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Grudou na minha cabeça!

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SAUBER C44: O CARRO DO COELHO!

SÃO PAULO (tem futebol no meio) – Demorei um pouco para falar sobre o carro novo da Sauber-Kick-Stake porque surgiu uma dúvida que ainda não conseguimos sanar. Christine ou Christiane? Qual é, afinal, o nome da mulher de Peter Sauber, homenageada com sua inicial no batismo de todos os carros da equipe? Acreditam que, depois de tantos anos, descobri que não tenho certeza?

Não adianta me mandarem links obtidos no Google. Vocês vão encontrar os dois nomes, sejam lá as buscas que tentarem. Eu mesmo já escrevi Christine no passado distante e Christiane no passado recente. Só aceito foto de crachá da empresa, da certidão de nascimento ou do RG.

Virem-se.

C44 é o nome da viatura inspirada na camisa do América Mineiro. Talvez, agora, esse C venha do glorioso Coelho de Belo Horizonte. Esse verde alface não é lá muito comum em carros de F-1, mas a combinação com o preto-fibra-de-carbono (cor que em breve deve entrar para o catálogo do Pantone Color Institute, se é que já não está) ficou bonitona.

Disseram os responsáveis pelo projeto, na apresentação em Londres, que o C44 é totalmente diferente do C43. Ainda bem, porque o carro anterior era bem ruinzinho. Falou-se numa suspensão dianteira modificada. Nas entradas de ar laterais e superior de desenho distinto e elegante. E disso e daquilo e daquilo outro.

O que não mudou foi a dupla de pilotos, que segue no time pelo terceiro ano seguido: Valtteri Bottas e Guanyu Zhou. Ainda com motores Ferrari, a Sauber, que era Alfa Romeo até a última temporada, apenas espera por 2026. Todos já sabem que a equipe (ou seria a franquia?) foi comprada pela Audi, que estreia para valer com o novo regulamento. Até lá, barriga de aluguel, o jeito é se virar com patrocinadores endinheirados o bastante para nomear o time.

Esse é um dos mistérios de 2024. Será Stake, como anunciado há algumas semanas, ou Kick? Stake é uma casa de apostas com sede em Curaçau, ilhota de 150 mil habitantes no Caribe, pertinho da costa da Venezuela. Um paraíso fiscal que responde ao rei dos Países Baixos — que a gente chama de Holanda, mas está errado. Kick é uma plataforma de streaming de jogos eletrônicos com sede na Austrália — transmite partidas de videogame disputadas por adolescentes espinhentos que comem batatas Pringles e se entopem de Coca-Cola. Esse troço, pelo jeito, dá dinheiro.

Como em alguns países que fazem parte do calendário da F-1 a propaganda de cassinos online é proibida, Stake talvez suma em uma corrida ou outra. E entra no lugar a Kick. A Kick é a responsável pelo tom esverdeado dos carros — é sua cor, por assim dizer, oficial. Na dúvida, e para simplificar as coisas, vou chamar a equipe de Sauber, mesmo, assim como seus carros. “Olha lá, o Sauber quebrou!”, direi para mim mesmo vendo as corridas pela TV. Até ordem em contrário, será isso.

A Sauber, é bom que se diga, está há bastante tempo na F-1, desde 1993. Por isso, ao longo dos anos, fiz algumas amizades lá dentro que ainda mantenho ativas. Foi a um desses conhecidos que telefonei agora há pouco, acordando-o — tem certa idade e já estava na cama. Não vou identificá-lo, claro, porque temos sempre de preservar as fontes. Para não deixar o cabra sem nome, digamos que se chama “Pedro Limpinho”.

