EXISTE GP EM SP (2)

Schumaquinho perdendo o lugar: mães atrapalham (foto Rodrigo Berton)

SÃO PAULO (esperem um pouco…) – Não creio que alguém vá bater a cabeça no muro do autódromo quando souber que não haverá anúncio da Haas sobre seu segundo piloto para 2023 neste fim de semana. Existia uma expectativa de que hoje, conhecido como quinta-feira, a equipe revelasse que o jovem Mick Schumacher será substituído por Nico Hülkenberg. Será, mas tal informação só se tornará oficial semana que vem.

Estou cravando? Mais ou menos. Às vezes — mas é muito às vezes, mesmo –, na F-1, algumas surpresas acontecem, e situações tidas como consumadas são revertidas aos 45 do segundo tempo com um pênalti marcado pelo VAR — estou no espírito da Copa do Mundo. Digo isso para me garantir caso Schumaquinho consiga segurar o emprego.

Mas neste momento, neste exato momento, o retrato é: Mick sai e Nico entra.

E por que, apesar do sobrenome, da simpatia, da elegância e da gentileza o pequeno Schumi está rodando?

Por causa da mãe. Da mãe e da empresária, que é quase outra mãe. A mãe é Corinna, a empresária é Sabine Kehm, uma faz-tudo de Michael Schumacher desde 1999, quando se tornou sua assessora pessoal. Michael a conhecera como jornalista. Depois de uma entrevista que Sabine fez com ele para o “Die Welt”, um jornal (que é um negócio de papel onde são impressas as notícias) cujo título em alemão significa “o mundo”, o piloto simpatizou com a moça e a trouxe para trabalhar com ele.

Sabine é uma espécie de sabujo da família Schumacher e desde o acidente do heptacampeão em 2013, quando caiu esquiando e nunca mais voltou à consciência, ao menos que se saiba, opera como um eficiente escudo entre ele e o resto do planeta. Se não existe uma foto, uma imagem, um vídeo, uma informação precisa sequer sobre o estado de saúde de Schumacher nove anos depois da queda, é por obra e graça de Sabine.

Quando Mick chegou à F-1, no ano passado, ela assumiu o papel de guarda-costas do rapaz. E segundo conversa que tive agora há pouco com um colega lusitano sempre muito bem informado que convive de perto com o submundo da categoria, ninguém na Haas aguenta ela. Tudo que acontece no time, vem Sabine e diz: não é assim, com Michael era assado; este vaso não fica aqui, tem de colocar ali, com o Michael era diferente; esse prato está ruim, o Michael gostava com pimenta do reino; essa camiseta está apertada, o Michael usava mais larga; essa música está muito alta, o Michael gostava mais baixa.

A chatice de Sabine vem acompanhada do tato sempre exagerado de uma mãe que está o tempo todo do lado do filho que disputa corridas de carros e pede sempre para ele correr devagar e tomar cuidado com desconhecidos. Mick, coitado, não pode espirrar e lá vem Corinna com um casaco, uma pastilha de Cebion e a recomendação para colocar um gorro e não pegar friagem.

Talvez fosse assim com Michael — é o que diria Sabine, certamente. Mas Michael tinha sete títulos mundiais e trocentas vitórias e poles e sei lá mais o quê, e Mick tem 12 pontos e nada mais. Michael podia fazer o que quisesse, e se Sabine pedisse à Ferrari para forrar o banco de seu piloto com penas de flamingos da Flórida, a Ferrari providenciaria flamingos da Flórida. Mas… penas de flamingos da Flórida para Mick?

Há outros motivos, claro, para a dispensa do efebo da família. Não se deve jogar tudo nas costas da mãe e da segunda mãe. O rapaz não é exatamente um virtuoso e de vez em quando bate o automóvel da equipe num grau que quando a seguradora faz a vistoria conclui que deu PT. E haja franquia. Em três ocasiões neste ano — Arábia Saudita, Mônaco e Japão — as avarias foram sérias. E custosas. Mick deu prejuízo à Haas neste ano, e com teto de gastos a coisa é ainda mais séria. Precisa repor as peças, mandar para funilaria e pintura, fazer polimento, alinhamento… Se fossem só as penas de flamingo da Flórida, estava bom; nem entram nos custos, essas coisas.

Hülkenberg, 35 anos, 181 GPs no lombo, carteira de trabalho com carimbos de seis equipes diferentes (Williams, Sauber, Force India, Renault, Racing Point e Aston Martin) — ainda que três delas sejam a mesma –, campeão da GP2, vencedor de Le Mans, não é conhecido como emérito destruidor de carros, tem experiência, é casado com uma lituana, tem uma filha e sua mãe, que se saiba, não vai às corridas para saber se estão dando almoço na hora certa para o menino.

