LAS BREGAS (4)

Max “Elvis” Verstappen: 18ª vitória no ano, 53ª na carreira

SÃO PAULO (no fim, deu tudo certo) – Que se diga logo de cara: foi uma ótima corrida, essa de Las Vegas. Um evento que começou muito mal com os problemas dos bueiros na noite de quinta (madrugada de sexta para nosotros no Brasil), mas terminou com um grande espetáculo graças a um traçado que acabou se revelando mais interessante do que se previa. É o que sempre digo: na F-1, muita coisa que a gente antevê como catastrófica pode dar certo quando os carros vão para a pista. Outras ideias que julgamos excelentes, quando colocadas em prática, dão com os burros n’água.

Vegas se encaixa na primeira categoria. A concepção do circuito da cidade dos cassinos, com a gigantesca reta da avenida principal e longas áreas de frenagem, resultou numa prova bem disputada, com brigas até o final e a cereja do bolo da última volta com Charles Leclerc ultrapassando Sergio Pérez para mordiscar a segunda posição. Se em Interlagos exaltamos o duelo do mesmo Pérez com Fernando Alonso pelo pódio na última volta do GP de São Paulo, é justo que façamos o mesmo em Las Vegas. Foi muito bacana.

Quem ganhou? Ora, ora, ora… Max Verstappen, claro. Pela 18ª vez no ano em 21 corridas. Um índice de aproveitamento impressionante de 85,7%. E pela 53ª vez na carreira, igualando a marca de Sebastian Vettel nas estatísticas. O holandês, agora, está em terceiro lugar no ranking dos maiores vencedores da história, atrás apenas de Lewis Hamilton (103) e Michael Schumacher (91).

O mergulho de Leclerc sobre Pérez: emoção até os últimos metros

E não foi um triunfo mamão-com-açúcar, este de Verstappen. O tricampeão mundial teve de driblar uma punição de 5s no começo da corrida e uma colisão com George Russell na metade para colocar mais um troféu de vencedor na estante.

Na largada, Max conseguiu pular à frente do pole-position Leclerc, mas na primeira curva, com pouca aderência nos pneus frios — a temperatura ambiente era de 18°C, com 17,5°C no asfalto –, espalhou demais e jogou o monegasco para a área de escape. Os comissários esportivos demoraram para avaliar a manobra, mas na altura da oitava volta avisaram que ele seria punido com 5s — pena que teria de ser cumprida no primeiro pit stop.

A maioria dos pilotos escolheu os pneus médios para começar o GP numa pista muito lisa e gelada. Mas alguns que largavam mais atrás, na segunda metade do pelotão, optaram pelos duros — menos aderentes ainda. Foi o caso, por exemplo, de Oscar Piastri, Hamilton, Lance Stroll, Pérez e Alonso — que, ao longo da corrida, teriam lá seus momentos de protagonismo.

Alonso, por conta disso, rodou logo na primeira freada, quase causando um acidente múltiplo. No fim, se recompôs e ainda conseguiu chegar ao fim da prova na nona colocação. Bem, mesmo, largou Yuki Tsunoda. De pneus macios, saltou de 20º para 12º na primeira volta. Mas ficou nisso. Acabou abandonando no final, com problemas no câmbio.

Logo na terceira volta, lá no fundão, Lando Norris bateu forte — teve até de ser levado a um hospital para checar seu estado geral –, motivando a entrada do primeiro safety-car da noite. Alonso e Pérez aproveitaram para ir aos boxes, trocaram os bicos de seus carros, danificados na largada, e conseguiram se recolocar na corrida. A relargada aconteceu na volta 7. Verstappen se segurou na frente, mas Leclerc não desgrudava dele. E conseguiu dar o bote para cima do holandês na volta 16, assumindo a ponta.

Sentindo que seus pneus já não rendiam grande coisa, o piloto da Red Bull foi imediatamente para os boxes, pagou a multa de 5s e voltou à prova em 11º. Teria de remar bastante para recuperar o tempo perdido.

Início de prova para Verstappen: pressionado por Leclerc

E foi o que Max fez. Quem aparecia pela frente, ele passava. “A asa móvel aqui ajudou muito”, contou depois da corrida. De fato, contrariando alguns prognósticos que apontavam na direção oposta, em Vegas dá para passar e não é difícil. Na volta 23, Verstappen já era o sexto, tentando descontar a diferença para Leclerc, que parou na 21ª e voltou em terceiro. Pérez e Stroll, que largaram com duros, eram os dois primeiros — o mexicano já tinha feito um pit stop no início, mas como foi sob safety-car não perdeu muito tempo.

A corrida era boa, com ação de cabo a rabo, e chegou à metade com Max na quinta colocação. Foi quando o holandês mergulhou para cima de Russell na curva 12 e voou pedaço de carro para todo lado. “Ele jogou o carro em cima de mim!”, reclamou o tricampeão, pedindo para a equipe verificar asa dianteira e pneus. “Tá tudo bem, Max”, ouviu de volta.

Russell: pênalti deslocou o inglês de quarto para oitavo no fim

Como tinha muita coisa espalhada pela pista, acionaram o safety-car novamente na volta 26 para a faxina geral. Pérez e Stroll pararam. Leclerc assumiu a ponta, mas optou por não colocar pneus novos. E, aqui, destaque-se outra previsão que não se confirmou: a de uma calamitosa degradação dos pneus; não aconteceu, o que surpreendeu todo mundo, principalmente os pilotos. Verstappen também se jogou nos boxes durante o safety-car. Charlinho, Pérez, Gasly, Piastri, Verstappen e Ocon eram os seis primeiros. Stroll, Albon, Russell e Sainz completavam a lista do top-10.

