BLUE CLOUD, DIA 1
POÇOS DE CALDAS (longa quinta…) – Bem, fechamos a primeira noite com 59 carros. Acho que está bom, não? Saímos de São Paulo, eu e Crispim, bem cedo desta vez. Ano passado atrasei a caravana paulistana e levei broncas homéricas, com razão. Hoje (na verdade, já é ontem), às 8h estávamos no primeiro posto da Bandeirantes. Café rápido, últimos acertos, e partimos em cinco carros para Poços.
O dia estava bonito e frio. Fizemos apenas duas paradas, e na primeira delas avistamos dois Belcar na estrada. Saímos atrás deles, dois casais de Pelotas que estavam havia três dias na estrada, mas de 1.500 km, para ir ao Blue Cloud. Como cresceu, esse encontro… Coisa de doido.
A viagem transcorreu sem o menor problema com os sete carros que por volta das 12h30 chegaram ao Hotel Palace. Havia uma certa muvuca. Parece que a Globo está gravando aqui cenas de uma novela que ainda vai estrear, e aquele rapaz bonitão, Thiago Lacerda, é um dos atores. Centenas de adolescentes malucas cercaram o hotel para ver os atores e atrizes globais.
Como não tenho nada a ver com isso, estacionei a meia-um no local indicado e começou meu 12° BC.
A gente reencontra muitos amigos nestes dias. É uma delícia. Os assuntos não acabam nunca. Crispim foi sequestrado por fumacentos que, como sempre, o bombardearam com perguntas técnicas, históricas e filosóficas. Eu tratei de tirar umas fotos, almoçar, ver os carros, saber das novidades, aquelas coisas de sempre. E curtir meu quarto, que parece a suíte que Getulio Vargas usava quando ficava por aqui.
Neste ano, montamos uma área “social” numa das extremidades do parque, coberta, com bar e tudo. O cardápio, aliás, é o máximo. Tem Amendoim Auto Union, Fissore Mineiro, Pastel Vemaguet e Caldo Universal. Morram.
Já havia mais de 30 carros quando nossa turma chegou. De cara me chamou a atenção a surpresa do ano: um Candango Praiano montado pelo Davi Troncoso, de Brasília. O Praiano foi apresentado no Salão de 1960 pela Vemag. Nunca passou de um carro de exibição. Era um jipe “alegre”, com estofado e portas em padrão xadrez, capota sem fechamento nas laterais e atrás, o maior barato. Esse carro, nós vemagueiros só conhecíamos de duas fotos. Hoje, temos uma réplica exatamente igual. Uma coisa linda de doer.
Entre as surpresas deste 12° BC está o trio de Blumenau formado pelo Roberto, 94 anos, seu filho Otto e o mecânico Tenebroso. Eles vieram de avião, mas mandaram um Belcar 62 que tem uma história de arrepiar.
O Roberto comprou esse carro zero em 1962. Ficou com ele três anos, depois vendeu e seguiu a vida. Pois que há alguns anos o Otto teve um “insight” e resolveu achar o carro que fora de seu pai para dar de presente a ele — ah, não se enganem; o Roberto, aos 94 anos, é mais jovial que eu. O Belcar ficara 38 anos “perdido”, mas Otto encontrou quem comprara o carro de seu pai. Que já tinha vendido para outra pessoa, cujo endereço o filhote (modo de dizer, o cabra tem dois metros de altura!) conseguiu num papo de bar pelas redondezas, até descobrir o paradeiro do DKW: ele estava em Registro, no interior de São Paulo.
Otto foi atrás. O carro pertencia a um colecionador, que estranhou aquele rapaz aparecer do nada num dia de semana, perguntando de DKWs. Simpático, mostrou o que tinha. E na garagem apareceu ele: o Belcar 1962 vermelho Tanganica, um tom bem escuro, quase vinho, num estado razoável, funcionando, mas com as marcas do tempo. Otto, então, pegou da bolsa um papel. Era o imposto de renda de seu pai de 1963, com o carro declarado, incluindo o número do chassi. E a nota fiscal. E o dono não acreditou quando confrontou os dados. Imediatamente, fez o que qualquer pessoa sensível faria: “É para seu pai? OK. O carro é seu. Mando amanhã mesmo uma plataforma entregá-lo na sua casa”. E, contou o Otto, o colecionador vendeu por um preço justo, e nem por um segundo sequer cogitou ficar com um carro que voltaria para seu primeiro dono mais de 50 anos depois.
