O EXAGERO

SÃO PAULO (respirem) – Eis o circuito de Qiddiya, que segundo o governo da Arábia Saudita será construído numa cidade que ainda não existe e que pretende ser uma espécie de Las Vegas das arábias. O país sabe que em algum momento seu petróleo acaba e que o planeta está trabalhando para substituí-lo por outras fontes de energia. Resolveu investir em eventos esportivos e culturais, jogatina, hotelaria vinte estrelas, cidades nababescas, projetos mirabolantes, limpar a barra de sua cultura autoritária, misógina e homofóbica, uma loucura total.

Num mundo pobre e miserável, em que gente morre de fome e se mata ali do lado, acho tudo isso uma barbaridade. Mas às vezes fico me perguntando… Daqui a mil anos alguém vai encontrar as ruínas dessa coisa aí e dizer: oh, como os antigos faziam obras grandiosas! Talvez eu fosse contra o Coliseu se vivesse há dois mil anos. Quem esse Vespasiano acha que é? Imperialista de merda!

Hoje vejo e fico admirado. Por isso, não sei bem o que pensar desse negócio.

A pista foi imaginada por Hermann Tilke e Alexander Wurz, ele mesmo. É para ser sede do GP da Arábia Saudita a partir de 2028, no lugar de Jedá. Tem uma curva elevada a 70 metros de altura, numa espécie de viaduto, que passa sobre uma área de shows ou algo do gênero. É um projeto sem pé nem cabeça, que se inspira em videogames. Aliás, a cidade toda se parece com um videogame.

Acho que sei, sim, o que pensar desse negócio.

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ÁLBUM (SOBRE RODAS) DE FAMÍLIA

E agora? Quem foi que me mandou? E agora? Que Corcel é esse?

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ENCHE O TANQUE

SÃO PAULO (vá lá…) – Me mandaram pelo Twitter. Na Dinamarca, uma empresa está projetando e construindo estações de carregamento para carros elétricos com a estética de antigos postos de gasolina. Tudo com materiais que não agridem o meio ambiente e tal. Aqui tem mais fotos.

O que eu acho? Bonitos. Mas nunca serão!

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DICA DO DIA

SÃO PAULO (loucura, loucura!) – Diz a lenda que em 1980 algum passarinho contou a alguém na Williams que alguma equipe estava testando um carro sem… suspensão! E que seria muito rápido. A ideia, conceitualmente, era manter o carro a uma distância constante do chão o tempo todo. Conceito que, do ponto de vista aerodinâmico, fazia todo sentido — anos depois, com o desenvolvimento das suspensões ativas, chegou-se a algo assim.

Alan Jones foi o piloto escolhido. Previsivelmente, achou uma merda. Para fazer o teste, a Williams sacou as molas das suspensões do carro. “Se pudessem colocar uma suspensão no meu banco, pelo menos…”, falou o australiano, acrescentando que aquele troço iria quebrar seus ossos de tanto que pulava. O carro, duro que nem pedra, arrebentou a caixa de câmbio. O time desistiu da ideia.

Billy Silver mandou o vídeo.

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SOBRE SÁBADO À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA

Jos Verstappen e Toto Wolff: rumores

SÃO PAULO (pai é pai) – Uma foto, muitas vezes, é apenas uma foto. Em outras, um sinal, um indicativo, uma pista. Essa aí em cima pode ser qualquer coisa. Apenas uma foto de duas pessoas que se conhecem faz tempo, frequentam o mesmo ambiente 24 finais de semana por ano, se encontram de vez em quando e perguntam como estão as coisas, como vai a família, vamos jantar qualquer dia desses? Ou um indício de que algo maior está acontecendo.

O que leva a essa percepção é que não são duas pessoas quaisquer no ambiente chamado Fórmula 1. Ambas estão envolvidas em episódios recentes que mexem com o futuro das equipes às quais estão ligados, e essas equipes, por acaso, são a Red Bull e a Mercedes, que ganharam os últimos 28 títulos mundiais de Pilotos e Construtores na categoria. A saber: pela Red Bull, quatro de Vettel (2010 a 2013) e três Verstappen (2021 a 2023); pela Mercedes, seis de Hamilton (2014, 2015 e 2017 a 2020) e um de Rosberg (2016). Entre as equipes, a Red Bull ganhou seis (2010 a 2013, 2022 e 2023) e a Mercedes, oito (2014 a 2021).

A Red Bull está em chamas desde a eclosão no início de fevereiro do “Caso Horner”, episódio envolvendo o chefe da equipe desde 2005. Ele foi acusado por uma funcionária da equipe e passou a ser investigado internamente por “comportamento inadequado”. Na quarta-feira da semana passada, a Red Bull informou que os investigadores independentes rejeitaram a denúncia. Mas, um dia depois, vazaram prints de supostos diálogos por WhatsApp entre Horner e a denunciante que, até agora, não tiveram sua veracidade confirmada. Da mesma forma, ninguém negou que sejam verdadeiros.

A Mercedes está em chamas desde o dia 1º de fevereiro, quando Hamilton, 11 anos de casa, anunciou que não iria cumprir o segundo ano de seu contrato atual, que terminaria no final de 2025. Tinha uma cláusula que lhe permitia sair no final do primeiro ano, e exerceu esse direito para correr na Ferrari. Quem vem para seu lugar? Essa é a pergunta de um milhão de dólares que, a partir de uma declaração específica do chefe da Mercedes, Toto Wolff, pode ter várias respostas. A declaração? “Vamos precisar de ousadia neste momento”. Uma das respostas possíveis?