A relargada aconteceu na volta 29 e Russell foi punido com 5s por bater em Verstappen quando foi ultrapassado. A penalidade lhe custaria caro. Ele terminaria a prova em quarto, mas o tempo acrescido o atirou para a oitava colocação. Piastri passou Gasly e assumiu o terceiro lugar. Leclerc, pouco antes, quase rodou atrás do safety-car, com pneus muito frios.

E sobrou para Pérez atacar o monegasco, enquanto Max tentava se livrar de Gasly e se defendia de Ocon, o sexto. Quando a asa móvel foi liberada, ele passou o francês da Alpine. Checo, por sua vez, tinha mais dificuldades com a Ferrari #16. Só na volta 32 conseguiu superar o carro vermelho para assumir a ponta. Na 33ª, Verstappen deixou Piastri para trás e partiu para cima de Leclerc.

Percebendo que Pérez não se mandava na frente, Chaleclé resolveu dar o troco no mexicano e na volta 36 retomou a liderança no mesmo ponto onde houvera sido ultrapassado. Na mesma volta, Max jantou o companheiro. “O vida, oh dia”, suspirou Leclerc ao ver Verstappen no retrovisor. E na volta 37 Max assumiu a ponta, fazendo a ultrapassagem sobre o ferrarista.

Para não ser mais incomodado, rapidamente o piloto da Red Bull tratou de abrir mais de 1s sobre Leclerc de forma a não ser surpreendido pela asa móvel do adversário. Mas nem precisava. Na volta 43, Charlinho errou uma freada, quase bateu, e Pérez aproveitou o ensejo para assumir o segundo lugar. Pouco depois, Piastri parou, com os pneus bem gastos. Fazia uma grande corrida. Mas caiu para 12º. Outro que despencava volta a volta era Gasly, sendo ultrapassado por todo mundo, perdendo rendimento nos pneus. A cinco voltas do fim, estava em décimo. Seu parceiro Ocon, em compensação, brilhava em quarto, trazendo com ele outro bom nome da noite, Stroll.

Leclerc, combativo, retomou sua contenda com Pérez. Na volta 46, já estava de novo a menos de 1s do mexicano para, abrindo a asa, tentar retomar o que julgava ser dele. A Red Bull, na última volta, pediu para Verstappen tirar um pouco o pé de modos que Checo pudesse aproveitar o vácuo se distanciando do assédio do piloto da Ferrari. Nem isso adiantou. Na curva 14, Leclerc foi para cima e passou o infeliz do carro #11. Como em Interlagos, no apagar das luzes – aqui, quem passou Pérez foi Alonso.

Bandeirada de Justin Bieber: meio desajeitado

Meio desajeitado, o cantor Justin Bieber deu a quadriculada para Verstappen ganhar mais uma. Leclerc e Pérez completaram o pódio. Ocon, Stroll, Sainz, Hamilton, Russell, Alonso e Piastri fecharam a zona de pontos. Ocon saiu de 16º para quarto; Stroll, de 19º para quinto. Foram dois grandes destaques da corrida. Por outro lado, três pilotos que largaram lá na frente, Gasly, Albon e Sargeant, ficaram para trás e não pontuaram. Pelo rádio, Max cantarolou, às gargalhadas, “Viva Las Vegas”, de Elvis Presley – hit dos anos 60 cuja letra, a quem interessar possa, está aqui.

Os três primeiros estacionaram seus carros no Parque Fechado e foram enfiados no banco traseiro de um Rolls Royce. Ficaram bem apertados, Verstappen no meio. O cerimonial previa levá-los até o hotel Bellagio, onde seria feita a entrevista pós-corrida diante do lago artificial com sua famosa fonte luminosa.

Verstappen e Pérez vestiam macacões circenses cheios de estrelas e com o nome de Elvis inscrito na cintura – figura onipresente em Vegas, a começar dos chatíssimos clones que se vestem como o cantor e circulam pela cidade. O primeiro, de branco; o segundo, de vermelho. O ex-piloto David Coulthard fez as perguntas protocolares, Max disse que adorou a corrida e jurou que estava ansioso para voltar no ano que vem, entraram de novo no Rolls Royce e voltaram para a área de box para receber seus troféus.

O pódio foi montado sobre uma estrutura que lembrava um gigantesco caminhão de trio elétrico puxando foliões no carnaval de Salvador. Era, na verdade, um conjunto de três caixotes revestidos de telões – os mesmos que foram usados na cerimônia de apresentação dos pilotos, quarta à noite. Troféus entregues, um show de fogos espalhados pelos edifícios mais altos da cidade encerrou a festa.

A corrida foi breve, menos de 90 minutos de ação numa pista que, embora seja de rua, é bem veloz. Ficou até um gostinho de “quero mais”. Leclerc seguiu na sua rotina de fazer poles e não vencer — são 23, com apenas quatro vitórias. Pérez, apesar da decepção da última volta, garantiu matematicamente o vice-campeonato com 273 pontos — Hamilton, o terceiro, tem 232 e também assegurou a terceira posição. Sainz e Alonso, com 200, brigarão pelo quarto lugar em Abu Dhabi, semana que vem, no encerramento do campeonato.

