ASTON & HONDA

A Honda será verde a partir de 2026: contrato assinado

SÃO PAULO (vai funcionar) – Por volta das 23h desta terça (23), no Brasil, 11h da manhã de quarta (24) no Japão, o anúncio oficial foi feito. A Honda será a fornecedora de motores da Aston Martin a partir de 2026, quando estreia o novo regulamento da F-1. Este prevê o uso de motores movidos a combustível sustentável, produzido a partir de matérias-primas renováveis, e um aumento da importância dos componentes elétricos na propulsão, que continuará tendo um motor a combustão V6 de 1,6 litro e uma unidade de recuperação de energia que será responsável por metade da potência de todo o conjunto.

O comportamento errático dos japoneses na F-1 não foi obstáculo para Lawrence Stroll, o bilionário dono da Aston Martin, fechar o acordo. Ele sabe com quem está lidando, do ponto de vista tecnológico. A Honda entrou e saiu da categoria algumas vezes desde os anos 60 do século passado. Mas quando acertou a mão, foi um sucesso, conquistando títulos com Williams e McLaren nas décadas de 80 e 90 e, mais recentemente, com a Red Bull.

Em compensação, fracassou na primeira década deste século com sua equipe própria nascida a partir da compra da BAR e na volta à categoria em 2015 com a McLaren, no segundo ano da era híbrida. Depois dos tropeços, porém, engatou uma parceria de muito bem sucedida com os rubro-taurinos, ganhando o Mundial de Pilotos de 2021 com Max Verstappen e repetindo o feito no ano passado, ficando também com a taça dos Construtores. Fará o mesmo neste ano. Mas não levará a fama. Ao menos integralmente.

Ocorre que no início de 2021 a Honda, inexplicavelmente, anunciou sua retirada da F-1 para o final daquele ano, mais uma vez. Repetiu o que fizera no fim de 2008, repassando sua equipe a Ross Brawn por um valor simbólico de uma libra esterlina. O engenheiro, então, montou a Brawn GP, espetou motores Mercedes em seu carro e ganhou o campeonato de 2009. Na prática, Jenson Button foi campeão guiando um carro Honda, projeto que vinha sendo desenvolvido com o dinheiro dos japoneses ao longo de todo o ano anterior, movido por um motor de outra marca.

Button, campeão em 2009: carro Honda com motor Mercedes

A decisão de sair pegou todo mundo de surpresa, principalmente a Red Bull, que ficaria sem motores. A equipe, então, amarrou um acordo com a montadora para herdar os motores, garantiu alguma assistência técnica, contratou gente, montou uma fábrica e rebatizou as unidades de potência como Red Bull Powertrains. É como eles se chamam hoje, oficialmente. Mas são Honda… E, em 2026, serão registrados em cartório como Ford.

Sem a Honda, o time saiu atrás de montadoras dispostas a assumir a gestão dos motores em colaboração com seu próprio pessoal. Negociou com a Porsche, mas no fim do ano passado as conversas foram encerradas. Foi, então, aos EUA. E fechou com a marca do oval azul. A Ford topou a empreitada, entre outras coisas, porque não precisaria desenvolver motores a partir de uma folha em branco. Vai incorporar a tecnologia deixada pela Honda para a Red Bull.

Ford e Red Bull: valendo a partir de 2026

Em fevereiro, os japoneses surpreenderam de novo. Inscreveram-se como fornecedores de motores para a F-1 a partir de 2026, ainda que não tivessem nenhuma equipe como cliente. A FIA aprovou seis marcas para oferecer motorização à categoria com o novo regulamento: Alpine (Renault), Ferrari, Mercedes, Audi (que está comprando a Sauber), Red Bull-Ford e Honda. Faltava um time para os nipônicos. Não falta mais.

O acordo com a Aston Martin vale por cinco anos, de 2026 a 2030. É um passo gigantesco para a equipe verde, atual vice-líder do Mundial e grande surpresa da temporada. Sucessora da linhagem Jordan/Midland/Spyker/Force India/Racing Point, a Aston Martin reestreou na F-1 em 2021 (tinha participado de 11 GPs em 1959 e 1960) com grandes ambições. Começou a erguer uma nova fábrica e um novo túnel de vento em Silverstone, contratou Sebastian Vettel e saiu catando técnicos, engenheiros e projetistas na concorrência. Um deles é Dan Fellows, discípulo de Adrian Newey e responsável pelo desenho do AMR23, carro que já deu a Fernando Alonso quatro pódios em cinco corridas neste ano.