Max Verstappen.

Por isso, a foto acima é a mais importante do fim de semana do GP do Bahrein, que abriu a temporada da F-1 no sábado. Mais do que qualquer coisa que tenha acontecido na pista, é o que está rolando fora dela que importa.

Verstappen (dir.) com Pérez: dobradinha em segundo plano

Jos Verstappen não pertence à Red Bull, mas é pai do menino. E, no domingo, o “Daily Mail”, jornal inglês, publicou entrevista incendiária com o ex-piloto holandês. Jos abriu fogo sem muito pudor contra Horner. Para ele, a permanência do inglês na chefia da equipe pode despedaçar a Red Bull. Defendeu claramente sua saída, disse que Horner está se fazendo de vítima e que é o culpado de tudo. Tem um tempo que Verstappen-pai e Horner não se bicam. Jos não é flor que se cheire — sabemos bem disso nós que convivemos com ele nos anos 90 como piloto. Quando pisam em algum de seus calos, a besta-fera urra. Se o dirigente pisou em algum agora, ou se é algo que Verstappen-pai vem remoendo faz tempo, não sabemos.

As denúncias contra Horner foram reveladas primeiro pelo jornal holandês “De Telegraaf”. Não é muito difícil imaginar quem tenha sido a fonte do jornal nesse caso, embora seja só uma suposição. E por que Jos e Horner não se bicam? O pano de fundo dessa história pode estar num passado distante, mas pode também estar ligado a algo bem atual: dinheiro. Papai acha que o filhinho merece um salário melhor e não é valorizado por Horner. Mas tem mais. Christian é muito próximo do braço tailandês da Red Bull — o energético nasceu na Tailândia nos anos 80 e a família de seu criador é sócia da empresa até hoje. É da Tailândia que Horner tem recebido apoio neste momento. Jos tem maior afinidade com a “divisão austríaca”, que tem como maior guru Helmut Marko, o veterano “consultor” do time que, por sua vez, desfruta da admiração e amizade incondicionais de Max, o filho.

É uma briga interna de poder. Que pode respingar na Ford, parceira técnica anunciada da Red Bull a partir de 2026. Na semana passada, a montadora pediu mais transparência da equipe na condução do “Caso Horner” evocando seus “valores éticos e familiares”, ou coisa que o valha. E já tem gente dizendo que haveria indicações de que o motor que a Ford está desenvolvendo com a Red Bull para 2026 não seria lá grande coisa, e que talvez seja a hora de Max picar a mula.

O tricampeão mundial tem contrato com a Red Bull até o fim de 2028. Contratos são quebrados, todos sabem. Perguntado sobre Verstappen, o filho, Wolff disse ao site “F1 Insider”: “Tudo é possível”.

Portanto, tudo é possível.

Agora vamos ao rescaldão do GP do Bahrein.

O NÚMERO DO BAHREIN

114

…vitórias tem agora a Red Bull na F-1. A equipe, assim, empata nas estatísticas com a Williams na quarta colocação entre as equipes que mais ganharam corridas na categoria. A Williams não vence um GP desde a Espanha/2012. Ferrari (243), McLaren (183) e Mercedes (125) ainda estão à frente do time das latinhas. Mas é questão de tempo, não muito tempo, para que os rubrotaurinos entrem no top-3, deixando a Mercedes para trás.

Foi um massacre de Verstappen, que ganhou a prova com 22s457 de vantagem para seu companheiro Sergio Pérez. No ano passado, a dobradinha da Red Bull no Bahrein foi igual, mas o mexicano terminou 11s987 atrás.

O novo carro desenhado por Adrian Newey mostrou ser mais eficiente em algo que incomodava no modelo de 2023: curvas lentas. Quem viu a corrida com atenção de dentro do cockpit de Max percebeu a melhora, inclusive com o uso de marchas mais baixas — curvas que eram feitas em terceira passaram a ser feitas sem segunda; mais tração, maior velocidade na saída. “Estamos mais atrás deles do que imaginávamos”, disse Hamilton, apenas sétimo colocado. Acho que todos os outros pilotos tiveram essa impressão.

Mas quem expressou melhor a superioridade do holandês foi o chefe da Mercedes. É dele, pois…

A FRASE DE SAKHIR

“Max está em outra galáxia.”

Toto Wolff

HORNER & GERI – São raríssimas as aparições de Geri Halliwell, mulher de Christian Horner, em corridas. Ela esteve no Bahrein, e o marido fez questão de postar essa foto aí em cima na sua conta no Instagram. Mas seu casamento está no mesmo pé que o do Buda do BBB depois de seus avanços sobre a Pitel. Não tem mais como salvar.

“IMATURO” – Relatamos no sábado a ordem da Débito ou Crédito? para Tsunoda ceder a posição a Ricciardo. Ele ficou pistola, mas acabou entregando, depois de esbravejar no rádio. Após a bandeirada, quando os dois voltavam para os boxes, Yuki jogou o carro em cima do companheiro. A imagem pode ser vista aqui, aos 7min06s do vídeo. Ricciardo estrilou na hora, mas evitou soltar os cães sobre o japonês. Atribui a explosão do parceirinho à sua “imaturidade”. Tsunoda disse que iria conversar com a equipe e continuou reclamando nas entrevistas depois do GP. OK, a ordem da Quer Que Imprima Sua Via? foi sem sentido — estavam em 13º e 14º. Mas o chilique do japonês, mais ainda.