Como foi a festa de lançamento?
Pedro Limpinho
– Foi ontem, pelo horário, acho que você está meio atrasado…
Ah, me desculpe, mas o jornalismo não tem hora.
Pedro Limpinho
– Muito bem, pergunte logo o que quer saber e fale baixo porque minha esposa está dormindo e está no viva-voz.
Bem, primeiro quero saber o que o senhor achou das cores.
Pedro Limpinho
– Vai dar para enxergar bem à noite, para mim será ótimo, já que a vista está cansada.
Quem arranjou esses patrocinadores?
Pedro Limpinho
– Meus netos. Eles jogam videogame e gastam tudo que dou pra eles apostando em jogos de futebol. Ontem mesmo ganharam uma bolada num jogo aí do seu país.
Em qual jogo?
Pedro Limpinho
– Não sei pronunciar os nomes dos times, mas foi num estádio chamado Rastaquera.
Itaquera?
Pedro Limpinho
– Pode ser. Também não sei direito como chama.
Bem, mas vamos falar do carro. A suspensão é bem diferente, não?
Pedro Limpinho
– Meu filho, suspensão diferente é de feixe de molas. O resto é tudo igual. Num ano dizemos que é push-rod. No outro, que é pull-rod. Ninguém sabe a diferença, mesmo. Num ano, dizemos que o carro é uma evolução, quando o anterior era bom. No outro, que é uma revolução, quando o anterior era ruim. Fazemos esse trocadilho há trinta anos.
E os fluxos de ar?
Pedro Limpinho
– Não se preocupe, dormimos com a janela fechada, nem eu nem minha esposa podemos tomar friagem.
Um ponto positivo é a manutenção dos pilotos, não? Três anos com a mesma dupla. Estabilidade é a chave para ter bons resultados?
Pedro Limpinho
– Se fosse, eu continuava com Wendlinger e Lehto. Aliás, seria ótimo, ganhariam bem menos, os resultados seriam os mesmos e eu não precisava ter comprado o calendário do rapaz que tira foto do bumbum. Como é mesmo o nome dele?
Bottas.
Pedro Limpinho
– Esse. Parece ator pornô. Mas minha esposa adora ele. Diz que é muito simpático e que aquele bigode deve fazer cócegas.
Deve ser brincadeira dela, claro…
Pedro Limpinho
– Não me incomoda. Temos um ditado aqui na Suíça que diz que é dos carecas que elas gostam mais.

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WILLIAMS FW46: CARRO DE OUTLET

SÃO PAULO (tem 39?) – Se você for a Nova York e quiser comprar tênis da Puma, dirija-se ao número 609 da Quinta Avenida. Fica pertinho do Rockefeller Center, na esquina da Rua 49, no mesmo quarteirão da loja de sapatos Aldo e da Intimissimi, que vende lingerie italiana. Se der sorte, perto das chuteiras do Neymar e das camisetas do City, do Milan e do Palmeiras — que não tem Mundial — é capaz de encontrar um carro de F-1. Ou um carro fake de F-1, para ser mais preciso. Que, pelo menos, estará pintado com as cores que a Williams vai usar neste ano.

Foi nessa loja, em meio a pares de tênis coloridos, meias, agasalhos e moletons, que a equipe que era inglesa e hoje é americana apresentou o FW46. Que na verdade não era o FW46, mas seu “livery”, que a gente traduz grosseiramente por “pintura” no Brasil, na falta de palavra melhor para descrever “padrão gráfico/estético/publicitário” adotado para decorar um carro de F-1.

“Vejo a Williams. Ela é azul”, é o que diria Yuri Gagárin se fosse escalado pela TASS para cobrir o lançamento do automóvel fajuto, que serviu, basicamente, para apresentar o novo patrocinador máster do time, a Komatsu. É máster, mas até onde compreendi não significa que teremos de chamar a Williams de “Komatsu-Williams”, “Williams-Komatsu” ou algo do gênero. Os japoneses — a Komatsu é japonesa — são mais contidos que a Stake, a Visa e a Kick, marcas que aparecerão batizando carros e equipes em 2024.

Aliás, essa gigantesca companhia, segundo o press-release que recebi, já patrocinou a Williams nos anos 80 e 90 e fez até peças de câmbio dos carros campeões de 1996 e 1997. Eu não lembrava. “Com operações em mais de 140 países, a Komatsu é uma provedora global de equipamentos pesados premium, serviços e soluções. A empresa introduziu o primeiro caminhão basculante autônomo do mundo em 2008”, informa o texto. Serviços e soluções. Um grande mistério para mim, hoje todo mundo provê serviços e soluções. A Komatsu faz caminhões, tratores e máquinas gigantes. Pronto.

Os pilotos, ah, os pilotos. Como todas as outras, são os mesmos do ano passado: Logan Sargeant e Alexander Albon. Motores Mercedes. O nome é tradicionalíssimo: FW de Frank Williams, 46 por ser o 46º carro da equipe desde que adotou a nomenclatura que traz as iniciais de seu fundador.

Seguindo na nossa missão jornalística de entrevistar pessoas ligadas às equipes no dia dos lançamentos, fui atrás de uma figura de proa da Williams que hoje está meio afastado do dia a dia da fábrica — “só coloco meu dinheiro na poupança”, me disse, porque não confia em fundos de investimento. Chamá-lo-ei de “Patrício Cabeção”, uma vez que ele pediu para não ser identificado.

