LEGIÃO URBANA
Avistado no fim de semana saçaricando por aí… Tirando as rodas de Del Rey (que a foto não mostra), uma lindeza!

Avistado no fim de semana saçaricando por aí… Tirando as rodas de Del Rey (que a foto não mostra), uma lindeza!
SÃO PAULO (feriado…) – Está no campo dos boatos, ainda, mas a origem da notícia, se verdadeira, é interessante: um sujeito da Escudería Telmex, que tomou umas tequilas a mais num jantar, deu com a língua dos dentes. A Telmex abriga as operações automobilísticas do bilionário mexicano Carlos Slim, que banca a carreira de Sergio Pérez desde o nascedouro. O borracho teria proclamado para quem quisesse ouvir que Checo teria decidido se aposentar e faria o anúncio no fim de semana do GP do México. Isso porque teria sido informado pela Red Bull, depois do GP do Japão, que seu contrato válido até o fim de 2024 seria encerrado no final desta temporada.
O rumor surgiu a partir de um post no Reddit, um aplicativo/rede social que funciona como agregador de notícias divididas por áreas de interesse. Tão crível quanto qualquer outra coisa, daí o abuso do futuro do pretérito nesta postagem. Reproduzo apenas porque faz algum sentido quando se liga lé com cré. Pérez vem muito mal no campeonato e nas últimas corridas as coisas só pioraram — cinco míseros pontos após o fim da temporada europeia, em Singapura, Japão e Catar. Ao mesmo tempo, surge no horizonte alguém como Liam Lawson, a quem a Red Bull gostaria de oferecer um carrinho, se possível com crachá da empresa.
A AlphaTauri seria um destino óbvio, mas lá, em 2024, estarão Yuki Tsunoda e Daniel Ricciardo — que deve voltar a correr em Austin. Emprestar o neozelandês à Williams, se esta demitir Logan Sargeant, seria uma possibilidade. Mas Christian Horner já falou: “Emprestamos um piloto uma vez e ele nunca mais voltou”, disse dia desses sobre Carlos Sainz.
Uma solução confortabilíssima seria colocar Lawson na AlphaTauri e deslocar Ricciardo para a Red Bull principal. O australiano não tem mais o perfil de quem vá incomodar Max Verstappen com pretensões de ser primeiro piloto, chorando pitangas e guacamoles. Seria eternamente grato por receber um carro competitivo e em troca faria qualquer coisa para seus patrões. Até vender latinhas de energéticos em baladas berlinenses, se lho pedissem. Por outro lado, é um piloto qualificado o bastante para fazer mais do que Pérez faz — ao menos era, antes de entrar em parafuso quando foi para a McLaren.
Pérez acabou de ser pai pela quarta vez. Teria sido outra pista apontada pelo beberrão do jantar da Telmex para justificar uma possível decisão de parar de correr: curtir a família, ter mais tempo para a prole, largar a loucura da F-1.
O mexicano tem 33 anos, 252 GPs nas costas, está em sua 13ª temporada e — aqui não vai condicional alguma — não interessa a nenhuma equipe. Se foi avisado mesmo pela Red Bull de que seu contrato não será cumprido, não acho que tenha de procurar algum outro time para seguir a carreira. Melhor, talvez, seja ir atrás de um advogado.
Vamos aguardar. O GP do México é só no fim do mês. Até lá saberemos se debaixo dessa fumacinha tem alguma brasa.
A IMAGEM DA CORRIDA
SÃO PAULO (sempre vem) – Teve piloto vomitando, mais de um contando que chegou a perder a consciência a 300 km/h, outros desidratados, abandono por falta de condições físicas — como o de Sargeant, acima, nossa imagem mais forte da corrida –, reclamações por todos os lados.
Por que o GP do Catar foi tão complicado fisicamente, desumano, até? Já tivemos, sim, corridas com temperaturas mais altas. Na região de Doha, domingo à noite, os termômetros marcavam 32°C. Mas a umidade de quase 80% foi o que mais pegou. O resultado mais imediato é a desidratação.
