PÔ, RICARD! (1)

Sainz: mais rápido, amanhã perde posições no grid

SÃO PAULO (tem de ver isso daí) – A Ferrari saiu na frente na França, mas não quer dizer que vá chegar na frente. Pelo menos é isso que espera a Red Bull, depois dos primeiros treinos em Paul Ricard, abrindo a segunda metade do campeonato. Os dois carros vermelhos ficaram em primeiro e segundo na escaldante sexta-feira da Riviera Francesa. Carlos Sainz fez 1min32s527 na sua melhor volta. Charles Leclerc virou 0s101 mais lento. Max Verstappen foi o terceiro, a distantes 0s550 do espanhol.

Sainz já sabe que perderá dez posições no grid amanhã porque a equipe precisou trocar a central eletrônica de seu motor após o princípio de incêndio que ele sofreu na Áustria. Assim, Charleclé se torna automaticamente o favorito à pole na sessão que começa às 11h deste sábado, pelo digníssimo horário de Brasília. O time dos energéticos não tem grandes ilusões na classificação. A Ferrari, para uma volta, tem um carro muito rápido. O negócio é apostar na corrida.

Verstappen, terceiro: negócio é apostar na corrida

Fez muito calor no sul da França nesta sexta, mas um pouco menos do que se esperava — o verão europeu tem castigado algumas regiões com temperaturas que superam os 40°C. Mesmo assim, a segunda sessão livre foi realizada sob um sol inclemente de 30,5ºC, com o asfalto borbulhando a 56°C. No primeiro treino, os termômetros bateram em 31,3°C, com um pico de 59°C no asfalto. Leclerc fechou essa sessão com o melhor tempo, 1min33s930, 0s091 à frente de Verstappen. E duas surpresas deram as caras: Pierre Gasly em quinto e Alexander Albon em oitavo.

Nyck de Vries, que substituiu Hamilton na abertura dos trabalhos em Paul Ricard — todo piloto terá de eleger uma corrida para ceder o carro a um novato num primeiro treino livre este ano –, ficou em nono. O holandês hoje defende a Mercedes na Fórmula E. Na temporada passada, foi o campeão. Mas não sabe o que fará em 2023, já que a montadora alemã vai deixar a categoria elétrica. Toda sua estrutura foi vendida para a McLaren, que resolveu disputar o campeonato.

Hamilton, quinto: só participou do segundo treino

Lewis assumiu o carro no segundo treino, mas esteve longe de ser protagonista, jogando um pouco de água no chope da esperançosa Mercedes. Ficou em quinto, 0s990 atrás do monegasco. Seu companheiro George Russell foi o quarto, a 0s764 da melhor Ferrari. Os italianos dominaram mesmo o dia e esperam manter o bom momento na temporada. Afinal, venceram as últimas duas etapas, em Silverstone com Sainz e n’Áustria com Leclerc.

Gasly voltou a andar bem no TL2 (detesto esse negócio de “TL”; TL para mim é isso aqui) e ficou em sétimo. Lando Norris, em sexto, e Kevin Magnussen, em oitavo, surpreenderam. Quem decepcionou foi o outro rubro-taurino, Sergio Pérez, em décimo. “Ele está experimentando umas coisas”, falou, enigmático, o falante Christian Buziner, chefe da Red Bull.

Agora, algumas caixinhas, para não perder o hábito… O incrível degradê é cortesia de nosso departamento de artes gráficas.

100 ANOS – Sim, sei que o passeio de Vettel com um carro de 100 anos foi ontem, mas me sinto na obrigação de dizer (e mostrar) um pouquinho mais. As fotos são ótimas, estão na galeria abaixo e é só clicar nelas para vê-las em tamanho família (se quiserem saber de onde vem a expressão “tamanho família”, cliquem no link).

ERVILHA – O carro é um TT1 feito em 1922, apelidado de “Green Pea”, ervilha. Foi pilotado por Louis Zborowski na primeira corrida disputada pela Aston Martin, no circuito de Estrasburgo, na França — uma pista de 13,4 km de extensão, em 60 voltas; corridinha básica de 800 km. O outro Aston Martin, TT2, foi tocado por Clive Gallop. Os dois eram ingleses e ambos abandonaram. Venceu um cabra italiano de Fiat.

