VERSTAPPENSTONE (3)
SÃO PAULO (a lógica, a lógica…) – Dez etapas, dez vitórias da Red Bull, mais uma de Max Verstappen, a oitava no ano, 43ª na carreira. E uma novidade na praça: o campeonato ganhou uma equipe para brigar na frente, a McLaren. Por “brigar na frente” entenda-se, que fique claro desde já, lutar com Ferrari, Mercedes, Aston Martin — beliscar uns pódios, ascender na tabela de pontos, sair do purgatório, cobiçar o paraíso. Verstappen está em outro patamar, para usar expressão cunhada pelo filósofo grego Brunus Enricus – no original, állo epípedo (ou άλλο επίπεδο num helênico mais bem falado).
O carro cromo-alaranjado revisado e atualizado de Lando Norris terminou o GP da Inglaterra em segundo, com Oscar Piastri em quarto — o jovem australiano deu azar com o safety-car. Ambos com atuações mais do que convincentes. Prodigiosas, eu diria. Lewis Hamilton foi o terceiro. Dois ingleses no pódio foi o bastante para o público em Silverstone voltar para casa feliz da vida.
O começo de corrida da McLaren foi espantoso. Além de Norris pular na frente de Verstappen, Piastri foi para cima do holandês, que olhava no retrovisor e não entendia direito o que estava acontecendo. A torcida, nas arquibancadas, gritava “gol!” a cada passagem do inglês do carro #4 — segundo os organizadores, foram 480 mil ingressos vendidos para os três dias do evento; e hoje, pelo menos, ninguém tomou chuva, já que o dia estava nublado, com temperatura altíssima para os padrões britânicos, 22°C.
Se os torcedores vibraram com Norris, decepcionaram-se no início com Hamilton, que caiu de sétimo para nono na primeira volta. Pérez também perdeu uma posição, de 15º para 16º lá atrás. Mas esqueçamos tais coadjuvantes e concentremo-nos nos protagonistas. Com quatro voltas, Verstappen se aprumou, recuperou-se do susto inicial e passou a arquitetar a ultrapassagem sobre Norris para retomar uma relativa normalidade.
Foi o que fez na volta 5. Não houve grande resistência de Landinho, que sabia não ter como segurar o #1. Max passou e se mandou. A McLaren, pelo rádio, tranquilizou seu primeiro piloto e disse que o companheiro dele, em terceiro, não iria incomodá-lo. “Vamos juntos nessa!”, falou o engenheiro, todo animadão.
Quem sofria para fazer alguma coisa era Russell, quinto colocado, um dos quatro que largaram de pneus macios, contra os médios da maioria – os outros foram Ocon, Tsunoda e De Vries; Bottas partiu com os duros. Mesmo com um composto mais rápido e podendo abrir a asa móvel, não conseguia chargear Leclerc.
(“Chargear” era termo muito usado pelos locutores de rádio quando um jogador fazia uma marcação dura sobre outro, não necessariamente cometendo falta. Tipo jogo de corpo, ombro com ombro. “Palhinha foi chargeado por Polozzi, caiu na área e o árbitro não marcou pênalti!”, declamava Fiori Gigliotti. A situação, claro, é fictícia. Qualquer jogador do Corinthians chargeado por um zagueiro da Ponte dentro da área é pênalti, sempre. Ou por qualquer zagueiro de qualquer time em qualquer tempo e em qualquer lugar.)
Como ninguém chargeava ninguém, ali pela décima volta pilotos e engenheiros passaram a falar sobre o tempo. Russell reclamava de gotas na viseira. “Onde?”, perguntou seu parceiro radiofônico. “Ah, sempre que passo pelos boxes, ali onde ficam nossos queridos colegas da Ferrari, tradicionalíssima equipe italiana com seus flamejantes carros vermelhos”, respondeu o piloto. “Eles estão cuspindo em você”, explicou o funcionário da Mercedes. “Vento, vento!”, gritou Verstappen. “O que tem o vento?”, perguntou seu engenheiro. “Palavras apenas, palavras pequenas…”, cantarolou o holandês. “Cássia Eller. Sua vez, agora.” O rapaz entendeu a brincadeira e emendou: “Vento, ventania, me leve pra qualquer lugar…” “Quem canta isso?”, perguntou Max, insistindo: “Tem de dizer quem canta, senão não vale!”. “Biquíni Cavadão”, revelou o engenheiro. “Chuva, agora!”, emendou. “Onde?”, assustou-se o piloto, mas logo percebeu do que se tratava. E tascou um Jorge Benjor, já no trecho mais bonito: “Pois eu vou fazer uma prece, pra Deus nosso Senhor…” E assim foram até o fim da corrida. “Pedra!”, pedia um. “Panela!”, desafiava o outro. E no começo estava fácil, até o engenheiro mandar um “Analista!”, derrubando Verstappen com a canção de Belchior de que ele não se lembrava.
