Cemitérios

Interessante o artigo que recebi do grupo ao qual pertenço no Yahoo! para falar de DKW na internet. (Aproveitando: farei uma breve pausa na campanha pró-Kombis, que acredito já ter cumprido sua missão. Mas voltarei a ela de quando em quando.)

Saiu no site americano Western Driver e é sobre um cemitério de carros velhos perto de Phoenix, no Arizona. Gozado, sempre que ouço “Arizona” me vem à cabeça uma bedéia do colégio onde estudei em Campinas. Não lembro o nome dela, e nem sei se a palavra “bedéia” pode ser usada como feminino de “bedel”, e muito menos sei se ainda hoje a molecada chama de bedel àquele pessoal que cuida para que a vida numa escola seja minimamente civilizada pelos pátios e corredores. É que a bedéia em questão fumava cigarros Arizona, e a gente vivia atazanando a dita cuja, dizendo que ela fumava “ali na zona”. Estranhas, determinadas lembranças. Acho que cigarros Arizona não existem mais.

Mas eu dizia que o artigo é interessante, é um baita ferro-velho no Arizona com mais de dez mil carros, e na porta do escritório do dono está pintada a advertência: “No sniveling”. Algo como “não chore”, seja pelos preços, seja pelo estado de alguns carros.

Me chamou a atenção o DKW da foto abaixo, citado pelo autor do texto como “an early version of the A4”, antecessor do Audi A4. Americanos são mesmo muito engraçados. O sujeito viu quatro argolas, imediatamente associou aos Audi, e provavelmente só conhece o A4, que é o que mais vende por lá.

Bem, até que não errou tão feio. Para quem não sabe, as quatro argolas que hoje simbolizam a Audi eram na origem, 1932, o símbolo da Auto Union, uma fusão de quatro montadoras alemãs, a saber: Horch, Wanderer, Audi e DKW. Quem quiser saber mais e tiver saco para ler em inglês, é só clicar aqui.

Quando a VW comprou a Auto Union da Mercedes, em 1964, creio, resolveu descontinuar os motores dois tempos e os veículos DKW, ressuscitou a marca Audi, resolveu manter as quatro argolas e o resto todo mundo sabe no que deu.

Portanto, os DKWs são, de fato, antecessores de todos os Audi. Nos meus há muitas peças com as quatro argolas. E quem vai ao museu da Audi em Ingolstadt nota que tem DKW pacas em exposição.

Ah, os DKWs… Se teve gente que me achou chato com as Kombis, pode se preparar!

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Joseph Semple
Joseph Semple
14 anos atrás

Prezado Mauricio,
Escreva, agora estou em Portugal aonde tem bastante carros antigos de colecionadores.
Abraços,
Joe

leo
leo
18 anos atrás

cara,meu pai em meados de 80,82,comprou um DKW-VEMAG.estavamos acostumados com carros do ano,tipo uma caravan 6 bocas q ele tinha.pensa em dois muleques chorando quando viu o dkw,eu e meu irmao.pouco tempo depois ele comprou outra e disse q era p/ minha mae,uma vermelhinha com rodas palito,um show.ficamos uns quatro anos com elas,dai veio a choradeira pior,meu vendeu as duas.acho que a unica lembranca,tirando a memoria claro,e um carburador.
PS.queria deixar anexado aqui,que nao som bom nisso,e que ha pouco tempo chegou o futuro(internet) aqui,hahaha e que me amarrei em seus textos.se Deus quiser um dia ainda verei o circo da F1 de perto.
um abraco!!

PedroJungbluth
PedroJungbluth
18 anos atrás

Ney, esse motor devia ser muito forte.
A tecnologia 2T infelizmente não é útil na indústria moderna, mas era motores com alma esportiva, pois eram leves e tinham giro muito alto.