Muita gente lembrou das corridas no Rio nos anos 80. Ou na Malásia — onde também era duro de aguentar o calor e a umidade. Mas não importa o que se fez no passado. Era errado, também. Embora houvesse atenuantes, como a construção dos carros, o vento na cara e nos ombros, passeando pelo cockpit e refrescando o corpo. Os carros atuais são como esquifes. E, para piorar, a história das três paradas obrigatórias levou todo mundo a andar em ritmo de classificação o tempo inteiro, sem preocupação com administração dos pneus. Sem descanso, sem relaxar. E a pista tem muitas curvas de alta. E a força G à qual os pilotos são submetidos é brutal.
Foi desumano, em resumo. E ninguém deve relativizar isso. Um garoto de vinte e poucos anos quase desmaiar num carro de corrida é um sinal de alerta. Alguém poderia ter morrido.
O NÚMERO DO CATAR
501
…pódios tem a McLaren agora, com os dois troféus conquistados por Piastri, segundo, e Norris, terceiro. É a segunda equipe a ultrapassar a casa de meio milhar de troféus. A Ferrari, com 803, é o time com a maior estante para guardar taças. Depois da McLaren vêm Williams (313), Mercedes (287) e Red Bull (258).
Um detalhe interessante. Aos 22 anos, completados em 6 de abril, Piastri já havia se tornado, com o terceiro lugar no Japão, o primeiro piloto nascido no século 21 a subir ao pódio na F-1. O primeiro lugar na Sprint, sábado, não conta para as estatísticas. Então vamos esperar por sua primeira vitória num GP, que não deve demorar, para colocá-lo na história como primeiro vencedor nascido neste século. E, então, a F-1 terá ganhadores de corridas nascidos em três séculos diferentes: Piastri (21), todos os outros (20) e o italiano Luigi Fagioli (19), nascido em 9 de junho de 1898 e vencedor do GP da França de 1951 aos 53 anos — o mais velho vencedor de todos os tempos.
E dá-lhe McLaren, equipe que vai concentrar boa parte deste rescaldão do GP do Catar. Acima (clique na imagem e veja em tamanho maior), à esquerda, está a lista dos pit stops mais rápidos da história da F-1. Norris perdeu só 1s80 em sua segunda parada, domingo passado. Quebrou o recorde de 1s82 que a Red Bull mantinha desde o GP do Brasil de 2019.
A Red Bull é muito pica das galáxias para trocar pneus. Até hoje, 29 pit stops foram realizados em menos de 2s na F-1, o que é espantoso. Desses, 22 foram registrados pela equipe austríaca.
Na boa, trocar quatro pneus em menos de dois segundos — DOIS SEGUNDOS! — é foda demais.
AS FRASES DE LUSAIL
OCON – “Comecei a ficar mal depois de 15 voltas. Vomitei duas vezes no cockpit.”
STROLL – “Depois da 20ª volta, eu apagava por alguns segundos no carro. Minha visão ficou embaçada, a pressão caiu. Foi ridículo.”
LECLERC – “Foi a corrida mais difícil de nossas carreiras. De todos, sem exceção. E não acredito naqueles que disserem que não foi.”
NORRIS – “A F-1 encontrou o limite que os pilotos podem suportar, hoje. É muito perigoso. [É uma corrida que] não deveria ter acontecido.”
RUSSELL – “Achei que ia desmaiar várias vezes. Passou do limite.”
ALONSO – “Foi uma das corridas mais duras da minha vida. E olha que tenho 42 anos e estou na F-1 há mais de duas décadas.”
VERSTAPPEN – “Foram condições muito extremas.”
PIASTRI – “Precisamos discutir muitas coisas depois deste fim de semana.”
A FIA se manifestou um dia depois da corrida, com as promessas vagas de sempre de analisar o que aconteceu no Catar e montar uma comissão com pilotos, equipes, médicos, pastores, babalorixás, rabinos, bispos, astrólogos, ciganos, fisioterapeutas, esquimós e beduínos para deliberar sobre o assunto.
De concreto, mesmo, algo que já se sabia: o GP do Catar do ano que vem será mais para o fim do ano, em 1º de dezembro, quando as condições meteorológicas são menos estapafúrdias para a prática de esportes. Principalmente esportes que usam carros que atingem velocidades enormes e precisam ser pilotados por seres humanos acordados.
