QUEBEQUIANAS (2)

SÃO PAULO (atrasou, mas tudo bem) – A frase de Alonso é de 2013. Nem lembro o contexto. Mas vale para hoje. A chuva não é problema se você não se importa em ficar molhado. Don Fernando de Las Astúrias. El Fodón de La Primera Fila. Foi ele o nome do sábado em Montreal. Como é bom ver piloto bom guiando. O espanhol segue firme em seu “El Plan”, seja lá o que for isso. Tomara que dê certo.
OK, a pole de Verstappen foi daquelas de almanaque e sem grandes ameaças. Max é bom demais na chuva, e isso se sabe desde uma corrida em Interlagos já nem lembro quando. Mas façamos as devidas homenagens ao cara que, aos 40 anos, mete uma Alpine na primeira fila. Aliás, que se registre: desde a pole para o GP da Alemanha de 2012, ainda na Ferrari, que Fernandinho não sabia o que era uma primeira fila. Dez anos. O cara é foda.

Foi o melhor sábado de 2022, graças à chuva em Montreal. Temperatura: 10 a 12 graus Celsius. Verãozão brabo. Daqueles que os quebequianos festejam. Qualquer coisa acima de zero está bom. Se bem que hoje o tempo abusou. Muita água, muito frio.
Q1: todo mundo de pneu para chuva pesada. Degolados: Gasly, Vettel, Stroll, Latifi e Tsunoda. Gasly teve um problema nos freios, uma decepção depois de andar muito bem no último treino livre debaixo d’água. Tsunoda ia perder milhões de posições no grid, de qualquer forma, por troca de motor. Latifi, o de sempre. A dupla da Aston Martin, putz… Não entendi até agora o que aconteceu, especialmente com Vettel — que começou tão bem o fim de semana.
Os tempos do Q1 para o Q2 caíram cerca de 10 segundos, com a adoção dos pneus intermediários. Bottas, Albon, Pérez, Norris e Leclerc ficaram na segunda parte da classificação. Charlinho nem andou, sabendo que iria perder dez posições no grid por troca da central eletrônica de seu motor — no fim, a Ferrari trocou tudo que podia para “zerar” o carro do monegasco nas próximas corridas. Albon foi um herói, levando a Williams ao 12º lugar no grid. Lá na frente, o nome era Alonso, desfilando todo seu talento na chuva. Ao lado dele, dignos de aplausos, Zhou e a dupla da Haas.

O chinês da Alfa Romeo foi ao Q3 pela primeira vez na carreira. Incrível, ainda mais para um piloto que nunca tinha andado em Montreal antes. A Haas foi outra que surpreendeu: levou seus dois pilotos à fase final da sessão, uma façanha e tanto. A pista seguia molhada, mas não tanto quanto no início da classificação.
Com Pérez fora da briga — causou a única bandeira vermelha do dia ao escapar da pista e beijar o muro de proteção no Q2 –, Verstappen era o favorito absoluto à pole no Q3. Sainz, da outra Ferrari, não assustava. Nunca assusta. E Max fez o que dele se esperava. Cravou o melhor tempo disparado com 1min21s299 e deu o primeiro passo para ganhar mais uma amanhã. Só perde se quiser. A previsão indica tempo firme e pista seca. Nessas condições, com Leclerc e Pérez lá no fundão, a chance de vitória é clara e cristalina.
Alonso pode incomodar? Talvez no começo. Às gargalhadas, disse que vai passar o holandês na largada. É franco atirador, está se divertindo, mas sabe das limitações da Alpine frente a uma Red Bull velocíssima, equilibradíssima e soberana neste momento do campeonato. Busca um pódio, o que já seria melhor que a encomenda.

Teve mais gente que se destacou no cair da tarde de Montreal. Além do asturiano, pode-se colocar no olimpo canadense deste sábado o trio Hamilton-Magnussen-Schumacher. Ficaram, pela ordem, em quarto, quinto e sexto no grid. Antes deles larga Sainz — nada de mais nem de menos com a Ferrari. Mas Lewis estava mais feliz do que nunca neste ano, por ter colocado um carro horrendo na segunda fila.
E a dupla da Haas alinha lado a lado na terceira fila como num sonho. Kevin já experimentou coisa parecida — suas melhores posições de largada foram dois quartos lugares pela McLaren em 2014, na Austrália e na Alemanha. Mas Schumaquinho nunca tinha vivido nada parecido. Pode ser que pontue pela primeira vez na carreira. Já está na hora.



Verstappen, Alonso, Sainz, Hamilton, Magnussen, Schumacher, Ocon, Russell, Ricciardo e Zhou fecharam o sábado chuvoso nas dez primeiras posições do grid. Um grid embaralhado graças ao aguaceiro que encharcou a Île Notre-Dame, uma ilha artificial onde fica o circuito Gilles Villeneuve.
Jorginho foi o único que tentou algo meio suicida, no final do Q3, ao colocar pneus slicks macios para aproveitar o trilho que começava a se formar na pista canadense. Não deu muito certo, mas foi elogiado pelo chefe, Toto Wolff. “Fiquei encantado com a tentativa”, derreteu-se o dirigente da Mercedes. “Já tinha conseguido algo parecido quando estava na Williams, precisava tentar alguma coisa”, justificou o piloto.
O segundo lugar de Alonso foi fenomenal, embora a diferença no cronômetro, 0s645, indique claramente que não houve disputa pela pole. Verstappen sobrou, seu único adversário era o relógio. Sainz, em terceiro, ficou 0s797 atrás do líder do Mundial. Hamilton, o quarto, fechou o cronômetro a estrondoso 1s592 da pole.
A corrida tende a ser bem legal, em que pese o favoritismo quase obsceno de Verstappen. Seria ainda melhor se chovesse. Mas não se pode querer tudo. A água fez sua parte hoje. Agradecemos. Por ora, está dispensada.