BANZAI (3)

Verstappen comemora com seus mecânicos: sexto título da Red Bull

SÃO PAULO (massacre) – Enquanto vocês aí dormiam, a Red Bull conquistava em Suzuka, de madrugada, o título mundial de construtores na F-1. Max Verstappen venceu o GP do Japão com absoluta tranquilidade, levando a equipe austríaca a 623 pontos na tabela. Não pode mais ser alcançada por ninguém nas seis etapas restantes da temporada. É a sexta taça do time, que antes vencera os campeonatos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2022.

Verstappen ganhou sua 13ª corrida em 16 etapas neste ano, recuperando-se muito rapidamente do mau desempenho da semana passada em Singapura. Foi a 48ª vitória da carreira do holandês, que deve confirmar matematicamente seu terceiro título no fim de semana da próxima prova, no Catar. O tricampeonato pode vir já no sábado de Losail, já que está prevista a realização da quarta Sprint do ano, prova curta que distribui pontos aos oito primeiros colocados. Max chegou a 400 pontos contra 223 de seu companheiro Sergio Pérez – que abandonou a prova de Suzuka. São 177 de diferença, com 180 ainda em disputa. O mexicano pode chegar a 403 se ganhar todas, incluindo as Sprints. Trocando em miúdos, Verstappen precisa de três míseros pontinhos no Catar para ser campeão. Um sexto lugar na minicorrida de sábado, dia 7 de outubro, é o suficiente.

Largada em Suzuka: ataque dos dois carros da McLaren

O GP japonês começou com os oito primeiros no grid optando pelos pneus médios para a largada. Dali para trás, médios e macios se alternaram entre os coadjuvantes da corrida. Fazia muito calor: sol 27°C, 44°C no asfalto. Verstappen largou se defendendo de Oscar Piastri, com quem dividiu a primeira fila, e quando olhou para o outro lado viu Lando Norris tentando passar os dois. Jogou o carro para a esquerda, mergulhou feito um louco na sequência de “esses” (plural de “S”, se me entendem) e conseguiu se manter à frente de ambos.

Mas houve toques aqui e ali. Pérez bateu em Lewis Hamilton. Valtteri Bottas, em Alexander Albon. Pedaços de carros ficaram espalhados pelo asfalto e a direção de prova chamou o safety-car para poder limpar a pista. O mexicano da Red Bull teve de ir para os boxes trocar o bico. Bottas também parou para fazer um martelinho de ouro e arrumar o que fosse possível. Esteban Ocon, Guanyu Zhou e Albon também trocaram pneus.

No final da quarta volta o safety-car foi embora e a corrida começou para valer. Verstappen, como de hábito, relargou muito bem. Em sétimo e oitavo, Hamilton e George Russell bateram rodas, com o primeiro perdendo a posição e recuperando logo depois. Pouco antes, Logan Sargeant, com sua proverbial habilidade, bateu em Bottas. Já que será demitido mesmo, ninguém mais duvida disso, que seja com estilo. Valtteri abandonou. Logan tomou um pênalti.

Sainz, sexto: Ferrari teve atuação discreta

Max desapareceu na frente quando a prova foi retomada. Em dez voltas, já tinha mais de 3s de vantagem para Norris, o segundo. Piastri, Charles Leclerc, Carlos Sainz, Fernando Alonso, Hamilton, Russell, Liam Lawson e Lance Stroll eram os dez primeiros. A turma dos pneus macios começou a parar nessa hora. Yuki Tsunoda e Lawson foram os primeiros. Alonso colocou pneus duros na volta 12. Mais para trás, Pérez abusava das bobagens. Tinha tomado um pênalti por passar alguns carros sob safety-car. Depois, bateu em Kevin Magnussen. Pediu um novo bico e parou outra vez. Cortou a linha de entrada dos boxes. Era um festival de atrocidades sem precedentes. “O carro não está legal”, informou, pelo rádio. “Ah, não diga, Checo”, falou seu engenheiro. “Só porque você bateu no Hamilton, depois no Magnussen, depois passou o safety-car, depois cortou a linha de entrada no box, entornou pimenta na porção de guacamole e encheu a cara de tequila?” Foi chamado para o pit-lane e guardou o carro na garagem.

Piastri tinha parado na volta 14, colocou pneus duros e caiu de terceiro para nono. Verstappen foi para os boxes na 17ª e repetiu os médios. Hamilton e Russell seguiam numa luta fratricida. George reclamou. “Vejam, amigos. Disputamos o mesmo campeonato, nascemos no mesmo país, defendemos a mesma equipe. Lewis é mais velho, ganhou sete títulos, é experiente e respeitado por suas posições progressistas e, por que não dizer?, populares. Reconheço. Mas isso, e só isso, daria o direito a ele de me tratar desta maneira tão, como posso definir…, rude? Vejam, amigos. Sou jovem. Dedicado. Tenho defeitos, mas algumas qualidades, também. Amarguei três anos numa equipe, como posso definir…, pífia! Resiliente, aguardei minha vez. E justo agora que encontrei meu lugar ao sol…”, e então foi interrompido por Toto Wolff, que nem foi a Suzuka e estava se recuperando em casa de uma cirurgia no joelho. Pelo telefone, entrou no rádio da equipe e disparou: “George, dá para calar a boca?”. “Oh, Toto! Como está o seu joelho?”, Russell, atencioso, perguntou. “Doendo. E o seu vai ficar igual se não ficar quieto.”

Russell, uma parada: estratégia não deu muito certo

Enquanto tudo isso acontecia no rádio e no telefone, Russell assumiu a liderança da corrida, sem pit stop. Mas Verstappen logo retomou a ponta e o inglês entrou no rádio de novo para falar sobre aquela que considerava a melhor estratégia de pneus. Como a conversa seria longa, colocaram o fone no rapaz que serve amendoim no paddock e pediram a ele para fingir que era o engenheiro. “Quando ele decidir parar, você avisa a gente.”

George parou na volta 25, colocou pneus duros, voltou em nono, e a vida seguiu. Com apenas um carro na pista sem trocar pneus, o de Ocon, Verstappen, Piastri e Norris eram os três primeiros. O holandês, 12s à frente do australiano. Lando, por sua vez, colado no companheiro de equipe. E os dois começaram a brigar. A McLaren percebeu que eles estavam quase se atracando e pediu a Oscar que saísse da frente. Assim foi.

Era uma corrida de muitos abandonos. Na volta 27, a Williams solicitou a Albon que encostasse o carro. Sargeant, Stroll, Pérez e Bottas já haviam desistido. Mas o mexicano da Red Bull continuava dentro do cockpit. “Posso sair agora?”, pediu, enquanto os mecânicos mexiam em seu carro – ou fingiam mexer. “Não, agora você vai ficar aí até acabar a corrida. Vai que você sai, tropeça em algum cabo de computador, desliga tudo. Fica aí”, ordenou Christian Horner. “Mas eu quero ir no banheiro”, reclamou o piloto. “Número um ou dois?” “Um.” “Claro, porque o dois você já fez hoje várias vezes…”, encerrou o chefe. Ele ficou no carro.

