MCLAREN MCL36

GUARUJÁ (fazia tempo…) – Tem uma piada que adoro contar. Se passa num avião, e na fileira 12 estão lá sentados, lado a lado, um papagaio e um executivo de uma multinacional. Passa a comissária e o executivo pede, educadamente, uma dose de uísque. Ela nem olha na cara dele. “Talvez não tenha escutado”, pensa o executivo, e quando ela passa de novo ele repete o pedido, com toda educação do mundo: “Senhorita, por favor, poderia me trazer uma dose de uísque?”. Ela nem tchuns, passa direto.

O executivo não entende a atitude da aeromoça, e quando ela vem novamente em sua direção se prepara para pedir o uísque novamente. Ele era muito polido e cortês, e não levantou a voz: “Senhorita, por gentileza…”, diz. Mas ela segue em passos firmes e sequer nota a presença do passageiro.

Nesse momento, o papagaio se vira e chama a aeromoça. “Ô gostosa, chega mais aqui! Traz uma cerveja pro seu papagaiozinho querido que hoje eu quero encher o tonel!”, grita, e a comissária estanca o passo, se volta para o papagaio, abre um sorriso e se apressa em pegar uma cervejinha bem gelada para a ave. O executivo ao seu lado, claro, estranha aquilo. “Senhor papagaio, isso faz algum sentido? Eu pedi três vezes uma dose de uísque com toda educação do mundo e ela nem olhou na minha cara! O senhor, ao contrário, usou termos chulos em voz alta e ela veio imediatamente! Vou fazer a mesma coisa!”, e incontinenti ergueu o braço e o timbre, não era acostumado a se comportar assim, e berrou, antes mesmo que o papagaio pudesse dizer alguma coisa: “Ô sua bonitona, corre aqui e traz um uísque logo pro pai que tô a fim de beber muito e se bobear estalar um beijo nessa bochecha linda!”.

Foi um corre-corre no avião. “O que é isso, senhor? O senhor não tem respeito não?”, esbravejou a comissária. “Mas, senhora, o papagaio…”, e ela nem deixou o executivo terminar a frase, foi até a cabine, chamou o comandante e, pra resumir a história, ele abriu a porta do avião, que estava a 30 mil pés, e jogou o papagaio e o executivo para fora da aeronave.

Despencando em queda livre, o homem se desesperou, claro, enquanto o papagaio, espantado, olhou para ele e disse: “Cara, pra quem não tem asa tu é bem folgado, hein?”, e saiu voando para outra freguesia.

Acho muito boa a piada, que conto imitando a voz do papagaio com perfeição.

Tudo isso para dizer que para quem não tem asa, essa McLaren é bem folgada, também. Porque uma equipe que não ganha picas há tempos, na falta de um, apresentou quatro carros hoje. QUATRO! Dois de Fórmula 1 (com pinturas diferentes), um de Fórmula Indy e um de Extreme E. Haja pretensão, viu…

Mas tudo bem, é a McLaren. Campeã pela última vez em 2008 com Hamilton, penúltima colocada no campeonato em 2017, que vem se recuperando aos poucos para voltar a ser grande de verdade. Ano passado até ganhou corrida, o que foi muito legal. Dobradinha em Monza com Ricciardo e Norris. No final, terminou o Mundial em quarto, depois de uma boa briga com a Ferrari. Perdeu força depois da vitória na Itália, sabe-se lá por quê. Mas não se pode negar que o time vem readquirindo o viço.

Para tanto, Zak Brown, que assumiu a chefia da equipe em 2018 (em 2016 tinha sido contratado como diretor-executivo), reestruturou a organização nos últimos anos, chegando até a vender o terreno da fábrica em Woking para levantar uma grana, alugando a área logo depois. Dizem que isso é normal no mundo corporativo. A Globo também vendeu sua sede em São Paulo, na Berrini, para pagar aluguel aos novos proprietários. Faz parte.

