SOBRE DOMINGO À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA

Sargeant carregado: condições desumanas

SÃO PAULO (sempre vem) – Teve piloto vomitando, mais de um contando que chegou a perder a consciência a 300 km/h, outros desidratados, abandono por falta de condições físicas — como o de Sargeant, acima, nossa imagem mais forte da corrida –, reclamações por todos os lados.

Por que o GP do Catar foi tão complicado fisicamente, desumano, até? Já tivemos, sim, corridas com temperaturas mais altas. Na região de Doha, domingo à noite, os termômetros marcavam 32°C. Mas a umidade de quase 80% foi o que mais pegou. O resultado mais imediato é a desidratação.

Muita gente lembrou das corridas no Rio nos anos 80. Ou na Malásia — onde também era duro de aguentar o calor e a umidade. Mas não importa o que se fez no passado. Era errado, também. Embora houvesse atenuantes, como a construção dos carros, o vento na cara e nos ombros, passeando pelo cockpit e refrescando o corpo. Os carros atuais são como esquifes. E, para piorar, a história das três paradas obrigatórias levou todo mundo a andar em ritmo de classificação o tempo inteiro, sem preocupação com administração dos pneus. Sem descanso, sem relaxar. E a pista tem muitas curvas de alta. E a força G à qual os pilotos são submetidos é brutal.

Foi desumano, em resumo. E ninguém deve relativizar isso. Um garoto de vinte e poucos anos quase desmaiar num carro de corrida é um sinal de alerta. Alguém poderia ter morrido.

O NÚMERO DO CATAR

501

…pódios tem a McLaren agora, com os dois troféus conquistados por Piastri, segundo, e Norris, terceiro. É a segunda equipe a ultrapassar a casa de meio milhar de troféus. A Ferrari, com 803, é o time com a maior estante para guardar taças. Depois da McLaren vêm Williams (313), Mercedes (287) e Red Bull (258).

Um detalhe interessante. Aos 22 anos, completados em 6 de abril, Piastri já havia se tornado, com o terceiro lugar no Japão, o primeiro piloto nascido no século 21 a subir ao pódio na F-1. O primeiro lugar na Sprint, sábado, não conta para as estatísticas. Então vamos esperar por sua primeira vitória num GP, que não deve demorar, para colocá-lo na história como primeiro vencedor nascido neste século. E, então, a F-1 terá ganhadores de corridas nascidos em três séculos diferentes: Piastri (21), todos os outros (20) e o italiano Luigi Fagioli (19), nascido em 9 de junho de 1898 e vencedor do GP da França de 1951 aos 53 anos — o mais velho vencedor de todos os tempos.

E dá-lhe McLaren, equipe que vai concentrar boa parte deste rescaldão do GP do Catar. Acima (clique na imagem e veja em tamanho maior), à esquerda, está a lista dos pit stops mais rápidos da história da F-1. Norris perdeu só 1s80 em sua segunda parada, domingo passado. Quebrou o recorde de 1s82 que a Red Bull mantinha desde o GP do Brasil de 2019.

A Red Bull é muito pica das galáxias para trocar pneus. Até hoje, 29 pit stops foram realizados em menos de 2s na F-1, o que é espantoso. Desses, 22 foram registrados pela equipe austríaca.

Na boa, trocar quatro pneus em menos de dois segundos — DOIS SEGUNDOS! — é foda demais.

AS FRASES DE LUSAIL

OCON – “Comecei a ficar mal depois de 15 voltas. Vomitei duas vezes no cockpit.”

STROLL – “Depois da 20ª volta, eu apagava por alguns segundos no carro. Minha visão ficou embaçada, a pressão caiu. Foi ridículo.”

LECLERC – “Foi a corrida mais difícil de nossas carreiras. De todos, sem exceção. E não acredito naqueles que disserem que não foi.”

NORRIS – “A F-1 encontrou o limite que os pilotos podem suportar, hoje. É muito perigoso. [É uma corrida que] não deveria ter acontecido.”

RUSSELL – “Achei que ia desmaiar várias vezes. Passou do limite.”

ALONSO – “Foi uma das corridas mais duras da minha vida. E olha que tenho 42 anos e estou na F-1 há mais de duas décadas.”

VERSTAPPEN – “Foram condições muito extremas.”

PIASTRI – “Precisamos discutir muitas coisas depois deste fim de semana.”

Verstappen esgotado: inaceitável

A FIA se manifestou um dia depois da corrida, com as promessas vagas de sempre de analisar o que aconteceu no Catar e montar uma comissão com pilotos, equipes, médicos, pastores, babalorixás, rabinos, bispos, astrólogos, ciganos, fisioterapeutas, esquimós e beduínos para deliberar sobre o assunto.