Quais suas primeiras impressões do novo carro?
Patrício Cabeção – Ele me parece tão ruim quanto os últimos.
Não seria uma visão um pouco pessimista? A equipe melhorou na temporada passada.
Patrício Cabeção – Pior era impossível. O problema desses americanos é que o modelo de carro para eles é SUV, caminhonete de agroboy e aquele horror que se chama Tesla. Sou de outra escola: Jaguar, Rolls-Royce, Aston Martin…
Bem, os tempos mudaram. Estamos na era dos motores elétricos e híbridos, há uma preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade.
Patrício Cabeção –
Se eles se preocupassem com essas coisas não apresentariam um carro numa loja de tênis fabricados por trabalhadores escravizados na Ásia.
As empresas hoje garantem que aplicam os conceitos de ESG, talvez o senhor não esteja acompanhando…
Patrício Cabeção –
O que é ESG? No caso desse carro aí deve ser “esquisito e sem graça”. Hahaha! Gostei disso: esquisito e sem graça!
O senhor foi consultado por alguém na fase de projetos?
Patrício Cabeção –
Sim, mas nada do que sugeri foi feito. Dei a eles um projeto de suspensão ativa que usamos no passado e funcionou muito bem. Disseram que não tinham dinheiro. Passei o contato de alguns amigos árabes que nos ajudaram lá nos anos 70 e falaram que o cara que indiquei já tinha morrido. Achei estranho, porque vi o nome dele no Big Brother aí do Brasil.
O senhor assiste a esse programa?
Patrício Cabeção –
Sim, minha ex-esposa emprestou a senha do Globoplay.
Do ponto de vista da aerodinâmica, quais foram as diretrizes dos engenheiros nesse projeto?
Patrício Cabeção –
Melhorar os fluxos de ar, foi o que me disseram. Parece que conseguiram. Tiraram as viseiras dos capacetes para que os pilotos andem de cara para o vento.
Bem, já que falou dos pilotos, gosta deles?
Patrício Cabeção –
O menino que pinta o cabelo é bom. O outro, que tem nome de carro, é muito ruim. Aliás, tem nome de carro ruim e feio. Logan é carro de Uber.
Por fim, o novo patrocinador parece forte e promete uma colaboração técnica com a equipe.
Patrício Cabeção –
São ótimos. Vou lhe mandar uma foto do que eles fazem que inspirou esse carro aí. Você usa e-mail?

Pouco depois chegou na minha caixa postal a foto abaixo. Entendo as aflições do velho amigo.

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ÁLBUM (SOBRE RODAS) DE FAMÍLIA

SÃO PAULO (por onde andariam?) – O mestre Antonio Seabra nos brinda com essas duas imagens fantásticas do Rio nos anos 20/30 do século passado. As explicações são por conta dele:

Flavio, Essa primeira foto não é muito lá álbum de família! Mas acho que seja uma foto interessante. Trata-se de um Cord L-29  (tração dianteira) fotografado no Yatch Club do Rio de Janeiro, em frente ao atracadouro principal.  A foto deve ser de 1929 mesmo. Na outra foto, essa sim álbum de família: minha avó, a atriz e produtora de cinema Carmen Santos, ao lado de seu Humber 1931, num posto de gasolina Atlantic. Segundo eu pude apurar, esse posto ficava em Botafogo.  A montanha ali atrás, encoberta pelo telhado do posto, pode ser o Corcovado. Como curiosidade, vale registrar que nessa época eram poucas as mulheres que possuíam e dirigiam seus próprios automóveis. Carmen era uma delas, desde muito cedo já guiava os carros do meu avô, e depois os dela mesmo.

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ESQUISITICES

Meu brother Leandro Quesada mandou. Alguém descobre onde é? Tem mais fotos no Instagram. E o carro, já sacaram?

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ENCHE O TANQUE

SÃO PAULO (saudades de lá) – Luis Felipe Ziriba está fazendo um tour pela Tailândia, país que adoro de paixão. Mandou várias fotos. E a mensagem:

Flávio, duvido que essa foto nao entre no “Enche o tanque”. Bom, até porque cliente que tira foto no exterior tem prioridade — você sempre diz isso, ao menos. Tirei essa foto aqui (a primeira) no litoral da Tailândia. Nela não vemos apenas um posto simples como tantos, mas, também, uma mulher muçulmana como frentista e uma mulher trans sendo atendida normalmente. Normal, aliás, como a vida que por aqui segue 20 anos após o tsunami.

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LEGIÃO URBANA

Deu uma saudadezinha da minha, que era branca e acabou indo para Fortaleza…

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HAAS VF-24: PRONTO PRA LANTERNA

SÃO PAULO (blergh) – Eis o Haas VF-24! A maravilha foi apresentada hoje, e é o primeiro carro de 2024 a sair do prelo. Teremos de lembrar os pilotos a cada lançamento? OK. Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen. Reservas: Pietro Fittipaldi, o Eterno, e Oliver Bearman, inglês, 18 anos, que correu na F-2 ano passado e segue na categoria nesta temporada. Motor: Ferrari. VF? Vem de “Very First”, código usado no primeiro carro, em 2016. Seguiu a linhagem, sempre acompanhada do ano em questão. Explicado.