Uma coisa bacana que pode ser dita desde ontem é que os carros não serão idênticos, apesar das limitações do regulamento. As suspensões de McLaren e Aston Martin são bem diferentes: pull rod na frente e push rod atrás para os papaias, o contrário para os aston-martiners. Não se apeguem muito a esses termos, não vou cagar regra aqui sobre as diferenças que, do ponto de vista da atuação do conjunto, não são muito grandes. Ambas funcionam. Mas a posição dos braços de suspensão ultimamente tem algum efeito aerodinâmico. Os especialistas acham que a McLaren está arriscando. O convencional é usar push rod na frente e pull rod atrás. O problema é que se der errado, não tem o que fazer. Não dá para tirar uma e colocar outra como se fosse a maçaneta de abertura do vidro de uma Variant.

A pintura que será usada no campeonato (o carro com predomínio do preto acho que é só pra fazer graça) é muito bonita, essa combinação de laranja (eles chamam de papaia, e é mais papaia mesmo) com azul e preto é muito elegante. Gostaria de saber o Pantone desse papaia e do azul, vocês têm ideia?

(Pantone é uma empresa fundada em 1962 por um certo Lawrence Herbert, que criou um catálogo de cores associando números e códigos a cada uma delas e todas suas variações, e esse troço virou padrão para o mundo inteiro, tanto que até bandeiras nacionais são definidas hoje por esses códigos. O verde da bandeira do Brasil, por exemplo é PMS 355, o amarelo é PMS YELLOW e o azul é PMS 280. O branco é branco, mesmo. O que indica uma certa pobreza da Pantone no trato de algumas cores. Como assim, branco é branco e acabou? Desde quando existe um branco absoluto? Se existir, o que explica a tabela de cores da VW? Só lá achei Banco Lotus, Alasca, Paina, Polar, Star, Alpino e Geada. Para não falar do Branco Abaeté da Vemag, do Corfú da Fiat, do Everest da GM… Aí vem a tal da Pantone e diz: branco. Só branco. Como assim? Eu sempre preferi os nomes aos números no que diz respeito às cores, e se quer me ver feliz e só jogar na minha mão um catálogo de cores. De carros, principalmente — embora na indústria de tintas para paredes e para unhas a criatividade seja admirável, também. Aproveitem o ensejo para encher a área de comentários com os melhores nomes de cores que vocês conhecem. Eu amo, por exemplo, Verde Caruá. Preto Granito. Marrom Barroco. Ocre Marajó. Amarelo Manga. Ah, tem cada um que vou te dizer, é demais, demais mesmo!)

Nariz, carenagem, perfis, entradas de ar, sidepods, iPods, asas, todas essas coisas têm sido dissecadas pelos oráculos da internet e não vou me meter nessa seara. Me interesso de verdade, como vocês sabem, pelos misteriosos desígnios que movem os responsáveis pelos nomes dos carros. MCL36, é desse que estamos falando. Fui apurar.

O marketing da McLaren pediu a Norris e Ricciardo que escrevessem uma redação sobre seus sonhos e experiências como pilotos da equipe. Poucas linhas e um título que pudesse ser uma síntese daquilo que estivessem sentindo naquele momento. “Meu carro lindo” foi o título escolhido por Lando, que discorreu sobre o amor pelos carrinhos de brinquedo desde que era criança (ano retrasado) e rasgou elogios ao time. “Meu carro lento” foi o que escreveu Ricciardo, tentando explicar por que ficou tão atrás do companheiro na sua temporada de estreia pela equipe, enchendo a página de desculpas.

Daí saiu o MCL. 36 é o tamanho da sapatilha do Norris.

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ONE COMMENT

Os caras renovam com o Bahrein até 2036 (!) sem saber sequer se o mundo ainda existirá até lá. Gente doida…

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ENCHE O TANQUE

Comerciais da Minol-Pirol da Alemanha Oriental dos anos 60. Preciso desses bonequinhos! Luciano Pinho mandou, direto de Munique.

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RÁDIO BLOG

R.E.M.? O que deu em você pra lembrar do R.E.M.? Nada, apenas lembrei.

