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SÃO PAULO – O rascunho da História, é como definimos o jornalismo — usei muito essa expressão no meu livro “Ímola 1994”. No dia em que a morte de Elis Regina completa 40 anos, encontrei esta gravação do “Balancê”, programa da antiga Rádio Excelsior (hoje CBN) que naquele 19 de janeiro de 1982 estava sendo apresentado pelo meu grande amigo Reinaldo Costa.

O “Balancê” foi inovador desde o início. Osmar Santos, líder da equipe de esportes da antiga Jovem Pan, foi contratado pelo Sistema Globo de Rádio em 1977 levando com ele vários integrantes de seu time. Entre eles, um repórter de campo gordinho chamado Fausto Silva.

Faustão se revelou um grande apresentador no “Balancê”, com todo seu repertório de humor, conhecimento musical e penetração no meio cultural e esportivo. O programa misturava tudo: futebol e música, teatro e literatura, cinema e Fórmula 1, era um espetáculo de informação, opinião, entrevistas, números musicais levados ao vivo dos estúdios da Excelsior no labiríntico prédio da rua das Palmeiras, no centro da cidade.

Foi o “Balancê” que levou Fausto à TV com o “Perdidos na Noite” — primeiro na TV Gazeta, depois na Record e, finalmente, na Bandeirantes. Seu sucesso nas noites de sábado levou a Globo a contratá-lo para ser o dono dos domingos, e lá ele ficou por mais de 30 anos até voltar, no início desta semana, à emissora do Morumbi.

Osmar estava no ar dando informações futebolísticas direto da Europa quando Reinaldo o interrompeu assim que chegou à Redação a notícia da morte da Pimentinha, pouco depois do meio-dia. Rapidamente o programa mudou todo seu roteiro e permaneceu pela hora seguinte inteira falando de Elis, com repórteres no Hospital das Clínicas e participações de convidados — entre eles, Jair Rodrigues.

Foi pelo rádio que eu soube da morte de Elis Regina. Lembro exatamente. Estava na Rodovia dos Bandeirantes com minha mãe no carro, uma Belina, vindo de Campinas para São Paulo. Philco-Ford, AM.

Este post é uma homenagem a Elis. E uma homenagem ao rádio. Ela, Elis, e ele, o rádio, se misturam.

Um país que teve Elis não poderia ter virado isso que virou.

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Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
2 anos atrás

Obs. Esqueci de falar sobre o balance… o programa estava no ar na época do meu primeiro emprego. Lembro de almoçar num pequeno bar e sempre ouvir o programa Balance no som ambiente do bar. Achava um programa bem “bagunçado”… o Faustão sempre foi um cara que brilhou de maneira especial.

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
2 anos atrás

Eu me lembro desse dia! Minha namorada (hoje minha esposa) era uma fã da Elis. Lembro que fui Eu que avisei sobre a morte da Elis. Como gostava de Rock não me ligava muito a Elis, somente depois de algum tempo vim a reconhecer o talento colossal que Ela tinha! Uma perda e tanto para todos nós.

Marcelo Duarte
Marcelo Duarte
2 anos atrás

Também me lembro exatamente do momento que soube da morte dela. E foi pelo rádio. Elis, a maior de todas!

Pedro Moral
Pedro Moral
2 anos atrás

Seus textos, caro escriba, estão colocando frases emblemáticas em nosso dia-a-dia (hífen?):
“Um país que teve Elis não poderia ter virado isso que virou”

André
André
2 anos atrás

O país virou um bêbado desequilibrado.

rogerio kezerle
rogerio kezerle
2 anos atrás

Eu estava chegando no clube para nadar um pouco quando me deram a noticia. Fiquei chocado. Como assim? Não pode. Elis é imortal !!! É.. sua musica é imortal. Infelizmente, ela não era. Eu sempre falo que Elis cantava sempre sorrindo. Sua afinação era uma coisa absurda. Não gosto dessa coisa de melhor de todos os tempos. Mas no meu tempo de vida, foi a melhor cantora que vi. Uma pena ter partido tão cedo.

Jonivan
Jonivan
2 anos atrás

Concordo em gênero, número e grau. E incrível a JP também ter virado isso que virou…

Paulo Mendes
Paulo Mendes
2 anos atrás

Como dizem por ai: “Entrou um cisco nos meus olhos”.
Ah Elis que falta você faz….

Valmir Lopes
Valmir Lopes
2 anos atrás

Temos que sair desse inferno que é o Brasil. Temos que voltar a respirar e sorrir; e ouvir Elis

Carlos Pereira
Carlos Pereira
2 anos atrás

“Um país que teve Elis não poderia ter virado isso que virou.”
Concordo. Como chegamos a esse esgoto ? Onde as pessoas se perderam ?