Com muito dinheiro e investimentos infinitos graças à fortuna pessoal de Stroll-pai, faltava a condição de equipe de fábrica para avançar ainda mais. Desde 2009, quando ainda se chamava Force India, o time é cliente da Mercedes. Nunca foi, claro, prioridade da montadora alemã. Agora, terá um parceiro oficial para chamar de seu.

Até o fim de 2025, a Honda está obrigada por contrato a seguir ao lado da Red Bull na cogestão dos motores. Sua marca hoje aparece nos carros de Verstappen e Sergio Pérez em pequenos adesivos nas laterais da carenagem, quase como um patrocínio — e não como fornecedora de motores. Como será essa relação nos próximos dois anos é pergunta que só o futuro vai responder. Porque, a partir de hoje, os japoneses só terão olhos para os carros verdes da Aston Martin.

Alonso em 2015 na McLaren-Honda: relações turbulentas

E é claro que vocês devem estar se perguntando sobre pilotos, lembrando dos chiliques de Alonso com a Honda nos anos de McLaren — “GP2 engine”, ninguém esquece… Koji Watanabe, presidente da Honda Racing Corporation, chamou o espanhol de “gênio”, disse que ele merece “todo respeito” e que “não há objeções a seu nome”. Falou também que a empresa pode até opinar na escolha dos pilotos, mas a palavra final será sempre da equipe. Já o CEO da montadora, Toshihiro Mibe, revelou que o acordo com a Aston Martin foi fechado um mês atrás e acrescentou, sobre Fernandinho: “O passado é o passado”.

É cedo para dizer qualquer coisa. Alonso terá 44 anos ao final de 2025 e é impossível afirmar que ainda estará em forma e competitivo como hoje. É exercício de adivinhação cravar que será ele a liderar o início desse projeto. Creio que a idade, mais do que o passado turbulento, impedirá o reencontro. E, sendo assim, a Aston Martin terá de pensar grande. Lance Stroll, filho do dono, certamente não será o piloto a guiar o time para um eventual título no futuro. A trilha até o olimpo das grandes terá de ser percorrida por alguém melhor que ele. E o nome que me ocorre agora, e em quem eu investiria de olhos fechados, é George Russell.

Mas, repito, é cedo para qualquer especulação. O mais urgente, e importante, a Aston Martin já conseguiu.

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André
André
11 meses atrás

A Honda vai infernizar a Aston até esta contratar o Tsunoda. Já pensou o japonês e o primeiro-filho como pilotos? Misericórdia.

Luis Felipe
Luis Felipe
11 meses atrás

Como assim ninguém lê o blog? Eu leio. Sempre li, aliás.

gustavo
gustavo
11 meses atrás

Honda entrando, movimentos da Ferrari, mas nada de deixarem o Andretti ainda.
ps: mais um leitor do blog. Parabens pelo trabalho Flavinho

Marcos Sousa
Marcos Sousa
11 meses atrás

Acho que foi uma análise bem certeira.

Ron
Ron
11 meses atrás

Contando que o Alonso se aposente até lá, muita gente vai de ficar de olhos atentos para essa vaga de companheiro do Stroll-filho. Colocaria na lista também: Norris, Albon, Gasly, Ocon, Leclerc (contando que se “acerte” daqui para frente), Pérez (ex-piloto da casa).
Será que a Honda pediria a vaga para um piloto japônes?
Será que a Aston teria coragem de roubar o Verstappen da Red Bull?
E o Hamilton já estaria fora do jogo também?

Eric
Eric
11 meses atrás

Belo post! Conhecimento de bastidores, informação e uma aula em forma de um bom texto.

Last edited 11 meses atrás by Eric
Fernando (Pai do Clark)
Fernando (Pai do Clark)
11 meses atrás

Passei aqui nos comentários só pra elogiar o texto e dizer que comerei 2 smashburguer com 1 chopps no sábado.

Concordo com o relator, George seria uma estaca no peito do Pebolim Wolff, mas acredito que o nome mais forte na boataria será do Lando Norris, a imprensa inglesa não deixará o menino (que acho ótimo) desamparado ou ralando na McLaren eternamente.
Abs!

Alfredo Aguiar
Alfredo Aguiar
11 meses atrás

Pois é o, Russel é um bom nome, falta combinar com os russos, nesse caso russos germânicos. Tem uma gurizada bom de acelerador nessa F1 atual que vão estar maduros em 2026. Norris, Gasly, Leclerc e até lá pode surgir mais alguém.

