CANADA WET (1)
SÃO PAULO (com terremoto e tudo) – Foi uma sexta-feira estranha, que abriu o GP do Canadá hoje em Montreal. Um primeiro treino quase inexistente, uma segunda sessão inflada na duração, expectativa permanente de chuva e a água dando as caras só no final. Hamilton e Russell, a dupla da Mercedes, neste dia esquisito, acabaram ficando com os melhores tempos.
O primeiro treino no circuito Gilles Villeneuve praticamente não aconteceu. Com cerca de 20 minutos de atividade, Gasly parou seu carro no meio da pista (defeito eletrônico no volante) e a bandeira vermelha foi acionada. Ao mesmo tempo, deu pane no sistema de câmeras de segurança do autódromo e nenhum cristão conseguiu encontrar o defeito. A direção de prova decidiu suspender a sessão, ampliando o segundo treino livre em meia hora e antecipando seu início. O público nas arquibancadas, enorme como sempre em Montreal, ficou com cara de tacho olhando para o asfalto vazio. Alguns pilotos chegaram a fechar voltas e Bottas ficou com o melhor tempo, uma marca irrelevante.
Na segunda sessão, já com o circuito interno de imagens funcionando, a pressa foi a marca dos primeiros minutos, porque os radares meteorológicos, os homens e mulheres do tempo na TV e os pajés das tribos canadenses garantiam que iria chover a qualquer momento. Aliás, é a previsão para sábado e domingo, também. De toda maneira, todo mundo queria fazer pelo menos algumas voltas no seco.
O tempo foi passando, porém, e nada de chuva. Com meia hora de sessão, o motor de Hülkenberg fumou na reta dos boxes e o treino teve de ser paralisado para remoção da viatura. Dez minutos depois, foi reiniciado. Mais cinco minutos, nova bandeira vermelha, agora por conta de Ocon — que estacionou seu carro a pedido da equipe após solicitação feita pelo rádio; ele não parou na hora exata, causando certo desconforto no pitwall. O problema foi na pressão de água do sistema de refrigeração.
Recolhido o Alpine #31, as atividades foram retomadas. Ninguém mais falava de chuva. Ainda assim, por conta da incerteza sobre o clima, algumas equipes resolveram fazer suas simulações de corrida no início do treino — caso da Mercedes. Outras, no final – opção da Red Bull e da Ferrari, por exemplo. Assim, Hamilton e Russell, na última meia hora, com a pista já mais emborrachada, limpa e veloz, começaram a fazer tempos bons e foram para a ponta da tabela de classificação. Já Verstappen e Pérez, com pneus médios e carros mais pesados, com mais combustível, foram ficando para trás. O mesmo aconteceu com os ferraristas Sainz e Leclerc.
Nos últimos minutos, o pessoal começou a torcer pela chuva. Afinal, com possibilidade de pista molhada amanhã e depois, até que viriam a calhar algumas voltinhas debaixo d’água. Só para sentir o drama.
(Vocês devem estar se perguntando da Aston Martin, ainda não citada neste longo exórdio. É que tanto Alonso quanto Stroll dedicaram boa parte do dia a testar, experimentar, avaliar, perscrutar, escrutinar as novidades que a equipe levou para Montreal. “Atualizações”, como se diz na F-1. Até um galão de “flow-vis”, a tinta dos fluxos, foi despejado no carro de Stroll. Foi uma sexta-feira de estudos, mais do que de busca de tempos.)
Faltando dez minutos para o final, Verstappen deu uma volta com pneus intermediários. Porque chover, mesmo, não chovia. Umas gotas aqui, outras acolá. Hamilton fez o mesmo. Depois, a Ferrari. E outros pilotos colocaram os mesmos pneus, identificados com caracteres verdes nas paredes de borracha. Começou a ventar bastante, e a escurecer.
Faltando cinco minutos, finalmente a água veio com gosto. Mas o tempo era exíguo para testar alguma coisa. Pouca gente completou voltas no molhado. Nem o público ficou para ver o que iria acontecer. As arquibancadas foram esvaziando, com todo mundo fugindo da chuva. Alonso, Stroll, Bottas e Sainz arriscaram uma saída dos boxes sob o dilúvio. Quando viram que a coisa estava feia, voltaram e encerraram os trabalhos.