É a primeira vez que a Red Bull faz 1-2 na tabela de classificação. Resultado que, claro, confirma a permanência do mexicano no time para 2024 — algo que chegou a ser colocado em questão em determinado momento da temporada. No Mundial de Construtores, o vice-campeonato está totalmente aberto. Como a Ferrari marcou 26 pontos e a Mercedes fez apenas dez hoje, a diferença a favor dos alemães caiu para apenas quatro — 392 x 388. Foi um péssimo fim de semana para o time de Toto Wolff. O dirigente falou muito, mas sua equipe fez pouco.

No balanço das horas, do ponto de vista do espetáculo esportivo, Las Vegas valeu a pena. A última impressão é sempre a que fica, e essa foi boa. A qualidade da corrida será mais lembrada no ano que vem do que o infausto vexame dos primeiros treinos, que terminaram às quatro da madrugada sem público nas arquibancadas.

O resto fica por conta do gosto de cada um.

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LAS BREGAS (3)

Leclerc na pole: chance de vitória, afinal

SÃO PAULO (demorei, mas ninguém lê mesmo…) – Charles Leclerc larga na pole em Las Vegas. Será a 23ª vez na carreira que o monegasco, num grid, vai olhar para a frente e enxergar o nada absoluto. Que, para quem corre de carro, é o que o separa da glória eterna: a vitória.

Só que nosso simpático e educadíssimo Chaleclé só chegou a ela, a glória eterna, quatro vezes em todas as ocasiões em que partiu da primeira posição: na Bélgica e na Itália em 2019, quando a Ferrari estava roubando nos motores, e no Bahrein e na Austrália no ano passado. Ou seja: Charlinho converteu em vitórias só 18,18% de suas poles.

Para comparar apenas com a turma ainda em atividade: Hamilton ganhou 58,65% das provas em que saiu da pole (61 vitórias para 104 poles); Verstappen, 83,87% (26 de 31); Alonso, 63,64% (14 de 22); Bottas, 30% (6 de 20); Sainz, 40% (2 de 5); Ricciardo e Pérez, 33,33% (1 de 3).

A Ferrari, desde o início das atividades deste infeliz GP dos cassinos, tem sido a equipe mais forte na pista. Apesar de Sainz espatifar seu carro numa tampa de bueiro na noite de quinta-feira, a equipe refez o automóvel e ele conseguiu o segundo tempo na classificação, na madrugada de hoje. OK, larga em 12º pela absurda punição — trocou a bateria arrebentada na pancada e, por isso, perdeu dez posições na grelha de partida.

A propósito, vejam logo o grid, para que a gente possa comentar uma coisinha aqui e outra ali:

As posições de largada em Vegas: duas punições

Algumas curiosidades merecem ser destacadas. Como se vê, Verstappen herdou o segundo lugar de Sainz e divide a primeira fila com Leclerc. Disse que a largada será fundamental para suas pretensões de vitória. Ele não vem se sentindo muito à vontade nessa pista. Não porque não gostou dela. É porque o asfalto é liso demais e o carro escorrega o tempo todo. Em resumo, não combina com o carro que ganhou 19 das 20 corridas disputadas neste ano. Tanto que Pérez fez apenas o 12º tempo e larga em 11º. Ficou no Q2. A Red Bull bobeou com ele. Soltou o mexicano cedo demais para fazer sua volta e não tentou outra. Dançou.

Pérez: ficou no Q2

Como dançou Hamilton, outra novidade. Estacionou no Q2, larga em décimo, e decretou: suas chances de lutar pelo vice contra Pérez se tornaram minúsculas. “Só se acontecer um desastre com ele nessas últimas duas corridas”, falou. A explicação para o mau desempenho: pneus. “Nunca chegaram na temperatura certa”, explicou.

Isso porque faz frio em Vegas. Não os 5°C da semana passada, mas ainda assim, frio. A classificação aconteceu com 15°C e 17°C no asfalto. É uma temperatura aceitável, mas como as atividades são noturnas, a pista fica fria o tempo todo. Pneus macios (C5), cuja janela ideal de funcionamento se dá entre 85°C e 115°C, rodaram gelados a menos de 50°C, como se vê abaixo.

Crédito da imagem: @FDataAnalysis

Russell lidou melhor com as circunstâncias e ficou em terceiro no grid, outra surpresa. Mas disse que as primeiras voltas serão caóticas por causa dos… pneus, claro. Os três que ficaram atrás dele também surpreenderam e foram para a cama de madrugada com sorrisos gigantescos: Gasly em quarto, Albon em quinto e Sargeant em sexto. O americano tinha como melhor posição de largada um décimo na Holanda. Fez uma ótima classificação e com a Williams andando muito bem lutará por pontos na corrida. É só não bater em nada nem ninguém.

Por fim, Bottas e Magnussen entre os dez primeiros também merecem aplausos. Notem que no top-10 há pilotos de oito equipes diferentes. AlphaTauri e McLaren foram as únicas que não chegaram nem perto. E, aí, outra surpresa: o mau desempenho de Norris e Piastri, que fazem uma segunda metade de campeonato admirável, mas empacaram em Las Vegas. Não andaram bem em nenhum momento no circuito citadino de Nevada e, segundo Lando, o time errou em não usar um segundo jogo de pneus no Q1. Mas na corrida, segundo o inglês, as coisas tendem a ser diferentes. “Teremos oportunidades de ultrapassagem”, garantiu.