Pérez: só não fez bobagem antes da largada

Na volta 35 começaram as segundas paradas previstas para a maioria: Hamilton, Leclerc, Pierre Gasly, Piastri, Norris, todos foram para os boxes. Verstappen parou na volta 37. Viu Pérez na garagem ao lado e perguntou o que ele estava fazendo lá. “Vendo você na TV para aprender, colocamos sua on-board no monitor”, respondeu Horner, sem muita paciência. No entra e sai dos boxes da segunda bateria de pit stops, quem se deu bem foi Hamilton, que ganhou a posição de Sainz, se colocando em sexto entre os dois carros da Ferrari. Aí, na volta 40, a Red Bull mandou Pérez sair. “Até que enfim!”, falou o piloto, aliviado, já começando a soltar o cinto de segurança. “Não, cabrón. É para sair dos boxes, não do carro. Vai pra pista e não faz nenhuma pergunta. E fica longe do Max!” Ele foi, não deu nem uma volta inteira e retornou para a garagem. “Posso ir no banheiro agora?” A equipe, enfim, liberou.

Nas últimas voltas, Russell, com apenas uma parada, perdeu o terceiro lugar para Piastri e, depois, o quarto para Leclerc. Hamilton também chegou no parceiro. Mas demorou para passar, o que permitiu a aproximação de Sainz. Então a Mercedes mandou George sair da frente de Lewis. Na volta seguinte, a 50ª das 53 da corrida, o espanhol da Ferrari fez a ultrapassagem e deixou Russell em sétimo.

Verstappen ganhou a corrida com quase 20s de vantagem para Norris e ainda fez a melhor volta da prova, marcando os 26 pontos possíveis em Suzuka. Piastri foi o terceiro, subindo ao pódio pela primeira vez na carreira. Leclerc, Hamilton, Sainz, Russell, Alonso, Ocon e Gasly foram os demais que pontuaram no Japão.

No pódio, Max deu um beijinho num troféu cheio de tecnologia que, submetido ao ósculo, se coloriu de leds com as cores da bandeira da Holanda para festejar a vitória. A dupla da McLaren comemorou bastante e com os 33 pontos somados no Japão o time papaia foi a 172, descontando 29 da Aston Martin — ainda em quarto lugar entre as equipes com 221. Nesse ritmo, vai acabar passando. Mercedes (305) e Ferrari (285) permanecem brigando pelo vice ponto a ponto.

Final em Suzuka: pódio duplo da McLaren

A Reb Bull celebrou a conquista com a serenidade das grandes campeãs. O time, que estreou em 2005 depois de comprar a Jaguar, que pertencia à Ford, está em sua 19ª temporada na F-1. Ganhou seis Mundiais e foi vice cinco vezes. Tem 107 vitórias e só não venceu mais GPs do que Ferrari (243), McLaren (183), Mercedes (125) e Williams (114).

É uma trajetória de tirar o chapéu.

Comentar

BANZAI (2)

Verstappen: olhar de quem não estava para brincadeira

SÃO PAULO (lógica é isso) – Bom, se alguém realmente achava que a Red Bull e Max Verstappen haviam mergulhado na obsolescência programada por causa de uma corrida, a de domingo passado em Marina Bay, talvez seja o caso de deixar de lado a conversinha boba sobre diretivas técnicas, trapaças e desconfianças para se render às evidências. O que aconteceu em Singapura foi algo totalmente anormal. E o normal é o que se viu nesta madrugada em Suzuka. Um domínio absoluto e esmagador do holandês e seu carro imbatível.

Verstappen fez a pole para o GP do Japão e larga na frente pela nona vez no ano, 29ª na carreira. Uma pole que o deixa ao lado de Juan Manuel Fangio nas estatísticas, empatado em nono lugar com o argentino pentacampeão mundial. Está em boa companhia.

Red Bull dominante: volta à normalidade

Como na sexta, o sábado foi quente e ensolarado em Suzuka, com os termômetros batendo nos 27°C na tarde japonesa. Lawson e Stroll abriram os trabalhos no Q1 e chamou a atenção a diferença do primeiro para o segundo: mais de 0s5 a favor do neozelandês. O canadense da Aston Martin tem sido uma decepção enorme. Nunca foi grande coisa, mas também não parecia ser tão ruim. Dá a impressão de que já não está nem aí com o brinquedo que ganhou do pai – uma equipe de F-1 só para ele.

Verstappen fez sua primeira volta rápida do dia em 1min29s878. É o que no automobilismo se chama de “temporal”. Não deu tempo de muita gente fechar volta, porque a 9min do encerramento do Q1 Sargeant bateu de novo. Foi na entrada da reta dos boxes. Destruiu o carro da Williams. A bandeira vermelha foi acionada, interrompendo a sessão.

Sargeant bate de novo: dificilmente fica em 2024

(Sargeant merece algumas palavras em longos parênteses, num momento como esse. É um piloto muito, muito ruim. Foi contratado pela Williams por causa de sua nacionalidade, um troço meio fora de moda, inclusive, na categoria. Mas como a Liberty, dona do negócio, é uma empresa norte-americana, a equipe foi comprada por um fundo de investimentos dos EUA e vive-se um propagado “boom” da F-1 no país, compreende-se o esforço para se ter um comedor de hambúrguer e ovos com bacon no grid.

Só que não dá. OK, os EUA têm três etapas no calendário, uma delas a mais esperada do ano pelos jecas de plantão, em Las Vegas. Mas alguém como Sargeant não só não acrescenta nada a um time, como traz prejuízos a cada corrida. Bate o tempo todo, não consegue um resultado decente sequer, e só piora. Achávamos que Latifi era ruim. Mazepin também. Sargeant, para ser ruim como esses dois, precisa melhorar muito.

A Williams ainda não confirmou sua permanência para 2024. James Vowles, chefe do time, disse que tomará uma decisão depois da corrida de Austin. Até lá ainda temos Japão e Catar. Assim, Sargeant teria três provas para mostrar alguma coisa. Não vai conseguir. Porque é ruim. E está muito pressionado. Piloto ruim pressionado termina no muro. Não há milagres.

Nesse cenário, Felipe Drugovich lidera a fila dos candidatos à vaga, que nem são tantos assim. Toto Wolff tentou empurrar Mick Schumacher, mas Vowles, que trabalhou na Mercedes por anos e só saiu no início desta temporada, teve acesso aos dados de telemetria de Mick nos simuladores da equipe alemã. Não ficou nada impressionado. Assim, o brasileiro tem uma tarefa que nem é tão absurda assim para virar titular: arrumar uns 15 milhões de euros com patrocinadores para garantir o lugar. Mas mesmo se conseguir menos, tem chances muito boas. Porque não tem ninguém muito melhor no mercado. Drugovich, é bom lembrar, é piloto de testes e de simuladores da Aston Martin, que também usa motores Mercedes. Assim, o que tem feito na fábrica também chega aos ouvidos de Vowles. Neste momento, pode-se dizer, sem muito medo de errar, que Drugovich está bem perto de fechar com a Williams – as partes estão conversando, inclusive. Porque as chances de manutenção de Sargeant passavam por um mínimo aceitável de performance até Austin. E a batida de hoje no Q1 mostrou que esse mínimo não será atingido. Fechamos os parênteses.)