📻: "Good weather for….a duck"
— Formula 1 (@F1) June 17, 2023
Oh @ValtteriBottas, don't change 😆 #CanadianGP F1?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#F1 @alfaromeostake pic.twitter.com/o6aFuU4X0U
“O tempo está ótimo… Para um pato!”, foi o que disse Bottas, que teve de jogar o carro na grama para não bater em Sainz e acabou caindo numa espécie de rio correndo ao largo da pista.
Assim, Hamilton fechou o dia com o melhor tempo, 1min13s718, seguido de perto por Russell, a 0s027 de distância. Sainz, Alonso, Leclerc, Verstappen, Bottas, Pérez, Stroll e Gasly completaram a turma dos dez primeiros.
A classificação amanhã acontece às 17h de Brasília, exatamente no horário em que a chuva veio hoje. O que não quer dizer muita coisa. Montreal tem uma certa tradição de corridas com pista molhada, tempestades repentinas, instabilidade como padrão. Pode acontecer qualquer coisa.
Apontar a Mercedes como favorita por causa da dobradinha de hoje é exagerar no otimismo. Claro que não é. Achar que a Red Bull está meio perdida também é precipitado. Claro que não está. A pergunta mais importante depois da sexta-feira é: a Aston Martin volta à frente, depois da corrida apagada de Barcelona? Ainda não dá para dizer. O sábado trará as respostas. Isso, claro, no seco. No molhado, salve-se quem puder.
Agora, umas caixinhas para vocês se divertirem.
GROUNDHOG DAY – As simpáticas marmotas foram as estrelas do primeiro treino, já que as atividades foram suspensas por conta da pane nas câmaras de segurança. Felizmente nenhuma foi atropelada quando os carros foram à pista. Dica de cinema: “Feitiço de Tempo” (“Groundhog Day”, filme de 1993 com Bill Murray e grande elenco de marmotas).
PIRELLI X BRIDGESTONE – A Bridgestone confirmou que apresentou sua candidatura a fornecedora de pneus para a F-1 a partir de 2025. A marca japonesa, que esteve na categoria de 1997 a 2010, quer voltar. Naquele período, enfrentou a concorrência da Goodyear (até 1998) e da Michelin (de 2000 a 2006). Em 2011, a Pirelli passou a ser fornecedora única. Seu contrato termina no final de 2024 e os italianos querem continuar. A Bridgestone sempre teve excelente reputação na categoria. Dos pilotos atuais, apenas Alonso e Hamilton correram com esses pneus. Eles, como a maioria, reclama dos Pirelli atuais, que tendem a superaquecer em diversos momentos ao longo de uma corrida, especialmente nas ultrapassagens — quando o piloto é obrigado a ficar muito tempo perto do carro da frente.
NÃO SABEMOS – Leclerc confirmou que a Ferrari não sabe o que aconteceu em seu carro em Barcelona, na classificação. Ele largou em 19º e afirmou: “Tem alguma coisa errada na traseira”. A traseira foi trocada, desmontada, analisada, e nada foi encontrado.
TREME-TREME – Unanimidade hoje em Montreal: é a pista mais ondulada do calendário. Os carros batem no fundo e os pilotos sofrem horrores. O vídeo de dentro do carro de Norris, abaixo, é exasperante.
Bumpy, verrryyy bumpy. 🎢 @LandoNorris#CanadianGP 🇨🇦 pic.twitter.com/4vkYi8brYj
— McLaren (@McLarenF1) June 17, 2023
Leio seu blog desde de 2007 e hoje aprendi a palavra exórdio. Obrigado!
Muito bom, FG. Se minha assinatura valesse algo, eu assinava embaixo. E as previsões são todas de chuva.
Se fosse Interlagos com essas ondulações já estavam ameaçando tirarem o GP daqui.
Vamos ver se teremos surpresas na classificação hoje (não creio nisso)
Valeu Flavinho! Dia desses tava trocando de canal e me deparei com Bandsports e F1. Bateu aquela saudade da categoria nos anos 80 tal. Pensei, “vou começar a assistir novamente “! Com suas matérias é um incentivo a mais! Grande abraço! #VoltaLusa 👊✊️
Preciso de nova senha, não consegui fazer o novo cadastro.
Mandou muito bem no título do post!
“Claro que não é.”
Não é exagerar no otimismo?
