MORENO, O PROFESSOR
SÃO PAULO (cuidado na esquina) – Uma das coisas legais da Fórmula Inter, apresentada ontem em São Paulo, é a escolha de Roberto Moreno como uma espécie de reitor da Academia de Pilotos da categoria. Se tem alguém com história para ensinar neste país, quando se fala de automobilismo e da vida, é ele.
[bannergoogle] Moreno não gosta muito de mim. Na época em que eu cobria F-1, ficava bravo com minhas perguntas sobre as agruras pelas quais passava — era piloto da Coloni, depois da Eurobrun, aí ganhou a chance na Benetton, mas foi demitido e teve de passar por maluquices como a Andrea Moda, Forti Corse… Numa época em que havia Senna e Piquet em times de ponta, Moreno era o “patinho feio” do Brasil na F-1. O que eu podia fazer? Tinha o lado A, vitorioso, glamuroso, polêmico, e o lado B — a dureza num time pequeno, a escassez de recursos, a batalha diária na lida.
No fundo, no fundo, eu achava Moreno um personagem muito melhor que Piquet e Senna. Mas ele vivia enfezado, porque sua vida não era mesmo fácil naquelas equipes. E quando a gente ia falar com ele, recebia uns resmungos de volta. Achava que só víamos o lado negativo, estava sempre zangado. Do outro lado, na Williams, na Lotus, na McLaren, eram só flores. Esses caras eram notícia. Roberto, não.
Mesmo assim, adoro ele. Acho um fodão do Bairro Peixoto, capaz de classificar um carro da Andrea Moda para o GP de Mônaco, por exemplo — juro, era uma façanha maior do que ganhar a corrida. Foi em 1992. Mas aquela corrida foi tão espetacular (Mansell perdeu a porca de uma roda, Senna ganhou), que a proeza não recebeu a devida atenção. Fui ver minha cobertura daquela prova na “Folha” e o destaque dado a Moreno não estava à altura do que conseguiu. 23 anos depois, peço desculpas.
Fernando Silva fez uma ótima entrevista com ele sobre sua nova função na F-Inter. Está aqui. Desejo ao Roberto todo o sucesso do mundo. E aos meninos que serão orientados por ele, digo apenas: ouçam e aprendam.
É lenda ou verdade a estória dele ter se borrado todo na Benneton (um canhão em relação as tranqueiras que ele andava) ???
ROBERTO PUPO MORENO. O verdadeiro amor pelo automobilismo.
Moreno é o operário do automobilismo correndo tanto de F-1, Champ Car (duas vitórias) e IndyCar Ele não foi um autêntico campeão, mas sua carreira está completa como Piloto de Carros de Fórmula. O Moreno tem muito a ensinar como Professor!
Sou testemunha do respeito que os pilotos tinham por ele. Fui chefe de equipe numa prova das 500 milhas de kart da Granja Viana que tinha o Moreno, o Alan Helmeister e Aluísio Coelho como pilotos. E vi o Moreno sendo cumprimentado e admirado por pilotos como o Kanaan, o Montoya, o Pizonia, o Servia, o Dan Weldon, o Zanardi e outros. E a humildade dele quando nosso kart ficava prá trás e ele falava prá chamar o Allan prá recuperar terreno. Em tempo: nosso kart acabou a corrida em quarto lugar.
O melhor comentário, na minha opinião, foi feito pelo Eduardo Correa:
“Não posso deixar de pensar que Moreno não conseguiu romper com a oficina mecânica onde se criou. Talvez nunca tenha querido, verdadeiramente, trocá-la pelo mundo cosmopolita e sofisticado da Fórmula 1.”
Foi uma puta injustiça o que a Benetton fez com ele em 91. Mas, vindo de Briatore, né…
Müller, pode até ter sido um caso infeliz.
Nesse negócio, não se faz desaforo com dinheiro. O Moreno foi substituído “somente” pelo cara que mais ganhou na história da F-1. Um tal de Miguel Sapateiro.
Esse tipo de injustiça histórica com o Moreno era “aceitável” e “normal” até, para um povo que Domingo de manhã ligava a tv para assistir a “Formula Senna” e não respeitava mais nenhum outro piloto, não gostava e não entendia patavina de F1.
Sem contar que Moreno foi companheiro de equipe e era amigo de Piquet, não do AS.