Norris: McLaren decepciona e fica no Q1

Não houve problemas com bueiros ou fichas de pôquer perdidas pela pista, e o segundo dia da F-1 em Las Vegas correu, como se diz, suavemente. Mas é claro que os acontecimentos da véspera continuaram repercutindo. E como Verstappen tem sido o mais bocudo dos últimos dias, claro que a imprensa foi para cima dele. E o holandês não decepcionou na metralhadora de críticas ao evento que a Liberty, dona da categoria, pretende transformar numa espécie de Super Bowl do automobilismo — já aviso: não vai conseguir.

Algumas frases de Max:

FÃS AMERICANOS “Essas pessoas estão em Las Vegas pelas festas, para ouvir música, beber. Isso você pode fazer em qualquer lugar do mundo. Adoro Vegas, mas não para correr de F-1. Venho aqui para comer, beber, me divertir. As pessoas aqui não entendem nada do que estamos fazendo na pista. Ninguém está formando fãs de F-1 aqui.”

MÔNACO X VEGAS“É como comparar a Champions League com uma liga nacional. Mônaco é a Champions League, e qualquer um prefere ganhar a Champions League do que um jogo local.”

VOUCHER PARA COMPENSAR INGRESSOS DE QUINTA“Se me dessem 200 dólares para compra boné e camiseta depois de me expulsarem da arquibancada, eu quebrava tudo.”

TOTO WOLFF“Se fosse o carro dele que tivesse quebrado por causa da tampa do bueiro, ele não diria essas coisas [defender a organização]. Mas já o conheço, não esperava nada diferente.”

O GP de Las Vegas terá 50 voltas e começa às 3h deste domingo. É a penúltima etapa do campeonato. Até agora, a pista não foi esculhambada por ninguém. Nem o evento — com exceção de Max. Uma observação quase unânime é quanto ao asfalto: liso demais. Os pilotos acham que um piso semelhante ao de Jedá, na Arábia Saudita, seria mais apropriado para uma corrida noturna e no frio.

O excesso de atividades promocionais incomoda um pouco, estão todos cansados, mas aparentemente todo mundo está entendendo que tudo “faz parte”.

Este escriba acha tudo exagerado, mas prefere esperar pela corrida para fazer um julgamento. Uma coisa é certa: no embate Esporte x Espetáculo, há uma clara prioridade para o show. Como disse ontem no nosso programete no YouTube, a F-1 não se criou nas últimas sete décadas graças a malabaristas, palhaços, domadores de leão, mulheres barbadas e amestradores de focas.

Que os organizadores de corridas, todas elas, lembrem sempre disso.

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LAS BREGAS (2)

SÃO PAULO (on fire) – Olha, é claro que vou descer o pau em Las Vegas, falar mal do evento, do exagero dos americanos, do fiasco que foi o primeiro dia do GP, mas já vou avisando: não adianta vocês ficarem histéricos, apontarem o dedo para os responsáveis, exigirem punição aos culpados. Não é assim que as coisas funcionam, não é assim que a vida é. Ninguém precisa ir para a cadeia por causa de uma tampa de bueiro. Ninguém precisa pedir o cancelamento da corrida, nem o impeachment do prefeito, nem a imediata devolução da F-1 a Bernie Ecclestone. Essas coisas acontecem. Não deveriam acontecer, num mundo ideal, mas acontecem. O que não significa, claro, que não tenha sido um vexame gigantesco. Foi.

Comecemos pelo começo. E prestem atenção: vou usar, neste texto, o horário local de Las Vegas para construir a nossa linha do tempo, com o horário de Brasília, cinco horas à frente, entre parênteses. É para ter uma noção melhor do que foi a quinta/sexta-feira para a turma que trabalha na F-1. E para os pobre-coitados que pagaram fortunas para acompanhar nas arquibancadas os três dias de evento, e já perderam um. Que reclamem no Procon, se Procon houver em Nevada.

A esta altura todo mundo já sabe que os bueiros de Vegas fizeram com que a quinta-feira festiva e luminosa de abertura dos treinos terminasse às 4 da manhã da sexta (9h de Brasília). O primeiro treino livre começou às 20h30 de lá (1h30 da madrugada de hoje por aqui) e durou exatos oito minutos. Quando Carlos Sainz estacionou seu carro inutilizado na retona do circuito, ninguém entendeu direito o que tinha acontecido. A bandeira vermelha interrompeu o treino e em seguida veio a mensagem: a sessão não seria retomada.

Como assim?

Bueiros assassinos: cerca de 30 na pista

A noite era até agradável para quem esperava temperaturas baixíssimas, na casa dos 5°C. Os termômetros marcavam 16°C. Esse problema estava mais ou menos resolvido. Mas havia algo de muito errado na pista. A transmissão oficial da F-1, aqui faça-se a crítica duríssima, omitiu de quem estava assistindo o real motivo da suspensão das atividades. Não mostrou imagem alguma do que aconteceu com Sainz — e, soube-se depois, com Ocon, também.