ÉLÉGANCE – Deliciem-se, especialmente com a felicidade estampada nos olhos de Vettel e dos mecânicos. Além da elegância de todos… Ah, o outro sorridente na carona é Johnny Herbert. E as fotos em preto e branco são da corrida de 1922.

LONGA HISTÓRIA – Paul Ricard voltou ao calendário da F-1 em 2018, depois de uma ausência inexplicável da França no Mundial que durou dez anos. O circuito recebeu a categoria pela primeira vez em 1971 e, nos anos 70 e 80, revezou-se com Clermont-Ferrand e Dijon como sede do GP francês. Engatou uma sequência maior entre 1985 e 1990, sendo substituído, depois, por Magny-Cours. A corrida deste fim de semana será a 18ª da F-1 no autódromo.

SÓ ESCOLHER – A pista tem nada menos do que 247 layouts possíveis, e 64 deles podem ser molhados artificialmente. Dá para montar traçados que vão de 800 metros de extensão até 5,86 km. O da F-1 tem 5.842 m. Entre 1986 e 1990, usou-se uma versão bem curta, de 3.813 m.

Bottas com o clássico chapeuzinho de Paul Ricard: desde 1971

ESQUENTA – O asfalto é muito escuro, o que ajuda a reter o calor. Liso e homogêneo, também, embora haja uma ondulação desconfortável entre as curvas 4 e 5, trecho que ganhou uma ligeira inclinação no ano passado. São 15 curvas, seis para a esquerda e nove para a direita. As áreas de escape gigantescas foram feitas com uma mistura de asfalto e tungstênio. As faixas azuis e vermelhas, muito porosas, reduzem bastante a velocidade dos carros. As vermelhas mais do que as azuis.

LOOOONGO – O pit lane de Paul Ricard tem 424 m de extensão e é o terceiro mais comprido do calendário. Só perde para os de Ímola e Silverstone. São 25s de tempo perdido para percorrê-lo à velocidade permitida nos boxes. Ano passado, Verstappen venceu com duas paradas.

ACELERA – Uma volta em Paul Ricard exige dos pilotos 65% do tempo com o pé cravado no acelerador. Quando se transfere esse cálculo para a extensão da pista, essa taxa sobre para 74%.

Arnoux, Prost e Pironi no pódio: festa francesa em 1982

PARA LEMBRAR – O grid do GP domingo terá dois franceses, que orgulhosamente encherão o peito para cantar a Marselhesa. Mas dificilmente conseguirão algo que faça a torcida delirar ao final da prova e encher a cara de Ricard com gelo e água. Nada parecido com o melhor resultado do país na história, que aconteceu há exatos 40 anos. Em 25 de julho de 1982, lá mesmo em Paul Ricard, os quatro primeiros colocados eram franceses. Melhor ainda: a dobradinha foi de um time francês. René Arnoux venceu com seu companheiro Alain Prost em segundo, ambos da Renault. A Ferrari fez terceiro e quarto com Didier Pironi e Patrick Tambay. De quebra, Jean-Marie Balestre era o presidente da FIA.

Hamilton disputa neste final de semana seu 300º GP. Desde a estreia, em 2007 pela McLaren, só perdeu uma corrida, o GP do Sakhir, em 2020, porque estava com Covid. Vai entrar no clubinho dos que já entraram na casa de três centenas de largadas, ranking liderado por Kimi Raikkonen (349), seguido por Fernando Alonso (344), Rubens Barrichello (322), Michael Schumacher e Jenson Button (306 cada). Um dado curioso: todos esses, depois do 300º GP, não venceram corridas.

Ontem, em entrevista, o inglês disse que seu maior adversário nessa longa caminhada foi Alonso, com quem dividiu o teto da McLaren em 2007. O espanhol ficou só um ano na equipe inglesa e voltou à Renault em 2008, emburrado com a equipe. Pelo time francês, foi bicampeão em 2005 e 2006. Na Ferrari, depois, obteve três vices, em 2010, 2012 e 2013. Está em vias de renovar com a Alpine. Faz 41 anos daqui a uma semana e diz que ainda tem gás para mais algum tempo.