OK, PARÇA – George Russell aceitou o pedido de desculpas de Lewis Hamilton, que bateu nele nos primeiros metros da corrida, quando tentava uma ultrapassagem. “A gente se respeita muito e está muito claro que não foi intencional”, falou Jorginho, sempre polido.
PAGA AÍ – Hamilton, além de pedir desculpas, teve de pagar uma multa de 25 mil euros por atravessar a pista a pé sem orientação dos fiscais, num momento em que havia carros na pista. Admitiu que fez bobagem. E pediu desculpas de novo. Foi o primeiro abandono de Lewis na temporada. Ele tinha pontos em todas as corridas. Agora, o único que pontuou nas 17 etapas foi Verstappen.
CHEGANDO – Vejam os números da McLaren nas últimas nove corridas, desde a estreia do carro novo na Áustria: 202 pontos (média de 22,4 por GP), 47 deles só no Catar (terceira maior pontuação do ano, só perdendo para a Red Bull, que fez 56 na Áustria e 51 na Bélgica), sete pódios, uma vitória em Sprint. Ainda está em quinto, mas agora apenas 11 pontos atrás da Aston Martin. Que, nessas nove provas, teve média de 8,4 pontos por etapa.
AS OUTRAS – Apenas para comparar, ainda com as equipes que estão na frente e podem ser alcançadas pela McLaren (esqueçamos a Red Bull): nas últimas nove etapas, a Ferrari fez 176 pontos (19,5 por corrida) e a Mercedes, 159 (média de 17,6).
EL FODÓN – Fernando Alonso chegou a 183 pontos neste fim de semana. É mais do que todos os pilotos da Aston Martin marcaram, juntos, até hoje na F-1. Estes somam 179. A Aston Martin disputou os Mundiais de 1959 e 1960 e não pontuou. Voltou em 2021, depois que o empresário Lawrence Stroll comprou a Force India, mudou seu nome para Racing Point e, finalmente, Aston Martin.
GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS
GOSTAMOS de ver a Alfa Romeo com seus dois carros nos pontos, Bottas em oitavo e Zhou em nono. Com os seis pontos marcados no fim de semana, o time passou a Haas e assumiu o oitavo lugar no Mundial de Construtores, com 16 pontos. Os rivais americanos têm 12.
NÃO GOSTAMOS do décimo lugar de Sergio Pérez, claro. O mexicano, nas últimas três corridas, marcou cinco pontos. Seu companheiro Verstappen, 69. Não dá.
SÃO PAULO (campeão supremo) – Fornecedora única de pneus da F-1 desde 2011, a Pirelli estendeu seu contrato com a categoria por mais quatro anos. Vai até o final de 2027, e sem concorrência. A última temporada com duas marcas de pneus na F-1 foi a de 2006, com Bridgestone e Michelin travando a guerra da borracha.
Este é o Aston Martin Valkyrie, que será inscrito nas 24 Horas de Le Mans de 2025 — a marca tem uma vitória na geral em Sarthe, em 1959. Acho que papis Lawrence tem planos pro filhote Lance.
O querido Murray Walker, a voz da F-1 na Inglaterra, faria 100 anos hoje. Ele morreu em março de 2021, aos 97. Narrou sua primeira corrida antes mesmo de a F-1 existir, em 1949. E foi até 30 de setembro de 2001, encerrando a carreira no GP dos EUA daquele ano. Aqui, um lindo artigo sobre Walker assinado por Matt Bishop, um dos grandes jornalistas com quem convivi na F-1 nos anos 90 e início deste século.
SÃO PAULO (cumprindo tabela) – O fim de semana “incrível” de Max Verstappen terminou com mais uma vitória do holandês na temporada. Venceu o GP do Catar, conseguindo seu 14ª triunfo no ano em 17 etapas. Ontem ele se sagrou tricampeão mundial. Hoje conquistou a 49ª vitória de sua carreira. Faltando cinco corridas para o final do campeonato, ele agora tem duas metas não declaradas: passar Alain Prost (51) e Sebastian Vettel (53) nas estatísticas e bater o recorde de vitórias em uma temporada — marca que é dele mesmo; foram 15 no ano passado.