Ao longo dos 6.201 m do Las Vegas Strip Circuit, há cerca de 30 drenos no asfalto cobertos por tampas metálicas. Alguns as chamam, em inglês, de “válvulas hidráulicas”. Em português, são bueiros, mesmo, ainda que seu diâmetro seja menor que os que temos no Brasil. E eles são cobertos por tampas. Essas tampas de bueiros são fixadas no asfalto com cimento, concreto, massa corrida, o que for. São métodos usados na engenharia viária em qualquer lugar do mundo. Quando uma SUV Cadillac passa por cima delas a 50 km/h, não acontece nada. Mas quando um carro de F-1 grudado no chão sobrevoa um bueiro assim a 300 km/h, suga a tampa para cima. E ela “descola” do chão.

Essa imagem de uma câmera de segurança mostra o exato momento em que Sainz passou por cima da tampa do bueiro. Não sei exatamente como ou quando ela se soltou do buraco, mas foi atingida pela Ferrari do espanhol. Arregaçou o chassi, para vocês terem uma ideia do impacto. A Ferrari e os fiscais perceberam na hora o que tinha acontecido, e por isso o treino foi suspenso. Seria preciso verificar todos os bueiros da pista. E isso levaria horas.

(Aqui, parênteses que merecem destaque. Por isso, em vermelho. Como arrebentou tudo no carro de Sainz, a Ferrari teve de trocar um monte de coisa. Inclusive a bateria. E o piloto perderá dez posições no grid por causa da troca. É ridículo demais? É. Ele tem o direito de estar puto dentro do macacão? Tem. A Ferrari deveria protestar com uma barricada de pneus incendiados no grid? Deveria. Mas não teve conversa, ele perdeu mesmo dez posições no grid como consequência de um problema da organização do GP.)

A decisão de checar tudo é corretíssima. Mas há erros aí, claro, que têm de ser mencionados. Primeiro, de engenharia. Quando se projeta uma pista para carros de corrida que têm tamanha pressão aerodinâmica gerada pelo assoalho — portanto, “sugam” o ar ferozmente sob o automóvel –, esse tipo de coisa dá para prever. Além do mais, problemas com bueiros não são uma novidade na F-1. Lembram de Baku/2019? Aconteceu algo parecido com a Williams de Russell também no primeiro treino livre. Que, igualmente, teve de ser suspenso.

Alguém, claro, tinha de ter pensado nisso. Mas ainda que todos só estivessem preocupados com as luzes e os neons, a FIA vistoria todos os circuitos antes de liberá-los. E seus engenheiros, da mesma forma, tinham a obrigação de antecipar tais possibilidades. No fim, ficamos com um “bueirogate”. E o público se estrepou.

O treino foi suspenso por volta de 20h40 (1h40 de Brasília). Ali surgia outro problema em Las Vegas. O tempo necessário para fazer a vistoria que deveria ter sido feita, sei lá, no começo da semana. Mas como a tal Strip, a avenida dos hotéis e cassinos, fica aberta para o tráfego o tempo todo, ninguém pensou nisso. Preocuparam-se com alambrados, pintura de naipes nas zebras, luzes, áreas de escape, paddock na penumbra, capela para casamentos, elvis presleys fake, mas ninguém se lembrou dos bueiros.

O segundo treino deveria começar à meia-noite local, 5h da manhã de hoje em Brasília. Não deu. A previsão era de que só seria possível colocar os carros na pista depois das duas da madrugada. E, então, mais um abacaxi para descascar. Os funcionários no autódromo, segundo a legislação trabalhista do Estado de Nevada, não poderiam fazer hora extra. Então, os organizadores determinaram o esvaziamento das arquibancadas. Foi um perrengue. Teve gente que não quis sair. Trabalhadores que se dispuseram a ficar, mas desistiram porque não seriam pagos. Foi preciso chamar a polícia. Os donos do evento serão processados por muita gente, provavelmente. A vergonha lembrava o GP dos EUA de 2005, com seis carros de pneus Brigdestone no grid e 14 de Michelin nos boxes. Mas não tinha jeito. Se não tem ninguém para monitorar o público, não pode ter público. Faltou sensibilidade, empatia, respeito. Faltou alguém para dar uma solução excepcional diante de uma situação excepcional. Um desastre completo.

A pista só foi liberada às 2h30 (7h30 de Brasília). E foi concedida uma meia hora extra paras as equipes conhecerem a pista. A bandeira quadriculada encerrando os 90 minutos de prática foi mostrada às 4h locais. Sim, quatro da madrugada. Eram 9h em São Paulo e eu já estava a caminho do trabalho debaixo de uma fornalha de 35°C. Uma aberração.

Vexame? Vexame. Acontece? Acontece. O GP de Las Vegas é uma merda por causa disso? Não. Por causa disso, não. Pode ser uma merda por vários motivos, mas esse foi apenas uma intercorrência. É chato? Sim. Inaceitável, pescoços devem ser colocados na guilhotina? Não. Já disse: acontece. É melhor que não aconteça, mas nem tudo é perfeito. A pista, segundo os pilotos — a maioria deles –, é divertida, até. Tem pouca aderência, mas está longe de ser uma das piores do mundo. OK, Verstappen não gostou. Mas ele não tem gostado de nada em Las Vegas.

Pessoal está preocupado com o “graining” dos pneus. Tem a ver com as temperaturas e com os acertos de pouca asa, “low downforce”, por causa das retas enormes. Chega nas curvas, o carro escorrega de um lado para o outro e os pneus esfarelam. Será um problema nas 50 voltas da corrida. Que pode ser boa, sim, nada impede que seja. E pode ser uma porcaria. Não dá para adivinhar.

