SUPERQUINTA (2)

Newey: decisão tomada de sair no fim do ano

SÃO PAULO (buemba!) – Esta é, sem dúvida, a notícia do dia na F-1. E, faz-se necessário dizer, apurada por JORNALISTAS DE VERDADE, e não instagramers, influencers, tiktokers, xers e youtubers que vivem de sugar aquilo que a imprensa profissional produz. Faço a ressalva por desagravo, mesmo. Essa malta de redes sociais drenou o financiamento do jornalismo. As verbas publicitárias, hoje, estão alocadas nos perfis dos que fazem dancinhas, gracinhas e “memes”. Os leitores também preferem tais baboseiras à informação real. Jornalistas são demonizados e preteridos em eventos. Mas, na hora em que precisa informação real, trabalho, apuração, fontes, é ao repórter que todos recorrem. Viva a reportagem!

Dito isso, vamos à notícia.

Adrian Newey já decidiu deixar a Red Bull no final deste ano. Quem publicou a bomba foi a versão eletrônica da revista alemã “Auto Motor und Sport”. Outros veículos, como a BBC e a “Autosport”, ambos da inglaterra, confirmaram com suas fontes. O mago das pranchetas, que projetou 12 carros campeões mundiais e está na Red Bull desde o início da vida da equipe, em 2005, se cansou do ambiente tóxico de Milton Keynes.

O caldo começou a entornar em fevereiro, quando surgiram as primeiras denúncias de assédio sexual contra o chefe Christian Horner. Aqui é preciso contextualizar. A morte de Dietrich Mateschitz, em outubro de 2022, abriu uma guerra interna na empresa. O austríaco, fundador da Red Bull, sempre cuidou diretamente das coisas da F-1. O lado tailandês da companhia nunca se meteu muito com corridas. Mais contexto: 51% das ações da Red Bull pertencem à família do criador da bebida energética, Chaleo Yoovidhya, a quem Mateschitz conheceu numa viagem à Tailândia nos anos 80. Ele experimentou a bebida Krating Daeng, invenção de Yoovidhya, gostou, propôs sociedade e assim tudo começou.

Mateschitz, dono de 49% da Red Bull, sempre teve no ex-piloto Helmut Marko seu homem de confiança nas operações de esportes a motor. Já Horner, muito competente na função de chefe da equipe, nunca gostou da influência de Marko no time. Mas aturava, já que o padrinho do desafeto era ninguém menos que o dono da firma. Após a morte do empresário, Horner se aproximou do lado tailandês da Red Bull com a clara intenção de assumir o controle da equipe — comprando parte dela. Assim, iria afastando Marko aos poucos.

Então estourou o escândalo do assédio sexual, pouco antes da abertura do campeonato deste ano. A Red Bull — a empresa, não a equipe — abriu uma investigação interna e depois de algumas semanas informou que as denúncias da funcionária que acusava Horner não eram consistentes. E ainda afastou a moça de suas funções. Sua identidade nunca foi revelada.

Nessa hora, foi aos tailandeses que Horner acorreu por apoio — e eles se aliaram ao chefe do time. Já a facção austríaca, agora comandada pelo filho de Mateschitz, Oliver, juntou fileiras com Marko e com a família Verstappen para torpedear o dirigente inglês. Jos, pai de Max, falou que Christian tinha de sair da equipe, senão ela “explodiria”. O piloto, por sua vez, ameaçou deixar a Red Bull se Marko saísse. Dirigentes de equipes rivais viraram seus canhões para Horner exigindo “transparência” nas decisões da Red Bull. Os ânimos se acirraram.

No meio desse tiroteio, o plácido e genial Newey se sentiu incomodado. Ele se cansou da bagunça, das brigas, intrigas e desavenças. E também não vê com bons olhos o poder cada vez maior que Horner concede a dois nome de sua equipe de engenharia, o francês Pierre Wache e o italiano Enrico Balbo. Christian, neste momento, tenta convencer os sócios majoritários tailandeses que com esses dois projetistas consegue se virar tranquilamente. E que a saída de Newey não seria sentida pela Red Bull.

Adrian, 65 anos, de acordo com as publicações europeias, já tomou a decisão de ir embora. Ele tem compromisso com a Red Bull até o fim de 2025, mas isso não é propriamente um problema. Paga uma multa rescisória, cumpre quarentena — se estiver prevista em contrato — e acabou. Claro que não ficará cinco minutos desempregado. Neste exato instante, Mercedes, Ferrari e Aston Martin estão mandando mensagens para o engenheiro britânico.

