STREIFF, 67
SÃO PAULO – Morreu hoje o ex-piloto francês Philippe Streiff. Tetraplégico desde o acidente que sofreu nos testes de pneus de Jacarepaguá em 1989, ele tinha 67 anos. Foi por causa desse acidente que o Rio de Janeiro perdeu sua etapa da F-1. Streiff corria pela pequena AGS e seu carro se espatifou na curva do Cheirinho a mais de 200 km/h.
Era uma quarta-feira escaldante, 15 de março. Depois de capotar várias vezes, o santantônio se quebrou e houve princípio de incêndio. O atendimento na pista foi um pesadelo, sem que mínimos protocolos médicos e de resgate fossem seguidos. Ele chegou a ser levado para o ambulatório do autódromo, sem que alguém tivesse percebido a gravidade das lesões na coluna.
O transporte para um hospital na Gávea, primeiro de helicóptero e depois numa trôpega ambulância por ruas da paralelepípedo, agravou seu estado de saúde. Ele só foi operado dez horas depois de chegar à Clínica São Vicente, responsável pelo atendimento aos pilotos da F-1. No meio daquele caos, um cirurgião francês foi chamado e transferiu Streiff para Paris no dia seguinte. Ele passou o resto da vida numa cadeira de rodas.
As deficiências de estrutura no autódromo e a desorganização dos promotores do GP do Brasil, que abriria o Mundial dali a 11 dias, levaram a FIA a banir o país da categoria. A punição só foi revertida porque a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, assumiu a responsabilidade de reformar Interlagos e levar a corrida para a capital paulista. Em três meses, fez um novo autódromo. E o GP, a partir de 1990, passou a ser realizado de vez na cidade.
Streiff estreou em 1984 e disputou 53 GPs por Renault, Ligier, Tyrrell e AGS. Seu melhor resultado foi um terceiro lugar logo em sua sexta prova, em Adelaide/1985, última etapa da temporada. Ele tinha acabado de ser contratado como segundo piloto da Ligier, já com 30 anos de idade – chegou tarde à F-1. Largou em 18º, e uma série de abandonos acabou levando ele e seu companheiro, o veterano Jacques Laffite, então com 42 anos, a ocuparem terceiro e segundo lugares no final da prova, atrás de Keke Rosberg, da Williams.
Laffite estava com pneus em péssimo estado e gasolina acabando. Tirou o pé para chegar em segundo com tranquilidade, já que atrás dele estava o novo parceiro. Ambos estavam léguas à frente do quarto colocado e o pódio duplo estava garantido. Mas Streiff se empolgou e na última volta bateu na traseira de Jacques. Por muita sorte, o carro de Laffite não sofreu nada, mas a suspensão dianteira esquerda de Philippe quebrou. Mesmo assim, ele conseguiu levar seu carro até a quadriculada e os dois ganharam seus troféus, salvando o ano da Ligier. Foi demitido ali mesmo. Depois, faria a maior parte de sua carreira na Tyrrell.
As causas da morte de Streiff não foram reveladas pela família. O automobilismo francês já havia perdido, no início do mês, Patrick Tambay, aos 73 anos.
Imagina o caos se a corrida fosse para Deodoro.
Acho curioso o tratamento desigual dado a casos similares pela FIA. Quando De Angelis morreu em Paul Ricard, em razão da ausência de fiscais de pista preparados para atuar em acidentes, ninguém cogitou de banir a França da F1. E sem desconsiderar o péssimo atendimento dado ao Streiff após seu acidente, não se fala que o santantônio da AGS quebrou no impacto, ou seja, se a peça tivesse resistido como deveria, provavelmente a carreira do francês não teria sido encerrada na ocasião – mas a equipe não foi sequer importunada por causa disso.
Foi uma falha gravíssima, pois aqueles testes também não tinham uma equipe medica adequada. Outro exemplo do amadorismo que ainda havia nos anos 80. E realmente houve um tratamento desigual entre os ocorridos.
Lembro dele dando um calor no Piquet em 1988, no Canadá. O que aconteceu no Rio em 1989 é um atestado do amadorismo que reinava nos incensados “testes de pneus” do verão.
Não sou saudosista. Hoje, as medidas de segurança adotadas protegem os pilotos. Não é nada engraçado ter alguém se machucando seriamente toda semana.
Muito trágico o desfecho decorrente dos erros da organização (erro que é a cara de como as coisas funcionam no Brasil de uma maneira geral).
O exercício de se colocar no lugar da família e dele então… muito triste.
Que descanse em paz. Realmente foi um horror tudo o que aconteceu!
Acho essa historia da tetraplegia dele e o vínculo com o RJ uma das coisas mais drásticas da.história da F1..Penso o quanto esse piloto nao deve ter sofrido com isso.