SOBRE ONTEM DE MADRUGADA
A IMAGEM DA CORRIDA
SÃO PAULO (repensem seus conceitos) – Max Verstappen já pode ser colocado, fácil, na lista dos três maiores de todos os tempos. Ao menos na minha. Cada um tem a sua, e não vou discutir isso aqui. Meus outros dois são Michael Schumacher e Lewis Hamilton. Pela ordem? OK, sem muro: Schumacher, Verstappen e Hamilton. Por quê? Porque sim, poderia dizer para abreviar a conversa. Mas se os números não bastarem, pensem em tudo que esses três já fizeram na F-1 (ganhar campeonato de Benetton, tirar a Ferrari da fila, conquistar cinco títulos seguidos, bater recordes de vitórias e poles, estrear aos 17 anos, ganhar corrida aos 18, vencer 19 num ano…) e depois ponderem com as grandes façanhas de seus preferidos, e façam a lista que quiserem.
A minha tem Verstappen.
Entre outros motivos, porque também gosto do estilo mais “cool”, menos afetado, distante de querer fazer da Fórmula 1 algo maior do que é — um campeonato de corridas de automóveis, não uma odisseia de heróis vestindo armaduras que enfrentam demônios e dragões. Uma competição de altíssimo nível em todos os níveis, se é que me entendem. Um esporte que exige talento, alguma coragem, força mental e física. Ganha o mais rápido, e quando não der para ser mais rápido, que seja o mais esperto e inteligente.
Verstappen reúne todas essas qualidades. E a que mais encanta é o jeito de pilotar: preciso, rápido, decidido, criativo quando precisa. Max é um rapaz que gosta de carros que sejam como ele, velozes e eficientes. É um competidor puro-sangue que não tem inimigos imaginários.
O tetra é merecidíssimo. Não foi com o melhor carro do ano, mas quando teve alguma vantagem técnica, no início da temporada, fez o que tinha de fazer: ganhou 70% das dez primeiras corridas. Aí foi só esperar o momento de comemorar. E, de presente, ainda deu aos fãs da F-1 uma das mais lindas vitórias de qualquer piloto em todos os tempos, a de Interlagos.
Acho que não dá para pedir muito mais.
A temporada de 2024 tem sido muito boa. Tem sido, porque ainda não acabou. Há uma boa disputa pelo título de construtores, que está abertíssimo: McLaren com 608, Ferrari com 584. São apenas 24 pontos de vantagem para o time papaia, que anda meio cabisbaixo depois do que aconteceu em São Paulo. As atuações de Norris e Piastri em Las Vegas foram muito discretas, opacas, apagadas. Fizeram, juntos, 15 pontos — contra 27 da Ferrari e 43 da Mercedes.
Faltam duas etapas, no Catar, neste fim de semana (com Sprint), e em Abu Dhabi. E com a vitória de Russell ontem de madrugada, pela primeira vez na história sete pilotos diferentes venceram mais de um GP na mesma temporada: Verstappen (oito), Norris e Leclerc (três cada), Piastri, Sainz, Hamilton e Russell (dois cada). Claro que a fartura do calendário, com suas 24 corridas, ajuda. Mas considerando que no ano passado foram só três vencedores (Max com 19 vitórias, Pérez com duas e Sainz com uma), não dá para reclamar.
Acho que já falamos ontem dos agora cinco pilotos da história que conseguiram quatro títulos seguidos. Verstappen se junta a Schumacher (cinco, de 2000 a 2004), Vettel (2010 a 2013), Hamilton (2017 a 2020) e Fangio (1954 a 1957). Uma galeria e tanto. Perguntaram ao holandês se ele, quando corria de kart, imaginava que chegaria a tanto. A resposta foi simples e direita: “Absolutamente não!”. Disse que sonhava em chegar à F-1, quem sabe fazer uns pódios e ganhar umas corridinhas, mas tanto assim, não.
Abaixo, a lista de todos os campeões desde 1950, para recortar e guardar. É modo de dizer, claro. Basta salvar a imagem no computador.
O NÚMERO DE LAS VEGAS
5º
…lugar dá título em Las Vegas. Foi em quinto que Verstappen ganhou o tetra, ontem. A cidade recebeu a F-1 em 1981 e 1982 numa pista montada no estacionamento de um hotel. As corridas fecharam aquelas temporadas. Em 1981, Nelson Piquet, de Brabham, terminou em quinto e Carlos Reutemann, da Williams, foi o oitavo. O brasileiro terminou campeão com 50 pontos, contra 49 do argentino. No ano seguinte, Keke Rosberg, da Williams, também terminou em quinto e garantiu seu único título com 44 pontos. O vice-campeão, Didier Pironi (Ferrari), ficou com 39. Mas ele não participou das últimas cinco etapas do Mundial, depois de sofrer grave acidente nos treinos para o GP da Alemanha. John Watson, da McLaren, também fez 39 pontos. Segundo em Las Vegas, o resultado não foi suficiente para bater o finlandês na pontuação. Naqueles tempos, só os seis primeiros pontuavam: 9-6-4-3-2-1. Das quatro corridas disputadas até hoje em Las Vegas, portanto, três decidiram campeonatos.
Algumas notas rápidas agora, que ontem deixamos passar. Começando com Ocon, coitado, que foi fazer um pit stop e ao entrar nos boxes viu que não tinha mecânico nem pneu esperando por ele. Acabou fora da zona de pontos. Já na Haas, Magnussen reclamou que foi o único com estratégia de apenas uma parada. Deu errado, claro.
E teve uma treta na Ferrari. Leclerc não gostou de ter sido ultrapassado por Sainz no início da prova. E disparou…
A FRASE DE LAS VEGAS
“Eu só me fodo por ser bonzinho.”
Charles Leclerc
Para terminar, a notícia do dia: a F-1 aceitou a inscrição da GM, com a marca Cadillac, para ser a 11ª equipe da categoria em 2026. Faltam alguns detalhes, mas o básico está feito. Tiraram Michael Andretti da jogada e a montadora americana se associou ao investidor Dan Towriss, que na prática tomou a equipe do ex-piloto. A marca Andretti vai ficar na Indy.
Mas como as coisas são esquisitas no mundo corporativo, o pai de Michael, Mario Andretti, 84 anos, será o diretor do Conselho da equipe, que deve se chamar Cadillac Racing ou Cadillac F-1 Team. O time americano terá sede em Silverstone (que Michael construiu) e deve usar motores Ferrari em 2026 e 2027. Em 2028, a ideia é ter motores próprios. Michael disse no Twitter (ou X, como quiserem chamar essa merda) que vai “torcer” pelo sucesso da empreitada.
GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS
GOSTAMOS da Haas, que com o oitavo lugar de Hülkenberg passou a Alpine e agora está em sexto com 50 pontos. Os franceses têm 49 e a Débito ou Crédito, 46. Briga boa para o final do ano.
NÃO GOSTAMOS da demora para a cerimônia de premiação, com aquele passeio ridículo de Rolls Royce para fazer propaganda de hotel.