Tráfego no Q1: convite a algumas surpresas

O Q1 foi retomado depois de 20 minutos, e os últimos instantes foram caóticos com um tráfego intenso na saída dos boxes. Essas bandeiras vermelhas quebram o ritmo de pilotos e equipes e por isso algumas surpresas podem acontecer. Batata. Os eliminados não foram novidade: Bottas, Stroll, Hülkenberg, Zhou e Sargeant. Mas lá na frente apareceu Lawson em quarto, um espanto. Tsunoda foi bem, também: oitavo. E Alonso bateu na trave da degola, em 14º.

Com pneus usados, Verstappen foi o primeiro a sair dos boxes no Q2 e já fez uma volta em 1min29s964 logo de cara. Ninguém chegava perto. A McLaren se insinuava com seus dois pilotos, é verdade, mas a briga era muito menos para tentar bater a Red Bull do holandês do que para superar Ferrari e, pasmem, AlphaTauri. A Mercedes não assustava, confirmando as previsões sombrias de Hamilton para o fim de semana de Suzuka. Max seguia soberano. Até ali, liderara todas as sessões no Japão, tanto dos treinos livres quanto na classificação. Só foi desbancado no final do Q2 por Leclerc, que fez 1min29s940. Mas não se incomodou. Sua volta era mais do que suficiente para avançar ao Q3. Nem pensou em voltar à pista. Não precisava. Ficaram fora Lawson, Gasly, Albon, Ocon e Magnussen.

Ferrari de Leclerc: sinal de vida no Q2

Max puxou a fila de novo no Q3, agora com dois jogos de pneus macios novos para buscar mais uma pole na temporada. Fez 1min29s012 na primeira volta, um tempo inatingível pela concorrência. Se quisesse voltar aos boxes, tirar o macacão e sair para tomar uma caipirinha de saquê (recomendo com limão siciliano e gengibre, fica muito bom), podia. Na primeira bateria de voltas rápidas, o segundo colocado, Piastri, ficou 0s446 atrás dele. A Ferrari deixou para buscar tempo no final, uma volta para cada piloto, apenas – a explicação era simples: escassez de pneus macios; era preciso guardar alguns para a corrida.

Verstappen até voltou à pista para uma segunda “flying lap”. E resolveu dar uma humilhada básica na concorrência: 1min28s877. Ninguém conseguiu melhorar seus tempos e a Ferrari, com sua volta única para cada piloto, ficou para trás. Piastri assegurou o segundo lugar no grid e vai largar na primeira fila pela primeira vez na carreira. Seu tempo foi 0s581 pior que o da pole. Norris foi o terceiro, seguido por Leclerc, Pérez, Sainz, Hamilton, Russell, Tsunoda e Alonso.

Esqueçam Singapura. O Verstappen de 2023 é esse que vimos hoje em Suzuka e em 14 das 15 corridas deste ano, não o do último fim de semana. Vai ganhar fácil a corrida.

Comentar

E LAWSON?

SÃO PAULO (faz algum sentido…) – A AlphaTauri, que deve mudar de nome no ano que vem, não mudará de pilotos. Seguirá com Tsunoda, pelo quarto ano seguido, e Ricciardo — que assumiu neste ano a vaga do demitido De Vries.

E Lawson? O neozelandês ocupa o lugar de Ricciardo desde o GP da Holanda. Quando o australiano se recuperar do acidente de Zandvoort, voltará ao cockpit. Os planos da Red Bull para Lawson, agora, parecem claros. Ele será piloto de testes da matriz e da filial em 2024. E em 2025, podem apostar, estará no lugar de Pérez.

Com a confirmação da dupla Tsunoda-Ricciardo, resta apenas uma vaga aberta para o próximo Mundial. Na Williams, que ainda não sabe se ficará com Sargeant. O resto fica como está.

Comentar

ESQUISITICES

Já tinha até esquecido desta seção, até um blogueiro me lembrar dela pelo Twitter. Digo, pelo X. Não é do Brasil, essa aberração. Mas prefiro nem saber de onde é.

Comentar

BANZAI (1)

Verstappen e Horner: só sorrisos no Japão

SÃO PAULO (faltou criatividade…) – Vocês se importam se hoje apelarmos às caixinhas? Claro que antes delas faz-se necessário um pequeno resumo dos dois treinos livres de Suzuka, o primeiro ontem à noite, o segundo na madrugada.

Deu Verstappen em ambos. Os sorrisos voltaram à garagem do time austríaco. Não é nenhuma surpresa, apesar do fiasco de uma semana atrás em Singapura. Já explicamos à exaustão o que aconteceu lá: janela de temperatura dos pneus nunca encontrada, carro muito baixo, pista ondulada, acerto inicial totalmente equivocado que estragou o fim de semana todo. Apesar disso tudo, Max fez uma ótima corrida domingo, encontrando um ritmo que se tivesse tido nos treinos e na classificação, pelo menos no pódio poderia chegar. Terminou em quinto.

No Japão, dissemos e continuamos dizendo, as coisas voltariam ao normal desta temporada que, em 15 corridas, teve 14 vitórias da Red Bull e 12 do holandês. Ah, importante: Verstappen, matematicamente, não pode ser campeão em Suzuka; mas a equipe, sim.

Abaixo, os tempos de hoje. Mais para baixo, notinhas em caixinhas para vocês se atualizarem:

SÓ ANDRETTI – Parece que só mesmo a associação Andretti-Cadillac vai ser aprovada pela FIA para ser a 11ª equipe da F-1. As ambições da Carlin e da Hitech, ao que parece, não comoveram ninguém. Nem a Formula Equal, projeto de Craig Pollock (aquele ex-empresário de Jacques Villeneuve, que ajudou a fundar a BAR) que pretendia dividir a força de trabalho em 50% de homens e 50% de mulheres. E tem também uma tal LKYSUNZ, de um certo Benjamin Durand. Confesso que não tinha nem notado sua aparição, meses atrás. Recorro ao Grande Prêmio, que explicou outro dia: “A Fórmula 1 tem mais uma interessada em ingressar na categoria a partir de 2025/2026: trata-se da LKYSUNZ, uma startup que tem entre seus dirigentes Benjamin Durand — personagem que já teve interesse em entrar na categoria em 2019, por meio da Panthera Team Asia. Junto aparece a Legends Advocates Sports Groups, registrada com endereço na Flórida, além de outros investidores asiáticos. O nome LKYSUNZ surgiu com a abreviação da palavra ‘lucky’ — sorte, em inglês — para ‘homenagear a herança asiática’; o SUNZ representa o sol — ‘sun’, em inglês.” Durand, em entrevista recente, disse que pretende montar seu time na Malásia, com tentáculos espalhados pela Ásia, África e Júpiter, sei lá. Curioso é que esse LKYSUNZ topou pagar US$ 600 milhões como taxa de diluição, o valor que pretendentes precisam depositar para ser distribuído às equipes existentes. Essa taxa, hoje, é estabelecida em US$ 200 milhões. Gente esquisita…

Max nos treinos: bom ritmo de corrida

MEIO SEGUNDO POR VOLTA – Ritmo médio dos tempos de Verstappen em simulação de corrida, com pneus médios: 1min37s73. Segundo colocado: Norris, com macios, 1min38s26. Vai ser uma lavada.

