FINALMENTE

ID Buzz: a nova Kombi, elétrica e… convencional

SÃO PAULO (imbrochável ou imbroxável?) – Este blog nasceu em 2005 e uma das primeiras campanhas que abraçou, quando blogs tinham alguma leitura, foi em prol dos motores VW a ar, cuja extinção a montadora anunciara pouco antes. As Kombis seriam os últimos veículos equipados com eles, que passariam a ser substituídos pelos 1.4 a água do Fox. Era uma brincadeira a campanha, claro, inspirada em um blog, aí sim, famoso, do jornalista Ricardo Feltrin — o “Ooops“, ainda no ar, mas receio que abandonado por seu criador. Feltrin foi meu colega de “Folha” e é colunista do UOL, escreve sobre TV, mas naquela época travava uma cruzada em defesa dos patos.

Faço a introdução apenas para justificar o peso que darei à informação que segue, ainda que tardia, sobre o lançamento, enfim, da sucessora da Kombi. Depois de vários protótipos apresentados pela VW — todos eles mostrados aqui ao longo dos últimos anos –, finalmente a empresa chegou à versão que já está começando a circular na Europa. Essa da foto aí no alto. Chama-se ID Buzz. E é elétrico, claro. Ou seria elétrica? É o ID Buzz ou a ID Buzz? Menino ou menina?

Fiquemos com o feminino. E vamos adotar “Nova Kombi”, para não entristecer os empenhados engenheiros e projetistas da VW. Porque, desde o início, a tarefa que receberam foi mesmo a de fazer uma nova Kombi, uma releitura da Velha Senhora, do Pão Pullman, da Kombosa velha de guerra que nasceu lá na década de 40, chegou ao Brasil nos anos 50 e saiu de linha no final de 2013. A Kombi é uma instituição, um verdadeiro ícone da indústria automobilística mundial — não preciso ficar aqui repetindo todos os clichês usados por escribas apaixonados quando se metem a falar dela. Um ícone tão… icônico quanto o Fusca, que a VW já tinha recriado ao lançar o New Beetle primeiro e, depois, colocando no mercado o mais robusto, parrudo e potente Beetle — ambos fizeram algum sucesso e foram recebidos com, vá lá, alguma simpatia pelos fuscólogos do planeta.

O problema é que não sei se a gente deve olhar para esse carro aí em cima como uma releitura da Kombi, mesmo. Porque é… um carro! Um carro que lembra vagamente, nas formas, a van da Volkswagen. Van, ou furgão, ou perua, o que vocês quiserem; a Kombi não se encaixa numa categoria específica do mundo automotivo, exceto no segmento de… kombis, claro. Mas é isso. Lembra apenas vagamente. E só.

O rascunho de Ben Pon: versão romântica do nascimento

A historiografia da Kombi aponta como seu criador o comerciante Ben Pon, que representava a marca na Holanda. Foi ele o primeiro a rascunhar numa folha de papel, diante de dirigentes da VW, um veículo que pudesse levar carga montado sobre a plataforma e a mecânica do Fusca, com o motorista sentado sobre o eixo dianteiro. Não tem nenhuma mentira aí, mas o episódio é apenas a parte mais saborosa de sua gestação. Talvez o tal desenho nem tenha sido tão importante assim na decisão da VW de produzir o utilitário, como defendem alguns autores da vasta literatura especializada sobre a história da fábrica de Wolfsburg.

Quem fez a nova Kombi elétrica não sei, e duvido que teremos, no futuro, algum relato tão romântico e delicioso sobre seu nascimento como a fábula do holandês Ben Pon. Pelo que vi nas fotos deste site aqui, trata-se de um carro com dois bancos na frente, três atrás e um porta-malas. Como qualquer SUV. Um Nissan Livina é parecido. A Picasso da Citroën é até mais distinta no design. Sem querer ofender, haverá até quem a compare a uma Zafira.