Se fosse um moleque babão e puxa saco do Senna como era o Barrichello, talvez a Globo e a imprensa do Brasil lhe dessem mais atenção e reconhecimento.
Mas as coisas são assim mesmo no “Brazil”.
Lembro do comercial da Pirelli de 1991 com Moreno e Piquet. Você mesmo já disse que é o comercial mais bonito que já teve e eu concordo: http://flaviogomes.grandepremio.uol.com.br/2006/04/sessao-pipoca-i/
Fico arrepiado até hoje ao assistir.
“ROBERTO MORENO: Eu tive muita sorte de, sem dinheiro nenhum, sem condições de competir, fazer tudo o que eu fiz na carreira. E é isso que as pessoas não entendem. Na verdade, eu tive é muita sorte de sair de onde eu saí e conseguir fazer tanta coisa sem dinheiro.
As pessoas não veem esse lado. Eu sentei com o Márcio e ele também tinha a mesma visão. Eu falei “não, Márcio, você tá enganado”. Você imagina só: eu saí do Brasil sem condições de competir em nenhum lugar. Eu saí do Brasil para fazer uma profissão. Então, eu consegui, do nada, fazer muita coisa. E sem dinheiro nenhum. Minha realidade, mesmo, era ir para a Europa, fazer meio ano e voltar. Eu consegui, sem nada, fazer uma carreira de 32 anos. E continuo tirando proveito disso.
Então, é isso que as pessoas não veem na minha carreira. Se você me comparar com um Ayrton Senna, que saiu para competir, levando verba para competir, aí sim. Mas se você me ver como um filho de um funcionário público que saiu pra Europa pra fazer uma carreira, eu fui muito mais que bem-sucedido. E é isso que as pessoas não veem, não têm a visão.”
Trecho de uma entrevista super legal que ele deu pra um pequeno blog, que deve está até desativado. http://bandeiraverde.com.br/2012/02/15/entrevista-com-roberto-moreno-parte-1/
Alô, Flavio,
O saudoso amigo, Cândido Garcia, que comandou o Pole Position, da Rádio Bandeirantes, por muito tempo, além de fazer a cobertura in loco da Fórmula 1 pela emissora, tinha também um programa chamado “Jogo Aberto”. E foi numa das edições do Jogo Aberto que lembro-me de ouvir uma entrevista em que o ‘Cândinho’ perguntou se o Moreno não se sentia frustrado por nunca ter tido sorte na Fórmula 1.
A resposta foi interessante: “Eu não me sinto um cara sem sorte. Pelo contrário, sou um sortudo, porque mesmo sem dinheiro eu consegui chegar à Fórmula 1 e competir na mais importante categoria do mundo”.
Aquelas declarações me marcaram muito, tanto que lembro como se fosse hoje.
Mais tarde, o Téo José chamou o Moreno de “operário da velocidade”, nos tempos em que a TV Manchete fazia brilhante cobertura da F-Indy. Foi a melhor definição que já ouvi sobre este grande piloto.
Um abraço!
Relembre a primeira vitória de Roberto Pupo Moreno na antiga CART em 2000 no circuito de Cleveland.
https://www.youtube.com/watch?v=kTbQOOQGZWA
O GP de Cleveland na Cart foi sua primeira vitória na categoria e é uma das imagens mais emblemáticas não do automobilismo mas do esporte mundial, o momento em que ele retorna aos boxes depois da bandeirada e é muito aplaudido por membros de todas as equipes.
O último grande feito do Moreno foi classificar uma “carroça” pras 500 Milhas de Indianápolis de 2007, substituindo o Stéphan Grégoire.
Encontrei um vídeo muito raro, mostrando detalhes da classificação do Moreno em Mônaco/92, vale a pena dar uma olhada: https://www.youtube.com/watch?v=PB-MIeynO4g
Roberto Popo Moreno.
O Baixo, como era conhecido, sempre foi muito respeitado por Piquet, que o considerava melhor que si próprio!
Teve muitas dificuldades mas o título Internacional da F3000 e várias vitorias em campeonatos importantes deixaram claro que era de fato, um piloto espetacular.
Capacete espetacular do Moreno, hoje é tudo “mais ou menos”.
Curioso notar que até as equipes pequenas no início da década de 90 tinham diversos patrocínios (mesmo que igualmente de menor expressão). Hoje a Mclaren pena para ter algum…
Foi só em Mônaco. A Andrea Moda correu quase o ano todo com o carro em branco. Ou em preto.