Outro que declinou alguma vontade de permanecer na F-1 foi Vettel. Seu contrato com a Aston Martin termina no final do ano e ele já está negociando a renovação por pelo menos mais uma temporada.

Verstappen com seu engenheiro: eu, me preocupar?

Para amanhã, não se deve esperar nenhuma estripulia da Red Bull, que anda preocupada, mesmo, é com o desgaste de pneus que a pegou de calças curtas na Áustria. É provável que Leclerc faça a pole sem grandes dificuldades, com Verstappen em segundo no grid. Domingo, nas 53 voltas da corrida, o líder do campeonato joga suas fichas num ritmo forte e constante, que já mostrou hoje quando treinou de tanque cheio e pneus mais duros. Mesmo assim, a degradação da borracha o preocupa. “Temos algum trabalho pela frente, mas acho que estaremos bem”, disse o holandês.

São temas trepidantes que trataremos mais tarde, às 19h, no famosíssimo “Fórmula Gomes”, programa campeão de audiência (minúscula) no YouTube. Apareçam lá!

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CHAGAS
CHAGAS
1 ano atrás

Os treinos de sexta poucos dão a atenção necessária. São fundamentais. Não estou falando de colocarem os macios e arriscarem ao máximo uma volta lançada podendo errar sem problemas maiores, ou fazer simulações de 10 voltas para entender o ritmo e o desgaste da borracha. Isso é básico, todos fazem.

Falo da experiência. Alguém percebe como Bottas faz Zhou crescer espantosamente de um dia para o outro? Magnussen faz o mesmo com Mick, e Vettel também auxilia Stroll. E a meninada cola descaradamente os acertos dos companheiros, que estão lá pra estenderem a mão amiga.

Alguém entende porque Vettel ainda é tratado com carinho na Aston Martin?

E Alonso? Alguém entende a sua importância na Alpine? O espanhol entrega o caminho do que tem que ser feito no fim de semana. Literalmente humilha Ocon nos treinos de sexta, e à noite lá vai o francesinho sentar com os engenheiros e colar do chefe. Ocon aprende rápido, é inteligente, estratégico e um cuidador de pneus como poucos na F1. Assim, diminui a diferença no sábado e desafia o espanhol no domingo. Mas o que seria de Ocon sem os acertos de Alonso?

O blogueiro informa que o espanhol está próximo de uma renovação, evidentemente é um tiro no pé colocar ao lado de Ocon a jovem promessa Piastri abrindo mão da experiência do bicampeão mundial.

Piastri é muito bom, mas não é Alonso. O menino deve mesmo sentar na Williams, uma forma inteligente da Alpine manter seu pupilo ainda em contrato, e adquirindo a rodagem necessária para assumir em 2024.

É, sexta feira é o dia de tomar cerveja apenas para nós reles mortais, no “circo” os veteranos estão é trabalhando arduamente, a molecada sugando o que pode e os chefes de equipe sempre com a esferográfica em mãos.

Marcus
Marcus
1 ano atrás

O GP da França de 1982 foi célebre porque desencadeou de vez a treta Arnoux vs. Prost, que é uma das rivalidades mais acirradas da F1.

Zé Maria
Zé Maria
1 ano atrás

Problema de fácil solução, se o “TL” incomoda, e por motivo mais que justo, vai de “FP” então.

Renato Romera
Renato Romera
Reply to  Zé Maria
1 ano atrás

Na época em que o carro era 0km, “TL” para mim era Trem Lotado…aff

Marcos Bassi
Marcos Bassi
1 ano atrás

Trataremos se o cachorro não latir no banheiro e vivermos outra sessão de Sexto Sentido hoje. Ontem tava todo mundo vendo gente morta o tempo todo.

Alfredo Aguiar
Alfredo Aguiar
1 ano atrás

O tal Otmar Szafnauer não parece muito inclinado a manter Alfonso na equipe por mais tempo. Tendo inclusive declarado que o espanhol estava lá porque não era ele o chefe de equipe quando ele foi contratado. Acredito que ano que vem a Alpine vai de Ocon e Piastri.