ALONSO IRRITADO – “Com certeza temos de desenvolver nosso carro um pouco mais. As outras equipes melhoraram muito. Nós ficamos parados.” A Aston Martin caiu para quarto no Mundial em Monza, 14ª etapa do campeonato, superada pela Ferrari. Antes, fora vice-líder até a sexta corrida do ano, em Mônaco. Perdeu o lugar para a Mercedes na sétima, em Barcelona. A vantagem para a McLaren, em quinto, ainda é grande: 217 x 139. Dado curioso, porém, é a média de pontos da McLaren por corrida desde o GP da Áustria, quando estreou seu carro praticamente novo. São 122 em sete corridas, 17,4 por GP. Já a Aston Martin, no mesmo período, marcou 63 — 9 por corrida. Mesmo se mantidas essas médias, no entanto, a McLaren não passa a equipe verde de Alonso e Stroll.

HAJA AMOR – Presença luxuosa em Suzuka, Sebastian Vettel ajudou a construir casinhas para abelhas no interior da pista. Criou-se ali, na Curva 2, a “Buzzin’ Corner”. Até as zebras foram pintadas de preto e amarelo. Todos os pilotos foram ver a obra do alemão, um militante pelo meio-ambiente. Aqui vocês podem ver mais fotos do “hotelzinho das abelhas” e do carinho de todo o grid com o alemão.

HIRAKAWA – Ryo Hirakawa, 29 anos, piloto da Toyota no WEC, será reserva da McLaren em 2024. Ele também corre na Super Fórmula japonesa. Achei estranha, a escolha.

Ricciardo: volta incerta

NINGUÉM SABE – Daniel Ricciardo ainda não sabe quando volta a correr. O australiano quebrou a mão na Holanda e já perdeu quatro corridas, incluindo a deste fim de semana no Japão. A Red Bull/AlphaTauri não estabeleceu prazo para a volta. Ele está fora do GP do Catar, dia 8 de outubro. Talvez volte nos EUA, dia 22. Ninguém sabe. Liam Lawson segue como titular, mas Christian Horner, chefe da Red Bull, jogou um balde de água gelada no neozelandês. Praticamente confirmou Ricciardo e Tsunoda na equipe no ano que vem. “Ele é da família Red Bull e será titular em algum momento”, garantiu. Mas não agora, pelo jeito. Para mim, uma burrice sem tamanho. Horner não considera emprestá-lo para a Williams, que tem um lugar teoricamente aberto para 2024 — Sargeant ainda não foi confirmado. “Já fizemos isso antes e perdemos o piloto”, finalizou, lembrando o empréstimo de Carlos Sainz para a Renault. Nunca mais voltou.

TOALHA NO CHÃO – Lewis Hamilton disse que a Mercedes, “definitivamente”, não tem nenhuma chance de vitória no Japão.

Ferrari: assoalho novo

ASSOALHO NOVO – A Ferrari levou a Suzuka assoalhos novos para seus carros. Por enquanto, o desempenho tem sido bom. Os pilotos gostaram do equilíbrio nas curvas de alta.

SCHUMACHER NA ALPINE – Mas não na F-1. Mick, hoje piloto reserva da Mercedes, vai ser testado pela Alpine para correr no WEC de Hypercar. Se virar a carreira para esse lado, nunca mais volta. E não tem problema nenhum nisso. Mas não volta.

ERRAMOS – Segundo relatos de Suzuka, Matteo Perini, comissário esportivo que estava também em Singapura no fim de semana passado, admitiu que ele e seus colegas erraram ao não punir Verstappen com algumas posições no grid por suas infrações no sábado. Vários pilotos reclamaram, nas conversinhas de paddock. “Não importa se você é líder do campeonato, ou último colocado. Errou, tem de pagar”, falou George Russell, líder sindical.

Comentar

FOTO DO DIA

Apenas para informar que a McLaren estendeu o contrato de Oscar Piastri até o fim de 2026. Fez muito bem. O menino é bom.

Comentar

SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

A IMAGEM DA CORRIDA

Últimas voltas em Marina Bay: final eletrizante

SÃO PAULO (adoramos) – Foi fácil escolher a imagem mais relevante da corrida de domingo em Singapura. Os fotógrafos tiveram alguns minutos para fazer o clique com os quatro primeiros colados nas últimas voltas do GP em Marina Bay. Nenhum deles era da Red Bull — o que faz dos ausentes personagens invisíveis desse flagrante aí em cima.

Foi demais a corrida, soberba a atuação de Sainz, lindo o desempenho de Norris, admirável a perseverança da Mercedes. Todos acabaram recompensados, exceto Russell — mas Hamilton levou um pódio.

Corrida tática e técnica, disputada em vários pelotões, tensa, emocionante. A gente não podia querer mais, né?

Vamos, agora, ao que ainda não foi dito sobre o GP singapuriano.

O NÚMERO DE SINGAPURA

100.188

…quilômetros percorridos em GPs tem agora Fernando Alonso, o primeiro piloto da história a superar a marca sempre emblemática de cem-mil-qualquer-coisa. Mas não teve um bom domingo, o espanhol da Aston Martin. Recebeu uma punição por cortar a linha de entrada nos boxes, fez duas paradas e na segunda resolveu colocar pneus macios. “Tudo que podia acontecer de errado para a gente aconteceu aqui”, lamentou o veterano. Foi a primeira corrida do ano que ele passou em branco, sem pontuar. E perdeu o terceiro lugar no Mundial para Hamilton. O placar agora aponta 180 x 170 para o inglês da Mercedes.

Poderíamos também ter escolhido como número do fim de semana, redondo que é, o 250º GP de Sergio Pérez. O piloto mexicano estreou em 2011 pela Sauber, passou pela McLaren, foi para a Force India e lá ficou sete anos, os últimos dois sob o nome de Racing Point. Em 2020, sem contrato para o ano seguinte, ganhou uma corrida no Bahrein de forma brilhante e despertou o interesse da Red Bull, que estava farta de seus moleques — exceção de Verstappen, claro. E lá está desde 2021.

Na comemoração dos 250 GPs, Pérez terminou em oitavo e levou uma punição de 5s — que não afetou sua posição final — depois de bater em Alexander Albon no fim, estragando a corrida do tailandês da Williams.

Agora, vamos falar do vencedor da prova.

Momentos que Sainz nunca vai esquecer: vitória de gente grande

Carlos Sainz tem 29 anos e está na sua nona temporada na F-1. Defendeu Toro Rosso, Renault, McLaren e, na Ferrari, disputa seu terceiro Mundial. Tem duas vitórias, cinco poles e 17 pódios na carreira. Não são números muito impressionantes, mas é preciso lembrar que desde a estreia, em 2015, conviveu com hegemonias de duas equipes, Mercedes e Red Bull, que não teve a sorte de defender.