O Belcar passou por uma restauração absolutamente impecável, e hoje é dirigido alegremente pelo Roberto pelas ruas de Blumenau. Roberto que, repito, tem 94 anos. E acabou de renovar sua carteira de motorista por mais três.
São essas histórias que fazem a vida valer a pena.
Ah, e teve também uma coisa engraçada. No meio da tarde, as adolescentes malucas gritavam tanto para ver o rapaz da TV que eu resolvi colocar um chapéu, meus lindos óculos escuros e saí na varanda acenando e mandando beijinhos. Todas as birutas me filmaram com seus celulares, gritaram meu nome loucamente (“Thiagooooooo!!!!”) e voltaram para casa felizes da vida.
Ou são cegas, ou são malucas, mesmo. Mas pelo menos sossegaram.
Ah, tem vídeo no ar, já, gravado na quarta-feira. Divirtam-se.
Amigos, 2016, ano que vem, se completam 80 anos da primeira corrida em Poços de Caldas. Seria uma boa referencia para um novo encontro em Poços de Caldas e uma homenagem aos pioneiros. Pensem no assunto. Um grande abraço a todos.
O filho do último dono do meu Belcar, quando carro de uso diário nos anos 70/80, de vez em quando me liga. Quer comprar o carro que aprendeu a dirigir. Estou guardando para ele…
Que história maravilhosa a do seu Roberto e do Otto!! Só esse relato já vale um Blue Cloud.
Sucesso, esse ano promete.
Esse evento vem se superando a cada ano que passa.
A presença sempre emocionante do Crispim, não pode faltar.
Valeu Flavio!
Sensacional.
Obrigado pelo relato e as muitas fotos. Fui muito a Poços de Caldas na infância, boas lembranças desse lugar. Se nos próximos encontros o Clube resolver convidar os Passat de novo, me avisa para eu me organizar. Boa curtição por aí!
Gomes, uma sugestão de bar pra se conhecer em Poços:
http://drinksandparts.blogspot.com.br/
é um lugar muito interessante, um galpão com muita coisa com motor antiga, música boa, etc. O Flávio, dono, é super gente boa e trabalha com restauro de motos antigas, me parece.
só não dou garantia que está ainda em funcionamento, toquei lá em 2012.
Chapeuzinho de “viagem”.
Rapaz, a quinta foto parece que foi tirada há décadas atrás. Muito legal.
Parabéns, Flavio, que post! O texto é irresistível, transborda vida e paixão, sensacional. Fotos ótimas, carros lindos, personagens incríveis. O leitor está gratificado. Bravo!
Legal Fg, mas nao faça selfies porque selfies sao ridiculos!!!!
Flávio,
Desculpe se eu estiver chovendo no molhado, pois não conheço o evento. Má gostaria de sugerir um minuto de “popopó”. Todos os carros ligados ao mesmo tempo nessa praça dando umas aceleradas ficaria genial.
Rapaz, que coisa legal. Dá vontade de comprar um desse só pra ir no próximo encontro.
Alguém vendendo?
Ouvi por aí que o Alonso está vendendo um.
PARABÉNS POR TUDO,LINDA HISTÓRIA E AS FOTOS MUITO BONITAS TB.
ABÇ
Parabéns pelo evento, pelas fotos esta sendo ótimo.
Se o encontro já é sensacional, e essa história do Roberto e Otto? Não chega a ser inédita, mas é linda, parabéns a essa família e seu DKW imortal!
“…E o dono não acreditou quando confrontou os dados. Imediatamente, fez o que qualquer pessoa sensível faria: “É para seu pai? OK. O carro é seu. Mando amanhã mesmo uma plataforma entregá-lo na sua casa”. E, contou o Otto, o colecionador vendeu por um preço justo, e nem por um segundo sequer cogitou ficar com um carro que voltaria para seu primeiro dono mais de 50 anos depois.”
Emocionante. Parabéns ao Otto, ao Roberto e ao antigo dono do Belcar.
Flavio….. parabéns pelo texto, pela participação no encontro e principalmente pela historia do Sr. Roberto de 94 anos…. na foto não aparenta mais que 75.
isso mostra que viver perto da família, amigos e da sua historia de vida, rejuvenesce.
um ótimo final de semana para todos por ai.
