A DESPEDIDA

RIO (triste, sim) – Fosse em priscas eras, começaria este texto hoje com uma bela metonímia. “Os escaninhos de Monza amanheceram mais tristonhos ontem [“ontem” porque seria um texto para o jornal do dia seguinte]. Neles, duas folhas de papel comunicavam que este GP será o último da família Williams no comando da equipe. A partir da próxima etapa, em Mugello, uma legião de desconhecidos egressos de escritórios espelhados em Nova York estarão a frente do time depois de 43 anos e 739 corridas sob o comando de Frank e sua filha, Claire.”

Baita “lead”, não? Depois discorreria sobre a história da equipe, traria alguns detalhes sobre os nomes que assumirão o comando, mencionaria seus nomes e qualidades, descreveria o fundo de investimento Dorilton Capital, inseriria duas ou três declarações de Claire Williams (a única que “falou” nos dois press-releases, as tais duas folhas nos escaninhos da sala de imprensa de Monza; já tem algum tempo que equipe nenhuma coloca papel em escaninho, os releases vêm por e-mail ou aparecem nas redes sociais), elaboraria um “gran finale” e acabou, a matéria estaria pronta para o pasquim de papel que, amanhã, seria lido e, depois, embrulharia um filé de tilápia na feira.

Sugeriria também uma sub-retranca (pesquisem o que é retranca, ando sem paciência para explicar tudo) sobre os brasileiros que correram pela Williams, abrindo o texto com Piquet e Senna, que já tiveram carteira assinada por Frank. Iria usar essa frase “tiveram carteira assinada por Frank”, ficaria bem legal.

Mencionaria também as passagens de Massa e Barrichello pelo time claro, e lá pelo meio do texto mencionaria os nove títulos mundiais de construtores e sete de pilotos, e terminaria com dois ou três parágrafos explicando os motivos da decadência da equipe até ser colocada à venda em maio para ser adquirida por um fundo de investimentos americano.

Se tivesse espaço no jornal, ainda sugeriria alguma foto antiga de Frank Williams, o que a gente chama de texto-legenda, descrevendo o início de sua trajetória na F-1 e registrando o acidente de 1986 que o deixou tetraplégico. Ah, tem mais espaço, poderia dizer o editor, e então tudo bem, faço outra sub sobre as equipes de “garagistas” que estão acabando.

E estaria bem noticiada a despedida da Williams, anunciada hoje. Claire chefia o time nos boxes de Monza e depois tira o time de campo. Está tudo explicadinho aí nos links. Acrescentaria que, no Twitter, Felipe Massa mandou uma mensagem de agradecimento e boa sorte para Claire e dando as boas-vindas a ela ao “Retirement Mode”.

Felipe não vai continuar na Venturi na Fórmula E, como já se sabe. Ainda não anunciou aposentadoria. Mas a indireta foi notada pelos comissários.

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Eniraldo
Eniraldo
3 anos atrás

Difícil prever o futuro! A f1 caminha para o fim? Ou será organizada pelos americanos (provavelmente só iniciando os investimentos) em um novo modelo de sucesso?
Prefiro não fazer previsões e olhar para o passado glorioso dos Williams.

CRSJ
3 anos atrás

Toda história que começa tem um Fim, infelizmente a Williams morreu e sua história original acaba em Monza 2020.

Marcos Staskoviak
Marcos Staskoviak
3 anos atrás

Muito bom texto. Deu até saudade dos tempos que notícias eram lidas em jornais e revistas.

Beto Dessordi
Beto Dessordi
3 anos atrás

Belo texto Flavio…. Como sempre.

Olha que belezura encontrei nos youtube da vida.

Se nao viu, vale o rolê…

Abraços

Beto Dessordi
Beto Dessordi
Reply to  Beto Dessordi
3 anos atrás

https://youtu.be/cesly3xRVq0

Agora o link… Tinha esquecido

Foi mal

Otávio
Otávio
3 anos atrás

Demorou para sair a Claire Williams Pema que só largou o osso depois que quebrou o negócio… Agora é só ladeira abaixo, até fechar de vez.

José
José
3 anos atrás

O final do texto poderia dar um toque pessoal e desejar sucesso similar ao que aconteceu à Tyrrell, fazendo um paralelo com o velho Ken e lembrando que depois de vendida, virou BAR, Honda, Brawn e hoje papa tudo como Mercedes.

Jô Zerroela
Jô Zerroela
3 anos atrás

A imagem que fica é da aranha no box fazendo aquela performance. Li que o Vettel comprou aquela bagaça. No mais, a F1 tornou-se um carrossel sem graça e previsível, tanto que o Bernie meteu o pé e vendeu, dizendo que era preciso fazer chover em todas as provas. Pra mexer ou fazer algum sentido nisso, penso no Amilton na Ferrari já no ano que vem, e o Verstapinho na Mercedes. Utopia. Pense no Amilton campeão na Ferrari.