A estratégia de Toto Wolff é agressiva: arrancando Newey da Red Bull, acredita que leva junto Verstappen. E topa até pegar Marko — para ser um novo Niki Lauda no time. O holandês não quererá ficar na sua atual equipe sem o gênio de Newey e, principalmente, sem o veterano guru e amigo. Seria a ruína da Red Bull, para gáudio de Wolff — que odeia Horner. Já a Aston Martin acena com dinheiro, mesmo, que virá da Aramco, a petroleira estatal saudita. É só fazer o preço que os árabes pagam. E ainda colocam Newey para trabalhar no hipercarro da marca para Le Mans, algo que ele sempre curtiu.

E a Ferrari?

A Ferrari tem camisa. Tem história. Tem tradição. Tem mística.

E terá Hamilton.

As cartas estão na mesa.

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Danilo
Danilo
8 dias atrás

A confirmar a saída dele… creio q o destino seja a Ferrari em razão da mística e o blá-blá-blá… em torno dessa mística e o Max irá para a Mercedes.

Adriano de Avance Moreno
Adriano de Avance Moreno
8 dias atrás

Viva os jornalistas de VERDADE! Já cansei de ver “influencer” ser tratado como estrela e suprasumo dos canais “informativos” (como alguns andam chamando as redes sociais hoje em dia, que exagero!), e outros que praticamente falam o que dão na telha, e muita gente vai ao delírio, esquecendo o senso crítico e a racionalidade e lógica do que está sendo dito. Já tive imbecis que acham meus textos “longo e chatos”, preferindo notas “ágeis e objetivas (leia-se curtas). De fato, é bom ver que ainda tem gente de verdade resistindo nesta área que anda tão depreciada e vilipendiada (tanto por gente de esquerda quanto de direita)… Agora, será que a Red Bull resiste à saída de Newey? Lembrem-se da Williams nos anos 1990… Após a saída do “mago”, o time despencou, para nunca mais se recuperar, salvo em alguns momentos esporádicos… O que o futuro reservará ao time dos energéticos? E que saudade dos primeiros anos da Red Bull na F-1… Era o time mais descontraído e atencioso do paddock… Ainda tenho várias edições do Red Bulletin, o jornalzinho que eles produziam nos fins de semana de GP, que era uma leitura deliciosa (e ainda é)… O sucesso, por mais bem-vindo que tenha sido, fez muito mal ao time, lamentavelmente…

Edissom
Edissom
8 dias atrás

Tem uma certa pessoa muito ativa nos comentários das corridas que estranhamente não se manifestou. Por que será?

Paulo F.
Paulo F.
8 dias atrás

E nada da Andretti….

Alfredo Aguiar
Alfredo Aguiar
8 dias atrás

Minha humilde opinião.
Newey é bom? Óbvio que é, o cara tem 12 carros campeões mundiais projetados por ele. No entanto está desde 1984 na F1, o que significaria que perdeu 28 títulos para outros projetistas. O que não é inteiramente verdade, por que? Porquê carro é mais que carroceria, motor é grande parte da equação e piloto outro peso forte, que o diga Perez no carro de Newey e o domínio da Mercedes por tantos anos com Newey na RedBull.
Marko vai implodir a RedBull antes de sair e vai levar quem puder com ele. Será que Pierre Waché fica? Se Verstappen for pra Mercedes sem Newey e sem Waché, sendo que em 2026 a Audi vem com motores próprios, Aston Martin terá Honda e uma fábrica HighTech novinha em folha com grana da Aramko, supondo que Ferrari tenha Newey, já tem Hamilton. Vai ser briga de foice.

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Thiaguinho
Thiaguinho
Reply to  Alfredo Aguiar
7 dias atrás

Tua opinião é humilde literalmente

Bruno Petri
Bruno Petri
8 dias atrás

Ótimo texto (como de costume), complementado por um ótimo vídeo no Youtube!
Apenas um adendo, em relação ao vídeo: também considero que a Aston Martin está em desvantagem em relação à Mercedes e à Ferrari na briga pelo “passe” do Newey, mas o dinheiro “inesgotável” (?) da Aramco não é o único trunfo do “papai do Lance” nessa disputa: a partir de 2026, a Aston Martin vai ser a equipe de fábrica da Honda, e os últimos mostraram que o casamento Newey/Honda costuma render ótimos frutos.
E, se com um carro apenas bom “El Fodón de las Astúrias” já apronta das suas hoje, alguém duvidaria de que, se Newey e a Honda entregassem para ele o melhor carro do grid no quadriênio 26/29, ele seria capaz de beliscar, no mínimo, mais dois títulos mundiais, mesmo beirando os 50 anos de idade?
(Sei que é um cenário pouco provável, e Newey deve acabar mesmo em Maranello, mas gostaria MUITO de ver isso acontecer)

Formiga
Formiga
8 dias atrás

A Radio Padock está mais animada que a temporada…

Tiago Emerenciano
Tiago Emerenciano
8 dias atrás

Um comentário arriscado pela gravidade das denúncias contra Horner: a mim parece que tudo isso foi de fato uma estratégia para minar o poder de Christian na Red Bull. Difícil dizer com segurança, pois a empresa tratou tudo de forma muitíssimo controlada. Arrisco ainda dizer que até o vazamento daqueles prints de veracidade não confirmada nem negada foi proposital.