No mais, a papagaiada conhecida de Las Vegas que seja admirada ou odiada por quem a admira ou odeia. Teve casamento na capela do paddock (é ele mesmo, Villeneuve), música alta nas arquibancadas, Esfera iluminada, luxo, lixo, o de sempre.

Eu, particularmente, acho tudo uma bobagem. Não entendo que uma corrida de F-1 tenha de ser valorizada só por causa do entorno. Não acho que um GP tenha de ser apenas um detalhe num evento megalomaníaco. E, claro, considero grave o problema da pista, porque poderia resultar num acidente forte — não porque suspendeu um treino (não é a primeira vez que isso acontece) e porque o público perdeu o ingresso (idem). Que sirva como alerta. Essa corrida vem sendo tratada como o maior acontecimento esportivo/midiático do mundo. Mas quem a concebeu só se preocupou com mídia, show e espetáculo. A negligência com as tampas de bueiro fica na conta dessa idealização.

A F-1, na origem e até o fim dos tempos, é um esporte. Quem está à frente dela deve ter sempre isso em mente. A prioridade tem de ser a competição. O resto — os penduricalhos promocionais, a arquitetura da torre de controle, a iluminação do paddock, o ar-condicionado nos boxes, quem canta o hino, quem toca nas festas — é acessório. Jamais o mais importante.

Ah, falando nisso, Leclerc fez o melhor tempo na madrugada, com Sainz em segundo. Verstappen não foi muito bem, ficou atrás de Pérez. Alonso se virou nos 30 e terminou em terceiro. Bottas também — ficou em quinto. Os tempos estão aí embaixo. E eu apareço às 19h no meu canal no YouTube para falar de Vegas.

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LAS BREGAS (1)

SÃO PAULO (pra quem gosta…) – Para quem perdeu (como eu), a cerimônia de abertura do GP de Las Vegas está aqui. Foi ontem à noite no horário local, de madrugada por aqui. Os pilotos aparecem no fim. Sobem de elevadores por uma plataforma e surgem de dentro de caixas iluminadas por neon. “Me senti um palhaço”, disse Verstappen.

Um horror.

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A Renault apresentou ontem seu novíssimo Twingo. É a única chance de eu ter um carro elétrico na vida.

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ESCOLHA A SUA

SÃO PAULO (que dureza…) – Abaixo, as equipes que prepararam pinturas novas para o GP de Las Vegas, neste fim de semana. Algumas novidades foram sutis, como na Alpine (grafismos nas cores tradicionais) e na McLaren (patrocínios novos, como do uísque Jack Daniels). Outras, gritantes — como as cartas de baralho na Alfa Romeo e o cafonérrimo letreiro na Williams. Escolha a melhor. Ou pior.

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Tem louco pra tudo…

Alexandre Neves mandou.

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QUE FIQUE EM VEGAS

SÃO PAULO (quero só ver) – O GP de Las Vegas, semana que vem, tem tudo para dividir o mundo da F-1 em adoradores e “haters” da corrida na qual a Liberty, com o perdão do trocadilho, aposta boa parte de suas fichas.

O primeiro grupo vai apontar o dedo para o segundo acusando-o de retrógrado, ultrapassado, avesso a novidades. Exaltarão, seus integrantes, a incrível capacidade que o EUA têm de “fazer espetáculos”, o “show de luzes, luxo e organização”, e defenderão com a própria vida o “american way of life” que a atual dona da categoria vem tentando impor a um campeonato nascido na Europa — e que torce o nariz para a breguice que vem do lado de lá do Atlântico.

Do outro lado da trincheira, os detratores de Vegas vão fundear seus ataques em uma premissa: isso aí não é automobilismo, não passa de uma pirotecnia gigante e artificial para ganhar dinheiro, a corrida é o que menos importa. Um comentário que li numa postagem do perfil oficial da categoria no Instagram resume bem tal pensamento: “Depois que a geração Netflix e TikTok descobriu a F-1, nosso esporte virou um circo”.

Por enquanto, não há nenhum prognóstico muito positivo para a prova. Na lista de potenciais problemas aparecem a temperatura — nesta época do ano naquele pedaço do mundo o clima é glacial –, o desenho medíocre da pista e o ódio da população local, que teve a cidade virada de cabeça para baixo para a montagem da estrutura necessária para receber um GP.

No momento em que escrevo, 21h44, os termômetros na capital da jogatina marcam 3°C. Lá são 16h44. Las Vegas está cinco horas atrás do fuso de Brasília. Na história da F-1, há o registro do GP do Canadá de 1978 como o mais gelado de todos os tempos, disputado no começo de outubro daquele ano com pinguins tremendo a 5°C.

Já peguei coisa parecida em Nürburgring na véspera de um GP da Europa ou de Luxemburgo, não vou lembrar quando. Mas a geladeira só ficou aberta até quinta-feira à noite. Na sexta, quando começaram os treinos, o sol apareceu e a temperatura subiu. E as atividades eram diurnas. O GP de Las Vegas, como se sabe, será noturno, no sábado (25). Para nós, 3h do domingo (26).