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FOTO DO DIA

Timo Glock e Felipe Massa na Junção. Onde, em 2008, Hamilton passou o alemão e tirou o título do brasileiro na última volta do GP do Brasil. Glock e Massa dividem o carro da Stock na Corrida de Duplas de domingo às 13h55, abrindo a temporada da categoria. Não haverá presença de público.

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ASTON MARTIN AMR22

SÃO PAULO (ficou bonitão) – Uma das mais importantes decisões da Aston Martin neste ano foi demitir o chefe Otmar Szafnauer. Importante porque ninguém, nem o próprio, conseguia escrever seu sobrenome sem consultar o Google. E ninguém, nem mesmo seus avós, era capaz de pronunciá-lo sem engasgar.

Para seu lugar, a equipe contratou Mike Krack. Britânico, ele chegou à F-1 em 2001 pela Sauber. Trabalhou com Vettel, inclusive, quando o piloto estava ainda no Jardim de Infância, tendo passado para o Pré-II direto, já que era muito esperto. Depois de oito anos na equipe suíça, saiu por aí e passou pela F-3, pelo DTM, pela Porsche no WEC e, depois, foi para a BMW (que se fala bê-eme-vê). É um craque, dizem todos.

Hoje foi dia de apresentar o carro novo, e desta vez veio carro, mesmo, e não aqueles mockups que vimos da Haas e da Red Bull, iguais aos que colocam em posto de gasolina em semana de GP para o povo tirar selfie. Desse aí dá para dizer algumas coisas. Como, por exemplo, que o bico é mais chato que as coisas que vimos até aqui, mais chato que o Tiago Abravanel. Ou que a asa dianteira é um pouco diferente das vistas até agora, com a primeira lâmina, de baixo para cima, pendurada na extremidade do nariz — o que não quer dizer nada, porque as vistas até agora são iguais à do do modelo apresentado pela FIA no ano passado para mostrar como seriam os carros de 2022. A asa traseira tem o mecanismo do DRS. Bom sinal, é mesmo um carro de verdade. Aliás, ele já anda amanhã em Silverstone, os 100 km regulamentares para fazer uns filminhos e postar no stories do Instagram.

Notei também, e acho que todos notamos, que sobre as laterais da carenagem há fendas.

Não se iludam. As fendas, chamadas de guelras pelos biólogos do Grande Prêmio, não foram inspiradas em aparelhos respiratórios de peixes. Guelra não é uma palavra bonita, pra começo de conversa. Por isso, depois de analisar direitinho o desenho do carro e chegar ao requinte de contar quantas ranhuras havia de cada lado (15, não precisam abrir a foto, já contei), lembrei que tais cortes são sobejamente utilizados na cosedura de vestes femininas e masculinas desde os tempos do antigo Egito. Adaptadas, as fendas, à alta costura contemporânea, tornaram-se um sucesso.

Como todo mundo está cansado de saber, Aston Martin é uma marca muito ligada a Bond, James Bond. Que, por seu turno, causava frisson entre as mulheres, incluindo aquelas com vestidos de fendas. As imagens abaixo não me deixam mentir. Há uma profusão de fendas ligadas ao modelo mais clássico da montadora inglesa. Sendo assim, por que não encher o carro de fendas?

E assim foi. Mas é claro que limitar a observação das soluções aerodinâmicas do novo Aston Martin às fendas é reducionismo. Até porque muitos carros na história adotaram esse recurso para refrigerar seus motores, sendo o Fuscão o mais célebre de todos. No caso do carro novo do time britânico, desconfio que elas terão alguma outra função, como reforçar o efeito-solo gerado pelos novos assoalhos estipulados pelo novo regulamento.

As fendas, enfim, são o de menos. O que chamou mesmo a atenção hoje no lançamento do AMR22 — este é o nome do automóvel — foi o telhado de Vettel.

