BANZAI (3)

SÃO PAULO (massacre) – Enquanto vocês aí dormiam, a Red Bull conquistava em Suzuka, de madrugada, o título mundial de construtores na F-1. Max Verstappen venceu o GP do Japão com absoluta tranquilidade, levando a equipe austríaca a 623 pontos na tabela. Não pode mais ser alcançada por ninguém nas seis etapas restantes da temporada. É a sexta taça do time, que antes vencera os campeonatos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2022.
Verstappen ganhou sua 13ª corrida em 16 etapas neste ano, recuperando-se muito rapidamente do mau desempenho da semana passada em Singapura. Foi a 48ª vitória da carreira do holandês, que deve confirmar matematicamente seu terceiro título no fim de semana da próxima prova, no Catar. O tricampeonato pode vir já no sábado de Losail, já que está prevista a realização da quarta Sprint do ano, prova curta que distribui pontos aos oito primeiros colocados. Max chegou a 400 pontos contra 223 de seu companheiro Sergio Pérez – que abandonou a prova de Suzuka. São 177 de diferença, com 180 ainda em disputa. O mexicano pode chegar a 403 se ganhar todas, incluindo as Sprints. Trocando em miúdos, Verstappen precisa de três míseros pontinhos no Catar para ser campeão. Um sexto lugar na minicorrida de sábado, dia 7 de outubro, é o suficiente.

O GP japonês começou com os oito primeiros no grid optando pelos pneus médios para a largada. Dali para trás, médios e macios se alternaram entre os coadjuvantes da corrida. Fazia muito calor: sol 27°C, 44°C no asfalto. Verstappen largou se defendendo de Oscar Piastri, com quem dividiu a primeira fila, e quando olhou para o outro lado viu Lando Norris tentando passar os dois. Jogou o carro para a esquerda, mergulhou feito um louco na sequência de “esses” (plural de “S”, se me entendem) e conseguiu se manter à frente de ambos.
Mas houve toques aqui e ali. Pérez bateu em Lewis Hamilton. Valtteri Bottas, em Alexander Albon. Pedaços de carros ficaram espalhados pelo asfalto e a direção de prova chamou o safety-car para poder limpar a pista. O mexicano da Red Bull teve de ir para os boxes trocar o bico. Bottas também parou para fazer um martelinho de ouro e arrumar o que fosse possível. Esteban Ocon, Guanyu Zhou e Albon também trocaram pneus.
No final da quarta volta o safety-car foi embora e a corrida começou para valer. Verstappen, como de hábito, relargou muito bem. Em sétimo e oitavo, Hamilton e George Russell bateram rodas, com o primeiro perdendo a posição e recuperando logo depois. Pouco antes, Logan Sargeant, com sua proverbial habilidade, bateu em Bottas. Já que será demitido mesmo, ninguém mais duvida disso, que seja com estilo. Valtteri abandonou. Logan tomou um pênalti.

Max desapareceu na frente quando a prova foi retomada. Em dez voltas, já tinha mais de 3s de vantagem para Norris, o segundo. Piastri, Charles Leclerc, Carlos Sainz, Fernando Alonso, Hamilton, Russell, Liam Lawson e Lance Stroll eram os dez primeiros. A turma dos pneus macios começou a parar nessa hora. Yuki Tsunoda e Lawson foram os primeiros. Alonso colocou pneus duros na volta 12. Mais para trás, Pérez abusava das bobagens. Tinha tomado um pênalti por passar alguns carros sob safety-car. Depois, bateu em Kevin Magnussen. Pediu um novo bico e parou outra vez. Cortou a linha de entrada dos boxes. Era um festival de atrocidades sem precedentes. “O carro não está legal”, informou, pelo rádio. “Ah, não diga, Checo”, falou seu engenheiro. “Só porque você bateu no Hamilton, depois no Magnussen, depois passou o safety-car, depois cortou a linha de entrada no box, entornou pimenta na porção de guacamole e encheu a cara de tequila?” Foi chamado para o pit-lane e guardou o carro na garagem.
Piastri tinha parado na volta 14, colocou pneus duros e caiu de terceiro para nono. Verstappen foi para os boxes na 17ª e repetiu os médios. Hamilton e Russell seguiam numa luta fratricida. George reclamou. “Vejam, amigos. Disputamos o mesmo campeonato, nascemos no mesmo país, defendemos a mesma equipe. Lewis é mais velho, ganhou sete títulos, é experiente e respeitado por suas posições progressistas e, por que não dizer?, populares. Reconheço. Mas isso, e só isso, daria o direito a ele de me tratar desta maneira tão, como posso definir…, rude? Vejam, amigos. Sou jovem. Dedicado. Tenho defeitos, mas algumas qualidades, também. Amarguei três anos numa equipe, como posso definir…, pífia! Resiliente, aguardei minha vez. E justo agora que encontrei meu lugar ao sol…”, e então foi interrompido por Toto Wolff, que nem foi a Suzuka e estava se recuperando em casa de uma cirurgia no joelho. Pelo telefone, entrou no rádio da equipe e disparou: “George, dá para calar a boca?”. “Oh, Toto! Como está o seu joelho?”, Russell, atencioso, perguntou. “Doendo. E o seu vai ficar igual se não ficar quieto.”