E a prova seguia tranquila. Na volta 19, Leclerc foi para os boxes e colocou pneus duros. Voltou bem lá atrás, em 12º. Verstappen liderava com mais de 4s para Norris. Na 25, essa diferença era de 6s. Aos bocejos da plateia, Verstappen respondia com uma volta mais rápida aqui, outra ali. Leclerc, de pneus novos, levou sete voltas para passar Stroll e ganhar uma posiçãozinha mequetrefe. Em sétimo, Alonso segurava Gasly a menos de 1s de distância assoviando e chupando cana.
Na 27ª volta, Sainz, que era o quinto colocado, trocou seus pneus. Como o companheiro, despencou na classificação, para 12º. Também optou pelos compostos mais duros, com a intenção de não parar mais. Na 29ª foi a vez de Russel visitar os boxes, colocando pneus médios. Pérez parou, igualmente, mas colocou macios. Na sequência veio Piastri. Era o que tradicionalmente chamamos de janela de pit stops. No que Verstappen gritou: “Janela!”. E o engenheiro: “Pela janela, vejo fumaça, vejo pessoas…”, evidenciando seu bom gosto musical.
Era notória a baixa taxa de desgaste de pneus, já que a gama escolhida pela Pirelli foi a mais dura de todas. O macio de Silverstone era o duro de Mônaco, para que vocês entendam. Mas na volta 33 as estratégias pneumáticas foram ligeiramente embaralhadas. Magnussen, como havia acontecido na véspera, parou com o carro fumaçando. O safety-car virtual foi acionado. E quem estava passando pela entrada dos boxes parou, como Albon e Leclerc. Norris foi chamado logo depois. Verstappen, também. Mais alguns instantes e o safety-car de verdade foi lançado aos leões. Max espetou pneus macios. Hamilton parou e fez a mesma coisa. Mas Norris tinha colocado duros. Poderia ser uma presa fácil para Hamilton, agora em terceiro. Na teoria, pelo menos. Verstappen, Norris, Hamilton, Piastri, Russell, Alonso, Sainz, Pérez, Albon e Leclerc eram os dez primeiros.
A remoção do carro de Magnussen demorou um pouco e uma plataforma teve de ser requisitada à Cafu Guinchos, conhecida empresa de resgate de automóveis da região. Só no final da 38ª volta a relargada foi autorizada. Hamilton, previsível, partiu para o ataque a Lando, que se defendeu com galhardia. Mesmo com pneus duros, segurou a onda, assim como Piastri se mantinha à frente de Russell – no caso, duros versus médios. “Essas McLarens são incrivelmente velozes com tais pneumáticos de consistência mais rígida, ou menos fofa, como queiram!”, admirou-se George. “Incrível como se mantêm à nossa frente de modo garboso e nostálgico, até. Lembram-me dos tempos de Ayrt…”, mas o engenheiro o interrompeu até com certa aspereza: “George, seria muito pedir a você para calar a boca?”.
Mesmo quando foi autorizado o uso de asa móvel, Hamilton não conseguiu superar Norris. Lá atrás, o vexame do dia ficou por conta de Sainz, que na mesma volta, a 44, foi ultrapassado por três carros de uma só vez: Pérez, Albon e Leclerc. Caiu de sétimo para décimo, com pneus duros velhos e esgarçados. A Ferrari, no safety-car, não o chamou para um pit stop, inexplicavelmente.
Hamilton desistiu do segundo lugar ao perceber que não teria como passar o compatriota. A última volta ainda reservou um pitaco de emoção do sétimo ao nono, com Alonso, Albon e Leclerc muito próximos, ensaiando ultrapassagens. Mas ficaram nas ameaças.
Verstappen, Norris e Hamilton foram ao pódio. Para o piloto da McLaren, um resultado muito comemorado, com Zak Brown, chefe do time, distribuindo insuportáveis tapas e “give me fives” pelos boxes, e abraçando desconhecidos com notável inconveniência. Lewis também ficou satisfeito. Não esperava tanto depois de um início de fim de semana ruim. Piastri foi o quarto a menos de 1s de Hamilton, seguido por Russell, Pérez, Alonso, Albon, Leclerc e Sainz na zona de pontos. A Ferrari foi o fiasco do dia. Seus pilotos largaram em quarto e quinto e chegaram em nono e décimo. E destaque-se Albon, claro, em oitavo com a Williams.