Quando chegou à Aston Martin, depois de seis anos na Ferrari, Sebastian estava desse jeito da foto da direita aí em cima. A calvície acentuada foi atribuída aos tempos difíceis pelos quais passou na equipe italiana. Não se sabe com exatidão o que aconteceu nos últimos 12 meses, mas o fato é que a cabeleira do alemão prosperou extraordinariamente, ainda que seu primeiro campeonato pelo novo time não tenha sido brilhante — 12º lugar no campeonato e um pódio solitário no Azerbaijão.

Vettel disse que este é apenas o segundo ano de um projeto quinquenal que pretende elevar a Aston Martin à condição de protagonista na F-1. Lawrence Stroll, dono da equipe e pai do outro piloto, Lance, está gastando os tubos na construção de uma nova fábrica e na contratação de pessoal técnico com passagens pelas grandonas como Mercedes e Red Bull.

No ano passado a ex-Jordan/Midland/MF1/Spyker/Force India/Racing Point decepcionou, com a sétima posição no Mundial de Construtores depois de uma quarta colocação surpreendente em 2020 — que seria terceira, não fosse a perda de alguns pontos determinada pela FIA porque o time copiou umas peças da Mercedes. Foram 77 pontos apenas, contra 142 da AlphaTauri, a sexta colocada.

Stroll com Vettel: mais relaxado

Há de melhorar. E é essa esperança que orientou o batismo do carro após diálogo entre os dois pilotos depois dos primeiros testes em simuladores na fábrica de Silverstone. Stroll, quase sempre enfezado e mal-humorado, resmungou assim que saiu da poltrona de videogame que lhe foi destinada: “Anda menos [que uma] romiseta”. Em seguida, correu para o Twitter: “Shit, AMR”, escreveu na rede social conhecida por seus textos curtos eivados de abreviações. Vettel, que não usa redes sociais, já ganhou uma penca de corridas e tem quatro títulos mundiais na prateleira, procurou acalmar o garoto-enxaqueca, inundando o ambiente de fé e ilusão: “Ah, mano, relaxa!”. Lance, então, tuitou de novo: “AMR, told me Seb”.

O 22 são dois patinhos na lagoa.

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ONE QUESTION

Pretendo fazer todo dia. Curtem o formato?

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RED BULL RB18

SÃO PAULO (oremos) – Ontem recebi e-mail da Red Bull me avisando para entrar no link tal porque hoje era dia de apresentação de carro novo. Muito bem. Na hora combinada entrei e apareceu a mensagem em inglês: “É dia de lanche!”. Já traduzi para vocês, claro. Mas não teve lanche algum, e sim um vídeo pré-gravado de meia hora, pouco mais, pouco menos, no qual fiquei sabendo que:

1) A equipe agora se chama Oracle Red Bull Racing, sendo “oracle” a palavra em inglês para “oráculo”, sendo “oráculo” o local em Delfos, na Grécia Antiga, onde sacerdotes e sacerdotisas faziam previsões depois de entrar em transe aparentemente por causa de gases que emanavam do solo. É uma história meio complicada que começa quando Zeus, que como todos sabem era o fodão do Bairro Peixoto, soltou duas águias de pontos opostos da Terra para definir onde era o umbigo do mundo, e seria onde elas se encontrassem, e elas se encontraram em Delfos, e ali foi feito um templo assim & assado para seu filho Apolo, que matou um dragão no local, na verdade uma espécie de serpente, Python, que também podia ser uma fêmea de dragão, nunca se sabe, e ela foi enterrada ali mesmo, e por isso começaram a sair vapores pelas fendas no chão e nas rochas do local, e a sacerdotisa-máster do templo ficou muito louca com aquele fumacê e desandou a fazer profecias, e elas davam muito certo, o nome dela era Pítia, certamente por causa da dragoa, ou serpente, e aí o lugar ganhou fama, e é daí também que vem a palavra pitonisa, e parece que a história dos gases é verdade mesmo, tem até livro sobre isso. Mas esse Oracle da Red Bull é só patrocinadora mesmo, empresa americana de software, tecnologia e essas coisas, aliás, já patrocinava a equipe e, agora, está pagando uns tostões a mais para colocar sua marca no nome oficial.