A corrida, maculada pelo problema dos pneus detectado na sexta à noite pela Pirelli (veja post abaixo) e pelo calor desumano, foi ruim. Meio besta, por conta do limite de voltas para cada jogo de pneus imposto pela fornecedora, por razões de segurança. No fim das contas, o destaque do fim de semana – Verstappen e Red Bull à parte – foi a McLaren. Ontem, a equipe papaia fez primeiro e terceiro na Sprint de Lusail com Piastri e Norris. Hoje voltou a colocar seus dois pilotos no pódio: Oscar em segundo, Lando em terceiro. É o grande time da segunda metade de 2023.
O grid esteve desfalcado de um carro, a Ferrari de Carlos Sainz. A equipe descobriu um vazamento de combustível antes da largada e não conseguiu encontrar de onde. Carburador? Boia? Bomba? Filtro? Mangueira? Azar dele.
O início da prova foi dos mais tumultuados. Hamilton, com pneus macios, largou bem e percebeu a chance de ultrapassar seu companheiro Russell por fora. Este tinha médios, menos aderentes. Mas Lewis errou miseravelmente o cálculo quando mergulhou para a curva à direita. Acertou seu pneu traseiro direito no dianteiro esquerdo de Jorginho.
Lewis arrebentou a suspensão, rodou e abandonou. “Você está bem, parceiro?”, perguntou seu engenheiro Bono Vox. “Sim. Fui tirado da corrida por meu companheiro de equipe”, respondeu o heptacampeão mundial. Do outro lado da trincheira, Russell berrava loucamente. “Aaaaaaaahhhhh! Não é possível! De novo! Duas corridas seguidas! Existem certas regras de convivência que precisam ser respeitadas, ainda que não sejamos propriamente amigos, daqueles que jogam buraco aos domingos tomando ponche de frutas e ouvindo boleros de Francisco Alves, enquanto nossas esposas preparam macarronada com molho de tomate e queijo ralado de pacotinho…”, e nisso foi interrompido por Toto Wolff, que nem no autódromo estava. “George, cale a boca.”
(Hamilton foi multado em 25 mil euros por cruzar a pista a pé de forma perigosa, com carros podendo aparecer a qualquer momento em alta velocidade. Pediu desculpas e admitiu que não devia ter colocado ninguém em risco.)
O safety-car foi acionado antes mesmo de terminada a primeira volta. Russell foi para os boxes trocar pneus e verificar danos. Voltou lá atrás. Na relargada, na abertura da quinta volta, Verstappen, que tinha partido sem problemas, Piastri, Alonso, Leclerc e Ocon eram os cinco primeiros. Hülkenberg, em oitavo, foi avisado de que tomaria um pênalti de 10s por alinhar o carro fora de lugar – ele teve problemas quando fez a prova de baliza aos 18 anos, tirando a carteira de motorista.
Russell voltou com a faca nos dentes, como se diz, numa referência aos piratas do Caribe. Na volta 10 já estava na zona de pontos, passando todo mundo. Como a prova seria marcada pelos múltiplos pit stops ordenados pela Pirelli – que concluiu que não mais do que 18 voltas poderiam ser completadas com cada jogo de pneus –, as mudanças de posição determinadas pelas paradas de boxes eram muito frequentes.
E foi ali pela 11ª volta que as trocas começaram. Era importante notar que esse limite de 18 voltas por jogo de pneu estabelecido pela Pirelli incluía as percorridas nos treinos e na classificação. Russell foi escalando o pelotão na medida em que todos paravam e na volta 15 era o segundo colocado, quando fez seu segundo pit stop. Albon, então, apareceu na vice-liderança. Verstappen, ainda sem trocar pneus, tinha mais de 20s de vantagem para o tailandês da Williams. Pérez, que largou com pneus duros, era o terceiro.
Max usou sua borracha até onde era permitido e parou no final da volta 17. Albon assumiu a ponta, mas tinha de parar também na volta seguinte, o que fez. Verstappen retomou a primeira posição e Piastri apareceu em segundo, abrindo caminho vindo lá de trás com pneus novos. Com 20 voltas, Bottas era o terceiro e Alonso, o quarto. O finlandês da Alfa Romeo se beneficiara de uma troca durante o safety-car. Mas teria de parar de novo em breve. Fernandinho passou por ele e foi atrás de um pódio — àquela altura, bastante provável.