O resultado elevou a pontuação de Verstappen a 255, 99 à frente de seu companheiro Pérez, que tem 156. Alonso vem em terceiro com 137, Hamilton tem 121 e Sainz, com 83, é o quinto. No Mundial de Construtores, a Red Bull foi a 411 e a Mercedes avançou bem na luta pelo vice: 203, contra 181 da Aston Martin e 157 da Ferrari. O time prateado alemão fez 25 pontos hoje, contra seis da equipe verde britânica e meros três dos vermelhos itálicos. Quem subiu bem foi a McLaren, isolando-se em quinto com 59, contra 47 da Alpine. Também, pudera… Nos últimos dois GPs, foram 42 pontos para os mclarianos contra ridículos três dos franceses.
Pausa de uma semana agora, para a próxima etapa no dia 23 na Hungria. Às 19h tem “Fórmula Gomes” no YouTube para uma análise completa e desbocada desse GP meia-boca.
RECORDE – Não devemos negligenciar um recorde igualado hoje pela Red Bull: 11 vitórias seguidas. Desde o GP de Abu Dhabi do ano passado, todas. Só a McLaren fez isso na F-1, e tudo na mesma temporada: dos GPs do Brasil ao da Bélgica de 1988, com a dupla Senna & Prost.
ate que gostei da corrida…
mas especialmente gostei do “qual é a música” que você roteirizou pra esse texto, gomes!
rapaiz, essa série “conversa ao pé do rádio” tá divertida!
(as lives o podcasts são legais e tal, mas nada substitui um bom texto…)
Ainda bem que fiz pouco da pintura da McLaren. Porque fui surpreendido e foi muito bom ver Piastri e Norris mandando bem. O Zak Brown, apesar de seu jeito peculiar de administrar a empresa, merece ter sucesso no automobilismo porque é um cara que curte aquilo. Que continuem assim.
Eu, no jogo F1 Clash, consigo fazer estratégias mais pertinentes que a Ferrari. Não dá para entender o que ela faz.
Noris e Piastri dão as caras como o futuro da Formila 1. E o Max segue passando o trator
Max é simplesmente soberano na temporada de 2023, tem um nível de pilotagem extraordinário, com essa vitória no GP da Grã Britânia mudou minha expectativa sobre a carreira dele, tem de tudo para igualar Sebastian Vettel com quatro títulos pela equipe Red Bull. Na série B da F-1, aconteceu um milagre maior que o santo. A equipe Mclaren com o kit de atualizações teve um resultado fantástico suplantando a equipe Mercedes-Benz, e a equipe FERRARI com o problema crônico e insanável de desgaste excessivo de pneus e também de falha técnica de estratégia de corrida. Dentro da normalidade sim concordei com a votação do piloto do dia para Lando N., tenho comigo que a Mclaren além da sorte tirou o coelho da cartola e fez a mágica para dar tudo certo. Prefiro aguardar o próximo GP, para ter essa certeza do avanço do novo pacote tecnológico da Mclaren . O DESTAQUE ; a consistência de Albon pela equipe Willians. O PIOR DA CORRIDA ;Lance Stroll, fazendo besteiras dando totó de Kart no carro da equipe ALPINE.
O texto foi meio bossa nova e rock and roll. Será que Verstappen conhece essa( e será que ele conhece “será”, ou conhece “que será”?)? Só sei que os textos tem andado por música, para mim mais do que o próprio Verstappen. Muito legal!
Obrigado!!
Esse Albon é muito bom, merece uma outra chance em equipes de ponta. O Piastri mostrou que que a MacLaren estava certa, o mlk é bom!! Norris? Não tem o que falar, pilota muito!
Na primeira corrida Max chegou 38 segundos a frente do primeiro carro
de outra equipe . hoje 3,7 segundos a frente de Norris . Acho que até
o fim do ano alguma equipe vai chegar a frente da Red bull. A Maclaren
provou hoje que é possivel…
Teve SC.
Não vai. Esquece.
Sem o SC ele teria mais de 15 segundos de vantagem.
se a pontuação fosse a mesma que vigorou até 2002 – estou ignorando as sprints e considerando apenas as corridas -, verstappen teria, de 100 pontos possíveis, NOVENTA E DOIS tentos. pérez, apenas 42. depois viriam alonso (33), hamiton (27), russell (14), leclerc (14) e sainz (13). os 134 pontos da red bull seriam muito superiores à soma dos pontos de todas as outras equipes. inacreditável.
dominação assim eu só vi com o schumacher.
Em que se pese a perda de ritmo da Aston Martin, acho que Alonso perdeu um pouco da motivação depois de ser desautorizado a ultrapassar o filhinho do papai dono da equipe.
Nenhum a equipe séria, que aspire se tornar grande, faria o que a AM fez. Coisa de equipe amadora.
O carma é uma puta. E nunca falha.
Cássia Eller, Biquíni Cavadão, Jorge Benjor e Belchior: um texto musical… uma ótima trilha sonora para uma corrida!