Para o primeiro dia de treino, aconteceu um pacote de perrengues, na parte de administração de mídia e imagens, esqueceram de apertar o botão ( ON),pista ondulada demais , já seria necessário fazer para próxima temporada um novo piso asfáltico e corrigir as imperfeições e novos ajustes de zebras e de sistema de drenagem. Parece que teremos chuva e aí se a previsão se concretizar existe eventuais possibilidades de bandeiras amarelas com safety car . Dentro dessas eventuais variantes vou sim apostar na ZEBRA e cravar no podium ; Lewis Hamilton, El Fodón , Sérgio Perez é esse meu bilhete de Pule. Vamos ver as novas atualizações da Aston Martin vão funcionar , caso contrário tanto a Mercedes-Benz como FERRARI viram o jogo na temporada. Pelo Box dizem que L. Hamilton vai assinar uma renovação de contrato de 92 milhões , vai precisar de um navio para colocar os malotes e atracar em Mônaco. A fumaça e cinza no vaticano teremos mais seis trocas de pilotos na F-1 , a certeza e Daniel Ricciardo, no time B da Redbull . teremos trocas na Haas, Alfa-Romeu (Audi), Mclaren e Willians.
achei bem esquisito o autor usar essa expressão antiquada “nenhum cristão” como sinonimo de “nenhuma pessoa digna de ser chamada de pessoa [como se somente esse grupamento de sujeitos que comungam da ideologia cristã fosse “racional”, “capaz” e “habilitado” para “solucionar problemas complexos”. A história humana demonstra justamente o oposto]”. Como nao-cristao e admirador do Flavio e deste blog desde muito tempo, confesso minha decepcao com este post, registro o bode, mas nao vou debater, ficar de mal nem cancelar… amanhã estarei por aqui para ler o proximo texto (tomara que livre do cristianismo e seus tentaculos linguístico-culturais insidiosos… ou nao).
O sinônimo fica por sua conta.
Ô “não-cristão” ofendido…em que ano estamos mesmo? E as corridas sao em que dia sempre ha mais de 7 decadas? Só pra lembrar da relevancia do cristianismo na cultura mundial…
O mundo está ficando chato, não??
Que mi-mi-mi desnecessário
Ninguém quer saber o que você autointitula se, isso é problema pessoal seu, e se quer aparecer pendura uma melancia no pescoço e não encha o saco de Flávio e de nós leitores aqui, Flavio escreve muito bem, sem excessos e sem omissões, resumindo vá pastar em outro lugar.
Adorei o título !!! Trocadilho foi bem sacado.
Um grande abraço aqui de Toronto.
O gigante acordou.
Pirelli ainda é italiana?
Sede na Itália, mas é controlada por holding chinesa.
A dica de cinema é ótima. Um dos grandes filmes do século passado e citado e imitado infinitas vezes. Nem aparece tanta marmota assim no filme. Só bastante Bill Murray. Sempre acho a corrida do Canadá diferente. De vez em quando tem uns resultados surpreendentes. Se não chover. Se chover, aí aposto em Stroll, Tsunoda e Albon no pódio.
O Dia da Marmota seria a tradução mais coerente mas no Brasil o título do filme teve que ser adaptado para o público brasileiro. Para fazer mais sentido na hora da distribuidora vender o peixe, digo, o filme.
Já o nome da cidade… só consultando o Google: Punxsutawney.
E quanto tempo passou? 10 mil anos! Ao menos essa era a ideia original. Difícil prever “quantos anos”, né. No mínimo 50 anos. O personagem de Bill Murray aprende a tocar piano, falar francês, fazer esculturas no gelo, primeiros socorros, mecânica de carros, etc.
Todo dia tem uum filme novo estreando com gente acordando todo dia…no mesmo dia. Bill Murray é o cara. Encontros e Desencontros é outro maravilhoso que também tem um título legal lá fora e aqui…sei lá…Lost in Translation. Li em algum lugar que realmente ao menos 30 anos ele passou por lá…
No Brasil já tivemos pérolas como “Wanted- o procurado” e “Missing – o desaparecido” (os dois desse jeito mesmo)…
Minha pule e chuva com Zebras no podium .
hahaha…bom palpite, Marcos! Bonita homenagem sua ao mestre da carne!
Então…na verdade ele que deve ter me homenageado. Esse é meu nome,mesmo. O dele não. O sobrenome dele é Guardabassi, que ele suprimiu um pedaço pra ficar mais sonoro, mais bonito, mais simpático, sempre parecido com os proprietarios deste italianissimo nome. (o nariz levemente avantajado também faz parte de todos que assinam com este aglomerado magnifico de letras). Abraço.