A situação ridícula dos pneus ameaçados pelas zebras do Catar fazia com que a transmissão oficial da F-1 informasse o tempo todo quem teria de parar nos boxes e quando, acabando com qualquer especulação e/ou tentativa das equipes de surpreenderem seus adversários. Na volta 25, Piastri foi para os boxes e Alonso assumiu o segundo lugar. Naquele momento, Hamilton chegava à zona mista de entrevistas e assumia a bobagem que fizera com Russell. “Na hora, de cabeça quente, falei aquilo. Mas depois vi as imagens e George não tinha mesmo para onde ir”, assumiu. “ É 100% culpa minha.”
Alonso parou na volta 27. Pouco antes, avisara à Aston Martin que seu rabo estava quente. “Tem alguma coisa queimando meu traseiro no banco, joguem água, façam alguma coisa!” Ninguém fez nada – não havia o que fazer — e ele saiu dos boxes com a bunda em chamas. Na metade da prova, Verstappen, Russell (a 23s), Pérez (com punição a cumprir por exceder os limites da pista), Albon, Piastri, Zhou, Norris, Alonso e Bottas eram os dez primeiros.
Na volta 33, o então provável pódio de Alonso foi para a brita. O espanhol da Aston Martin perdeu a traseira de seu carro, foi para a área de escape e quando voltou quase mandou Leclerc para o Golfo Pérsico. Perdeu várias posições e a chance de levar um troféu para casa.
Verstappen parou na volta 34 e saiu dos boxes tranquilamente em primeiro, com Piastri e Norris em segundo e terceiro. Depois da xaropada de Alonso, El Fodón de la Caja de Britón, era o pódio que deveria ser confirmado na bandeira quadriculada, ainda que até lá algumas posições se alterassem pelo momento em que cada piloto fizesse sua terceira ou até quarta parada.
Pérez, que tinha alguma chance de fazer pontos mesmo tendo largado dos boxes, recebeu uma segunda punição de 5s por ultrapassar os limites da pista. Pelo rádio, seu engenheiro, claramente de mau humor, deu-lhe uma dura. “Mais uma. Isso está acabando com nossa corrida”, falou. “Cucurrucucúúúú! Palooooomaaaaa, no llores!”, respondeu o mexicano. “Como?”, perguntou o engenheiro. “Que una paloma triste, muy de mañana le va a cantar… A la casita sola, con sus puertitas de par en par! Juran que esa paloma no es otra cosa más que mi alma, que todavía la espera a que regresse…” “Está delirando”, comentou Christian Horner, e entrou no rádio: “Checo! Checo! Está tudo bem?”. “Ay, ay, ay, ay, ay, lloraba, ay, ay, ay, ay, ay, gemía, ay, ay, ay, ay, ay, cantaba, de pasión mortal moría…”
Quem quase morreu foi Sargeant, que pouco mais de dez voltas antes do final pediu à equipe para abandonar a corrida. Estava esgotado fisicamente e não aguentou o tranco. O time, claro, deu a maior força para o menino. “Pelo menos não vai bater em nada”, disse um mecânico cuja leitura labial consegui fazer pela TV. Mas não foi o único. Todos os pilotos se queixaram do calor e das condições extremas da corrida. Albon foi ao centro médico. Ocon vomitou dentro do carro. Stroll disse que chegou a perder a consciência. Amanhã, no “Sobre ontem…”, vamos discutir isso melhor.
Na volta 48, Verstappen liderava com Russell em segundo, Piastri em terceiro e Norris em quarto. O inglês da Mercedes tinha mais uma parada obrigatória. Assim, restava saber quem ficaria em segundo e terceiro. A McLaren acabou com as dúvidas pelo rádio, pedindo a Lando para não atacar o companheiro e determinando que as posições finais seriam aquelas. O inglês contestou, reclamou, arguiu, replicou, argumentou, discutiu, debateu, mas a equipe foi inflexível. E fez muito bem.