De concreto, mesmo, algo que já se sabia: o GP do Catar do ano que vem será mais para o fim do ano, em 1º de dezembro, quando as condições meteorológicas são menos estapafúrdias para a prática de esportes. Principalmente esportes que usam carros que atingem velocidades enormes e precisam ser pilotados por seres humanos acordados.

OK, PARÇA – George Russell aceitou o pedido de desculpas de Lewis Hamilton, que bateu nele nos primeiros metros da corrida, quando tentava uma ultrapassagem. “A gente se respeita muito e está muito claro que não foi intencional”, falou Jorginho, sempre polido.

PAGA AÍ – Hamilton, além de pedir desculpas, teve de pagar uma multa de 25 mil euros por atravessar a pista a pé sem orientação dos fiscais, num momento em que havia carros na pista. Admitiu que fez bobagem. E pediu desculpas de novo. Foi o primeiro abandono de Lewis na temporada. Ele tinha pontos em todas as corridas. Agora, o único que pontuou nas 17 etapas foi Verstappen.

CHEGANDO – Vejam os números da McLaren nas últimas nove corridas, desde a estreia do carro novo na Áustria: 202 pontos (média de 22,4 por GP), 47 deles só no Catar (terceira maior pontuação do ano, só perdendo para a Red Bull, que fez 56 na Áustria e 51 na Bélgica), sete pódios, uma vitória em Sprint. Ainda está em quinto, mas agora apenas 11 pontos atrás da Aston Martin. Que, nessas nove provas, teve média de 8,4 pontos por etapa.

AS OUTRAS – Apenas para comparar, ainda com as equipes que estão na frente e podem ser alcançadas pela McLaren (esqueçamos a Red Bull): nas últimas nove etapas, a Ferrari fez 176 pontos (19,5 por corrida) e a Mercedes, 159 (média de 17,6).

Alonso: mais que todos da Aston Martin

EL FODÓN – Fernando Alonso chegou a 183 pontos neste fim de semana. É mais do que todos os pilotos da Aston Martin marcaram, juntos, até hoje na F-1. Estes somam 179. A Aston Martin disputou os Mundiais de 1959 e 1960 e não pontuou. Voltou em 2021, depois que o empresário Lawrence Stroll comprou a Force India, mudou seu nome para Racing Point e, finalmente, Aston Martin.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de ver a Alfa Romeo com seus dois carros nos pontos, Bottas em oitavo e Zhou em nono. Com os seis pontos marcados no fim de semana, o time passou a Haas e assumiu o oitavo lugar no Mundial de Construtores, com 16 pontos. Os rivais americanos têm 12.

NÃO GOSTAMOS do décimo lugar de Sergio Pérez, claro. O mexicano, nas últimas três corridas, marcou cinco pontos. Seu companheiro Verstappen, 69. Não dá.

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Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
6 meses atrás

Tudo por causa das zebras:

1) Acabavam com os pneus
2) Ritmo alucinante com pneus (“novos”) com no maximo 18 voltas
3) Calor
4) Humidade

Mistura perfeita para esgotamento fisico. Dado que os carros andam muito e as forcas “G” sao bem fortes nas curvas.

Tudo por culpa das zebras. Ate a Pirelli saiu chamuscada por culpa das zebras. Vi a foto dos pneus da Mclarem no treino do sabado, brincadeira de crianca essas zebras.

Se as zebras fossem “normais” o ritmo de prova seria muito mais suave pois os pilotos iriam gerenciar melhor o consumo dos pneus, o que acarretaria um ritmo mais toleravel fisicamente.

A primeira vez que senti 42graus no “cangote” foi no Rio de Janeiro na F-1. Era punk. Era uma temperatura terrivel com a humidade da Barra da Tijuca e os carros nao tinham cambio borboleta e muito menos direcao assistida… e olha que vi corrida no Rio de Janeiro com carro asa (os caras faziam curvas alucinantes, lembro do meu Pai falar ” nao vai fazer” quando foi dada a primeira volta lancada no treino do Sabado… era bem punk… e os caras chegavam ao final da prova.