Faz um campeonato bem melhor que seu companheiro Charles Leclerc: 142 x 123 na tabela de pontuação. Só não marcou na Austrália, enquanto o monegasco amarga quatro corridas no zero. Mesmo assim, não é o queridinho da escuderia italiana. A vitória em Singapura deve-se a ele, e só ele. Foi quem bolou e colocou em prática, no final, o plano de permitir a aproximação de Lando Norris, em segundo, para que o inglês da McLaren pudesse abrir a asa e se defender dos ataques de George Russell, que vinha babando com pneus mais rápidos e novos.

Sainz está na mira da Audi para 2025. Suas performances neste ano permitem dizer que é uma boa escolha dos alemães para liderar seu projeto de entrada na F-1. Acho que é o que vai acontecer.

A FRASE DE MARINA BAY

“Ele fez tudo certo em 99,99% da corrida”

Toto Wolff, sobre George Russell

O 0,01% ficou por conta da batida na última volta, quando perseguia Norris alucinadamente, com Lewis Hamilton em seu cangote. Acontece. A estratégia da Mercedes, de dois pit stops, foi agressiva e ousada. Deu azar, o time alemão, que a segunda parada aconteceu sob safety-car virtual. O chefe da equipe perdoou o erro de seu piloto.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de Liam Lawson, que em seu terceiro GP já chegou nos pontos, levando a AlphaTauri à nona colocação. O jovem neozelandês virou opção para 2024 e dificilmente ficará fora do próximo Mundial. Ele corre de novo em Suzuka. Daniel Ricciardo (ainda se recuperando da mão quebrada na Holanda) e Yuki Tsunoda terão de brigar pela segunda vaga.

NÃO GOSTAMOS da Aston Martin, que além de não ter feito pontos com Alonso ainda foi obrigada a correr com apenas um carro, já que Lance Stroll, que faz um campeonato horroroso, bateu na classificação, acordou todo dolorido e decidiu não largar. A maionese do time verde desandou.

Comentar

NÃO TÃO PURA (3)

Sainz vibra em Singapura: ótimo GP, sem Red Bull para atrapalhar…

SÃO PAULO (delícia de ver) – Se a Red Bull não existisse, talvez a F-1 fosse mais divertida. Pelo menos neste ano. Porque a Red Bull não existiu no GP de Singapura. E, sem ela – na verdade, sem Max Verstappen –, o que se viu foi uma corrida disputada até os últimos metros por pilotos de três equipes diferentes. A vitória foi da Ferrari, com o pole-position Carlos Sainz. O espanhol teve uma atuação brilhante desde a largada, controlando a prova e mostrando um sangue frio acima da média nas últimas voltas, ao manter o segundo colocado Lando Norris, da McLaren, a menos de 1s de distância, para que ele conseguisse se defender da maior ameaça ao seu resultado, a Mercedes de George Russell.

Russell acabou batendo na última volta e o terceiro lugar no pódio foi herdado pelo outro carro da Mercedes, de Lewis Hamilton. Verstappen, que teve seu pior fim de semana na temporada, terminou em quinto depois de largar em 11º. Foi a primeira derrota da Red Bull no ano. Para Sainz, a segunda vitória na carreira – a outra fora em Silverstone no ano passado.

Sem a Red Bull – na verdade, sem Verstappen –, o circuito de Marina Bay teve corrida com muita gente participando dela atrás do que interessa: vencer. Sainz recebeu a quadriculada 0s8 à frente de Norris, que por sua vez cruzou a linha 0s4 à frente de Hamilton. Chegadas assim são sempre emocionantes. Mas, até ela, aconteceu bastante coisa. Então, deliciem-se.

Stroll fora: resultado do acidente de ontem

O dia começou com o anúncio da desistência de Lance Stroll de participar do GP de Singapura. O canadense acordou todo dolorido e, como é filho do dono da Aston Martin, pode se dar o luxo (ou “ao luxo”, as duas formas são aceitas) de escolher se corre ou não corre. “Paiê, tá doendo tudo, hoje vou não vir, tá?”, foi a mensagem que mandou para Lawrence. É geralmente o que acontece depois de uma pancada forte. Na hora, o piloto não sente nada – o corpo está “quente”, como se diz. No dia seguinte, dói até a alma.

A escolha de pneus para a largada recaiu sobretudo nos médios. Três escolheram os duros: Verstappen, Pérez e Bottas. Outros três, macios: Leclerc, Tsunoda e Zhou. Os macios de Chaleclé foram muito úteis para pular à frente de Russell ao apagar das luzes vermelhas, como diria aquele antigo locutor de rádio.

Deu certo e, assim, graças a uma boa largada de Sainz, o pole, os dois carros da Ferrari saltaram na ponta e foram embora, enquanto mais atrás Russell se ocupava da defesa de sua posição, cobiçada por Hamilton e Norris. Lewis passou ambos por fora da pista na primeira curva. Pouco depois devolveu o lugar a ambos, para não ser punido. Sainz, Leclerc, Russell, Norris, Hamilton, Alonso, Ocon, Magnussen, Verstappen e Hülkenberg, na quinta volta, eram os dez primeiros. Max, 11º no grid, ganhou duas posições no início e, na sétima volta, passou Magnussen e assumiu o oitavo posto. Até que seu ritmo de corrida, diante do fiasco de ontem, não era tão ruim.

O espanhol da Ferrari na frente: controle absoluto do começo ao fim

Na Ferrari, tudo estava combinado desde o GP da Itália, onde Leclerc parecia um maluco atrás de Sainz, colocando em risco o pódio da equipe correndo em casa. O comportamento do monegasco foi visto com algumas ressalvas pelo espírito atento de Enzo Ferrari. Por isso, em Singapura, ordens explícitas foram delineadas após a definição do grid. O papel de Charlinho, caso Sainz mantivesse a ponta na largada, seria de escudo para o companheiro. Nada de ataques. Ele seria, como alertou o engenheiro de Russell ao seu piloto, “sacrificado” pelo time vermelho.

Chaleclé assentiu calado. Emprego não está fácil por aí, ainda mais com carteira assinada, vale-transporte, férias e 13º. No caso da Ferrari, tem até tíquete restaurante. Mesmo com pneus mais rápidos, permitiu que o espanhol, na altura da 14ª volta, abrisse 1s8. Sua preocupação seria Jorginho em terceiro. A Ferrari queria cobrir qualquer possibilidade de uma perda de posição nos boxes, afastando o inglês do líder da corrida. Para isso, pediu a Leclerc que ficasse 3s atrás do companheiro. “OK, pessoal”, respondeu educadamente o garoto das comunidades de Mônaco. “Mas, caso isso aconteça, quem se fode sou eu”, emendou, já não tão educadamente assim.

