tempos muito altos e, como os demais, Leclerc e Sainz acabaram colocando os macios, quase um segundo por volta mais rápidos. Foram seis mudanças na ponta da tabela de tempos. Sainz, Albon, Hülkenberg, Norris, Verstappen e Sainz outra vez ocuparam a primeira colocação, com voltas apenas razoáveis. Apenas a última do espanhol, em 1min29s909, deixou boa impressão. Foi o único a andar abaixo de 1min30s.

Ao final da primeira parte da sessão que definiria o grid da abertura do Mundial, nenhuma surpresa na zona de eliminação: Bottas & Zhou (Sauber), Sargeant (Williams) e Ocon & Gasly (a dupla da Alpine, sobre a qual já alertamos ontem: vai carregar a lanterna do campeonato depois de fazer um carro horrível, mais lento que um Clio com junta de cabeçote queimada). Na ponta, atrás de Sainz, uma ligeira novidade: Stroll, colocando a Aston Martin a apenas 0s056 da Ferrari. Verstappen? Terceiro.

Veio o Q2 e a Red Bull, ufa!, deu o ar da graça. Max sentou o pé e fez logo de cara uma volta em 1min29s374, melhor tempo do fim de semana. Enfiou 0s558 no segundo colocado, seu companheiro Sergio Pérez. Começou o ano, pensei com meus botões. Mas Leclerc não quis jogar a toalha antes do tempo. Fez uma voltaça em 1min29s165, 0s209 mais rápido que o tricampeão mundial. “Oooooooohhhhhh!”, exclamou o povo. Não me espantei muito, porque Charlinho é rápido em voltas de classificação e porque, como também já foi dito neste espaço, a Red Bull tem a tradição de priorizar seu ritmo de corrida, sem se preocupar demais em acumular poles. Se o monegasco largasse na frente, seria absolutamente normal.

Os degolados foram Tsunoda (Vai Querer Sua Via?), Stroll (que voltou ao lugar que lhe cabe), Albon (Williams), Ricciardo (Quer Parcelar?) e Magnussen (Haas). A surpresa foi a passagem de Hülkenberg, com o outro carro da Haas, ao Q3. Mas também não é novidade. Amanhã ele despenca depois da primeira bateria de pit stops. Não há milagres nesse negócio.

No Q3, Norris abriu os trabalhos com uma volta em 1min29s679, sendo batido por Russell primeiro e Verstappen logo depois. Max fechou o “primeiro tempo” da fase decisiva da classificação na frente — todos, menos Alonso, teriam duas voltas rápidas para buscar as melhores posições possíveis no grid. Leclerc ficou perto dele, a 0s059. Ambos não melhoraram seus tempos em relação ao Q2.

Na segunda saída, Verstappen baixou para 1min29s179 (foi esperto, pegou um vácuo de Norris na abertura da volta) e Charlinho fez 1min29s407, ficando a 0s228 da pole. Sua volta do Q2, 1min29s165, lhe daria a primeira colocação no grid. Mas ele não conseguiu repeti-la. Russell ficou em terceiro, com Sainz, Pérez, Alonso, Norris, Piastri, Hamilton e Hülkenberg fechando a turma dos dez primeiros.

Russell, o melhor da Mercedes, falou que a briga, amanhã, é só para saber quem vai ficar em segundo. Hamilton, nono no grid, disse que comprometeu o acerto de seu carro para classificação, e espera que a aposta se pague na corrida. Alonso espalhou sorrisos porque não achava que seu carro estivesse tão competitivo. E Leclerc lamentou o fato de ter sido melhor no Q2 do que no Q3. Oh, dia, oh, vida.

Max: 33 poles na carreira

E Verstappen? Deu risada pelo rádio com seu engenheiro e comemorou com a naturalidade de sempre. Foi a 33ª pole de sua carreira, empatando nas estatísticas no quinto lugar com Jim Clark e Alain Prost. À frente dele, agora, estão apenas Hamilton (104), Schumacher (68), Senna (65) e Vettel (57).

A corrida, amanhã, começa ao meio-dia, pelo horário de Brasília. Serão 57 voltas. Caso Horner? Pouca evolução. Não vazaram, pelo menos até agora, mais mensagens — verdadeiras ou falsas. A notícia do dia, em relação ao episódio, foi a reunião entre o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, e o CEO da F-1, Stefano Domenicali, que estudam recorrer ao Código Esportivo Internacional da FIA para intervir na questão, se considerarem que a imagem do automobilismo e da categoria está sendo prejudicada etc. etc. etc.