PedroJungbluth
PedroJungbluth
18 anos atrás

agora me pegou, afinal o motor dos Gordinis eu não sei muito sobre a origem…
Sei que o motor é um Renault, do Daphine, mas não sei detalhes sobre sua origem, mas sobre o que fizeram dele, afinal ele desenvolveu até o CHT, aquele motor Ford que chegou a equipar alguns Volks.
O motor era 800 cm³, 4 cilindros 4 tempos (OHV), muito robusto.
Para equipar o Gordini ele virou um 1.0, com seus famosos “40 hp de emoção”.
A Renault estava desenvolvendo um carro pequeno popular quando sua fábrica brasileira foi comprada pela Ford, e o projeto pela metade foi comprado junto. O motor que equipava ese carro era o mesmo do Gordini, mas com cilindrada aumentada para 1.300 cm³. Era o Corcel, que inclusive foi lançado pela Renault na Europa, tem algumas fotos no site Best Cars (www.bcws.com.br) se quiserem ver.
O motor ainda aumentou para 1.4 com o Corcel II, e mais tarde recebeu uma tecnologia americana, recebendo uma caixa de admissão de alta turbulência e a cilindrada ainda aumentada para 1600 cm³, o dobro do motor original do Daphine.
essa tecnologia tinha a sigla de CHT, e esse foi o nome adotadp aqui no Brasil, equipando o Del Rey (um Corcel II luxuoso).
Com a Auto Latina esse motor foi levemente revisto (com peças móveis reequilibradas) pela Volkswagen, e equipou o Escort, o Gol, a Parati e o Voyage ainda. Foi um sucesso de vendas.

Com o fim da Auto Latina a Ford precisava de um motor novo, e aplicou a tecnologia dos Zetec europeus nesse motor.
Na verdade não nesse motor, era um projeto novo (coisa rara aqui no Brasil) mas a geometria foi toda aproveitada, sendo que o “kit” dos motres são parecidíssimos.
Mas o Zetec 1.6 é moderníssimo, um dos mais modernos profduzidos nessa cilindrada: É OHC, tem comando de válvulas com balancins roletados (Rocam), e gera um bom nível de potência, sendo um dos flex modernos que usa maior taxa de compressão.

Ney
Ney
18 anos atrás

Pedro, gostei do teu texto, sobre os motores VW. Recordou-me, quando citaste as “emendas” de cilindro, no comprimento, de um motor DKW (agora o Flávio se interessou), feito no Rio, há uns bons 42 anos, motor esse, quer foi emendado em mais um cilindro. Resultado: 4 cilindros em 2T, com cilindrada aproximada de 1240cc, potência (chutando), de uns 105 HP, quando funcionava bem. Tá na cara que deu mil problemas, e foi logo logo aposentado. O autor da façanha foi um piloto, por sinal rápido, chamado Celso Gerbassi. Ele colocou o dito num Malzone GT, e chegou a ganhar uma prova do campeonato carioca, lá pelos idos de 1966, ou 67, andando contra Alfas GTA, e outros bichos. Tempinho bão…

Peter Nederlander
Peter Nederlander
18 anos atrás

Falando nisso, quem conhece as coisas dos Gordinis e Dauphines por aqui?
Outro dia vi um azul conservadíssimo na Ponte do Limão em SP, a pulga é minuscula mas ter 4 portas…

Peter Nederlander
Peter Nederlander
18 anos atrás

Puts, esse Pedro conhece tudo, valeu mesmo, impressionante!!!

Feliz 2006 a todos.

Maurice Stambouli
Maurice Stambouli
18 anos atrás

Aplaudo teu conhecimento a respeito do desenvolvimento da indústria automobiliística. Isto é um dom. Parabéns. Que aula !

PedroJungbluth
PedroJungbluth
18 anos atrás

Konrad von Swalwagne:

Bem, não tenho informações absolutas sobre isso.
Que o motor serviu de base ao projeto seguinte, e depois, esse novo projeto serviu de base à outros, isso sim.
O motor seguinte, pra ter uma idéia, era um 4 cilindros 1.5, que equipou o Passat em seu lançamento no Brasil.
Aqui chamam de MD270, não sei se era assim lá.
Esse motor era o mesmo que a Audi tinha desenvolvido com a Mercedes para o lançamento de 1968, que a Volks comprou pronto.