MUDA TUDO – A Alpine só terminou a corrida à frente de Bottas, que perdeu um ano num pit stop, e de Sargeant, que teve um apagão eletrônico em seu carro — problema atribuído ao novo volante da Williams. Resultado: caiu a cúpula técnica do time francês. Saíram o diretor técnico Matt Harman e o chefe da aerodinâmica Dirk de Beer. A equipe agora terá três diretores técnicos respondendo ao chefe Bruno Famin. São eles: Joe Burnell (engenharia), David Wheater (aerodinâmica) e Ciaron Pilbeam (performance). A crise é gigantesca. Já tem gente falando que a Andretti pode fazer uma oferta pela franquia — é disso que se trata, atualmente — que pertence à Renault. Não duvido.

MAIS UMA – A última do dia: o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, está sendo investigado internamente na entidade. Segundo a BBC Sport, ele teria interferido para que uma punição a Fernando Alonso fosse revertida no GP da Arábia Saudita do ano passado. O espanhol tomou uma punição de 10s depois de encerrada a corrida porque quando cumpriu um outro pênalti nos boxes (5s por ter alinhado na posição errada para a largada) um mecânico encostou em seu carro antes do tempo. A punição foi revertida pelos comissários e Alonso levou seu troféu de terceiro lugar. A Aramco, estatal saudita do petróleo, é patrocinadora da Aston Martin. E, também, patrocinadora global do Campeonato Mundial. Ben Sulayem é dos Emirados Árabes. Entendam como quiserem. Tomara que isso seja provado e que ele perca o cargo. Com suas posições conservadoras (sobre tudo) e seu perfil autoritário, esse cara é um mal para o esporte.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Sainz: terceiro em seu último ano de Ferrari

GOSTAMOS da disposição de Carlos Sainz, que foi ao ataque e buscou um pódio suado, mesmo tendo seu companheiro em segundo no grid. “No ano passado ficamos o tempo todo administrando pneus, sem poder atacar ninguém. Com esse carro é bem diferente”, falou o espanhol. “Chegamos perto de uma Red Bull!”, comemorou, depois de receber a bandeirada a 2s653 de Pérez.

NÃO GOSTAMOS da audiência da corrida na TV aberta. Segundo os dados preliminares, a Band deu apenas 1.2 ponto de média na Grande São Paulo, com picos de dois pontos. É quase nada. Cada ponto equivale a 191.477 pessoas na região metropolitana.

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HOT HOT HOT (3)

Verstappen: 55 vitórias na carreira, oitava seguida, tetra à vista

SÃO PAULO (com o pé nas costas) – A 55ª vitória da carreira de Max Verstappen, oitava seguida (venceu as últimas sete do ano passado), foi das mais tranquilas de sua vida. O holandês desfilou pelo circuito de Sakhir, no Bahrein, abrindo a temporada 2024 com um recado muito claro: será campeão de novo. Fez a pole, liderou todas as voltas, ganhou e fez a melhor volta da corrida. Isso se chama Grand Chelem, alguns chamam de Grand Slam. A gente diz que é barba, cabelo, bigode e, sei lá, sobrancelha. Passar a régua. Foi a quinta vez que Max fez isso na F-1. O recordista é Jim Clark, com oito, seguido por Hamilton, com seis. Verstappen está, agora, ao lado de Schumacher e Ascari nessa estatística.

As coisas são como são, não adianta inventar. Ano passado, no Bahrein, Verstappen venceu e Pérez foi o segundo, também. Na ocasião, o mexicano ficou 11s987 atrás do parceiro. Essa diferença hoje dobrou. A melhor Mercedes do ano passado, de Hamilton em quinto, terminou 50s977 atrás. A melhor hoje, de Russell também em quinto, a 46s788. A melhor Ferrari de 2023 em Sakhir foi a de Sainz, em quarto, a 48s052 de Max. Hoje, o mesmo Sainz ficou em terceiro 25s110 atrás. Alonso, terceiro no ano passado, recebeu a bandeirada 38s637 depois de Verstappen. Hoje, 1min14s887.

A conclusão? Seguem todos batendo cabeça, o cenário é idêntico ao de 2023 e o tricampeão será tetra. Fácil.

Mas vamos contar a historinha desse GP do Bahrein, sempre tem o que contar.

Sainz: terceiro, pódio para a Ferrari

Na largada, um toque de Hülkenberg em Stroll foi o único incidente a ser relatado. Verstappen pulou bem, seguro e firme, e foi embora. Na terceira volta, apenas, começaram os primeiros movimentos de ultrapassagens: Norris para cima de Alonso, assumindo a sexta colocação, e Russell passando Leclerc, pulando para segundo.

Max, em seis voltas, já tinha 4s de vantagem para o educadíssimo inglês da Mercedes. Leclerc vinha atrás deles, com Pérez em quarto e Sainz em quinto. Os dois carros da McLaren já haviam superado Alonso, que caiu para oitavo. Hamilton e Tsunoda fechavam a turma dos dez primeiros.

Todos os pilotos largaram com pneus macios, prevendo uma prova de pelo menos duas paradas. O asfalto come-borracha do Bahrein demandaria uma primeira janela de pit stops não muito tardia.