O primeiro terço da corrida não foi grande coisa. O circuito de Marina Bay não é dos mais fáceis para ultrapassagens e, por isso, as posições se acomodaram com todo mundo à espera das primeiras paradas. Ou, quem sabe, de alguma barbeiragem que resultasse num safety-car. Leclerc seguia recebendo instruções pelo rádio. “Agora, mon cher, queremos cinco segundos de tranquilidade para Carlos”, pediu o engenheiro. O piloto, conformado, suspirou e não disse mais nada.

Russell: candidato à vitória até o fim, sucumbiu na última volta

Falávamos de uma eventual barbeiragem, e ela aconteceu na volta 19. Sargeant bateu de leve no muro, quebrou o bico, espalhou detritos pela pista e a direção de prova decidiu acionar o safety-car na volta 20. Todo mundo foi para os boxes colocar pneus duros. E a Ferrari, como de hábito, se atrapalhou com um de seus carros. O de Leclerc. A parada demorada, de 5s7, foi explicada ao piloto como necessária “por causa do tráfego”. Charlinho suspirou de novo. Perdera duas posições, para Russell e Norris.

Quando disse, acima, “todo mundo”, não fui lá muito preciso. Quem estava com pneus duros desde a largada não parou, escalando o pelotão. Isso significa que, ao voltar para a pista e olhar no retrovisor, Sainz viu atrás dele…  Verstappen em segundo! Pérez aparecia em quarto. Bottas, em décimo.

Carlos ficou apavorado. “¡É ele! ¡É o Max! ¡Cabrón! ¡Hijo de puta! ¿Cadê o Charles? ¡Preciso do Charles!”, começou a gritar, com exclamações e interrogações de ponta-cabeça, o que foi interpretado por seu engenheiro como uma espécie de confusão mental por causa do calor. “Calma, Carlos, ele está com pneus velhos, o carro está ruim, não dormiu bem. Fique tranquilo.” Na relargada, na volta 22, Max sustentou a posição por uma volta e meia. Russell, com pneus novos, conseguiu passar e foi para cima de Sainz. Pérez também perdeu posições para Norris e Hamilton. A estratégia da Ferrari começou a ficar ameaçada. Porque atrás dele não estava mais o parceiro para segurar todo mundo. Nem Verstappen com pneus velhos. O problema do espanhol se chamava George Russell, louco para ganhar uma corridinha.

Norris, segundo colocado: festa da McLaren

A borracha desgastada de Verstappen permitiu a ultrapassagem também de Norris, que assumiu o terceiro lugar. Hamilton veio logo depois e fez o mesmo. Max caiu para quinto. Aí veio Leclerc. O carro da Red Bull era presa fácil, com pneus velhos e um carro surpreendentemente ruim. Soube, pelas minhas fontes, que o holandês xingava todo mundo desde a largada, mas o rádio fora desligado. Por isso não sabia nem em qual volta teria de parar para trocar os pneus.

As posições se acomodaram novamente. Russell, em segundo, se espantava com o ritmo contido de Sainz na liderança. “Ele está querendo segurar a gente, percebo uma estratégia premeditada de impedir que imponhamos nosso próprio ritmo, e isso tem um pouco a ver com questões históricas entre italianos e alemães desde a Segunda Guerra, o desprezo que os germânicos dedicavam aos parceiros do Eixo, admirando muito mais os japoneses por sua resiliência e, por que não dizer?, suas tendências suicidas que eram tratadas como corajosas nas figuras dos camicases…” Foi interrompido pelo engenheiro, que encerrou aquela ladainha abruptamente: “George, você é inglês e ele é espanhol, você gosta de críquete e ele de touradas, vai tocando aí que depois a gente se fala”.

Mais atrás, Pérez x Ocon x Alonso foi um dos bons momentos da corrida. O mexicano tinha pneus velhos e segurava todo mundo. Fernandinho teria de cumprir 5s por cortar a entrada dos boxes no pit stop. O francês fazia aniversário, 27 anos. Nas voltas 38 e 39 os três ficaram trocando posições e ofensas com Ocon se saindo melhor, passando ambos. Na 40ª volta, finalmente, Pérez parou para trocar pneus. Caiu para último. Na 41ª, Verstappen, sexto, parou também. E foi parar em 15º. O fim de semana da Red Bull era o pior desde o dia em que Dietrich Mateschitz colocou as latinhas de energéticos no mercado austríaco, em 1987, depois de uma lisérgica viagem à Tailândia para vender pasta de dente.

Segunda vitória de Sainz: corrida perfeita

Na volta 42, Ocon quebrou. Estava em sexto e esmurrou o volante, de raiva. O safety-car virtual foi acionado. E aí? Parar ou não parar, eis a questão. A Mercedes resolveu parar. Colocou um jogo de pneus médios novo, novo, novo no carro de Russell. Outro no de Hamilton. Sainz, Norris e Leclerc eram os três primeiros quando, na volta 45, a prova foi retomada. Russell caíra para quarto, 13s4 atrás do monegasco, mas com pneus novos.

Verstappen, na volta 48, entrou de novo na zona de pontos ao ultrapassar Zhou. A meta da equipe passou a ser “não sair daqui no zero”, o que representaria um vexame ainda maior. Depois, passou Hülkenberg e Lawson, assumindo o oitavo lugar. Na ponta, Sainz seguia tranquilo, mas Norris aparecia em seu retrovisor. Leclerc, desanimado, era o terceiro. Russell, babando, tirava 2s por volta do monegasco e rapidamente chegaria para brigar pelo pódio.

A dez voltas do final, George estava 2s atrás de Leclerc. Para sonhar com uma vitória, não poderia perder tempo atrás da Ferrari #16. Ainda teria Norris pela frente e uma possível briga com Sainz. A vantagem do piloto da Mercedes eram os pneus mais novos e velozes. Os três primeiros colocados tinha pneus duros gastos.

Russell passou Leclerc na volta 53. Hamilton fez o mesmo na 54. O alvo seguinte da dupla mercêdica era a McLaren de Norris, 6s à frente. Os dois carros pretos vinham feito alucinados para cima de Lando. Mas faltava pouco para terminar a prova. Seria necessário passar o automóvel papaia e, depois, atacar o espanhol. Que, presumivelmente, defenderia a ponta com a vida e a honra, se preciso fosse.

(Verstappen, àquela altura, na volta 58, assumia a sexta posição ao passar Gasly. Uma recuperação aceitável, não mais que isso. E terminou em quinto. À espera de dias melhores. Se possível na semana que vem, em Suzuka. Sua sequência de dez vitórias foi encerrada. A invencibilidade da Red Bull no campeonato, também.)

Russell chegou em Norris na volta 59. Inteligente, Sainz permitiu que o inglês ficasse a menos de 1s dele, para poder abrir a asa móvel e se defender de Jorginho. Os quatro primeiros, então, ficaram colados. Lando resistiu. Carlos monitorava a turma atrás dele de forma surpreendentemente fria e calculista.

