SOBRE ONTEM À TARDE
A IMAGEM DA CORRIDA

SÃO PAULO (mais ou menos…) – Quando não tem nada de muito marcante, sempre fico em dúvida sobre qual foto usar para ilustrar um GP — aquela imagem única, emblemática, esteticamente incrível, dessas que só o bom fotojornalismo produz. Do pacotão da corrida de ontem em Austin, poderia colocar aqui alguma coisa da Williams, que fez pontos com dois carros pela primeira vez desde a Hungria/2021 (Latifi foi sétimo e Russell, oitavo!). Ou mesmo um retratinho de Tsunoda com chapéu de caubói, porque desde o GP da China de 2012 que um japonês não fazia a melhor volta de uma corrida — no caso, Kamui Kobayashi, então na Sauber. Verstappen comemorando? Putz, foi a 15ª vitória no ano. Repetitivo. Bandeirada? Idem. Pódio? Não são espetaculares, as fotos de pódio. Em geral, protocolares.
Então, fiquemos com o “breaking” da F-1, uma coisa meio institucional, mas importante. Quase quatro horas depois da prova saiu a decisão que desclassificou Hamilton e Leclerc. Como o inglês chegou em segundo e fez sua melhor corrida no ano, tem um peso. Mexeu forte, inclusive, na classificação do Mundial.
Lewis não deu muita bola para a perda de um troféu — tem muitos. E regra é regra, como disse Toto Wolff. No caso, medir o desgaste da prancha de madeira exige apenas uma régua numa mão e o regulamento no outro. Quanto pode? Um milímetro? Se for mais, tá fora. Um centímetro? Se for menos, tá dentro. Não tem muita discussão. Tanto que Mercedes e Ferrari nem discutiram. E Lewis mandou…
A FRASE DE AUSTIN
“É claro que é chato ser desclassificado depois da corrida. Mas isso não apaga nem um pouco o progresso que fizemos neste fim de semana.”
LEWIS HAMILTON

Muita gente na Mercedes acha até que Hamilton poderia lutar pela vitória em Austin. Ele terminou a prova apenas 2s225 atrás de Verstappen. Sim, sabemos que Max largou em sexto e Lewis, em terceiro. Ainda assim, talvez uma estratégia mais refinada pudesse colocar o inglês na briga de verdade. O problema é que a Mercedes saiu para uma parada. E quando resolveu mudar para duas, esticou o primeiro stint de Hamilton cerca de três voltas, nas quais o desempenho dos pneus caiu barbaramente.
Some-se a isso uma má largada e a perda de tempo num dos pit stops e, de fato, é possível que Hamilton pudesse ao menos sonhar com uma vitória, principalmente porque Verstappen tinha problemas de freios que prejudicaram seu ritmo.
Mas não esqueçam: sábado, em 19 voltas, Max enfiou 10s em Hamilton na Sprint. Ganhar dele, neste ano, só em circunstâncias muito especiais. As de Austin, como se viu, não foram suficientemente especiais.
O NÚMERO DOS EUA
30
…anos se passaram desde a última vez que um piloto estadunidense marcou pontos na F-1. A façanha foi de Michael Andretti, terceiro colocado no GP da Itália de 1993 pela McLaren. Ele, então, deixou a categoria. Com as desclassificações de Hamilton e Leclerc, Logan Sargeant, da Williams, subiu para décimo e fez seu primeiro pontinho no Mundial, encerrando o jejum dos EUA.


Depois de Andretti e antes de Sargeant, apenas dois norte-americanos (eu uso as duas formas, embora “estadunidense” seja mais preciso) correram na F-1: Scott Speed (28 GPs pela Toro Rosso em 2006 e 2007) e Alexander Rossi (cinco aparições em 2015 pela Marussia). Ambos passaram em branco.
A Williams saiu muito no lucro após a decisão dos comissários, já que seus dois pilotos subiram para a zona de pontos. Além de Sargeant, Albon também entrou — em nono. A equipe, de certa forma, corria em casa. Embora tenha sido fundada por um inglês e sua sede fique na Inglaterra, ela hoje pertence a um fundo de investimentos dos EUA.
E agora umas caixinhas, para animar a festa.
FITTI DENTRO – A segunda-feira foi de notícias envolvendo os “Fittipaldi Brothers”, como gostam de ser chamados nas redes sociais. Pietro vai correr na Indy, pela equipe RLL (Rahal Letterman Lanigan), uma ótima notícia para ele. Desde 2019 o rapaz ocupa a função de piloto de testes da Haas, mas nesse tempo todo conseguiu disputar apenas dois GPs — Sakhir e Abu Dhabi/2020, no lugar do chamuscado Romain Grosjean. Nunca foi considerado para uma vaga de titular. Paralelamente, correu no WEC, DTM, Stock, F-3 Asiática, ELMS, IMSA e até na própria Indy — fez seis provas em 2018 e mais três em 2021. Um saltimbanco que, agora, lança âncora nos EUA. Não foi oficializada sua saída da Haas. Mas será. Os calendários são incompatíveis.


FITTI FORA – Para seu irmão Enzo, as notícias não são tão boas. Helmut Marko avisou que o a Red Bull só terá dois pilotos na F-2 no ano que vem, o franco-argelino Isack Hadjar e o espanhol Josep María Martí. Enzo, portanto, deixa o programa de jovens talentos da marca de energéticos. A temporada da F-2 ainda não acabou, e o jovem Fittipaldi ainda não sabe se segue na categoria no ano que vem.
VAIAS – O público em Austin, formado em parte por imigrantes e/ou turistas mexicanos, vaiou Verstappen no pódio aos gritos de “Checo! Checo!”. Uma deselegância de torcedores fundamentalmente jecas — e os mexicanos são cafonas ao extremo em suas manifestações supostamente patrióticas. Max não se deu ao trabalho de comentar. O que Pérez teve a comemorar foi a desclassificação de Hamilton. Em segundo no Mundial, a diferença para o inglês tinha caído de 30 para 19 pontos. Como Lewis perdeu o segundo lugar na corrida, Checo subiu de quinto para quarto e, na tabela, abriu 39 pontos para o rival.




GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS
GOSTAMOS de ver Yuki Tsunoda chegando nos pontos e cumprindo a missão, na última volta, de fazer o ponto extra da melhor volta da corrida. Ele foi o décimo colocado na pista e subiu para oitavo com as desclassificações de Hamilton e Leclerc. “Quando me pediram para trocar pneu no fim, quase tive um ataque do coração!”, contou. Ele tinha alguma folga, e a AlphaTauri o chamou para colocar macios e cravar todo mundo. Cravou.


NÃO GOSTAMOS da estratégia de apenas uma parada para Charles Leclerc. Deu evidentemente errado. E a Ferrari não percebeu isso a tempo de mudar os planos — como fez a Mercedes, por exemplo. Largando na pole, o monegasco terminou em sexto. Para piorar, acabou desclassificado.