Estou – take 2: Hoje

POUSO ALTO (manjar, broa de milho) – Sete da matina, toca o telefone. Sete horas, seu Flavio. Acordo como sempre tonto, tomo um banho, café da manhã rapidinho, DKW na estrada. Preciso estar às 8h em Caxambu. Dia lindo, ensolarado, serra, friozinho. A Deka cumpre sua missão.

Deixo o carro em frente ao Hotel Palace, em Caxambu. Mais tarde a turma do Blue Cloud vai a Caxambu com os DKWs, os carros ficarão expostos no Parque das Águas. Pelo horário previsto, quando terminar o rali todos estarão voltando, e voltarei com meu carro.

A largada é em Baependi, a 5 km de Caxambu, na pracinha da igreja, aquelas coisas. Gente por todos os lados. Sento no jipão, Ricardo, o navegador, com a planilha nas mãos. Um catatau de 31 páginas com descrições de trechos de 100 em 100 metros, cheio de referências, quase incompreensível, cheio de sinais e números, distâncias e tempos.

Chegamos a Baependi antes das 9h, seremos o 129º carro a largar, horário previsto 11h35. Temos tempo de sobra. O pessoal da produção de TV instala uma câmera no nosso jipe, gravo uma passagem para a ESPN Brasil. Não trouxe o cone do microfone, improviso um de papelão, que ficou gozado. Thiago e Mario, repórter da Record e cinegrafista, dão a maior força.

Briefing na praça. Deco Muniz, o cara que faz o trajeto, corre de rali, Mr. Rali Brasil, dá as últimas dicas. A espera é longa, mas sossegada. Os Graduados vão saindo, os Turismo também, estamos na última leva. Dá tempo de tirar uma foto.

11h35, pontualmente, largamos. O locutor anuncia nossos nomes, me chama de “o hilário jornalista Flavio Gomes”. Deslocamento de 8 minutos no asfalto, pouco menos de 2 km, e chegamos à terra. Tração 4 x 4 ligada, hodômetro zerado, os dois cronômetros de pulso do Ricardo acionados, e vambora.

Não vou descrever, claro, metro por metro. A trilha é linda, e as velocidades médias vão de 15 km/h a 43 km/h. O navegador, em rali, é tudo. E o meu, vou te dizer um negócio… O piloto tem de confiar cegamente no que ele diz. Acelera, segura, mata-burro, direita, esquerda, degrau, erosão, acelera, segura, dez segundos para fazer cem metros, no 5.3 tem uma ponte estreita, cuidado, olha o cara de bicicleta, olha a vaca, olha o boi, abismo, barranco, pedra alta no meio da pista, porteira, pára, abre, fecha, segue. Uma paisagem de deixar qualquer um louco, cachoeiras, riachos, córregos, casebres, gentes, animais, mas eu só olhava para a frente, para o hodômetro e para o velocímetro.

Três horas na poeira, uma parada de 15 minutos, apenas, como um chocolate, um sueco que mora no Rio se diverte porque errou o caminho, precisa recuperar, é a chance de sentar a bota.

Respeito as médias, tento, pelo menos, o velocímetro é pouco preciso. O hodômetro é legal. Ricardo fala comigo o tempo todo, não olha para o lado. Não sei como não enjoa. Eu teria vomitado na primeira curva.

Digo apenas OK, certo, pergunto quanto tempo?, quantos metros?, direita ou esquerda?, em nenhum momento meu navegador hesita, não disse “espera aí” nenhuma vez, o navegador é tudo no rali.

Passamos por 18 PCs (postos de controle), a maior parte escondida. Para cada décimo de segundo adiantado, dois pontos perdidos. Para cada décimo de segundo atrasado, um ponto perdido.

Estamos bem, diz o Ricardo o tempo todo, zeramos aqui, olha o PC ali, pára, espera, vai. Dei passagem a dois jipes que tinham se perdido e, pelo número no vidro, largaram bem antes. Por isso, estavam tentando recuperar. Eles buzinam, agradecem, apesar da demora para dar passagem. No rali, você faz a sua prova. Quando tem um espacinho, deixa o colega passar.

Último PC, voltamos ao asfalto. Ricardo relaxa pela primeira vez, nos cumprimentamos, pergunto e aí? Acho que um quinto dá pra pegar, ele responde. Já seria um resultado fantástico, acho.

Chegamos a Caxambu. Foto na porta do Hotel Glória. Os DKWs estão todos ali.

O negócio cansa. Não fisicamente, mas mentalmente. Muita concentração, atenção, foco. Fizemos a prova toda com o ar-condicionado ligado. Seria complicado, sem. Total: 3h01min27s. O resultado só sai de noite.

Encontro a turma dos DKWs, pego o meu, mais 32 km até Pouso Alto. Estou sem almoçar. Só um chocolate.

Mas gostei demais. Gostei de ver casais jovens, velhos, pais e filhos, todos concentrados, calculando, conversando, cúmplices.

Terapia de casal? Compre um jipe e faça rali de regularidade com ela. Deve ser o máximo.

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Antonio
Antonio
17 anos atrás

Rallye de regularidade é muito bom, mas não serve como terapia de casal, experiência própria.
Corri várias vezes tendo minha mulher como navegadora e só dava briga, e olha que nós ganhamos as três etapas que corremos. Imagina se perdessemos, já estávamos divorciados.

Caio, o de Santos
Caio, o de Santos
17 anos atrás

Terapia de casal…
E essa foto aí?
Se o Cerega ver, vai ser uma ciumeira só!!!

Engate é para imbeci
Engate é para imbeci
17 anos atrás

Legal essa fotinho romântica no final. Terapia de casal?

Daniel Bianchi
Daniel Bianchi
17 anos atrás

Terapia de casal

Bem que gostaríamos hehehehe.