Foi um fim de prova belíssimo, tenso, nervoso. Tanto que, na última volta, Russell bateu. Norris nem acreditou. Hamilton não teve tempo de atacar o jovem mclariano e ficou com o terceiro lugar no pódio. Leclerc, Verstappen, Gasly, Piastri, Pérez, Lawson e Magnussen completaram a zona de pontos. Palmas para Piastri, que largou em 17º e chegou em sétimo. E aplausos efusivos para o jovem neozelandês da AlphaTauri. A equipe tinha três pontos no Mundial em 14 corridas. Ele marcou dois em seu terceiro GP. Será titular em 2024. Ricciardo e Tsunoda que lutem.

O resultado elevou Hamilton ao terceiro lugar no Mundial de Pilotos, ultrapassando Alonso – que zerou pela primeira vez na temporada: 180 x 170. Verstappen foi a 374, contra 223 de Pérez. A má performance da Red Bull não afetou o campeonato em nada. No máximo, a autoestima da equipe. No Mundial de Construtores, os 37 pontos anotados pela Ferrari acirraram a briga pelo vice. A Mercedes, que fez 16, tem 289, contra 265 dos italianos.

Semana que vem tem mais, no Japão. E as coisas devem voltar ao normal.

Comentar

NÃO TÃO PURA (2)

Verstappen volta à garagem a pé: fora do Q3

SÃO PAULO (quem diria…) – Nem sempre a história é a história dos vencedores. Para falar da definição do grid para o GP de Singapura, hoje no circuito citadino de Marina Bay, é preciso começar com os perdedores. Os fracassados. Os oprimidos. Os malogrados. Os infaustos. Os desditosos. Os infelizes da Red Bull.

Sim, da Red Bull, aquela que ganhou 24 das últimas 25 corridas disputadas na F-1. Aquela que venceu as 15 últimas provas da categoria em sequência. Ela mesma, a Red Bull, líder absoluta do Mundial de Pilotos e de Construtores, equipe que costuma trucidar seus adversários sem dó nem piedade, subjugando-os ao ponto de transformá-los em farrapos, aviltando-os e ridicularizando-os.

Pois não tem Red Bull na pole.

Nem em segundo.

Nem entre os dez primeiros!

A Red Bull, aquela mesma de Max Verstappen e Sergio Pérez, de Christian Horner e Helmut Marko, de Vettel e Ricciardo, das latinhas de energéticos e das baladas com uísque e gelo, a Red Bull empacou no Q2! E não é porque trocou de motor, de câmbio, por punição, por nada!

Os humilhados se reergueram, ó deuses do automobilismo!

OK, me perdoem pelo descomedimento verbal. É que o que aconteceu hoje foi tão esquisito e insólito, que se faz necessário o uso de uma hipérbole aqui, outra ali. Verstappen é o 11º no grid para a corrida de amanhã, 15ª da temporada. Nem ele entendeu direito o que se passou. “Eu sabia que ia ser difícil lutar pela pole aqui. Mas nunca imaginei que seria tão ruim assim”, falou o piloto, que ainda encerrou a noite sendo investigado por três infrações ao longo do sábado – que serão descritas abaixo. “A gente não sabe direito o que aconteceu. Tentamos muitas coisas diferentes, mas tudo se resume a não termos encontrado a janela ideal para os pneus”, tentou explicar Buziner, o chefe.

Ah, a pole é de Carlos Sainz, a segunda seguida do espanhol da Ferrari neste ano. Clap-clap-clap, parabéns. Mas agora vamos contar um pouco deste sábado muito doido em Singapura.

Sainz, o pole: quinta vez na carreira

Os primeiros sinais de que as coisas não estavam muito boas para a Red Bull começaram a ser dados nos dois treinos livres da sexta-feira. Se repetiram hoje na última sessão antes da classificação, com tempos muito discretos de seus pilotos e queixas incessantes pelo rádio, e se confirmaram à noite. Max só foi liderar a tabela de tempos pela primeira vez no fim de semana a 7min do final do Q1, e por pouquíssimo tempo – logo depois de sua volta rápida, Sainz veio com a Ferrari e o superou. Não era, definitivamente, o normal de 2023.

E foi divertido, esse Q1. Com a pista melhorando nitidamente na medida em que ia sendo emborrachada, os 20 pilotos deixaram os boxes ao mesmo tempo quando faltavam 2min para a quadriculada. Num circuito de rua, isso complica a vida de todo mundo, por causa do tráfego. Fora que se repetiu a cena insana de carros muito lentos preparando suas voltas sem saber direito quem podia estar vindo rápido atrás. O que motivou o aviso da direção de prova de uma investigação coletiva após a classificação, porque entre as curvas 16 e 19 vários pilotos se atrapalharam mutuamente.

Então começaram a aparecer, lá no topo, pilotos que não costumam frequentar as melhores posições, como Tsunoda em primeiro, Hülkenberg em terceiro, Lawson em quarto e Magnussen em quinto. Foram os primeiros do pelotão que fecharam suas voltas. A tendência era de uma queda acentuada dos tempos de todos.

Mas aí veio a grande pancada do dia.

Stroll, que estava na zona de eliminação, tentava se safar de mais uma degola e bateu violentamente na entrada da reta dos boxes. Saltou na zebra, perdeu o controle do carro e deu de frente no muro. Foi no exato instante em que o cronômetro zerou. A bandeira vermelha foi imediatamente acionada. Assim, aqueles que tentavam avançar ao Q2 não puderam completar suas voltas e ficaram onde estavam. Caíram Bottas, Piastri, Sargeant, Zhou e o desafortunado canadense da Aston Martin. Felizmente o piloto não se machucou – ao menos saiu sozinho do carro.

O soluço competitivo da Red Bull, que ganhou todas as corridas deste ano, resultou num sempre sonhado equilíbrio no início da classificação. Com Verstappen cheio de adversários, sem elevar o sarrafo do melhor tempo, a consequência foi que ao final do Q1 os 15 pilotos que avançaram ficaram separados por menos de 1s: apenas 0s677 entre o líder Tsunoda e o 15º, Albon. Sendo mais exato, até o 17º, Piastri, a diferença foi menor que 1s para o mais rápido do Q1: 0s911.

Para os registros, o japonês da AlphaTauri cronometrou sua melhor volta em 1min31s991.

Max passou em nono. E foi informado que seria investigado após a classificação. Isso porque numa de suas voltas à pista parou na saída do box segurando uma fila de carros atrás, mesmo com o sinal verde aceso. Ficou um tempão imóvel esperando o melhor momento de deixar o pitlane, sem se preocupar se estava incomodando alguém — como aqueles malas que ficam no celular na sua frente no semáforo e não percebem que abriu. Atrás dele, Leclerc, Sainz & companhia espumavam de raiva.

Depois, a direção de prova avisou que Verstappen seria investigado também por ter atrapalhado uma volta de Sargeant, da Williams. Segunda anotação do dia na caderneta do holandês.

Max segura a fila: investigação em curso

Mais de meia hora depois da batida de Stroll a classificação foi retomada, após os serviços de limpeza do asfalto e vistoria da mureta de proteção. Verstappen foi o primeiro a sair dos boxes no Q2 e fez uma volta ruim, em 1min32s307. Quando todos fecharam sua primeira bateria de tentativas, o atual bicampeão do mundo era apenas o décimo colocado. E seu companheiro Pérez, o 11º. Não era mesmo o melhor fim de semana da temporada para a Red Bull.

