DINHEIRO FARTO

RIO (timing) – A F-1 ganhou um parceiro de peso hoje. A Saudi Aramco foi anunciada como sexta patrocinadora global da categoria, juntando-se a DHL, Emirates, Heineken, Pirelli e Rolex. A empresa pertence ao governo da Arábia Saudita. De cada oito barris de petróleo produzidos no mundo, um sai das reservas do país com a estampa da Saudi Aramco.

Curioso que o anúncio tenha sido feito no auge da crise mundial provocada pelos sauditas que resultou numa queda brutal no preço do petróleo no mercado internacional — a briga é com a Rússia e está respingando em todo o planeta.

Ditadura monárquica teocrática (existe isso?), a Arábia Saudita entregou seu petróleo para os americanos em 1933, quando concedeu à Standard Oil Company of California (Socal) o direito de procurar o ouro negro em seu território. Formou-se na ocasião uma outra empresa, a California Arabian Standard Oil Company — Casoc –, que dois anos depois de assinado o contrato de concessão começou a esburacar o deserto. Mas foi só em 1938 que o primeiro campo começou a produzir.

O resto, como se diz, é história. Vem dessa época a estreita relação entre americanos e sauditas. No caso da terra dos xeques, os EUA nunca se importaram com a ausência total de democracia e as violações constantes dos direitos humanos, nem com os homens-bomba, as barbas, turbantes e rezas para Alá — motivos alegados para as intervenções em outros países do Golfo e as sanções e bloqueios a Cuba, por exemplo. Bin Laden era saudita. Brother da América, inclusive.

No fim da década de 40, a subsidiária da Casoc foi rebatizada como Arabia American Oil Company, Aramco, e em 1973 o governo saudita comprou 25% de participação na empresa. Em 1974, essa participação subiu para 60%. Em 1980, 100%. Em 1988, o nome mudou para Saudi Arabian Oil Company, a atual Saudi Aramco, que dá as cartas no mercado petrolífero e brinca de marionetes com o mundo.

Como todas as companhias de petróleo do planeta, a Saudi Aramco hoje se autointitula “empresa de energia”, já que ninguém mais quer se associar ao aquecimento global, à emissão de poluentes e tudo mais, embora elas continuem explorando combustíveis fósseis que empesteiam a atmosfera. Que ninguém se iluda, o mundo continuará sendo movido a petróleo por muito tempo, ainda. Mas soa meio hipócrita a F-1 com seu discursinho verde fechar um contratão desses com os donos do petróleo e com um governo despótico e indefensável.

Três GPs nesta temporada levarão a chancela da Saudi Aramco: EUA, Espanha e Hungria. E segue o bonde.

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Pedro
Pedro
4 anos atrás

Tambem é um pouco hipócrita uma crítica a essa postura da Formula 1 feita por um entusiasta e colecionador de alguns dos modelos de carros que mais empestearam o mundo.

Milton Sabbag Júnior
Milton Sabbag Júnior
4 anos atrás

Se você Flávio pensar que o rei da Arábia Saudita é intitulado primeiro Guardião de Meca E rei da Arábia Saudita, dá para ter uma ideia da situação deste país e do povo…

Ricardo Talarico
Ricardo Talarico
4 anos atrás

Gomes,
Quanto à Fórmula 1, até que ela vem melhorando as emissões, a partir das Unidades de Potência, regeneração das baterias elétricas, etc.
Nunca vi um estudo, mas provavelmente os carros de F-1 estão gastando e poluindo muito menos atualmente, se comparado à época que os roncos dos motores eram maravilhosos.
Abraços,

Aliandro Miranda
4 anos atrás

“Soa meio hipócrita a F-1 com seu discursinho verde fechar um contratão desses com os donos do petróleo”.

Zero surpresa. A F-1 não tem como ser “verde” simplesmente por ser a F-1. Não faz sentido queimar borracha e gastar qualquer tipo de energia em corridas de carro, e ao mesmo tempo adotar discursos defensores do meio-ambiente.

Vale lembrar que a onda elétrica que vivemos, com a diminuição do uso de motores a combustão, vai trazer outros desafios e consequências para o meio-ambiente. A produção e o descarte de baterias é uma questão, só para começar.

murilo
murilo
4 anos atrás

Em breve (ansioso, mesmos sabendo que vai ser chato esse ano):

Carro de 1,5 tonelada, tecnologia de 1920, combustível mais caro que vinho e leite, desvalorizando parado na minha garagem enquanto eu assisto na TV a F1 com seus carros de 1,5 tonelada movidos a tecnologia da década de 1990.

Franco
Franco
4 anos atrás

Acredito que a monarquia saudita não seja teocrática. Lá rola um negócio de briga de famílias, disputa de clãs… diferente do que aprendemos nas monarquias tradicionais, quando uma família “recebe” o direito divino e segue assim pelo sangue.

Alex
Alex
4 anos atrás

Por um instante bateu nostalgia. Lembrou o tempo em que a Williams era patrocinada pela saudia, empresa aérea. Aliás, nessa época a equipe também era patrocinada pela ALBILAD, um grupo pertencente à família dele, Osama Bin Laden…
E sobre o mais novo desastre mundial, mais nostalgias:
-Sauditas (EUA) X Rússia
-Nós do 3o mundo pagaremos a pior parte da conta
-Em especial, nós brasileiros, cujo sonho maior é sermos caricaturas ridículas dos amigões da América do Norte e elegemos um incapaz que adora, implora para ser sodomizado pelo Tio Sam

Marcos Ferreira
Marcos Ferreira
4 anos atrás

Essa é a vida do capitalismo, onde o que importa é o resultado financeiro final. Tem que dar positivo. Não importa se existe uma ditadura (países do oriente médio), racismo (GP da Africa do Sul) e outros motivos. O importante é que alguém pague a conta no fim do evento.

Carlos
Carlos
4 anos atrás

Eu penso que a “crise mundial” esta a ser “provocada” pelos países que dependem do petróleo saudita ou russo, e não pelo país quem detém esta commodity, e no caso o Brasil é um deles. Cada país deve administrar suas riquezas como bem entender. Em tempo, é sempre bom decidir se gosta ou não de países despóticos, eu não gosto, de nenhum.

Pedro Wolthers
Pedro Wolthers
4 anos atrás

Esse sobre o autor toda hora enche um pouco

Nick B.
Nick B.
Reply to  Pedro Wolthers
4 anos atrás

Fla,
Espero que não se importe que eu expresse em palavras como a vida é maravilhosa com você nesse mundo.

Faltou mencionar no “sobre o autor” que é BFF do Nickinho e detém o recorde mundial de consumo daquela mistura bege que se intitulava cerveja. Como se chamava mesmo? Mata 90? Malt nojenta?

Bitoquinhas.

Nick B
(Ah, se for virar “rádio”, pode colocar outra do Sir. Elton John porque Your Song já rolou aqui recentemente. Qual? A que você preferir, meu bom. Reginald só tem musicão).

Ricardo Talarico
Ricardo Talarico
Reply to  Nick B.
4 anos atrás

Sugiro “Better Off Dead”