Aqui no Brasil esse motor foi desenvolvido mantendo a base de bloco e cabeçote, pois era muito moderno para nossos padrões.
Já na Alemanha eles criaram outras “famílias” baseadas nesse mesmo motor, ou seja era igual, mas maior, com bloco mais “longo”, podendo desenvolver cilindradas maiores. Lógico que na Alemanha os motores possuem um investimento financeiro grande, o que faz um motor ser reprojetado a cada geração, e não apenas desenvolvido.
Isso tira um pouco da linhagem dele.

O motor que ficou no Brasil teve sua cilindrada aumentada até 1.8, e chegou a equipar o Santana, mas era muito ruim mesmo. Ficou conhecido aqui como “bielinha”. Como o bloco era muito pequeno, a biela era curta para a cilindrada maior.
Como perceberam o motor ruim, resolveram “importar” da Alemanha toda a geometria do motor.
Assim nasceu aqui o motor AP, que era um motor antigo com geometria muito moderna, até para os padrões atuais. Eles eram na Alemanha os EA 827, que tiveram versão até 1.8 na Alemanha, e que aqui foram “esticados” até 2.0, pra variar.

Mas calma lá, já chego onde você perguntou, espere um pouco…

Para chegar no conceito dos W16 quadriturbo que equipam o Veyron, temos que ver 3 conceitos adicionais:

Primeiro seriam as “famílias” de motores maiores, recebendo cilindradas bem altas, mesmo na configuração 4 cilindros. Ma so mais importante são os conceitos VR e de “emenda” de bancadas “em linha” para “Vs”:

1º Na Alemanha eles fizeram uma coisa bem simples com esse motor de 4 cilindros: Colocaram mais um cilindro!
Assim, um motor 1.8 chegou a 2.3!!

Esse motor recebeu turbo, e ficou realmente muito forte. O Senna teve um Audi S2 (a qual ele inclusive deu voltas ao contrário em Interlagos) que tinha um motor 2.3 turbo com cinco cilindros!

Bem, mas esse motor tinha um problema para poder equipar carros pequenos, como o Golf: Ele era muito comprido por causa do cilindro extra.

Então os engenheiros da Volks desenvolveram o conceito VR5, um motor meio termo entre um V e um em linha.
Esse motor tem sua bancada em “V”, com dois cilindros para um lado e três para outro. Mas esse “V” tem um ângulo tão fechado que o motor usa apenas um cabeçote para todos os 5 cilindros.
Fica um motor com os cilindros bem “encaixados”, mais curto e cabendo nos cofres dos carros menores.

Com essa receita eles fizeram os mais variados motores. Logo nasceu o famoso VR6, que equipou alguns modelos importados aqui para o Brasil, e inclusive uma versão especial do Golf. Seguia a mesma receita do VR6, tinha bancadas de angulo próximo e apenas um cabeçote.

Outro conceito que a engenharia da Audi/Volks desenvoleu era utilizar motores em linha dobrados, formando motores V mais baratos de projetar, pois usavam a mesma geometria.
Assim os motores 4 cilindros base dos projetos era colocados em pares, num mesmo bloco em “V” e compartilhando o mesmo virabrequim. Resultado: Motores V8, muito usados atualmente pela Audi, até pela Volks. Lógico que em seu desenvolvimento os motores recebem geometrias diferentes, em especial por que os motores V8 podem ter mais cilindrada. Assim o Audi A8 teve durante um tempão um motor V8 4.2 biturbo, que fazia o carro atingir aceleração e velocidade máxima de Ferraris e Porsches, com todo seu tamanho!

Bem, esses dois conceitos foram unidos. Se podemos unir dois motores em linha para fazer um V, por que não unir dois VR para fazer um… “W”???

Assim começaram a fazer o motor W12, que mostrou ter muitos defeitos para corrigir.
Chegaram até a apresentar uma versão falsa, de madeira, num protótipo.

Mais tarde fizeram um carro com esse nome, era o Volkswagen W12, que foi a base para o Veyron.