Se a F-1 se esforça para criar uma expectativa de enorme sucesso, essa corrida corre o risco de ser um baita fracasso. Com muito frio, os pneus não atingirão temperaturas compatíveis com as necessidades dos carros atuais. Não por outro motivo a pré-temporada da F-1 já não acontece mais na Europa, no fim do inverno do Velho Continente. Tem sido realizada no Bahrein. Pneus gelados são inimigos da aderência. Os carros vão escorregar como se estivessem andando no gelo. É pista de rua, com muros próximos. As chances de acidentes são grandes.

O traçado de Las Vegas: longo e desinteressante

O traçado é uma bobagem de mais de 6 km feito para que a propaganda oficial alardeie “velocidades de até 500 km/h” ou coisa do tipo. Assim tentarão convencer os locais de que verão uma exibição extraordinária de perícia e coragem no meio dos cassinos. Foi concebido muito mais para ser “instagramável” do que, propriamente, para uma competição com carros de corrida que apure alguma técnica ou talento de seus participantes.

As imagens geradas serão, claro, fantásticas e impressionantes. Para quem gosta de letreiros de neon, roda-gigante, iluminação feérica, pirâmides falsas e torre Eiffel fora de Paris, um prato cheio. A pista e o evento serão chamados à exaustão de “espetaculares” na TV. Não esperem grande senso crítico. De ninguém.

Hoje apareceu aquela foto lá do alto deste post, que mostra a pintura das zebras. Os quatro naipes do baralho estão representados. Oh, que sacada. Por aí dá para imaginar o que vem pela frente, A única certeza dessa corrida é que será menos ridícula que as de 1981 e 1982, realizadas numa pista despropositada montada no estacionamento de um hotel. Aquilo ultrapassou todos os limites da sensatez.

Gosto, em geral, de novidades no calendário. Curti quando a F-1 foi para a Malásia, aventurou-se pela Índia, Turquia e Coreia do Sul, voltou à Argentina e à África do Sul sem ditadura e apartheid… A passagem por Indianápolis teve um peso histórico, Austin é uma bela pista, Baku tem seu charme, até o circuito do Bahrein, país à parte, merece elogios. O que não quer dizer que todas as novidades sejam um sucesso absoluto. Sochi era uma merda, assim como Jedá, Miami, Paul Ricard e Abu Dhabi.

Pelo que vi até agora, o GP de Las Vegas vai ser uma porcaria. Mas será considerado por muita gente sensacional, aconteça o que acontecer. Procurem, nos próximos dias, ouvir os pilotos e o que dizem nas entrelinhas — são raros os esculachos públicos e explícitos. Eles são as estrelas da companhia. E os que mais entendem do assunto.

Depois, façam seu juízo.

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SOBRE ONTEM À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA

Fotochart divulgado pela F-1: apenas 0s053 separando Alonso de Pérez

SÃO PAULO (vexames mil, porém…) – Eis a imagem divulgada ontem à noite pelos perfis oficiais da F-1 nas redes sociais. A chegada do GP de São Paulo para Alonso e Pérez, terceiro e quarto colocados em Interlagos. Isso aí se chama fotochart (o pessoal na categoria usa “photo finish”), e é um método de captação fotográfica semelhante ao usado nas competições de atletismo, por exemplo. Mas nasceu, se minha percepção histórica não está equivocada, nas corridas de cavalos, mesmo. No turfe, falar em fotochart é tão comum quanto citar o VAR hoje em dia no futebol. O fotochart serve para tirar dúvidas. E se alguém tinha alguma sobre a conversão de 53 milésimos de segundo em centímetros, com um carro de F-1 acelerando numa reta, a imagem aí em cima esclarece bastante coisa.

Acho que Alonso já foi suficientemente elogiado aqui ontem. E também lá no canal do YouTube, e por todo mundo que assistiu ao GP de São Paulo. É quase unânime a opinião de que ele salvou a corrida, que não foi das mais empolgantes de todos os tempos. Ao contrário. Tirando as breves confusões pré e pós primeira largada, com o abandono de Leclerc e o acidente de Albon e Magnussen, Interlagos ofereceu uma prova bem standard, tipo Fusca Pé-de-boi ou Vemaguet Caiçara. Ou ainda Gordini Teimoso.

(Um pouco de cultura automotiva. Estão aí embaixo os três: Pé-de-boi, Caiçara e Teimoso. Aos que não sabem do que se trata, sempre tem o Google para ajudar.)

Talvez a melhor imagem do domingo fosse a do abraço entre Fernandinho e Checo na zona mista, a área de entrevistas. Do ponto de vista jornalístico, tem mais significado. O mexicano foi até o espanhol para confraternizarem depois do espetáculo que ambos sabem ter proporcionado ao público no autódromo e pela TV. Mas essa foto foi usada no textão de ontem, então já era. O abraço está aí embaixo, de todo modo, em vídeo.

Alonso chegou a 106 pódios na carreira, como já informado. Igualou Prost. O francês, coitado, viu duas marcas de sua carreira sendo alvejadas na prova de ontem. Além de estar prestes a perder o quarto lugar entre os que mais foram ao pódio na história para o espanhol, viu cair sua posição no ranking dos maiores vencedores. Ele tem 51 vitórias e era o quarto colocado empatado com Verstappen. Que ganhou e foi a 52. Sendo 17 neste ano, em 20 etapas. E é daí que vem…

O NÚMERO DE INTERLAGOS

85%

…de aproveitamento em vitórias tem Verstappen nesta temporada. E um novo recorde já está superado, mesmo que ele não vença nenhuma das duas provas que restam no campeonato. Se ficar com os mesmos 17 triunfos ao final de 22 etapas, bate em 77,3% do total. Se ganhar em Las Vegas e Abu Dhabi, chega a 86,4%. O maior percentual de vitórias na mesma temporada, de 75%, pertencia a Alberto Ascari, que ganhou seis das oito corridas disputadas em 1952.