O que lamento sem nenhuma dúvida é que essas disputas de poder precisem passar por estratégias tão baixas. De qualquer forma, se Adrian fosse para a Ferrari em 2025 ou 2026, seria um casamento dos sonhos pra quem ainda torce por mais títulos de Lewis como eu. Imaginem que lindo: uma última dança de Hamilton e Newey, coreografada magistralmente por Vasseur. Cena de filme.

Seria inclusive muito bom para Leclerc. 24 masterclasses presenciais de três dias com Lewis Hamilton sobre “mindset vencedor”. E ainda recebendo uns milhões de euros pra isso!

Alfredo Aguiar
Alfredo Aguiar
Reply to  Tiago Emerenciano
8 dias atrás

Quando Helmut Marko viu que Horner iria assumir as rédeas da equipe, implodiu a poha toda e vai sair levando a gangue dos Verstappens com ele.

Gustavo Serpa
Gustavo Serpa
8 dias atrás

Parabéns pelo jornalismo de qualidade 2!

Barreto
Barreto
9 dias atrás

Enquanto a Aston Martin tiver está aura de equipe amadora feita para um filho de papai desinteressado . Não vejo possibilidades de Newey acertar por lá. Dinheiro por dinheiro a Mercedes parece ter uma estrutura mais profissional, agora por desafio a Ferrari traria grana e paixão.

Roberto Borges
Roberto Borges
Reply to  Barreto
8 dias atrás

É, concordo sobre essa pecha de amadorismo que paira sobre a Aston Martin.
O pacote Mercedes, Verstappen e Marko parece interessante. Mas o desafio da Ferrari… para quem já trabalhou nas equipes que Newey trabalhou, é bem tentador!

ze otavio
ze otavio
9 dias atrás

Acho bem legal a ideia do Newey trocar de equipe, na minha opiniao o ambiente da RedBull eh realmente toxico. Para onde for, acho que sera bom para a F1 e para os campeonatos futuros. Prefiro dominio dos italiamos, alemaes ou ingleses… Viva o jornalismo de verdade, como disse o Valmir Passos.

Carlos Eduardo Pereira
Carlos Eduardo Pereira
9 dias atrás

Desculpe, mas há um equívoco no texto: “Os leitores também preferem tais baboseiras à informação real.”. Se há idiotas que gostam de bobagens, não podemos chamar de leitores. Eu não perco tempo com isso. Gosto de informação séria, honesta, responsável, de profissionais comprometidos com a qualidade.

Allan Guimaraes
Allan Guimaraes
9 dias atrás

E que jogo! Não entendo de baralhos, mas noutra face podemos colocar Zeus, Cessair e Odin jogando pelo destino do universo!

Valmir Passos
Valmir Passos
9 dias atrás

O campeonato está melhor fora das pistas rsrs
Se Newey realmente sair, a Red Bull vai ter sérios problemas! Veremos! E viva o jornalismo de verdade!

Celio Ferreira
Celio Ferreira
9 dias atrás

Com essas e outras o campeonato 2024, foi relegado as favas.
Venha logo 2025…

Simão
Simão
9 dias atrás

FG, se Newey for mesmo pra Ferrari acho que será um novo periodo de dominio dos italianos. Por outro lado será a pá de cal na Red Bull.
acho que os austriacos vão sair da F1. Vão tirar o touro da pista… só acho.
Abração

Luke
Luke
9 dias atrás

Será que essa montagem se tornará real?

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Lagerbeer
Lagerbeer
9 dias atrás

Aposto na Aston Martin Honda

Cláudio Cruz
Cláudio Cruz
9 dias atrás

Comentando a sua bronca com os tiktokers e afins da vida.
Vou te dizer, sou absolutamente contra a essa tal de monetização das redes sociais. Tudo por um click, tudo por um view, tudo por seguidores. Terrível isso, imbecilizando cada vez mais os imbecis que existem por aí.
Lamento muito que jornalistas como você, o Fábio Seixas, o Lívio Orichio, entre outros percam espaço.
Muito embora em alguns aspectos da vida não concorde com você, há de se valorizar o seu trabalho jornalístico.
Espero que não abandone de vez o blog.
Abraços.

Aluisio
Aluisio
9 dias atrás

Fora das pistas a F1 está bem mais interessante que dentro. Que em 2025 essa lógica seja inversa ou, ao menos, equivalente.

José
José
9 dias atrás

Já podemos cravar que essa é a melhor temporada dos bastidores da F-1 na história?

Victor
Victor
9 dias atrás

Podia ir pra Aston Martin e mudar as coisas por lá. Inclusive tirar o lance