Quando a prova foi encontrando seu ritmo, Pérez, sem muita dificuldade, passou Leclerc e foi para terceiro. O monegasco começou a cometer erros bobos que, mais tarde, seriam certamente atribuídos aos seus pneus. Velho problema da Ferrari: andar bem na classificação, mal na corrida.

Na altura da décima volta, uma dobradinha da Red Bull já se desenhava com contornos nítidos. Verstappen tinha 7s de vantagem para Russell, com Checo se aproximando pouco a pouco. Atrás deles, a dupla ferrarista começou a se pegar perigosamente até Sainz passar Leclerc, que caiu para quinto. De segundo na largada para quinto em dez voltas. Não, não era um bom início de prova, de campeonato, de ano para Charlinho.

Na 12ª volta Russell e Leclerc foram para os boxes e colocaram pneus duros. Verstappen e Pérez se estabeleceram, então, em primeiro e segundo. Entre eles, um intervalo de 10s. A 29ª dobradinha da história da Red Bull estava consolidada.

Aberta a janela de pit stops, na volta 13 mais uma leva de carros foi para os boxes. Naquele momento, o que interessava era ver como voltariam à pista Pérez, que também parou, e Russell. O britânico retornou ainda à frente. Mas, agora, muito pressionado pelo #11 da Red Bull. Que precisou de apenas uma volta para ganhar a posição. Passou para sexto, mas era um segundo virtualmente. À frente dele e atrás de Verstappen, Sainz, Alonso, Tsunoda e Albon ainda não tinham trocado pneus.

Sainz parou na 15ª volta e perdeu a posição para seu companheiro. Teria de enfrentá-lo de novo na pista. Verstappen, enquanto isso, passeava. Na 16ª volta, todos tinham parado, menos ele – o único com pneus macios na corrida.

Depois das trocas (esqueçam Max, a corrida dele era contra ele mesmo), Verstappen tinha 30s sobre Pérez, com Russell em terceiro. Sainz passou Leclerc e voltou à quarta posição. O holandês, finalmente, parou na volta 18. “Poderiam trocar meus pneus?”, pediu. “Claro, amigo, alguma preferência?” “Pode ser esse com a faixa branquinha.” “Quer dar uma calibrada? Quantas libras o senhor coloca? 32?” “Pode colocar o de sempre, aí.”

Enquanto Verstappen voltava à corrida sem preocupações, mais atrás um endiabrado Sainz partia para cima de Russell. E passou, saltando para terceiro. “Tem certeza que vão me mandar embora e ficar com esse menino chorão aí?”, perguntou pelo rádio. “Como?”, espantou-se o chefe Frédéric Vasseur, com seu adorável sotaque francês. “Nada, nada, perguntei se o menino que entrega o pão está fora de hora ou já chegou ao Pari!” Ficou um silêncio no rádio. “É que às vezes penso em espanhol e falo em inglês e me confundo com as palavras”, justificou-se Sainz. “Oh, oui”, tranquilizou-se Vasseur.

Vasseur: sempre muito delicado com seus pilotos

Na volta 25, uma mensagem chamou a atenção. Hamilton, que se arrastava em oitavo longe de ameaçar alguém ou ser ameaçado, avisou pelo rádio que seu banco estava quebrado. Ninguém lhe respondeu nada. “O banco, pessoal, meu banco está quebrado!” Toto Wolff, então, suspirou e chamou um ajudante. “Diz pro cara aí que se ele quiser um banco novo, é só pedir lá naquele box que tem as paredes vermelhas. E diga também que estamos ocupados lutando por um pódio com George, que costuma respeitar contratos.” O ajudante arregalou os olhos. “Vai lá e diz isso tudo, rapaz, e não esqueça da parte do contrato, agora me deixe em paz!”

As segundas paradas começaram na volta 28, com o pessoal do fundo do pelotão. Nada que mudasse a cotação do petróleo no mercado internacional. Na 30ª, Verstappen tinha 15s de vantagem para Pérez, que não era atacado por Sainz, o terceiro. Russell, Leclerc, Norris, Piastri, Hamilton, Alonso e Tsunoda seguiam nas dez primeiras posições. O tédio imperava.

Na 32ª volta, Russell parou e colocou um novo jogo de pneus duros. Uma tentativa de dar o pulo do gato quando Sainz fizesse sua troca. Mas não deu muito certo, não. Voltou no tráfego, perdeu tempo, acabou se enrolando.

Hamilton parou na 34ª. “E o banco? Meu banco quebrou!” Toto Wolff, lá de dentro da garagem, chamou o ajudante de novo. “Diz pro bonito aí que se ele quebrou o banco, vai ter de pagar. Que no contrato dele não diz que temos de trocar as coisas que ele quebra, e que respeitamos contratos.” O ajudante arregalou ainda mais os olhos. “Vai! Diz logo! E não esqueça da parte do contrato. Depois veja se George está precisando de alguma coisa e me avisa.”

Hamilton: “Estamos mais atrás da Red Bull do que esperávamos”

Carlos parou na volta 36 e, como se imaginava, voltou à frente de Russell com alguma folga. Ambos seguiram nos pneus duros. Já Pérez foi para os boxes na volta seguinte e colocou pneus macios. Na volta seguinte, foi a vez de Verstappen. Fez o mesmo. Ah, não colocou duros porque a equipe gastou tudo e não tinha nenhum, né? Precisou improvisar, né?