Horner estava na mureta dos boxes hoje comandando as ações da Red Bull, como faz desde 2005. Mas não sei até quando isso vai durar. Quanto à superioridade do time que dirige, essa vai durar bastante.

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Chupez Alonso
Chupez Alonso
9 meses atrás

Tem gente que não fez nem a curva ainda.

Rumo ao 8cta…

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Danilo
Danilo
9 meses atrás

Nós queremos disputas, nós temos as nossas preferências na torcida, mas na boa… até a minha esposa que nunca assistiu uma corrida inteira vai chegar amanhã do cabeleireiro e perguntará de forma retórica… “Quem ganhou foi o Verstappen?” Em um campeonato tão longo nem se o sobrenatural de Almeida decidisse deixar os gramados e ir para as pistas iria influenciar no resultado da supremacia rubrotaurina. Se o Max resolver dar um passeio com os Ets em um galáxia distante, ele volta a tempo para ganhar o campeonato com algumas corrida a serem realizadas. Para eu q torço para o Hamilton será um campeonato sadomasoquista e com a esperança q em 2025, essa hegemonia acabe.

Bispo
Bispo
9 meses atrás

Ver Max passeando … será que a Mercedes termina em 2°…

Ferrari? Vai ter pitstop né… teremos a 1ª lambança espaguete do ano ?😆

Celio Ferreira
Celio Ferreira
9 meses atrás

F1 é feita de fases dominantes de determinada equipe Ferrari de Shumi.,
Red bull de Vettel , Mercedes de Hamilton , e a mais massacrante de
todas , a Red bull de Max devido a sua performance..
E o pior que nenhuma equipe pode fazer grandes mudanças : Motor,
chassi , aerodimamica etc. Resultado : Max de ponta a ponta de novo
em 2024.

Megas Alexandros
Megas Alexandros
9 meses atrás

Ferrari continua na mesma. Leclerc é até veloz, mas o pneu desgasta tanto que até nas poucas voltas o fato do pneu estar um pouco usado já fez o tempo piorar do Q2 pro Q3. Aguardemos a corrida e as próximas etapas pra ver se foi isso mesmo (o que é preocupante) ou foi um erro leve do piloto que custou uns décimos (apesar da volta não ter tido trecho “amarelo” no tempo).

Chupez Alonso
Chupez Alonso
9 meses atrás

O fato interessante é que essa volta do Leclerc no Q2 foi a volta mais rápida da classificação e teria dado a pole a ele, fosse no Q3.

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Barreto
Barreto
9 meses atrás

Que fase da Renault, um Logan e duas Alpines na rabeira.

Sergio Trancoso
Sergio Trancoso
9 meses atrás

Eliminados no Q1: 2 carros ruins e um piloto ruim

Chupez Alonso
Chupez Alonso
9 meses atrás

E no Bar, hein?!

Nada como água na Pale Ale alheia.

Um choque de realidade não faz mal a ninguém.

E aquela dúvida: “a diferença é de 0,5 ou 1,0seg?”.

Foi de 0,5.

E que treino fez o Hülkenberg! Por pouco não foi 9º! Posição importantíssima.

Rumo ao 8cta…

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Tales Bonato
Tales Bonato
9 meses atrás

Max é de outra turma. A única solução possível é entregar logo o troféu de campeão de 2024 para ele. E obrigá-lo a entrar de ferias. Daí, com o resto de grid, teríamos um bom campeonato.

ZehRo
ZehRo
9 meses atrás

Boas, passando pra dizer que leio blog sempre, mas comento quase nada, grato pelos textos, você é um otimo escritor, num tempo de “produtores de conteúdo!

Ricardo Garofolo
Ricardo Garofolo
9 meses atrás

Será um ano previsível , assim como quase todos os anos na F1.

lagerbeer
lagerbeer
9 meses atrás

O Max e a Red Bull chegaram no nível de excelência do Romário .. só na banheira esperando a bola chegar e .. pá … gol

Nuno
Nuno
9 meses atrás

Essa guerra pela sucessão na redbull está quase ao nivel da serie da HBO…