Acho muito bacana quando você menciona essas estatísticas de equipes menores/desconhecidas. Realmente, são grandes ‘vitórias’ pessoais que passam desapercebidas na cobertura em geral. O finado Bianchi certamente conseguiu muitas façanhas como essa.
Flavio, você tem alguma curiosidade/fato interessante sobre a equipe pacific de 1994?
Esquenta não Flávio, o Téo José chamava ele de “operário do automobilismo” nas transmissões de Fórmula Indy na Band, mas não no sentido pejorativo, porém devido a labuta do Chaveirinho para estar no automobilismo. Lembro quando ele foi campeão no Fórmula 3000. Acho eu, a que dava ascensão ao piloto para a F1, foi ganhando um corrida e com a grana corria a seguinte, e nesse interim foi Campeão. O Baixinho é um dos grandes Botas do automobilismo Nacional.
E desde quando “operário” poderia ser recebido como algo pejorativo?
Você está certo Flávio, corretíssimo, porém o Moreno não pensava assim.
Ele gostou do apelido.
Lembro que algumas corridas depois ele apareceu no paddock usando um capacete de construção civil, numa brincadeira com o próprio Téo.
Em uma das perguntas dos blogueiros alguém perguntou sobre se você já havia cometido algum erro e pedido desculpas. Você respondeu que não lembrava, mas que pelo seu jeito, pediria sem problemas.
E, veja só, aí está um pedido de desculpas público.
Que carro lindo. Para mim, os F1 da primeira metade da década de 90 são os mais bonitos.
Era o que eu ia comentar. Qualquer carro daquela época era mais bonito do que os atuais.
O cara é fera,…quanto a classificação de Mônaco, soube por alguém de dentro da equipe (um brasileiro) que houve também uma ajudazinha no combustível, fornecido as escondidas pela engenheira de uma das fornecedoras top da época ( não vou citar a marca, mas é francesa , patrocinou a Tyrrel nos velhos tempos e tem 3 letras rsrsrs)…Só não sei se isso tudo foi verdade mesmo….Na época dos super-combustíveis
Boa tarde,
Se começar a dar público, será que alguma TV fechada anima a transmitir?
Flávio, Roberto Pupo Moreno merece uma bela biografia! Você não se habilita a escrevê-la?
Me arrepio quando lembro da campanha dele na Champ Car em 2000
“Em 2000, aos 41 anos, Moreno integrou a Patrick e fez um campeonato espetacular. Venceu a corrida de Cleveland partindo da pole position, foi ao pódio outras cinco vezes e brigou pelo título até o final. No final do ano ficou em 3º, com 147 pontos, atrás apenas de Gil de Ferran e Adrián Fernández.”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Pupo_Moreno
Torci horrores pro cara ser campeão… E quase deu certo. Naquele ano a Patrick teve um carro muito bom e o Moreno arrancou dele tudo o que podia.
A Champ Car do ínício dos anos 2000 foi o melhor campeonato que ja acompanhei.
Gomes: Que tal publicar um perfil bem completo sobre o Moreno?
Louvavel seu pedido de desculpas, realmente ele merece, adorava assistir as corridas com o careca acelerando pra valer…bons tempos…
Flavinho, Moreno realmente é muito piloto, e você pequeno grande, muito jornalista. Muito legal o que você escreveu do cara, mesmo talvez ele não indo muito com sua fuça…
Um grande batalhador sem dúvida, lembro-me de uma foto do Moreno com umas molas na mão que tinha emprestado da Ferrari para colocar no seu carro de F-1 (não me lembro a equipe) para poder ir pro treino… Vou procurar a revista aqui… É muito legal, ele está com um grande sorriso no rosto e com 4 molas de suspensão nas duas mãos…
Flávio, você tem meu respeito. Puta justiça você acaba de fazer, desculpando-se por não perceber, na época, que o Moreno merecia mais do que recebeu, tanto da F-1 como sistema, quanto da mídia. Sobre a F-1, difícil: lugar errado na hora errada, tipo um Heidfeld da vida. Sobre a mídia, dá pra usar a mesma, ainda, para resgatar equívocos do passado. Mandou bem, como blogueiro, Jornalista (com “J” caixa alta) e ser humano. ;-)
Flávio, não tem nada a ver com sua postagem , porém vc viu no site da f1 é possível montar o dream team de todos os tempo, uma brincadeira claro, muitos pilotos já montaram. Vc escolhe dois pilotos, um chefe de equipe e um carro. Tentei imaginar o meu drem team e ate agora não cheguei a uma conclusão, sei que teria Schumacher e talvez Senna, talvez MP4-4 ou Ferrari de 2002, e Frank Williams, Briatore ou Ecclestone…..e vc?