Não. Bobagem. Na verdade, a Red Bull foi a única que economizou pneus macios pensando na corrida, e não em fazer voltas voadoras nos treinos livres. Está explicado por que Max e Checo não lideraram a folha de tempos na quinta e na sexta, exceto na hora em que precisava? Espero que sim. A estratégia era exatamente essa: ter dois jogos de macios novos para a corrida, um para começar a prova, outro para terminar, com seus carros mais leves e em condições de fazer duas dezenas de voltas sem se preocupar com o desgaste da borracha menos resistente, mas mais veloz. Simples e brilhante. As ideias mais simples são as mais brilhantes.

Em sétimo entre os dois carros da McLaren, na volta 41, Hamilton entrou no rádio de novo. “Esses caras estão rápidos, parceiro!” Toto Wolff nem deixou o engenheiro responder. Apertou o botão e falou: “Você que é lento!”. Lewis não entendeu. “Como?”, perguntou. “Nada, Lewis, foi linha cruzada”, tentou abafar Bono, o engenheiro. “Ele disse lento?”, insistiu o piloto. “Não, Lewis, ele falou vento”, mentiu o engenheiro, disparando um olhar de censura em direção ao chefe, que devolveu com um gesto de mão como se dissesse “não me enche você também”.

Tinha motivos para estar irritado, o comandante da Mercedes. Era uma noite em que nada dava certo. Na volta 46, Russell, em quarto, já estava longe de brigar pelo pódio com Sainz e passou a ser atacado por Leclerc. Acabou perdendo a posição para a Ferrari #16 na entrada da reta dos boxes.

Na volta 52, lá no fundo do pelotão, a É de Aproximar? ordenou que Tsunoda trocasse de posição com Ricciardo. Eles estavam em 13º e 14º. Ordem que deixou o japonês irritadíssimo. “Vocês estão brincando?” Não deu mesmo para entender direito, nada estava em jogo ali. Azar deles. Arrumaram uma treta interna logo na primeira corrida do ano. Tsunoda ficou até o fim da corrida reclamando pelo rádio: “Valeu, hein? Adorei. E aí? Ele tá rápido, hein? E aí? Não vão falar nada?”. Ninguém falou nada.

Mas era algo absolutamente irrelevante. Verstappen, da equipe matriz, horas à frente, recebeu a bandeirada com impressionantes 22s457 sobre seu companheiro Pérez, o segundo colocado. Sainz completou o pódio. Pelo rádio, mandou ver: “Estão vendo, né? Eu aqui arrebentando, vocês ficam com o garotinho de Mônaco e contratam o Lewis que já tem quarenta anos, é um disparate!” “Como?”, assustou-se Vasseur novamente pelo rádio. “Nada, nada, disse apenas que estou pensando em arrebentar as paredes do meu apartamentinho em Mônaco e que quem vai fazer o serviço é o seu Luís que trabalha com isso há quarenta anos e sempre leva seu alicate.” “Oh, oui”, acalmou-se o chefe com seu encantador sotaque francês.

A zona de pontos teve ainda Leclerc em quarto, Russell em quinto, Norris em sexto, Hamilton em sétimo, Piastri em oitavo, Alonso em nono e Stroll em décimo. Todos os carros completaram a corrida.

Resultado final: domínio absoluto de Verstappen e nenhum abandono

Uma corrida ruim, diga-se. Mas mais uma aula de competência da Red Bull e de Verstappen. Uma ducha de água gelada em quem apostava num campeonato disputado e competitivo, aqueles que acreditam em qualquer besteira que escrevem por aí e se comunicam através de emojis e gritos histéricos em letras maiúsculas nas redes sociais.

Quem acompanha a coisa por aqui sabe que a realidade é bem diferente. A gente pode até torcer para que mude. Mas, como escrevi lá em cima, as coisas são como são. Semana que vem em Jedá vai ser igual.

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FOTO DO DIA

A linda homenagem de Enzo Fittipaldi, da F-2, ao tio Wilsinho.

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HOT HOT HOT (2)

Verstappen: começando o ano como terminou, na frente

SÃO PAULO (água no chope) – Desde o início da pré-temporada, passando pelos treinos de ontem e hoje no Bahrein, Max Verstappen não andou na frente de verdade em nenhum momento. Nenhum massacre, nenhuma humilhação, tempos discretos, poucos sinais de que uma nova carnificina era iminente.

Mesmo assim, todo mundo dizia: ele é o favorito, vai ganhar a corrida, vai ganhar todas as corridas, vai ser campeão de novo, acabem logo com essa Fórmula 1!

Bem, talvez o holandês não tenha neste ano tanta facilidade como em 2023, é difícil repetir algo como 21 vitórias em 22 provas, mas tudo que todo mundo dizia era verdade. Ele é o favorito, vai ganhar a corrida deste sábado, vai ser campeão de novo.

Se vai levar todas, não sei. Acabar com a F-1? Não exagerem.

O grid no Bahrein: melhor tempo foi de Leclerc no Q2

Max e a Red Bull não estavam propriamente escondendo o jogo, nem jogando milho aos pombos quando escolheram não trucidar a concorrência desde a primeira sessão livre do ano. Era apenas uma opção. Estratégia. E ninguém se iludiu muito, mesmo, com Ferrari e Mercedes se revezando nas primeiras posições. Ninguém com mais de dois neurônios, pelo menos. Houve um ou outro que olhou para as tabelas de tempos e saiu proclamando a decadência rubrotaurina, o fim de um ciclo, os efeitos do caso envolvendo o sátiro dos energéticos, que esfacelou o time por dentro. As redes sociais estão cheias de publicações assim, disfarçadas de jornalismo. São os produtores de conteúdo que produzem tais conteúdos — exaltando um primeiro lugar da Ferrari, um brilhareco da Mercedes, a ressureição de Ricciardo, a volta da competitividade, a proximidade do apocalipse.