Max fez seu derradeiro pit stop na volta 52. Naquele momento, dos dez primeiros, apenas Zhou, em sexto, ainda tinha uma troca para realizar. Verstappen fechou a corrida em primeiro, léguas à frente de Piastri, o segundo. Norris, Russell, Leclerc, Alonso, Ocon, Bottas, Zhou e Pérez fecharam a zona de pontos, com destaque para a bela recuperação de George e o quase milagre da Alfa Romeo, de colocar dois carros entre os dez primeiros — passando a Haas no Mundial de Construtores.
A F-1 volta à América daqui a duas semanas para o GP dos EUA, em Austin. Será mais um fim de semana de Sprint. Mais dois dias incríveis para Verstappen, que agora só busca recordes. E também para continuarmos a apreciar a incrível ascensão da McLaren e seus dois garotos velozes.
E, claro, para discutir algumas coisas sérias. Correr no Catar faz algum sentido? Que F-1 é essa que não se importa em não ter uma etapa na Alemanha ou na França e tem etapas em países abjetos e com condições climáticas inaceitáveis para a segurança de todos?
Chega de tapar o sol com a peneira e de achar que tudo que a Liberty faz é legal. Não é. Não tem nada de legal. Gasta-se muita energia para debater (e vetar) a entrada de uma nova equipe na categoria, algo que só agrega valor e amplia a competição, e nada para os absurdos geopolíticos e esportivos de uma categoria que se acha o máximo, mas derrapa o tempo todo.
SÃO PAULO (tem corrida demais, eu falo…) – Essa aí em cima é a zebra da discórdia, que levou a Pirelli a determinar, agora há pouco, que cada piloto poderá completar no máximo 18 voltas com um jogo de pneus no GP do Catar. Isso significa que todo mundo está obrigado a uma estratégia de pelo menos três paradas na corrida. Quem pensava em uma ou duas, esquece. Serão no mínimo três, e pronto.
Claro que tal decisão torna absolutamente artificial a prova de daqui a pouco. Escrevi aqui ontem que isso teria pouca relevância, pelas circunstâncias desse GP: título decidido ontem, festa para Verstappen, elogios para Piastri etc.
Errei. Não se pode minimizar o que está acontecendo, como fiz na última postagem. Tem relevância, sim. Porque ainda que seja uma corrida que não valha muita coisa, ela tem de ser levada a sério. E equipes e pilotos levam. Quem não está levando a F-1 a sério, neste momento, são a FIA e a Liberty. A primeira, por ser negligente naquilo que é sua obrigação: fiscalizar com rigor os palcos de seus espetáculos; a segunda, porque não tem o menor pudor em marcas corridas em qualquer lugar, desde que paguem bem.
O que levou a Pirelli a esse alerta das 18 voltas foram essas zebras aí em cima. A combinação de dois fatores está levando os pneus ao risco de colapso. Primeiro, a extensão das faixas de zebras, que levam os carros a permanecerem muito tempo sobre elas. São desnecessariamente enormes, causando vibração excessiva nas carcaças dos pneus. Depois do primeiro e único treino livre do fim de semana, eles foram analisados pela fornecedora e apresentaram microrrachaduras nas laterais. O segundo fator é a construção dessas zebras, que estão sendo chamadas de “piramidais”. Elas se elevam de dentro para fora da pista, com um vinco criminoso no topo. São feitas, aparentemente, para rasgar pneus.
Disse ontem na minha live no YouTube, e repito hoje. Não há necessidade de padronização de zebras em todos os circuitos. Cada pista tem uma característica, cada curva tem um raio, uma velocidade máxima, um ponto de tangência. As necessidades são, por assim dizer, individuais. Assim, podemos ter, claro, zebras diferentes de um circuito para outro. O que não pode, em hipótese alguma, é permitir uma construção que ofereça perigo a equipamentos e pilotos. Lembro de umas zebras malucas em Interlagos anos atrás, instaladas como se fossem salsichas colocadas uma do lado da outra perpendicularmente à pista. Feitas para quebrarem suspensões. Foram banidas no ano seguinte.