A nova Kombi não é feita para levar carga. Os bancos traseiros não podem ser removidos. Tem portas dos dois lados. Não sei se dá para ficar de pé atrás. Não há maneira de montar uma máquina de caldo de cana nela. Nem instalar um fogão, uma pia e um chuveiro. Pendurar uma arara com roupas de brechó. Carregar uns vasos com espadas-de-são-jorge, bromélias ou suculentas. Estender um toldo e fritar pastel, nem pensar.

É possível que novas versões sejam lançadas para outros usos no futuro, mas por enquanto o ID Buzz é só um automóvel para cinco pessoas com um belo kit multimídia no meio do painel, montado sobre uma cama de baterias. Simpático, sem dúvida — as duas cores, né? Que seja visto, pois, apenas como o que é: uma homenagem.

Kombi é outra coisa.

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Fabio
Fabio
1 ano atrás

Olhem que linda essa releitura de Kombi que esta empresa alemã esta fazendo:

https://www.mobiauto.com.br/revista/copia-eletrica-da-kombi-tem-capacidade-de-carga-de-hilux-com-porte-de-kwid/1022

Pedro Leonardo
Pedro Leonardo
1 ano atrás

Acho que todo brasileiro tem alguma história ou episódio com uma Kombi. Eu, claro, tenho as minhas.

Em agosto de 1993, minha família se mudou de São Paulo para Atibaia. Eu tinha 10 anos e lembro que meu pai arrumou uma Kombi emprestada com alguém para carregar as coisas (não lembro se era uma mista ou furgão). Acho que foram três viagens num sábado. Eu fui junto com a mudança na última viagem, já à noite, enfiado entre móveis diversos, com mais um primo. Sobrevivemos.

Já com 15 anos, fui trabalhar em um supermercado em Atibaia. Esse estabelecimento fazia entrega nas casas dos clientes e a frota era composta por duas Toyota Bandeirante e duas Kombi (eram os carrinhos que aguentavam o tranco nas áreas rurais e nos bairros sem asfalto à época). Eu ia como ajudante de entrega e rodei bastante de Kombi pela cidade, abrindo e fechando aquelas portas, carregando, descarregando e arrumando as caixas com as compras.

Já com vinte e poucos anos, fui trabalhar nos Correios, em Bauru. Eu peguei uma fase de transição, quando a maior parte da frota de Kombi já estava em processo de alienação para a venda em leilão. Lembro que as Kombis dos Correios de ano 1995, registradas em São Paulo, tinham as iniciais de placa “ECT”. Como a renovação da frota de furgões dos Correios era prevista a cada seis anos, e depois com a dificuldade de se montar uma licitação em que houvesse concorrência no segmento de 1000kg de carga, aos poucos, a frota de Kombi foi substituída e alienada em leilão (as últimas adquiridas pelos Correios eram de 2004). Depois, a empresa teve em sua frota Kombis locadas, que resistiram até a VW encerrar a produção.

Tantas histórias… Creio que esta ID Buzz não seja feita para carregar mudanças, caixas de compras ou carga postal. Ficam as lembranças.

Alvaro Armbrust
Alvaro Armbrust
1 ano atrás

Pra mim é uma Van de buscar passageiros no aeroporto. Nada a ver com a saudosa Kombi.

SulIvan
SulIvan
1 ano atrás

Quando lançarem no Brasil vou amanhecer na porta da concessionaria pra encomendar a minha.

Marcos Bassi
Marcos Bassi
1 ano atrás

Não vou mais precisar discutir com ninguém sobre o que é Kombi ou não…vou só mostrar seu texto. Apaixonado que sou, desde que dirigi uma ambulância (poderia ser também funerária, carro de polícia, van de estudantes), eu, menor de idade e sem carteira. Espero que esse crime tenha prescrito. Qualquer outro carro homenagem não vai ser Kombi..vai ser só isso: homenagem.