Mas isso não passa de onanismo digital. A verdade é: quando precisou, Verstappen acelerou. E encontrou a potência que sua equipe vinha economizando, porque não é preciso se esgoelar para fazer voltas rápidas quando não há pontos em jogo.

Hoje, havia uma pole a disputar. A impressão que a Red Bull deixou no autódromo barenita foi a de que finalmente, depois de três dias de pré-temporada, três treinos livres e um Q1, resolveu ligar seu carro. Para todos saberem com quem terão de lidar neste ano.

O RB20 é um carrão: azar da concorrência

A sexta-feira começou com a Ferrari fechando o terceiro treino livre do fim de semana (que não vai até domingo; a corrida é amanhã por causa do Ramadã, o que já foi explicado) e Verstappen em quarto, ainda com o sol da tarde e temperaturas amenas no deserto — coisa de 20°C. A hora da verdade, todos esperavam, seria a classificação depois do pôr do sol. Vamos ver do que esse RB20 é capaz, pensavam todos — secretamente, talvez, torcendo para que não fosse capaz de muita coisa, abrindo a possibilidade de um campeonato mais disputado.

No Q1, a dupla ferrarista foi para a pista com pneus médios, já que o asfalto do Bahrein é do tipo come-borracha. Vieram tempos muito altos e, como os demais, Leclerc e Sainz acabaram colocando os macios, quase um segundo por volta mais rápidos. Foram seis mudanças na ponta da tabela de tempos. Sainz, Albon, Hülkenberg, Norris, Verstappen e Sainz outra vez ocuparam a primeira colocação, com voltas apenas razoáveis. Apenas a última do espanhol, em 1min29s909, deixou boa impressão. Foi o único a andar abaixo de 1min30s.

Ao final da primeira parte da sessão que definiria o grid da abertura do Mundial, nenhuma surpresa na zona de eliminação: Bottas & Zhou (Sauber), Sargeant (Williams) e Ocon & Gasly (a dupla da Alpine, sobre a qual já alertamos ontem: vai carregar a lanterna do campeonato depois de fazer um carro horrível, mais lento que um Clio com junta de cabeçote queimada). Na ponta, atrás de Sainz, uma ligeira novidade: Stroll, colocando a Aston Martin a apenas 0s056 da Ferrari. Verstappen? Terceiro.

Veio o Q2 e a Red Bull, ufa!, deu o ar da graça. Max sentou o pé e fez logo de cara uma volta em 1min29s374, melhor tempo do fim de semana. Enfiou 0s558 no segundo colocado, seu companheiro Sergio Pérez. Começou o ano, pensei com meus botões. Mas Leclerc não quis jogar a toalha antes do tempo. Fez uma voltaça em 1min29s165, 0s209 mais rápido que o tricampeão mundial. “Oooooooohhhhhh!”, exclamou o povo. Não me espantei muito, porque Charlinho é rápido em voltas de classificação e porque, como também já foi dito neste espaço, a Red Bull tem a tradição de priorizar seu ritmo de corrida, sem se preocupar demais em acumular poles. Se o monegasco largasse na frente, seria absolutamente normal.

Os degolados foram Tsunoda (Vai Querer Sua Via?), Stroll (que voltou ao lugar que lhe cabe), Albon (Williams), Ricciardo (Quer Parcelar?) e Magnussen (Haas). A surpresa foi a passagem de Hülkenberg, com o outro carro da Haas, ao Q3. Mas também não é novidade. Amanhã ele despenca depois da primeira bateria de pit stops. Não há milagres nesse negócio.

No Q3, Norris abriu os trabalhos com uma volta em 1min29s679, sendo batido por Russell primeiro e Verstappen logo depois. Max fechou o “primeiro tempo” da fase decisiva da classificação na frente — todos, menos Alonso, teriam duas voltas rápidas para buscar as melhores posições possíveis no grid. Leclerc ficou perto dele, a 0s059. Ambos não melhoraram seus tempos em relação ao Q2.

Na segunda saída, Verstappen baixou para 1min29s179 (foi esperto, pegou um vácuo de Norris na abertura da volta) e Charlinho fez 1min29s407, ficando a 0s228 da pole. Sua volta do Q2, 1min29s165, lhe daria a primeira colocação no grid. Mas ele não conseguiu repeti-la. Russell ficou em terceiro, com Sainz, Pérez, Alonso, Norris, Piastri, Hamilton e Hülkenberg fechando a turma dos dez primeiros.

Russell, o melhor da Mercedes, falou que a briga, amanhã, é só para saber quem vai ficar em segundo. Hamilton, nono no grid, disse que comprometeu o acerto de seu carro para classificação, e espera que a aposta se pague na corrida. Alonso espalhou sorrisos porque não achava que seu carro estivesse tão competitivo. E Leclerc lamentou o fato de ter sido melhor no Q2 do que no Q3. Oh, dia, oh, vida.