RIP F1.

ms
ms
Reply to  Jô Zerroela
3 anos atrás

sei não….pra mim hamiltom foi feito para mercedes e a mercedes foi feita para hamiltom…sendo um daqueles casos de amor irremediavel….também tenho a convicção de que se hamiltom fosse para ferrari….a ferrari…. “…estragaria,,,” hamiltom…..

Bruno Jamalaro
Bruno Jamalaro
3 anos atrás

Como sempre, texto excepcional!!! Uma breve aula de jornalismo “raiz”, como gostam de dizer alguns. Raramente comento, mas entro no blog ao menos uma vez ao dia para ler pérolas como esse post!

Andre
Andre
3 anos atrás

Queira só saber quando as equipes irão vender as máscaras para os mortais. Uma mais linda do que a outra.

João Paiva
João Paiva
3 anos atrás

O meu sentimento, nesse momento, é que estamos assistindo às últimas temporadas da F-1. Minha impressão é que, em breve, essas decisões, tomadas em NY, do tipo “é mais barato fechar a Williams” ou “a McLaren”, como se uma equipe fosse o Walmart, alcançarão o campeonato. Sorte da nossa geração poder ter acompanhado algumas lendas como Hamilton, Schumacher, Piquet, Senna… Dois deles brasileiros. Muito melancólico o esporte profissional ser reduzido a decisões baseadas em lucros ou prejuízos. Eu quero que esse mundo cada vez mais se foda.

Igor
Igor
Reply to  João Paiva
3 anos atrás

Ahh… sim. Se uma coisa dá prejuízo vai ser mantida como? Vc colocaria o seu dinheiro na reta? Falar na internet é fácil, fazer é outra história!

Diogo
Diogo
Reply to  Igor
3 anos atrás

Pois é, pois é, caro. Role pouco mais abaixo neste ilustre blog, e voce verá que justamente essa descisão de bancar um negócio dando prejuízo é que manteve a tal equipe Williams correndo até os dias de hoje, e um certo senhor Frank virar sir Frank. Ah, a lógica do capital…

JURACY
JURACY
3 anos atrás

Boa tarde a todos!

A Dorilton ( tem um ex-piloto inglês metido nisso aí ) é um fundo de investimentos abutre, que compra empresas falidas. Durante alguns anos o mercado financeiro se encarregará de comprar e vender as ações da equipe Williams de F 1, torná-la atraente aos descuidados e o lucro a médio e longo prazo será zero… E quem entrar no fundo por último, dançará o tango Por una Cabeza…

Gostava da Williams, agora já tenho mais uma pra torcer contra : Dorilton, RBR e Ferrari…

Go ! Mercedes Hamilton . 100% de retorno.

Marcos de Crato Ceará
Marcos de Crato Ceará
3 anos atrás

Era senhora pra mim já vai é tarde pois com a chegada dela foi início do fim e era só uma questão de tempo.

Marcos de Crato Ceará
Marcos de Crato Ceará
Reply to  Marcos de Crato Ceará
3 anos atrás

Essa…… Senhora

Fernando
Fernando
3 anos atrás

Uma equipe como a Williams com as raízes que tem, até que durou bastante tempo nesta F1 moderna, onde o que manda é o dinheiro e interesses comerciais. Não é um esporte faz um bom tempo já. Esporte onde uma equipe domina todo mundo por vários anos não é nenhum pouco emocionante de assistir.

Uma pena a F1 ter virado isso, com tantos pilotos talentosos no grid, apenas 1 tem condições de ser campeão, e digo apenas 1 porque o medíocre do Bottas não serve nem pra dar um pouco de esperança.

Igor
Igor
Reply to  Fernando
3 anos atrás

Fiquei curioso qual o ano de corte da F1 moderna. E os domínios anteriores da Red Bull, Ferrari, Williams, McLaren, etc…Eram diferentes?

Diogo
Diogo
Reply to  Igor
3 anos atrás

Ah, mano. Sei que to lendo e respondendo, mas por falta de conhecimento, como eu, faz o seguinte: Pega la na Wikipedia, campeonato de formula 1 de vejamos, 1995. Resultados. Veja quantas venceu o Hill. Veja quantas o Schummi. Qual equipe era o melhor carro? Foi campeã? Foi com folga? Entre outras questões. Domínio? Vai lá, vai lá…

tonhão
tonhão
3 anos atrás

diria que em poucos anos Claire Williams logrou sucesso em dizimar o que o pai construiu em decadas

Reginaldo Pola
Reginaldo Pola
3 anos atrás

É possível Flávio ?????
Antes avessa a F1, agora aos poucos a F1 vai se tornando Americana e não se espantem se lá na frente se fundir com a F Indy como é normal ocorrer no mundo corporativo e exemplos não faltam.
Se será melhor ou pior, só o tempo e os torcedores dirão.

Carlos
Carlos
3 anos atrás

A arrogância do fundador e sua herdeira, afundaram a equipe, não esquecendo do Patrick Head, que quando viu que rachaduras começavam a surgir no casco do barquinho, pulou fora.
Assim como foram pro espaço equipes que outrora foram gigantes, de garagistas como Tyrrel, Brabham, Chapman…que foram ficando pelo caminho; agora chega a vez da agonizante Willians.
Vamos ver que bagaça farão da equipe o pessoal da terra do Mickey. Esperemos que nenhuma patetada né?