Legal… bom final de semana! Qualidade do Ar em Poços de Caldas: Esfumaçado.
Flávio,
Meus parabéns por esta história maravilhosa do seu Roberto!
E os carros são lindos amigo. Sou de São João da Boa Vista, pertinho de Poços e te digo que essa cidade é maravilhosa, sempre vamos lá curtir a cidade no fás. Pena que este do encontro de DKWs não poderei ir pois estou viajando a trabalho pela empresa.
Sou amante de carros antigos e de antiguidades e possuo um VW Sedan 1300 1969 verde folha.
Parabéns pelo seu blog, sou leitor assíduo e fã das suas aventuras.
Forte abraço,
Serafim
FG,
Sou colaborador de uma pequena revista editada em Santa Catarina, a MotorMachine. Na oitava edição o Otto Baier contou a história do DKW Belcar 1962 de seu pai Roberto. Muito legal.
Agora na nona edição saiu a primeira parte de uma entrevista com o Chico Lameirão. São três páginas deliciosas de ler.
A MotorMachine já entrevistou também o Alex Dias Ribeiro e o Bird Clemente.
Se eu conseguir ir para Poços de Caldas no domingo, levo alguns exemplares para distribuir.
Desejo aos participantes um excelente Blue Cloud!
JT
Vale um bate volta.
Olha isso FG
http://www.flatout.com.br/lada-facts-hora-de-acabar-com-o-bullying-contra-os-lada/
Posta mais fotos, muitas fotos.
E vê se consegue uma foto em que você seja a pessoa mais alta nela.
Show essa história do Seu Roberto e o Belcar 62. E essa cor então? Fantástico!
FG estou em Alfenas, 100km de Poços, porém meu serviço só me permite folga no domingo, o encontro vai até quando, grato.
Sensacional . Poços é muito bacana . O clima e a atmosfera conspiram para deixar o evento ainda mais legal . Parabéns aos envolvidos . São uns loucos apaixonados .
Que massa cara…quem gosta de carros se emociona!
Parabéns ao filho dedicado! E ao dono anterior, um senhor muito honrado sem dúvida.
Sensacional! Sobre as histórias de Getúlio Vargas aqui em Poços de Caldas (e todas as outras da história local), o jornalista Roberto Tereziano é quem pode te contar coisas fantásticas da Estância (trata-se de um dos sujeitos mais extraordinários desta cidade: humilde, extremamente culto, educado). Aliás, acabei de ligar para a TV Plan, pedindo para que você, Flávio Gomes, seja o entrevistado do Jornal do Meio Dia. Eles ficaram interessados e devem te ligar, e, aí, por favor, aceite: vocês dois em uma única entrevista é algo para gravar e guardar para todo o sempre!
Uai sô, que coisa de doidô, que trem bacana.
Essa historia do DKW do seu Roberto é incrível, coisa de quem tem paixão pelas máquinas mesmo, pena que eu não possa fazer o mesmo e achar o “azarado” que foi o primeiro DKW do meu pai, era um 1959 vermelho tijolo com teto de cor clara, o nome se deve ao fato de que de vez em quando ele dava uns sustos no pessoal; na primeira viagem que meu pai fez com ele(levando meus avós de Capinzal para Lages para me ver), ele capotou o carro em uma curva, ninguem se machucou, mas meu avo ficou reclamando que perdeu o chapéu, e ainda teve muitas outras histórias desse DKW, acho que de tantas batidas que ele levou já deve ter sido sucateado…
Que beleza, hein?
Parabéns pela iniciativa, olha só no que deu! Eu também já fui entusista de eventos ligados as motos clássicas, organizando exposições e passeios com os aficcionados aqui pela região.
Fica aqui um palpite: que tal mudar um pouco o evento de cidade, vindo aqui para Águas de São Pedro SP no próximo ano? Para facilitar as coisas, está para sair mais um trecho da duplicação da estrada até Águas, uma segurança a mais. A estrutura turística é tão boa quanto (ou melhor…) que a de Poços e já acontece por aqui, há muito tempo, o evento do pessoal do Pick Ups Club. Pense com carinho, um abraço!
Flávio,
Não esqueça de ir jantar na Cantina do Araujo e deixar uma foto sua lá na parede.
Cara, vc eh baixinho mesmo, hein?
Nossa, que constatação genial. E você, é alto?