Max: 33 poles na carreira

E Verstappen? Deu risada pelo rádio com seu engenheiro e comemorou com a naturalidade de sempre. Foi a 33ª pole de sua carreira, empatando nas estatísticas no quinto lugar com Jim Clark e Alain Prost. À frente dele, agora, estão apenas Hamilton (104), Schumacher (68), Senna (65) e Vettel (57).

A corrida, amanhã, começa ao meio-dia, pelo horário de Brasília. Serão 57 voltas. Caso Horner? Pouca evolução. Não vazaram, pelo menos até agora, mais mensagens — verdadeiras ou falsas. A notícia do dia, em relação ao episódio, foi a reunião entre o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, e o CEO da F-1, Stefano Domenicali, que estudam recorrer ao Código Esportivo Internacional da FIA para intervir na questão, se considerarem que a imagem do automobilismo e da categoria está sendo prejudicada etc. etc. etc.

Horner estava na mureta dos boxes hoje comandando as ações da Red Bull, como faz desde 2005. Mas não sei até quando isso vai durar. Quanto à superioridade do time que dirige, essa vai durar bastante.

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HOT HOT HOT (1)

Os tempos de hoje: Mercedes na frente

SÃO PAULO (calma…) – Eu poderia escrever hoje só sobre os dois treinos livres no Bahrein, abrindo a temporada oficial da F-1. Falar da dobradinha da Mercedes, dos tempos discretos da Red Bull, do tanto que a Alpine vai sofrer, da surpresa da Haas em uma volta rápida (mas vai ficar nisso), do primeiro lugar de Daniel Ricciardo na primeira sessão…

Mas no meio do segundo treino livre um monte de gente começou a receber uns e-mails esquisitos, com uns arquivos estranhos, desviando a atenção da pista para as telas dos celulares. As mensagens, enviadas por um certo “repórter anônimo”, foram despachadas para um mailing bem especial, que incluía todos os chefes de equipe, o presidente da FIA, o CEO da F-1 e jornalistas credenciados. Todos receberam um link que levava a 79 arquivos com prints de supostas conversas por WhatsApp entre Christian Horner, o chefe da Red Bull, e uma mulher. O conteúdo nem é tão picante quanto muita gente gostaria. Mas indica que pode ter coisa vazando por aí. Ou que alguém está produzindo prints falsos.

E uma certeza está no ar: o “caso Horner” está longe de acabar.

O dirigente rubrotaurino se pronunciou algumas horas depois. Num comunicado, disse que não vai comentar “especulações anônimas”, reiterou que nega todas as acusações que lhe foram feitas e afirmou que respeita “integralmente o resultado da investigação independente” e que “cooperou com cada passo” do processo.

Vou colocar os tais prints abaixo, pelo menos o que anda circulando por aí. Com um milhão de ressalvas, que serão feitas depois da imagem.

Parte do que foi entregue à comunidade da F-1: verdadeiro ou falso?

Antes de mais nada, uma explicação. Esses prints teriam sido obtidos a partir de um link do Google docs hospedado em alguma nuvem no éter. Quem os obteve? Não se sabe. Quem colocou na nuvem? Idem. Quem os enviou para a comunidade da F-1? Tampouco.

Por isso, logo de cara é preciso dizer: não há nenhuma prova de que sejam verdadeiros. Podem ser falsos, inventados, criados por alguém. Mas chegaram, sim, às caixas postais da “família da F-1”. O que nos leva a mais uma certeza: tem gente querendo derrubar Horner.

O teor das conversas acima não tem nada de muito espetacular. Pode causar algum mal-estar no casamento de Horner, mas isso é problema dele e de sua esposa, Geri Halliwell — ex-integrante do grupo musical Spice Girls, a quem somos todos solidários. Isso se a interlocutora não for ela mesma — como ninguém tem falado muito claramente sobre o assunto (leia-se Red Bull e o próprio Horner), abre-se um leque infinito de especulações. Até essa. Mas quando se vê o material completo, tal hipótese pode ser descartada.

São diálogos — reais ou fictícios — entre duas pessoas falando amenidades e trocando pequenas safadezas, como “vou tomar banho”, “estou comendo pipoca doce”, “me manda alguma coisa mais ‘quente'”, “sua esposa não ia gostar”, “confesso que fui ao banheiro do avião”.

Se ficaram nisso, essas conversas não parecem configurar um caso de assédio, uma vez que foram conduzidas por dois adultos sem nenhum tipo de ameaça de parte a parte. Há uma certa insistência do suposto homem, alguma hesitação da suposta mulher, idas e vindas, mas nada muito explícito. Insisto: se forem verdadeiros, que Horner e sua mulher se entendam, é algo que diz respeito a eles dois e seu casamento, ninguém tem nada com isso. Não há, nesses papinhos que chegaram às caixas postais da turma da F-1, ameaças físicas, ameaças profissionais, assédio propriamente dito. Pelo menos nos 79 arquivos que li — embora sejam constrangedores em alguns momentos.

Antes de se perguntar se tudo isso é verdadeiro, é o caso de tentar descobrir quem é que mandou as mensagens e com qual intenção. Pode ser uma brincadeira de alguém? Pode. Pode ser verdade? Pode. Mas pode não ser. Tem mais coisa? O remetente sugere que sim. Será que m algum momento as conversas — insisto, se forem verdadeiras — descambaram para algo que possa ser considerado assédio, ou “comportamento inadequado” entre colegas de trabalho? Não se sabe. Se sim, é por isso que houve uma denúncia e, posteriormente, uma investigação. E, por fim, a “absolvição” por parte de quem investigou.