Celio Ferreira
Celio Ferreira
11 meses atrás

Carros com combustível renovável
, 50% eletrico , opa tamo nessa,. Assim
é a Honda , se for bom continua , senão cai fora…..

Last edited 11 meses atrás by Celio Ferreira
Bento
Bento
11 meses atrás

Como parece que o cofre de Mr. Stroll é bem mais recheado do que o da Ferrari, nada impede que, até 2025 caso a Red Bull não mantenha a mesma performance de vitórias, Max seja contratado a peso de ouro para dar início a “era Honda” na Aston Martin. Impossível não é, visto a transferência de Hamilton para a Mercedes mesmo com a status de campeão na MacLaren.

Charles Camara
Charles Camara
11 meses atrás

Olha que interessante, o Google me notificou sobre essa sua postagem!
Bom, sobre a Honda, fica a curiosidade sobre como será o carro em 2026.

Tom
Tom
11 meses atrás

Penso que Lando Norris seria o piloto ideal,ate lá ele já desvecilhou da Mclata(que não quer nada da vida, somente aparecer na mídia),aliás vejo que se Alonso aposentar a Aston tem ir atrás de Lando imediatamente,Russel deve ficar na mercedes mesmo como “eterno sucessor” do Hamilton

Leandro
Leandro
11 meses atrás

Grande acordo e grande notícia!

Fernando
Fernando
11 meses atrás

Ótimo texto. Obrigado pelo trabalho.

vasco jones
vasco jones
11 meses atrás

honda ate 2025, na red bull, sera interessante….

vasco jones
vasco jones
11 meses atrás

caraca..sabia dessa onda nao….

Preto
Preto
11 meses atrás

Belo texto,como sempre

Peixe
Peixe
11 meses atrás

Acho interessante como as montadoras estão se planejando com tanta antecedência para o novo regulamento, já acertando com novas montadoras e motores para 2026!
esse tipo de coisa faz tipo a Alfa Romeo estar no limbo, sem ter futuro como Alfa, mas sem a Audi querer investir agora.

Sei que no caso da Aston é diferente, e que a Mercedes não entregaria motores meia-boca para a outra equipe, mas serão mais dois anos e meio até a Honda fornecer os motores. É tempo!

Pelo que me lembro, antigamente, essas negociações não eram realizadas com tanta antecedência assim.

Allan Guimarães
Allan Guimarães
11 meses atrás

Agora entendi o lance da Ford. Mas ficaram algumas dúvidas: a propriedade intelectual do conj. mecânico atual ficou pra Red Bull? Então qdo a Foes entrar será um AP da Honda rebatizado de CHT? E se a Honda não puder usar o seu AP (AP é VW, Honda é outra sigla, mas não lembro e não é engraçado e lendário para nós), vai partir de uma folha de papel em branco de novo? Sim, o conj. vai mudar, mas será que nem o bloco do motor vai ser aproveitado?

Gustavo Oliveira
Gustavo Oliveira
Reply to  Allan Guimarães
11 meses atrás

A Red Bull comprou o atual projeto da Honda, hoje, eles estão no segundo ano da transição entre as duas empresas e tb da transferência de tecnologia. O que antes era feito pelos japoneses, cada vez mais é feito pela equipe austro-inglesa.
A Red Bull fundou uma nova empresa de motores, a Red Bull Power Trains, a Ford será sócia dessa empresa e não da equipe de F1, óbvio que a parceria será também técnica e a base desses novos motores parte do que a equipe comprou da Honda.
No mercado de projeto e desenvolvimento de veículos, isso é extremamente comum.

JUCA
JUCA
11 meses atrás

A Honda é legal, notícia boa essa e a AM vai se tornar equipe de ponta mas acho que a Mercedes fecha às portas e sai da categoria e com o Fernando se aposentando por idade, talvez Hamilton também sei lá, oo hrid vai ficando interessante, o domínio RBR+VERSTAPPEN pode ser longo mas não eterno, também uma extensa lista de promessas não cumpridas devem desaparecer do hrid LeCrash, Orlando chuck Norris, Occon, Gasly, Sainz, Notas, De Vries, Notas os orientais TODOS DISPENSÁVEIS.

Bruno Laporta
Bruno Laporta
11 meses atrás

Excelente. Bom para a categoria, para a Honda e para a Aston Martin. Pelo retrospecto de todos nos últimos tempos, sucesso terá de alguma forma. Bom que a Ferrari vá de Hamilton mesmo, se não ficará quarta força cada vez mais. Os próximos 3 anos serão interessantíssimos. Todo mundo está se mexendo.