POUTINES (3)

SÃO PAULO (mas não tínhamos um campeonato?) – OK, houve várias ultrapassagens, não foi um porre completo porque Vettel e Massa saíram lá de trás, teve uma barbeiragem maneira do Grosjean para cima do Stevens e, sobretudo, rolou um rádio engraçado do Alonso com a McLaren.

Mas não teve o diabo do Rosberguinho tentando alguma coisa sobre Comandante Amilton, o que dá nos nervos. Porra, a corrida inteira, ou quase toda, a menos de dois segundos do cara, dá uma apertada, uma fritada de pneu no cangote dele, puxa para um lado e para o outro, mostra que existe, rapaz!

Que nada, Nico só ganha quando tudo encaixa muito direitinho desde o início, ou se o rival fizer alguma cagada, como em Mônaco. Mas o início do GP do Canadá foi de Hamilton, que pulou na frente e só parou para o abraço. E para um pit stop de praxe. Então, necas de Rosberg. Escolta, como de hábito.

Haverá aqueles que desligaram a TV cheios de alegria pelo show de Massa. Foi o que disse a TV, pelo menos, que foi um show de Massa. O Grande Prêmio também. Gente, foi não. Legal, ele saiu em 15º e chegou em sexto, mas se o que ele fez foi um show, e Tião Italiano? De 18º para quinto, e com duas paradas. Espetáculo? Milagre?

Nem um nem outro deu show no sentido bíblico da palavra — que envolve julgamento, calvário, crucificação e ressurreição. Levemos em conta o fato de que Williams e Ferrari, num circuito como o de Montreal, passariam todos que encontrassem pela frente, exceção feita aos carros da Mercedes, com quem não teriam nenhum contato visual. Felipe e Sebastian tiveram problemas nos treinos, por isso largaram atrás. E por isso tiveram um pouco mais de trabalho do que o normal para terminar mais ou menos onde terminariam se tivessem largado, sei lá, em quinto e sexto.

Vettel, possivelmente, chegaria ao pódio se sua classificação tivesse sido normal. Raikkonen, que largou em terceiro, só não acabou ali porque rodou sozinho na volta 28, depois de seu primeiro pit stop — ele, como o companheiro, parou duas vezes. Ali perdeu a posição definitivamente para Sapattos que, seguro e competente como sempre, levou seu carro ao terceiro lugar para se tornar o primeiro não-Mercedes e não-Ferrari do ano a levar um trofeuzinho — no caso do dele, uma miniatura, mesmo, nunca vi um troféu de terceiro lugar ser tão menor que o do vencedor, Bottas deve ter colocado no bolso do macacão.

[bannergoogle] Massa fez várias ultrapassagens, ninguém nega. Algumas bem bonitas como uma sobre… Sonyericsson! OK, foi legal, lado a lado e tal, mas não precisa ir pra Paulista comemorar. A Sauber está dando pena. A pé, Usain Bolt janta qualquer carro da Sauber. Depois, Felipe I se valeu da potência mercêdica para passar sem problemas por gente que não anda bem das pernas, como Ricardão — que parou de sorrir –, Pérez, Kvyat…

O brasileiro, que largou com pneus macios (a maioria foi à luta com supergosmentos), segurou a onda até a volta 38. Na 36ª, começou a perder as posições que havia escalado com ultrapassagens e com as paradas dos outros. Grojã, por exemplo, passou por ele enquanto o narrador, entusiasmadíssimo, gritava que ele estava “chegando para pressionar o Grosjean”.

Sorte que Felipe I não acreditou em tamanha euforia, tanto que trocou seus pneus, voltou em nono, passou de novo alguns cabras, herdou a posição de Grosjean — que lá pela volta 50 conseguiu bater no carro manor-marússico de Stevens, foi punido, caiu para 11º e terminou em décimo –, a de Hülkenberg — rodou numa disputa com Vettel –, e recebeu a bandeirada em sexto, nada além de sua obrigação. Como nada além da obrigação fez Vettel, uma posição à frente. Show é outra coisa. Show vai ser do America no dia 21 no Citibank Hall, mas o ingresso é caro pacas.

Uma das zoeiras da corrida foi Alonso dificultando para Vettel duas vezes. Até a McLaren dizer para ele economizar combustível. Fernandinho mandou a equipe à merda, disse que não iria economizar nada, que o deixassem em paz, e avisaram que se ele não economizasse, poderia ter problemas no fim da corrida. “Nós já temos grandes problemas”, respondeu um desanimado Alonso. “Eles me mandaram economizar combustível na primeira volta. Nós temos 35 km/h menos que a Ferrari nas retas. Depois de três mensagens pedi para me deixarem correr.”

A coisa anda feia demais. Button foi lapeado por Hamilton na 22ª volta. Lapeado é verbo que inventei agora. Eu lapeio, tu lapeias, ele lapeia. Nós lapeamos, vós lapeais, eles lapeiam. Particípio passado: lapeado. É verbo regular, não abundante.

No fim das contas, Alonso e Button abandonaram com alegados problemas de… escapamento. Fernando, em entrevistas, declarou estar feliz por ter “segurado uma Ferrari com uma Minardi” por algumas voltas, elogiou o motor Asiatech, disse esperar por evoluções “para a corrida de Magny-Cours” e prometeu resolver sua situação até a pausa do verão. “Essas coisas que vocês ficam falando da Benetton são boatos, gostaria que me deixassem em paz.”

Outra decepção foi mesmo Kimi, depois da já citada rodada. Acabara de sair dos boxes em quarto, colado em Bottas, iria passar e teria como fazer uma segunda parada para chegar em terceiro, mas nessa barbeiragem perdeu muito tempo, Valtteri descolou e acabou a brincadeira. A Ferrari não ficou muito satisfeita.

As paradas únicas de Sapattos, Comandante Amilton e Rosberguinho aconteceram, respectivamente nas voltas 29, 30 e 31. Nico manteve Hamilton em seu campo de visão o tempo todo, trocou uma palavra ou outra com a equipe pelo rádio, ouviu que os freios estavam mais ou menos, apertou um pouco, afrouxou outro pouco, mas em nenhum momento demonstrou grande apetite pela vitória.

Por isso Lewis ganhou pela quarta vez no ano, quarta no Canadá, 37ª na carreira. Foi a 151 pontos, contra 134 de Rosberguinho. Bottas, o terceiro colocado na corrida, tem agora 57 pontos e é o quinto colocado. A zona pontífica teve ainda, a partir do quarto, pela ordem: Kimi Disse Que Não Erro, Tião Italiano, Massacrado, Maldanado, Hulk, K-Vyado e Grojã.

Bem previsível, no fim das contas, este GP canadiano. Como será a maioria das provas deste ano. Nem chover chove mais.