Provisoriamente, na liderança, apareceu Russell, da Mercedes, com 1min31s743. Tsunoda, o líder do Q1, abortou sua volta por ter pegado Verstappen lento pela frente. Xingou bem pelo rádio, talvez sem saber quem era. Quando entrou nos boxes, foi chamado para a pesagem. A reclamação radiofônica teve efeito: mais um comunicado da direção de prova, avisando que Max seria investigado por ter atrapalhado o pequenino japonês. Terceira marquinha na folha corrida do dia.

Russell: Mercedes andando bem em Singapura

A segunda volta de Verstappen foi igualmente ruim, ficou em décimo, mas ainda tinha gente na pista. E ele acabou superado por Lawson, da filial AphaTauri. “Vocês viram? Foi uma experiência chocante, absolutamente chocante!”, falou o holandês pelo rádio, incrédulo.

Pois é. Max Emilian Verstappen, 12 vitórias em 2023, não passou do Q2! Para piorar a vida do time austríaco, Pérez rodou, estragou sua volta e também foi eliminado, com o 12º lugar. Gasly, Albon e Tsunoda foram os outros que ficaram pelo meio do caminho.

Sainz fechou o Q2 em primeiro com um temporal, 1min31s439. A surpresa foi a Haas, levando seus dois carros ao Q3. Russell e Alonso, segundo e terceiro, foram bem. E Lawson, claro, merece uma menção honrosa. Em seu terceiro GP, colocou a AlphaTauri entre os dez primeiros no grid. Só não será titular em 2024 se a matriz rubro-taurina insistir com Ricciardo, o que faz cada vez menos sentido.

Sem os dois carros da Red Bull, todo mundo no Q3 tinha o direito de sonhar com alguma coisa. Na primeira bateria de voltas rápidas, Sainz tornou a se impor com 1min31s170, um tempo muito bom, 0s251 à frente de seu companheiro Leclerc, o segundo. Andando bem desde o início das atividades, ontem, o espanhol era o franco favorito à pole. Na segunda saída, baixou ainda mais seu tempo, para 1min30s984. E conseguiu pela quinta vez na carreira a primeira colocação de um grid. Russell, 0s072 atrás, ficou em segundo. Leclerc foi o terceiro, a 0s079. Norris, Hamilton, Magnussen, Alonso, Ocon, Hülkenberg e Lawson fecharam a turma dos dez primeiros.

Pela primeira vez no ano, os rubro-taurinos se encaixam na categoria “zebra” de um GP. Salvo alguma situação muito excepcional, a sequência de vitórias de Verstappen (e, vá lá, Pérez) será interrompida amanhã. A tendência, nesses casos, é apontar o pole como maior candidato ao degrau mais alto do pódio. Mas talvez Sainz não seja exatamente a melhor aposta. Vejam o grid abaixo:

O grid em Marina Bay: Ferrari favorita?

Os carros italianos têm tido problemas em ritmo de corrida, embora em Monza, duas semanas atrás, as coisas não tenham sido tão ruins. Olho em Russell. Ele vem fazendo um trabalho sólido neste fim de semana e a Mercedes fez uma jogada de pneus que lhe garantiu dois jogos médios zerinho para amanhã. Alonso, em sétimo, não deve ser de todo desprezado. É esperto, sabe aproveitar oportunidades. Norris corre por fora. E a Ferrari, claro, tem todo direito de sonhar com pódio, talvez a vitória.

E Max? Em provas passadas, Verstappen venceu mesmo largando mais atrás, alguém há de argumentar. Só que seu carro não está andando nada em Singapura. OK, é corrida que sempre tem safety-car, desgastante, quente. Mas não se tira desempenho do nada de um dia para o outro. Amanhã, ouviremos da Red Bull frases como “hoje era dia para reduzir os danos”. Até pódio é bem difícil — algo que parecia impensável de se dizer nesta temporada.

Por essas e outras, deve ser um GP interessante. O grande protagonista do ano, pelo menos neste domingo, será coadjuvante.

Comentar

NÃO TÃO PURA (1)

SÃO PAULO (sei não…) – Pode ser — pode ser — que neste fim de semana o samba de uma nota só de 2023 seja um pouco diferente. A Red Bull começou muito mal os treinos para o GP de Singapura, confirmando previsões sombrias que seus próprios pilotos já vinham fazendo nos últimos dias. Não é a melhor pista do mundo para os rubro-taurinos. Basta olhar o retrospecto de Verstappen em Marina Bay. Nunca venceu na pista urbana da cidade-estado asiática. Em seis participações, seu melhor resultado foi um segundo em 2018. E tem um terceiro em 2019. Nenhuma pole.

OK, Pérez ganhou no ano passado. Mas foi uma corrida incomum, com muita chuva, confusões, safety-car e o escambau.

O fato é que Verstappen terá mais adversários do que o normal amanhã e depois. Tem duas Ferrari na frente, mais Mercedes, McLaren e Alonso para atrapalhar. O primeiro dia de treinos terminou com Sainz na frente e Leclerc em segundo. No primeiro treino livre foi o contrário.

Alonso: mais um para atrapalhar Verstappen

O espanhol da #55 fez a melhor volta da sexta-feira em 1min32s120. A pista está mais rápida e curta porque houve uma alteração de traçado, com a supressão de quatro curvas que passavam diante das arquibancadas daquele campo de futebol flutuante. Leclerc ficou 0s018 atrás. Russell, o terceiro, terminou a 0s235 de distância. Depois vieram Alonso, Hamilton e Norris nas seis primeiras posições.

Só aí aparece o primeiro carro da Red Bull, de Pérez, 0s692 atrás. Max, que reclamou do carro do início ao fim das atividades de pista do dia, ficou em oitavo, a 0s732 de Sainz. Tirar 0s7 de um dia para o outro é tarefa muito complicada.

Os tempos do treino noturno: Albon teve problema de motor

Assim, pode ser — pode ser — que a hegemonia absoluta da equipe austríaca nesta temporada termine domingo. Até agora, são 14 vitórias em 14 etapas. O sonho de vencer todas as corridas do ano pode ser interrompido.

Discutiremos tudo isso mais tarde, às 19h, no “Fórmula Gomes”, lá no YouTube. Hoje tive de escrever com pressa porque tenho de entrar no ar!

Comentar

Blog do Flavio Gomes
no Youtube
MAIS VISTO
00:01

#parimatch #shorts #Parilivemotor

Seja membro deste canal e ganhe benefícios: https://www.youtube.com/channel/UCepUf0u6f8JS3yq4NPXHW3g/join...

1:22:54

VERSTAPPEN: ATÉ ONDE ELE VAI? (BEM, MERDINHAS #139)

Max Verstappen já tem três títulos mundiais, é o mais jovem vencedor de GP da história, o terceiro com mais vitórias, o piloto que ganhou mais corridas na mesma temporada, aquele que venceu mais...