Abraços.
Você lê o blog?
Ops…estava fora de combate no ultimo mes, motivos de saude, e achei tao legal a brincadeira que não olhei todas as noticias anteriores do blog….falha nossa…foi mal
Esse não lê o blog ou é o Rubens Barrichello disfarçado de Henrique.
Kkkk boa!
De pensar que ele quase foi para a Ferrari depois da F-3000
Você se esqueceu de mencionar outra façanha do Moreno. O ponto que ele conquistou com uma sofrível AGS no GP da Austrália de 1987.
Isso sem contar que ele foi o último a colocar um carro da Coloni no grid!!
Grande Moreno! uma vez na casa de uma amiga, perdi a chance de comprar o macacão do cara pra ajudar nas contas…
claro que me arrependi…
Flávio Gomes, acho que a imagem final que o Roberto Moreno deixou para o automobilismo brasileiro não foi nem a sua passagem pela Fórmula 1, mas os seus feitos na F-3000 e na Indy-CART.
Na F-3000 ele conseguiu ser campeão a bordo de uma equipe de várzea, que dependia da premiação corrida após corrida para sobreviver.
Sua passagem na Indy-CART foi marcada pela impressionante capacidade de se adaptar rapidamente a cada carro que entrava pra dirigir, seja ele Lola-Ford, Swift-Ford, Reynard-Ford, Lola-Mercedes-Benz, Panoz-Honda, e conseguir resultados expressivos. Só faltou o título na categoria em 2000.
FG
Proeza maior é este seu reconhecimento, nao importa quanto tempo depois, mas com humildade e profissionalismo.
Parabens.
TEO JOSE O CHAMAVA DE “O OPERÁRIO DA VELOCIDADE”, TAMBEM LEMBRO DE MONACO 92. EXCEPCIONAL
Moreno e Ingo, dois pilotos brasileiros que nunca foram aproveitados dentro de suas capacidades da F-1.
Aliás sabe qual é o brasão do Bairro Peixoto ?? Um elmo de cavaleiro medieval com 4 rodinhas. Jasão Vôngoli pode te explicar.
Sobre Moreno, a imagem que tenho dele é de um cara sempre sufocado e sofrido, mas extremamente competente.
Obs.: há muito tempo não leio a palavra “enfezado” em texto algum!
E parodiando a musica tema dos Caça-Fantasmas…
“Quando o seu carro não funciona, a quem você chama?
Moreno!!!”
É ele o cara que só é lembrado por todos no meio para resolver as tretas que ninguém mais conseguiu descobrir e, por tudo isso, um dos meus pódios favoritos foi aquele composto pelo Piquet e esse labutador da velocidade chamado Roberto Pupo Moreno, que sempre soube como acertar um carro – qualquer carro – mas nunca teve um cockpit decente para mostrar serviço.
Boa sorte a ele nessa empreitada e se desse grupo sair um ou dois com a bunda igual a dele estaremos bem na foto hehehe!
Um dos motivos que me levam a ler seus blogs: sua honestidade, sua maneira humoristica de escrever, sua maneira de cagar e andar para o sistema… este “pedido de desculpas” foi escrito em alto nivel, mostrando tambem um lado maduro da personalidade. Parabens Flavio!
Muito massa seu post. Moreno foi mesmo um “injustiçado” num tempo de grandes estrelas. Uma das coisas mais bacanas que vi na F1 foi a dobradinha Piquet/Moreno no GP do Japão de 1990. Pensem bem, dois amigos de infância dividindo um pódium de F1 em uma mesma equipe!! Isso dá filme!!
Realmente um piloto que exalava emoção com qualquer conquista obtida.
Gostava muito dele, sabia acertar um carro, ou o que tinha à mão….
Talento certo no lugar errado.
Um grande piloto que não teve a sorte ou o reconhecimento merecido.
Torci muito por ele numa prova da Indy no Rio, ele estava na Chip Ganassi, liderou parte da prova mas teve algum problema no carro e não terminou bem.
Além de ter um dos capacetes mais bacanas da F1.