Mas descobriram que o motor não seria o suficiente para fazer o carro atingir 400 km/h, então eles desenvolveram duas bancadas VR com oito cilindros cada, dando um motor de 16 cilindros em W, munido de 4 turbos (um para cada 4 cilindros).
A grande vantagem desse motor é ser compacto, não sua eficiência entre cilindrada e potência. Devido ao seu formato, ele só permite fluxo lateral, e tem sérios problemas de dissipassão de calor.
Mas o tamanho é incrível, já que ele tem o comprimento de um V8 tradicional e a largura um pouco maior que de um V8. seu formato mais quadrado permite que ele seja usado com bancadas com tantos cilindros, ainda mantendo a durabilidade para altas cilindradas.

Assim, fica claro que o motor é um desenvolvimento de longa data daquele 4 cilindros 1.5 de 1968, desenvolvido pela mercedes.
Se não fosse esse motor, a Volks teria se mantido com o boxer, e investido tudo nele, como fez a Porsche, que criou motores com 6 cilindros para eles, e refrigeração também com água no sistema.

Meu Deus, que texto longo! espero que depois dessa trabalheira alguém leia!!!

Maurice Stambouli
Maurice Stambouli
18 anos atrás

Olá Gomes,
Esquecí de comentar: O 1º carro que meu pai teve desde que chegamos no Brasil (1960), foi uma Vemaguet 1959. Azul marinho, estofamento vermelho e rodas (de ferro) pintadas de vermelho. Placa: 2-2449 SP1.
Depois de reformada ficou branca e rodas pintadas de aluminio.
Ficou 8 anos com este carro e depois o vendeu para o meu cunhado que ficou com ela´por mais 3 anos. Ou seja, “viveu” conosco por 11 anos. Saudades. Será que ela ainda existe? Eu a recompraria.
Abraços

Konrad von Swalwagne
Konrad von Swalwagne
18 anos atrás

Pedro,
Quer dizer então que todos os motores VW são de certo modo herdeiros de um motor Mercedes? Até mesmo o W16 e suas variantes?

Maurice Stambouli
Maurice Stambouli
18 anos atrás

Olá Flávio,
Ver um DKW neste estado me dá pena. Aliás, ver alguém maltratando um carro me dá pena. Os carros tem vida. Olha só a cara deles. Fiel quando se trata bem. Como um animal de estimação. Já viu aqueles que compram um carro só para bater nele com marreta, socos, pontapés? São uns recalcados. Caro é um companheiro, aliás, se eles falassem…… Não serve mais? aposenta com todas as pompas, mas não destruam. É uma vida…
Feliz 2006.
Abraços

Fabio RC
Fabio RC
18 anos atrás

Nos anos 80, um primo meu tinha un DKW, que a gente chamava carinhosamente de… peidona! Hehehehe. Tava inteiraço e andava bem. Mas é muito feio, o pobre. Gomes, vc gosta de umas coisas meio estranhas, hein? Sei que gosto nao se discute, mas fala sério, meu!

Abçs

PedroJungbluth
PedroJungbluth
18 anos atrás

pode ver, inclusive, como o primeiro Audi 80 é parecido com os Mercedes da época e como é diferente dos Audi/Volks posteriores.

PedroJungbluth
PedroJungbluth
18 anos atrás

Só uma coisa sobre a compra da Auto Union pela Volks: Quem ressucitou a marca foi a Mercedes, só que seu projeto só saiu depois da compra da Volks, o Audi 80 de 1968.
Além dos DKW, a Volks também acabou com os planos do motor Boxer4, aquele que você tanto chora.
No seu lugar os projetos usaram o motor Audi 4 cilindros de origem Mercedes que justamente equipou o primeiro Audi 80.

A Volks baseou nesse motor tudo que ela tem hoje, inclusive seus motores com 5 e 6 cilindors, além das variantes V6 e V8.
Papo besta, esse meu, né?

Sergio
Sergio
18 anos atrás

hahahahahahaha
ah, um DKW é bem mais simpático q uma kombi….