Parece uma opção meio maluca recorrer a alguém que fez sua última temporada completa em 2019, mas também é bom lembrar que Nico correu pela última vez neste ano, abrindo a temporada pela Aston Martin no lugar de Sebastian Vettel, que covidou no começo do ano. Contra ele pesa apenas um recorde assaz incômodo, que ostenta sem muito orgulho: é o cara que disputou mais GPs na história da F-1 sem conseguir uma única tacinha; o máximo que conseguiu foi chegar em quarto três vezes (Bélgica/2012, Coreia do Sul/2013 e Bélgica/2016).

Mas quebra bem o galho. Tudo que a Haas não precisa é de um piloto novinho que chegue à garagem de mãos dadas com a mãe. Quanto a Schumaquinho, anotem: a Mercedes pode ser um destino interessante como piloto reserva. Estaria à disposição de três times que usam os motores alemães (a própria, mais Williams e McLaren; a Aston Martin não precisa), poderiam rachar o salário, mamãe Corinna voltaria a dormir sossegada. Afinal, são todos alemães e foi pelas mãos da Mercedes que Michael chegou à F-1. Com Michael também foi assim, lembrará Sabine, satisfeita.

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1 ano atrás

[…] No GP de São Paulo, Mick deu entrevista tensa na quinta-feira — que contou com a participação do GRANDE PRÊMIO. De poucas palavras e sem nenhum sorriso do alemão, a conversa teve sensação de pessimismo e clima de velório. A Haas adiou a decisão da última vaga na F1 2023, mas a tendência é que Hülkenberg seja mesmo anunciado em breve. […]

Wbj
Wbj
1 ano atrás

Trocando 6 por 1/2 duzia. Duas nulidades.

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1 ano atrás

[…] segundo a coluna do Flávio Gomes, do Grande Prêmio, o filho do Heptacampeão mundial está em vias de ser trocado por Nico […]

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1 ano atrás

[…] Além da falta de performance, o blog do Flavio Gomes, no GRANDE PRÊMIO, revelou que um dos motivos que pesam contra Schumacher é a mãe Corinna, e a empres&aac…, sempre presentes nos bastidores da […]

Alfredo Ramos
1 ano atrás

Hulk é a escolha mais acertada para a Haas. Schummynho fez os pontinhos que o tiraram do zero e vai sair no lucro.
Pista que segue.

Bishop
Bishop
1 ano atrás

Texto irônico e sempre cheio de maldades. O Mick filho não corresponde e pronto. Qual o problema ter duas mães cuidadosas. Se fosse rápido e eficiente não haveria essa coluna. Então logicamente foi dispensável toda essa análise.

Jorge Luis
Jorge Luis
1 ano atrás

Excelente texto Flavio. Que maneira deliciosa de dar uma noticia. Nao paro de rir ,,,, Parabens !!!!

GUs
GUs
1 ano atrás

Perfeitamente compreensível a atitude da Haas, pessoalmente, lamento pelo Schumaquinho, parece ser um garoto bacana, mas existe vida fora da F-1 caso ele saia de vez mesmo. Desconhecia os problemas de staff, belo texto FG.

André Nascimento
André Nascimento
1 ano atrás

O Mick tem potencial, mas creio que ele deveria ter estreado na Alfa Romeo, onde teria o Raikkonen como tutor. O que fez a Ferrari, botou ele na Haas tendo companheiro novato e surtado, ou seja , ambos bateram cabeça. Mesmo causando altos prejuízos, o Mick deu uma certa evoluída em 2022. Merece uma segunda chance na F1..

Alexandre
Alexandre
1 ano atrás

Ótimo texto Flávio!

Walter Borges
Walter Borges
1 ano atrás

O cara vai sair porquê não está num nível de pilotagem exigível na F1. Quanto aos prejuízos que vem causando… bem, é melhor até mudar de assunto. Afinal, partir um carro ao meio e sair caminhando é pra poucos. Se Shumacher Jr. for sábio vai encarar isso como um livramento de morte e tentar ganhar a vida de outra forma. Não é do ramo. Ponto final.

Marcelo Duarte
Marcelo Duarte
Reply to  Walter Borges
1 ano atrás

O rapaz perde pra Magnussen, que nao é lá essas coisas também. Se ele fosse um fenômeno das pistas, os caras deixariam a mãe, a avó, a tia, a cunhada dar palpite e tudo bem

Helena
Helena
1 ano atrás

Fui muito fâ de Schumacher, acompanhei tudo. Tua análise é muito certa. O menino precisa de independência.
Se fosse como pai, aposto que teria acertado mais, recebido mais bronca e orientação, ao invés de agrados e mimos. Mas o que Sabine entende de pilotar e analisar corridas?..
Não era pra dar certo dessa forma, mesmo.
Uma pena. O menino poderia ter feito um trabalho melhor, eu penso.