Jovailton
Jovailton
6 meses atrás

O Occon tava de ressaca por isso vomitou e o LecLec não sabe nada de F1 então deletem o que eles disseram

Alexandre Neves
Alexandre Neves
6 meses atrás

No final das contas o Hamilton cabou se poupando do castigo a que foram submetidos os pilotos…

Jovailton
Jovailton
Reply to  Alexandre Neves
6 meses atrás

Cagou se poupando mesmo

Berilo
Berilo
6 meses atrás

Frescura usem o carro dá Penélope Charmosa oras essa

Airton Silva
Airton Silva
6 meses atrás

Talvez o abandono do Hamilton tenha sido, como dizem, um livramento.

lagerbeer
lagerbeer
6 meses atrás

Achava que a época de tio Bernie e Mosley eram desumanos … mas estou começando a achar que com Liberty e Sulayem tá pior … assim não vai acabar bem… muita irresponsabilidade …

Fernando
Fernando
6 meses atrás

Fizeram uma Sprint no sabado e não tomaram nenhuma medida pra corrida de domingo ou as condições meteorologicas mudaram muito?

Celio Ferreira
Celio Ferreira
6 meses atrás

Acho que Peres depois das 3 ultimas corridas ,já esta fora para 2024.
( Mas que sabe no Mexico acontece a redençao….

Jeferson Araújo Pereira
Jeferson Araújo Pereira
6 meses atrás

E continua o grande mistério. Ou: a pergunta que só o alto escalão da Red Bull sabe responder (mas não respondem). O que está escrito, que cláusula pétrea é essa – no contrato do Sergio Pérez – que impede a Red Bull de já anunciar a sua demissão?

Se o amigo internauta quiser ver uma foto do Wilsinho Fittipaldi sendo entrevistado pela repórter da TV TUPI (!!! ) Ana Maria Braga, acesse jefprogguitarcinef1

Jovailton
Jovailton
Reply to  Jeferson Araújo Pereira
6 meses atrás

Não obrigado

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
Reply to  Jeferson Araújo Pereira
6 meses atrás

Tem um segundo lugar em disputa no Campeonato. A RedBull quer essa conquista. A pressao eh enorme, e certamente a RedBull nao tolera-ra mais um ano com um Super Carro dominante e o Perez em 3o. lugar. Deixa ele perder esse vice campeontao para o Hamilton que voce vera o aviso. Acho que mesmo com o Vice Campeonato ele esta fora da Equipe, eh muito carro para pouco desempenho.

Danilo
Danilo
6 meses atrás

O atual presidente da FIA é aparecido, acho q nem o Balestre gostava tanto de um holofote como ele, pensar no bem do esporte esquece, o negócio é posar para as câmeras.

jader
jader
6 meses atrás

Pilotos também foram irresponsáveis a não pararem assim que constataram que estavam prestes a desmaiar e a perder a consciência. Perigo total.

Chupez Alonso
Chupez Alonso
6 meses atrás

E por falar em Piastri…

O golpe está aí, cai quem quer!

O futuro da F1 está garantido.

IMG_4756.jpeg
Chupez Alonso
Chupez Alonso
6 meses atrás

É uma situação no mínimo estranha, alguém perder a consciência algumas vezes na corrida a 300Km por hora, recobrar e continuar correndo como se nada tivesse acontecido.

Last edited 6 meses atrás by Chupez Alonso
Chupez Alonso
Chupez Alonso
6 meses atrás

Soube que Versttapen foi o único piloto a não exceder em nenhuma volta os limites de pista.

Pole, vitória e volta mais rápida sem sair nenhuma vez.

Está enxergando bem, a noite.

Méritos também para o Hamilton que saiu da pista apenas uma vez.

Rumo ao 8cta!

IMG_4714.jpeg
Adolfo
Adolfo
6 meses atrás

E não devemos esquecer esses pilotos são atletas, todos têm um preparo físico absurdo e muitos passaram mal. Aliás, tivemos muita sorte de não ter alguém se espatifando 320 km/h no final da reta (o vídeo do Stroll é terrível). Muita irresponsabilidade da FIA e organizadores.

Mas brincando um pouco, deveriam fazer aquelas paradas técnicas igual nos jogos de futebol. Toma uma água, molha a cabeça e depois segue a corrida !

Edson
Edson
Reply to  Adolfo
6 meses atrás

Essa brincadeira tem um fundo de verdade…. talvez fosse necessário fazer isso mesmo, dividir a prova em duas etapas com meia hora de intervalo.
É o ideal? Não, mas seria uma alternativa, afinal simplesmente cancelar a prova não era uma opção.

Bento
Bento
Reply to  Adolfo
6 meses atrás

Vou mais além na “viajada na maionese”… seria muito legal se a prova (quando em condições extremas de calor) fosse dividida em duas etapas, metade, um piloto da equipe corre (o que fez o melhor tempo na classificação, por exemplo) aí para e o outro piloto sai para completar a prova.. tipo passagem de bastão… no mínimo ia ser engraçado de ver as trocas de posições….