Enquanto tudo isso acontecia no rádio e no telefone, Russell assumiu a liderança da corrida, sem pit stop. Mas Verstappen logo retomou a ponta e o inglês entrou no rádio de novo para falar sobre aquela que considerava a melhor estratégia de pneus. Como a conversa seria longa, colocaram o fone no rapaz que serve amendoim no paddock e pediram a ele para fingir que era o engenheiro. “Quando ele decidir parar, você avisa a gente.”
George parou na volta 25, colocou pneus duros, voltou em nono, e a vida seguiu. Com apenas um carro na pista sem trocar pneus, o de Ocon, Verstappen, Piastri e Norris eram os três primeiros. O holandês, 12s à frente do australiano. Lando, por sua vez, colado no companheiro de equipe. E os dois começaram a brigar. A McLaren percebeu que eles estavam quase se atracando e pediu a Oscar que saísse da frente. Assim foi.
Era uma corrida de muitos abandonos. Na volta 27, a Williams solicitou a Albon que encostasse o carro. Sargeant, Stroll, Pérez e Bottas já haviam desistido. Mas o mexicano da Red Bull continuava dentro do cockpit. “Posso sair agora?”, pediu, enquanto os mecânicos mexiam em seu carro – ou fingiam mexer. “Não, agora você vai ficar aí até acabar a corrida. Vai que você sai, tropeça em algum cabo de computador, desliga tudo. Fica aí”, ordenou Christian Horner. “Mas eu quero ir no banheiro”, reclamou o piloto. “Número um ou dois?” “Um.” “Claro, porque o dois você já fez hoje várias vezes…”, encerrou o chefe. Ele ficou no carro.

Na volta 35 começaram as segundas paradas previstas para a maioria: Hamilton, Leclerc, Pierre Gasly, Piastri, Norris, todos foram para os boxes. Verstappen parou na volta 37. Viu Pérez na garagem ao lado e perguntou o que ele estava fazendo lá. “Vendo você na TV para aprender, colocamos sua on-board no monitor”, respondeu Horner, sem muita paciência. No entra e sai dos boxes da segunda bateria de pit stops, quem se deu bem foi Hamilton, que ganhou a posição de Sainz, se colocando em sexto entre os dois carros da Ferrari. Aí, na volta 40, a Red Bull mandou Pérez sair. “Até que enfim!”, falou o piloto, aliviado, já começando a soltar o cinto de segurança. “Não, cabrón. É para sair dos boxes, não do carro. Vai pra pista e não faz nenhuma pergunta. E fica longe do Max!” Ele foi, não deu nem uma volta inteira e retornou para a garagem. “Posso ir no banheiro agora?” A equipe, enfim, liberou.
Nas últimas voltas, Russell, com apenas uma parada, perdeu o terceiro lugar para Piastri e, depois, o quarto para Leclerc. Hamilton também chegou no parceiro. Mas demorou para passar, o que permitiu a aproximação de Sainz. Então a Mercedes mandou George sair da frente de Lewis. Na volta seguinte, a 50ª das 53 da corrida, o espanhol da Ferrari fez a ultrapassagem e deixou Russell em sétimo.



Verstappen ganhou a corrida com quase 20s de vantagem para Norris e ainda fez a melhor volta da prova, marcando os 26 pontos possíveis em Suzuka. Piastri foi o terceiro, subindo ao pódio pela primeira vez na carreira. Leclerc, Hamilton, Sainz, Russell, Alonso, Ocon e Gasly foram os demais que pontuaram no Japão.
No pódio, Max deu um beijinho num troféu cheio de tecnologia que, submetido ao ósculo, se coloriu de leds com as cores da bandeira da Holanda para festejar a vitória. A dupla da McLaren comemorou bastante e com os 33 pontos somados no Japão o time papaia foi a 172, descontando 29 da Aston Martin — ainda em quarto lugar entre as equipes com 221. Nesse ritmo, vai acabar passando. Mercedes (305) e Ferrari (285) permanecem brigando pelo vice ponto a ponto.

A Reb Bull celebrou a conquista com a serenidade das grandes campeãs. O time, que estreou em 2005 depois de comprar a Jaguar, que pertencia à Ford, está em sua 19ª temporada na F-1. Ganhou seis Mundiais e foi vice cinco vezes. Tem 107 vitórias e só não venceu mais GPs do que Ferrari (243), McLaren (183), Mercedes (125) e Williams (114).
É uma trajetória de tirar o chapéu.