Zebras tinham, originalmente, a função de “devolver” um carro à pista nas saídas de curva, pelo lado de fora. Eram inclinadas e, do ponto de vista físico, devolviam mesmo. Por dentro, serviam como ponto de orientação para tangências. Com o tempo, foram sendo aprimoradas e passaram a delimitar o leito carroçável de um circuito no caso de traçados muito planos. Algumas mais altas, outras mais baixas. Umas mais inclinadas, outras menos. E ao redor do mundo podem ser encontradas feitas em diversas formas, cores, materiais e dimensões. Mas cada caso é um caso. Engenheiros existem para isso, para conceber essas estruturas de forma que elas cumpram determinada função sem oferecer risco a ninguém. Fiscais da FIA, idem. Devem vistoriar o que é proposto e aprovar, ou não.
Como é que alguém pode ter autorizado o uso dessas lâminas de concreto em Lusail? Quem foi a besta quadrada que inventou esse formato? Ele é inaceitável em qualquer situação, para competições de carros, motos, charretes ou patinetes. Nada que possa cortar um pneu tão fácil e obviamente pode ser instalado numa pista de corridas.
Dessa forma, o GP do Catar está comprometido desde já. O absurdo de uma obra porca e inaceitável determinou as estratégias para todas as equipes. Vinte pilotos vão largar numa pista que pode parecer segura, com suas enormes áreas de escape, mas no fundo é perigosíssima porque, simplesmente, tem zebras que podem rasgar a borracha sobre a qual estarão acelerando a 300 km/h.
Tenho cá minhas teorias para explicar episódios como esse. Uma delas é a da ganância. A F-1 está aceitando correr em qualquer canto — Arábia Saudita, Catar, Las Vegas, Miami — sem a mínima preocupação com o esporte em si. É meio clichê, mas é igualmente fato: vale a grana. O resto que se dane.
SÃO PAULO (poucos e bons) – Não é todo dia que você se torna tricampeão de nada. Funcionário do mês do McDonald’s, campeonato de truco na faculdade, torneio de futebol de botão no prédio. Um tricampeonato é algo a se comemorar efusivamente. Do que for.
Max Verstappen se tornou tricampeão mundial de Fórmula 1 hoje no Catar. Achou “incrível”.
São poucos os que atingiram esse patamar na história. Há aqueles que passaram pelo tri e foram adiante, como Prost e Vettel (quatro vezes campeões), Fangio (cinco), Schumacher e Hamilton (sete cada). Outros cinco — Brabham, Stewart, Lauda, Piquet e Senna — estacionaram nas três conquistas. Não sei exatamente o que cada um deles disse depois de seus títulos. Talvez tenham dito que foram incríveis.
E, no fim das contas, é isso que são. Incríveis.
O tri de Verstappen chega depois de 16 corridas das 22 que serão disputadas nesta temporada e de quatro das seis Sprints previstas — que são corridas, mas não são GPs; daquelas coisas dessa F-1 moderna. Como hoje é sábado e o GP do Catar é só amanhã, pode-se dizer que Max foi campeão com seis etapas de antecipação — Schumacher conseguiu isso em 2002. Como a Sprint faz parte do fim de semana de GP, alguns dirão que essa antecipação foi de cinco etapas, e não seis.
Tanto faz. O fato é que a conquista foi incrível porque até agora, de 16 GPs, Verstappen ganhou 13. Dessas 13 vitórias, dez foram seguidas. Das quatro Sprints já realizadas, venceu duas. Subiu ao pódio 15 vezes. Fez dez poles. E tudo com uma naturalidade atordoante. Entrou para um clube seletíssimo de lendas do automobilismo mundial, lugar de poucos, só acessível aos grandes gênios do esporte, qualquer esporte.
É. Incrível mesmo.
Verstappen escreve mais um capítulo notável de sua história na F-1, que não é curta. Tem só 26 anos, mas estreou em 2015, com 17. Um fenômeno que dá gosto de ver, e privilegiados somos os que podemos acompanhar essa saga em tempo real, ao vivo, de domingo em domingo — e em alguns sábados, também. Como hoje. Precisava de um sexto lugar na Sprint de Lusail para ser campeão. Ficou em segundo. O título, na verdade, veio antes da bandeira quadriculada, na 11ª das 19 voltas da miniprova catariana. Foi quando Pérez, seu companheiro, bateu e abandonou. Ele tinha chances de ser campeão. Precisava vencer todas as corridas, todas as Sprints, fazer todos os pontos extras das melhores voltas e Max não poderia marcar mais do que dois pontos até o fim do ano.