Horner diante do oráculo: novo nome

2) A Honda, que resolveu continuar fazendo os motores da Red Bull mesmo depois de anunciar sua saída da categoria, desapareceu do carro. Na carenagem aparece um minúsculo HRC, Honda Racing Corporation, a divisão de competição da montadora japonesa. De todo modo, e para todos os efeitos, os motores da Red Bull seguem sendo Honda. Nenhuma marca nova foi incorporada para batizar as unidades de potência. No passado, é bom lembrar, a própria Red Bull já chamou seus motores Renault de TAG-Heuer (que é marca de relógio) e a Prost batizou os Ferrari dela de Acer (nome de computador). Suponho, apenas suponho, que se alguém chegar com uma boa proposta para batizar os motores é capaz de levar. E não me contenho nas especulações. O Magazine Luiza poderia fazer uma oferta, e teríamos Red Bull-Magalu na lista de carros inscritos para os GPs. Ou o cara do guaraná Dolly: Red Bull-Dolly. Talvez os laticínios Piracanjuba, Red Bull-Piracanjuba, para dar nó na língua dos locutores ingleses. Mas não vai acontecer nada disso.

3) As fotos distribuídas para a imprensa são horríveis, muito escuras, e melhor teria sido tirar prints da tela enquanto os caras falavam dos carros. Daria, pelo menos, para distinguir as linhas do fundo negro. Acho que isso é tudo de propósito, e de qualquer maneira o próprio Christian Buziner, chefe do time, disse que os carros que serão vistos nos primeiros testes, em Barcelona, serão diferentes daquele que estava lá na frente deles, que por sua vez serão também diferentes dos que vão estrear no Bahrein, dia 20 de março. Portanto, digo o mesmo que disse no lançamento do carro da Haas: qualquer análise técnica que for feita pelos oráculos de internet é chute.

4) Verstappen disse que andou pouco no simulador, que o tamanho dos novos pneus de 18 polegadas alterou a visibilidade de dentro do cockpit, que começar o ano como campeão não tem nada de muito diferente, que o número 1 é melhor que o 33, que não sente pressão nenhuma para defender o título e só isso.

5) Pérez não consegue falar “season”, temporada, fazendo som de “Z” no segundo “S”, e por isso fala “sísson”.

6) Horner acredita que dificilmente o recorde de trocar pneus em 1s8 será batido, porque o conjunto roda + pneu deste ano, com calota e tudo, é mais pesado. “Acho que os pit stops vão ficar em torno de 2s”, falou. A distância, mandei-o à merda.

Por fim, a questão do nome do carro. RB18 é como ele será conhecido. “Meu RB18 estava bom hoje”, dirá Pérez um dia. “O problema desses RB18 é esquentar no trânsito”, queixar-se-á Verstappen em Mônaco. Claro que todos vão achar que RB é de Red Bull e 18 é porque se trata do 18º automóvel produzido pela equipe, que estreou em 2005 depois que Didi das Latinhas comprou a Jaguar, que era da Ford, que tinha comprado a equipe de Jackie Stewart. Notam-se, nas fotos abaixo, as semelhanças entre todos eles: o filho que é parecido com o pai, que é a cara do avô.

A verdadeira origem dos códigos dos carros da Red Bull, porém, nada tem a ver com a simplória associação com as primeiras letras da empresa que empresta seu nome à equipe. Há duas versões conflitantes que remontam aos primeiros testes que a equipe fez em Silverstone, logo depois da compra da Jaguar. David Coulthard e Christian Klien foram os pilotos escolhidos e o escocês, já em final de carreira, não queria encrenca com ninguém e estava dando graças aos céus por ter conseguido um emprego. Depois das primeiras voltas com o bólido, apesar dos tempos pouco promissores e de um comportamento errático na pista, foi questionado pelo chefe dos mecânicos sobre o carro e respondeu, polidamente, como sói aos escoceses: “Olha, eu posso dizer sem medo de errar que ele roda bem”. “Roda bem, roda bem!”, repetiu o mecânico pelo rádio para passar seu primeiro relatório do dia ao engenheiro, que por sua vez mandou uma mensagem de texto sucinta para o dono da equipe pelo celular: “Roda bem”.