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
3 anos atrás

Segue a Vida! E que Vida essa Família teve!

Que os novos donos façam nesses próximos 40 anos pelo menos 1/3 do que os “Williams” fizeram nos últimos 40.

Amaral
Amaral
3 anos atrás

Só não pode o Zacarias querer montar a própria equipe lá na fórmula elétrica e colocar Tia Clarinha de manager. Aí vai empelotar tudo.
Porque é possível. Se Jarno Trulli já teve equipe lá, porque não o Massa? Se bem que a equipe do Trulli foi bem mal por lá. Foi tipo uma “Agáerretê” azulzinha.
E assim a gente assiste o fim da última garagista…
Se a matéria fosse televisada, poderia terminar com a tela ficando em preto e branco, escurecendo, e uma musiquinha triste de fundo.
Porque esse fundo Doritos aí pode até levantar a equipe. Pelo simples intuito de todo mundo que quer ganhar dinheiro. Quanto melhor, mais grana vale. Serão tão “profissionais” que não me surpreenderá nem um pouquinho que daqui a quinze dias eles comuniquem (provavelmente por anúncio pago no Youtube, igual certas empresas de relatórios aqui na Terra de Vera Cruz) que vão mudar o nome do ativo, digo, da equipe, pra WILL, pra abrir uma IPO na Bolsa de Valores de Nova York. Aqui no Brasil pode ser WILL3. Os “deitrêider” de ocasião vão amar.
E que Tia Clara, a despeito das críticas que tenho à gestão dela, seja feliz, bem feliz. E que Tio Frank possa curtir o restante da vida sabendo da sua importância na história do automobilismo mundial, não só na F-1.

José Couto
José Couto
3 anos atrás

Provavelmente nós nunca iremos saber porquê, em vez de soldar, não trocaram a barra de direção inteiriça no Williams FW16 do Senna. Não se sabe se foi ordem do Patrick Head ou do próprio Frank, mas a gambiarra tornou se sequência trágica na curva Tamburello que devia ter uma força G absurda à época.
Houve processo, julgamento, condenação e prescrição do crime. Rememoro porque o valor da barra de direção inteira, sem solda seria insignificante. Eu não creio que o Adrian Newey iria se opor a tal modificação no seu projeto, muito menos em relação a custo.
A verdade é que o único garagista, genuíno, que a F1 teve chama se
Ken Tyrrell.
Resta a família Williams usufruir com a venda da equipe. Ou então abram uma conta poupança no Bamerindus. Tem futuro promissor.

Amaral
Amaral
Reply to  José Couto
3 anos atrás

Uma outra opção é o Banco Nacional. Afinal, patrocina o Senna. O que pode dar errado?

Edu Zeiro
Edu Zeiro
Reply to  José Couto
3 anos atrás

Prezado, assista ao documentário sobre Bruce Mclaren que você irá mudar de ideia sobre Ken Tyrrell ser o único garagista. Mas pense também em Colin Chapman, Jack Brabham e John Surtess, dos que estou me lembrando agora.

Paulo Moreira
3 anos atrás

O fim de uma Era.
No próximo domingo, vamos deixar de ver a Williams como a conhecemos. Que os novos tempos tragam uma equipa revigorada, mas sem perder a sua identidade.

Abraço

visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/

Andre Araujo
Andre Araujo
3 anos atrás

Ambos ao sairem apaguem a luz, obrigado, tchau e boa sorte!

D
D
Reply to  Andre Araujo
3 anos atrás

Que pena, eu gostava da Williams.

Celio Ferreira dos Santos
Celio Ferreira dos Santos
3 anos atrás

Nós compramos , nós mandamos , porem não entendemos nada…F1 , porem de investimentos
sabemos tudo…

Zé Maria
Zé Maria
3 anos atrás

Não nos esqueçamos do saudoso José Carlos Pace, o Moco, que em 72 foi o 1º brasileiro a pilotar um carro de Sir Frank.

Jeferson Araújo Pereira
Jeferson Araújo Pereira
3 anos atrás

O novo proprietário da Williams – Dorilton Capital – é motivo para um trocadilho infame e muito ruim, mas não resisto: Claire tomou Doril e sumiu.

Horacio Volante
Horacio Volante
3 anos atrás

Lamento que em nosso mundo ruim restem tantas marcas sem alma. A Williams entra pra lista, tal como ocorreu com a Lotus. Mas ao contrário da Lotus, a equipe sempre me pareceu um pouco desalmada. Sustento: jamais um piloto foi campeão pela Williams mais de uma vez; o piloto com maior número de GPs disputados pela equipe foi Nigel Mansell. Patrese e Damon Hill, além de Piquet, foram muito marcantes nos carros da equipe também… Flavio, muito obrigado pelos ótimos textos de sempre! Esse da Williams também reflete a saudade não só de um mundo pré-pandêmico, mas pré-virtual, pré-online, pré-chateação com fascistas etc.