A cereja do bolo da atuação de Max no fim de semana de vitórias na Sprint e no GP foi essa aí em cima. Aumentem o som. Ele cantarola com seu engenheiro “Green Green Grass of Home“, hit de 1966 de Tom Jones — fiquei surpreso com a escolha no toca-fitas do carro da Red Bull. Mas vocês, os dois ou três que leem este blog, não devem ter ficado tão espantados assim. Eu vivo dizendo que ele tem rádio no carro e ninguém acredita!

Mas vamos seguindo, que tem bastante assunto. Um deles é esse aí embaixo:

Trata-se de um senhor esporro que a FIA deu na organização do GP de São Paulo. Porque houve invasão de pista no final da corrida com carros ainda andando. Uma falha grave na segurança que não passou despercebida. Um baita vexame. Os organizadores têm agora até o dia 30 de janeiro para apresentar um plano de ação detalhado que impeça a repetição dessa insanidade. OK, invasões de pista acontecem em vários autódromos, mas nunca com carro andando. Aí, realmente, não dá.

E, para piorar ainda mais a reputação da corrida — e da parte mais escrota do público brasileiro –, vejam o vídeo abaixo. São os cidadãos de bem que estavam no espaço da Heineken, que fica no interior da sequência Mergulho-Junção-Café, agredindo seguranças e funcionários que apenas faziam seu trabalho para invadir a pista, também.

Um bando de babacas.

Ainda no extrapista, não deixemos de registrar aqui a alegada falha no som de Ludmilla no início do hino nacional e a prisão de um otário que, no sábado, fez ofensas racistas a um médico negro que estava num camarote com um boné do PT. Pena que não divulgaram o nome do criminoso.

E que se destaque igualmente o sucesso das ações de marketing da Porto Seguro, que distribuiu 70 mil bonés ao público no autódromo, montou uma tribuna para quatro mil pessoas com roda-gigante, simuladores e torneio de pit stop (a Vila Porto), e usou e abusou de seus patrocinados Gabriel Bortoleto, Felipe Drugovich e família Barrichello. A Porto também patrocina a vertical de canais do YouTube da qual faço parte. Mas não é por isso que estou falando dela, não. É que o bonezinho azul claro corre o risco de virar marca registrada da corrida de Interlagos. Uma bela sacada que mexeu com o visual das arquibancadas. Pelo jeito, a Porto curtiu o mundo do automobilismo. Que bom. Os pilotos e o público agradecem.

A FRASE DE SÃO PAULO

“Nosso desempenho foi imperdoável. Demos a nossos pilotos um carro miserável que não merece vencer uma corrida.”

Toto Wolff, chefe da Mercedes
Toto Wolff: performance “inaceitável”

É um bom frasista, Toto Wolff. Por isso aparece sempre por aqui, nestes rescaldões. À sua sentença, acrescentaria duas, dos pilotos da Mercedes. Russell, que venceu em Interlagos em 2022: “Um ano atrás, nesta mesma pista, tivemos nosso melhor fim de semana na temporada. Doze meses depois, no mesmo circuito, fazemos o pior do ano. Não tem explicação”. Hamilton, cansado: “Mais duas corridas com essa coisa e espero nunca mais ter de pilotá-lo”. A referência pouco elogiosa ao W14 embute uma preocupação extra. A Mercedes está na estaca zero para fazer o carro de 2024. A melhora de performance recente, pelo jeito, foi casual. Não teve nenhuma base sólida.

Algumas observações agora sobre a pontuação de pilotos e equipes depois de 20 corridas de um campeonato interminável. A AlphaTauri encostou na Williams ao somar pontos em três corridas seguidas. Vai acabar passando, se Tsunoda e Ricciardo se esforçarem. Já a disputa pelo vice entre as equipes segue indefinida, tamanhas as oscilações de Mercedes (382) e Ferrari (362). Na tabela dos pilotos, os 18 x 6 aplicados por Pérez sobre Hamilton em Interlagos, somando Sprint e GP, praticamente definiram o vice-campeonato. Lewis precisa descontar 32 pontos em duas corridas. Só por milagre. Mas a luta entre Alonso, Norris e Sainz está bonita. Vejam abaixo.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de dois pilotos em particular no pelotão do meio, Gasly e Tsunoda. O francês saiu de 15º para sétimo e correu boa parte da prova com um olho só, porque um cisco fez com que lacrimejasse a prova toda. O japonês veio de 16º para nono e, mais um pouco, poderia atacar Hamilton.

NÃO GOSTAMOS da Ferrari, claro. Leclerc, coitado, nem começou a corrida. Sainz terminou em sexto. O monegasco estava em segundo no grid. O espanhol não conseguiu fazer os pneus funcionarem. Em resumo, uma droga.

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Estar vivo para ver uma música dos Beatles ser lançada mais de meio século depois do fim da banda é um privilégio.

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