Não vou tomar esses prints, por ora, como verdadeiros. Nem afirmar que são falsos. Apenas publiquei uma parte porque não há imagens comprometedoras e — o que é mais importante — nenhuma menção à suposta interlocutora de Horner capaz de identificá-la. Se parou por aí a troca de mensagens, o máximo que se pode dizer do chefe da Red Bull, é que ele é um “safadjeeenho”. Mas ninguém de fora de seu círculo familiar e de amizades tem nada a ver com sua vida particular.

Agora, que tem gente querendo derrubar o cara, isso tem. Se é gente graúda, não sei.

E — insisto novamente, para não deixar arestas — se em algum momento a suposta interlocutora se sentiu assediada, pressionada ou vítima do que quer que seja, sua denúncia deve ser levada a sério e tratada com todo rigor.

Caso Horner: longe de acabar

À pista, agora.

A Mercedes fez os dois melhores tempos no treino noturno, que é o que mais importa. Mas ninguém na equipe saiu soltando rojões de alegria. Ao contrário, todos disseram que a Red Bull continua na frente, entre outras coisas porque ficou claro que Max Verstappen e Sergio Pérez não se preocuparam muito em impressionar os outros. Seus longos stints simulando corrida foram consistentes e velozes. O tricampeão mundial vigente segue sendo favorito à vitória no sábado. À pole, ainda não dá para dizer. No ano passado, é sempre bom lembrar, o massacre de 21 vitórias em 22 corridas não foi repetido em classificações. Deu 14 x 8 contra rapa. Só.

A primeira sessão, pela manhã para a gente aqui no Brasil, teve Ricciardo em primeiro com o carro da Débito ou Crédito. Nada muito representativo. Foi um treino marcado pelo vento excessivo e por uma temperatura mais baixa que o normal no deserto, apenas 19°C. Fora que a pista estava suja pacas, cheia de areia.

De noite, a satisfação com os resultados, em cada equipe, foi relativizada por todos. É só o primeiro dia, é cedo, ninguém sabe o que o outro fez etc. Mas já deu para ver que a Alpine está mal na fita, correndo o risco de disputar a lanterna com a Haas. Que a Williams tem um carrinho decente. E que a McLaren talvez não esteja tão mal quanto a pré-temporada indicou. Na análise das sequências mais longas de volta, a equipe papaia aparece em segundo, 0s23 mais lenta por volta que a Red Bull. Depois vêm Mercedes (0s4), Ferrari (0s47), Aston Martin (0s75), Williams (0s87), É Aproximação? (0s99), Sauber (1s13), Haas (1s15) e Alpine (1s48).

Amanhã a programação é um pouco mais tardia, com o último treino livre começando às 9h30 e a classificação a partir das 13h pelos horários de Brasília. Vamos esperar. Dando um “refresh” na caixa de e-mails a cada 15 minutos…

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HORNER FICA

SÃO PAULO (é hoje!) – A Red Bull concluiu sua investigação interna e rejeitou a denúncia contra Christian Horner por “comportamento inadequado”. A empresa, que é dona da atual bicampeã de construtores e tri de pilotos, não entrou em detalhes sobre o episódio, disse que foi “justa, rigorosa e imparcial” na condução do caso e afirmou que a parte denunciante tem direito a recorrer da decisão. O chefe do time já está no Bahrein para a primeira etapa do Mundial.

É o resumo, em um parágrafo, do desfecho temporário dessa história que começou no início deste mês, quando Horner foi denunciado por alguém dentro da companhia austríaca. Não se sabe nada oficialmente: se a acusação veio de um homem ou de uma mulher, se o comportamento inadequado tem algo a ver com assédio (por meio de envio de fotos ou mensagens de cunho sexual), se é verdade que foi oferecido um acordo financeiro à vítima, se houve coleta de provas, quantas pessoas foram ouvidas no processo, conduzido de forma independente por advogados externos.

É tudo especulação, simplesmente porque os detalhes não foram revelados e, como diz a Red Bull na nota acima, não serão. Entre outros motivos, para que se preserve a identidade de quem denunciou. Ao menos até o caso ser encerrado definitivamente, porque também não se sabe se haverá alguma apelação. Estão encobrindo algo ou alguém? Duvido. Esse tipo de mentira, hoje, tem perna curta. Por isso as empresas sérias têm procedimentos internos muito rigorosos para apurar qualquer tipo de acusação.

Por enquanto, o caso é tratado no âmbito corporativo. Sendo assim, não estamos falando aqui de um julgamento de ação criminal conduzido por autoridades judiciais. Pode ser que se transforme em algo dessa natureza, mas depende, claro, de quem está acusando. Até por essa razão é de bom tom ser comedido no uso de termos como “inocente” ou “culpado”. Até mesmo “absolvição”.

Há rumores na imprensa inglesa dando conta de que, apesar de ter sido mantido no cargo, Horner pode acabar saindo — por conta própria ou desejo de outrem. Que ninguém espere declarações públicas das partes envolvidas nos próximos dias, porém. Se não houver apelo da parte que acusa, o caso cairá no esquecimento rapidamente. Mas enquanto isso não fica claro, pode ser que tenha desdobramentos internos e silenciosos. Quem pode se pronunciar é a Ford — que cobrou transparência e celeridade da Red Bull no final da semana. Até agora, nada foi dito.

E é o que se tem de concreto até agora.

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