As possibilidades de Pérez, claro, eram apenas retóricas. Na vida real, nem se aos seus pontos no Mundial fossem acrescentados todos os do Bragantino, do Leipzig e do Salzburg em seus campeonatos, times patrocinados pela Red Bull no futebol, o mexicano seria campeão. Verstappen foi absoluto. Chegou a 407 pontos, e se sua equipe não tivesse outro piloto, corresse só com ele, estaria folgada na liderança entre os Construtores, já que a Mercedes, vice-líder, tem 305.
A Sprint de Lusail foi vencida por Oscar Piastri, da McLaren, depois de uma boa batalha com a Mercedes de George Russell, para quem perdeu a posição no início — ele era o primeiro no grid, depois do Shootout que definiu as posições de partida no fim da tarde, pelo horário local. Estatisticamente, não contam nem a pole nem a vitória para o australiano. Mas o menino vai guardar este sábado com carinho na estante das memórias. Pela primeira vez, em seus poucos meses de F-1, largou na frente de todo mundo. E chegou na frente, também. Não vale para as estatísticas, mas vale para a vida.
E tem de ser assim. Piastri foi para a corrida com pneus médios, contra os macios de alguns adversários, como a dupla da Ferrari e o próprio Russell. O inglês da Mercedes deu azar porque a provinha teve três entradas do safety-car, e uma delas, no fim, permitiu a aproximação do jovem estreante da McLaren. Os pneus de George já não aguentavam mais o tranco. Oscar se aproveitou da borracha em melhores condições, passou e ganhou.
A escolha dos pneus permitiu também que Verstappen e Norris, segundo e terceiro, superassem os calçados com pneus de faixa vermelha nas últimas voltas. Russell, Hamilton, Sainz, Albon e Alonso completaram a zona de pontuação da Sprint, que contempla até o oitavo colocado. Lewis fez um corridão. Mal no Shootout, apenas 12º no grid, estava em nono a três voltas do fim da corrida. Fez belas ultrapassagens e terminou em quinto. Olho nele amanhã. Está em terceiro no grid. O mesmo vale para Albon, de 17º no grid a sétimo no final, beneficiado ainda com a punição de 5s a Leclerc, por ter excedido os limites de pista várias vezes. O monegasco acabou ficando fora dos pontos.
A batida de Pérez, retratada acima, foi resultado de um pega-pra-capar com Ocon e Hülkenberg. O alemão ficou no meio, como se fosse o recheio de um sanduíche, e acabou sendo tocado pela esquerda pelo francês da Alpine. Sobrou para o mexicano, que estava do lado direito. Os três abandonaram. Disputavam posições lá no fundo, sem grande importância.
Dois novatos, Sargeant e Lawson, cometeram erros bobos no início da prova e abandonaram, também. O neozelandês da AlphaTauri não se conformava. “Não posso errar assim, se quiser ficar na F-1”, falou, em cerimônia pública de autoimolação. Ele rodou sozinho. Já o americano da Williams, atolado na brita, saiu desolado do autódromo. Sabe que suas chances de ficar na equipe em 2024, a cada barbeiragem como essa, diminuem drasticamente.
A corrida de amanhã será festiva para a Verstappen e para a Red Bull. Não tanto para a Pirelli, que detectou, ontem à noite, problemas estruturais em seus pneus por conta da excessiva vibração sobre as extensas zebras do circuito do Catar. Por volta das 8h deste domingo, horário de Brasília, vai informar às equipes se, na prova principal, os pneus terão um limite de voltas para não colapsarem. As análises seriam feitas durante a noite e a madrugada.
É um problema sério, mas que certamente será resolvido pela empresa e por engenheiros, equipes, borracheiros, astrólogos e gurus. Não tem muita relevância num fim de semana como este, de tricampeão consagrado e jovenzinho prodígio mostrando suas armas para o futuro.
O grid para o GP do Catar foi definido ontem, e vocês lembram: Max larga na pole. Vai vencer para celebrar em grande estilo. E porque vencer um dia depois de ser campeão deve ser… incrível.
Blogueiro Luciano Pinho Sol foi passear em Belgrado. Uma hora a gasolina acabou…
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