A outra versão me parece menos verossímil e creio até ser um chiste, desses comuns entre mecânicos. Klien, que não era assim um piloto de grandes predicados técnicos, não conseguia fazer uma volta decente em seus primeiros treinos, dando rodopios e saindo da pista com frequência. O mesmo chefe dos mecânicos, dado a gracejos fora de hora, recebeu um SMS do engenheiro com um questionamento sobre ele. “E então, como foi o menino?”, perguntou o superior hierárquico, que estava na fábrica acompanhando a prática pelo computador. “Roda bonito!”, respondeu o rapaz nos boxes.

Seja como for, parece não haver dúvidas que o RB vem daqueles tempos, seja de “roda bem”, seja de “roda bonito”, e acabou ficando.

O 18 eu não sei o que é, não.

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LANDO ATÉ 2025

SÃO PAULO (hoje tem novidade no canal, aguardem) – A McLaren anunciou hoje que terá Lando Norris por mais quatro anos, até o fim de 2025. Em Mônaco, no ano passado, o time exerceu sua opção de renovação com o jovem inglês, que nas atuais definições profissionais é um “piloter”, mas só agora definiu o tempo de duração do contrato. Norris chegou à McLaren em 2017, com 17 aninhos, num teste que ganhou na Hungria depois de conquistar o McLaren Autosport BRDC Young Driver Award, uma espécie de Bola de Prata para jovens pilotos britânicos.

(Bola de Prata, crianças, era o prêmio da revista “Placar” em 1970 para os melhores jogadores do Campeonato Brasileiro a partir de notas atribuídas por seus jornalistas em todas as partidas. Não lembro bem por que começou em 1970, já que o chamado Brasileirão nasceu em 1971. Havia muitas distorções, porque em praças onde a revista não tinha correspondentes, recorria a jornalistas locais. Como o torneio tinha dezenas de times — “onde a Arena vai mal, um time no Nacional” (pesquisem) –, quase uma centena, os repórteres escalados em rincões distantes como Campina Grande, Anápolis ou Itabaiana (era demais, Treze, Anapolina e Itabaiana jogavam o Brasileiro!) — muitas vezes davam notas altíssimas para os atletas dos times de suas cidades. Dessa forma, jogadores como o zagueiro Carlindo (Ceará, 1971), o lateral Aranha (Remo, 1972), o atacante Alberi (ABC, 1972), o lateral Louro (Fortaleza, 1974), o goleiro Edosn Cimento (Remo, 1977) e o ponta Botelho (Desportiva Ferroviária, 1980) dividiram glórias com gente do naipe de Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, Mário Sérgio, Roberto Dinamite, Careca e muitos outros. A revista meio que acabou, mas o prêmio ainda existe. Foi assumido alguns anos atrás pela ESPN.)

Lando estreou como titular em 2019, com 19 anos de idade (completou 20 no fim daquele ano) e é uma das estrelas em ascensão do Mundial. O moleque tem 22 anos e já disputou 60 GPs. Tem uma pole e cinco pódios. Ainda não venceu, mas é questão de tempo.

Faz bem a McLaren de segurar o garoto. Esses relacionamentos longos têm sido muito bem sucedidos em alguns casos, como os de Vettel e Verstappen com a Red Bull, Hamilton com a McLaren lá atrás e por aí vai. Os papaias deram um salto de qualidade nos últimos dois anos e com os novos carros pretendem voltar a ser protagonistas. Quem sabe… Seja como for, qualquer projeto para o futuro próximo do time inglês passa por Norris. Não tem muitos como ele soltos por aí, não.

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VERSTAPPEN: NÃO É SÓ O CARRO (BEM, MERDINHAS #158)

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