E ainda teve a briga no final entre o Gasly (que vinha fazendo boa corrida mas se deu mal com a entrada do Safety Car) e o Stroll (que vem muito mal). O canadense deu uma passada por fora mas desta vez a direção de prova não deu muita bola. Aí o francês foi passar na marra mas levou um chega pra lá e mais uma vez foi literalmente tirado pra fora dos pontos.
Gasly ultrapassa sempre com riscos, e quando atacado não deixa espaço pro adversário. Depois chora, mas o rapaz nem vê que capitaneia o ranking de punições da F1.
O francês reclamou com razão de Stroll, mas foi o sujo falando do mal lavado.
Esse “tirado de fora dos pontos” parece mais opinião de torcedor ate porque a disputa não valia pontos correto?
Alias a disputa que valia pontos foi contra Sainz, e o francês perdeu mas não deixou de chorar após a prova quando o espanhol dava uma entrevista no cercadinho. Atitude deselegante de um péssimo perdedor.
Olha, não tem nada a ver com “opinião de torcedor” já que, com o Sainz se arrastando e perdendo posições, acho bem plausível que valesse um 10º lugar pro francês no final. Pro canadense seria um pouco mais difícil mesmo, mas ainda teria chances contra o espanhol.
Se nega a opinião de torcedor quem sou eu pra duvidar.
Agora existe uma diferença razoável entre “literalmente tirado dos pontos” para uma tentativa de entrar neles.
Se observasse que Gasly foi tirado dos pontos pela intervenção do SC, seria correto. Já pela briga com Stroll e Sainz não, e ainda reforço o comentário inicial que o francês costuma tomar “amarelos” por suas atitudes em pista.
Seria fantástico ter Norris em um carro campeão.
Esperanças para 2024 pois 2023 já era.
Ótima exibição da McLaren hoje. PIA também merecia o pódio. SC caiu do céu para HAM.
Já a Ferrari…
Lando Norris guiou o fino … menino de ouro
A nova geração está brilhando e isto é muito bom.
Achei que o Magnussen podia ter entrado com o carro na grama, pra ajudar… Comentário para demonstrar que este NÃO é “o blog que ninguém lê”… Flávio, acho que vamos ter que fundar a “TOLEFLAGO” (Torcida Organizada dos que Leem o Flavio Gomes) pra te convencer. Abraço!
Sainz também cantou:
Este aí passou, este aí passou, este aí passou…
E Hamilton poderia cantar:
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará….
Como faço pra ler o texto do Fábio agora? Vou ter que começar a inverter as leituras. Vc é um galhofeiro! 🥰
Todo mundo tenta mas só VERstappeen arrebenta
Divina comédia humana essa Ferrari!!
( Só discordo ali da suposição de um possível apito amigo para o Corinthians… mas, pra compensar, teve a explicação sobre o que é “chargear” e menção ao Fiori Gigliotti!! )
Como media de uma dupla, acho que McLaren se aproxima da Mercedes
Da Ferrari não é de se admirar as terríveis estratégias, do francês Stratégies, do grego Στρατηγικές, sem pés e nem cabeças.
Hoje arruinaram as corridas de seus dois pilotos.
Agora da McLaren?
Todas as crianças da sala sabiam que no 2º pitstop era para colocar macios.
Ainda mais sabendo que tavam demorando a tirar o carro quebrado da pista.
Arriscaram perder o 2º lugar do Norris e tiraram a chance do Piastri de recuperar a 3ª posição.
Não tinham mais pneus macios?
Pobre Piastri.
Rumo ao octa…
Albon tem 27 anos. Norris 23 e Piastri 22. Nenhum menino.
Publico para expor sua ignorância.
Albon, 27 anos, 5 temporadas (1 como piloto de testes), 68 corridas; Norris, 23 anos, 6 temporadas (1 como piloto de testes), 92 corridas;
Onde tem menino aqui? Na falta de argumentos, o coice.
Você é bobo assim todo dia ou só aos domingos?
A alma deles com certeza vive ainda. A sua, já foi pro vinagre.
O Verstapen está guiando ‘de ouvido’.
Interessante o conhecimento musical do Max!
Acho que essas possíveis vagas a surgir na Red Bull, Mercedes e Ferrari vão exigir muita reflexão por parte dos candidatos, na Red Bull o sujeito não passará de um coitado a ser expulso em algum momento, a Ferrari é uma bagunça, ainda acho que a melhor vaga é a da possível aposentadoria do Hamilton.
Essa aposentadoria do Hamilton vai demorar. Ele quer muito o oitavo título.
Muito bom!!!
(Talvez o primeiro a comentar)
“George, seria muito pedir a você para parar de imitar o Alex???” 😆😆😆