Assim que as fotos foram publicadas, entrei em contato com uma fonte que tem fortes ligações na equipe. Tinha combinado com ele uma entrevista. Aceitou, desde que não precisasse se identificar. “Não tem problema, você não manda nada aí mesmo”, disse a ele, que desligou o telefone na hora, magoado. Retomei o contato, me desculpei e conversamos detidamente sobre aspectos técnicos, esportivos, financeiros e emocionais.

Para todos os efeitos, darei aqui um nome fictício ao entrevistado. Sei lá, Canhão de Pedra. Pronto. Assim ninguém vai saber de quem se trata. À conversa:

Quando vocês conceberam esse projeto, quais foram as diretrizes básicas?
Canhão de Pedra – Queríamos melhorar os fluxos de ar. Sob, sobre e, se preciso fosse, por dentro do carro. E pelos lados, também. Por isso contratamos especialistas em ar-condicionado e fabricantes de ventiladores.
E conseguiram alcançar os objetivos?
Canhão de Pedra – Não, claro. Quando colocamos no túnel de vento, o cara do ventilador brigou com o sujeito do ar-condicionado. Ligaram os dois ao mesmo tempo. Caiu o disjuntor. E só tínhamos dinheiro para 15 minutos no túnel. Foi o mais barato que encontramos.
Qual túnel de vento vocês usaram? Da Toyota, da Audi…
Canhão de Pedra – Da Brastemp. Que eles usam para fabricar geladeiras.
Sendo assim, aerodinâmica não será exatamente o forte desse carro, então. Quais seriam os pontos positivos e os negativos do novo modelo?
Canhão de Pedra – De positivo, o espaço para bagagem. Trabalhamos muito nisso e o porta malas tem ótima capacidade. De negativo, a asa móvel fixa. Não funcionou muito bem. Por isso já estamos preparando as atualizações. Digo, acho que estão preparando. Ah, os pneus são bons.
Mas são os mesmos para todos, não?
Canhão de Pedra – Isso é você que está dizendo. Lá vem a imprensa querendo falar mal da gente só por falar. Por isso não dou entrevistas, só participo de séries na Ne…, quer dizer, por isso não dou entrevistas.
Os pilotos, pelo menos, são experientes.
Canhão de Pedra – Gosto muito deles. Nico segue incansável em busca de um pódio e Kevin espera ficar entre os dez primeiros neste ano.
Vão conseguir?
Canhão de Pedra – Não.
O que o sr. achou da promoção de Ayao Komatsu à função de chefia da equipe?
Canhão de Pedra – Aquilo é um traíra desgraçado! Puxou meu tap…, digo, ficou puxando o saco do Gene por anos e ganhou o emprego! Não entende nada de carro, tem curso de manutenção de rádios e televisão de tubo. Trabalhou na Sony e na Toshiba e não fez mais nada!
O sr. acha que por ser uma equipe americana em situação financeira delicada a Andretti poderia fazer uma oferta pela… franquia?
Canhão de Pedra – Conversamos com eles no ano passado.
E o que disseram?
Canhão de Pedra – Disseram que não interessa porque não seremos competitivos.

Aí embaixo está a agenda dos lançamentos de 2024 e as datas que vocês devem anotar — início da pré-temporada e primeira corrida do ano; tem até o dia de estreia da nova temporada de “Drive to Survive”. Notem que a ex-Alfa Romeo, que seria Stake F1, aparece como Kick Sauber — Kick é outro patrocinador. Em alguns países, casas de apostas on-line, como a Stake, não podem fazer publicidade.

Aos poucos, vamos esquentando.

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CHEGA LOGO, 2025!

SÃO PAULO (ô, vidão…) – Como faz habitualmente, foi com um comunicado direto e reto que a Ferrari anunciou agora há pouco que Lewis Hamilton será seu piloto em 2025. Quando vestir o macacão vermelho pela primeira vez, o inglês terá 40 anos de idade. Desde os 13 está sob o guarda-chuva da Mercedes. Primeiro na McLaren, de 2007 a 2012, e na equipe de fábrica desde 2013. Pelo time alemão ganhou seis de seus sete títulos mundiais. O outro foi pela McLaren com motores Mercedes.

É o maior movimento da história no mercado de pilotos da F-1. As notícias começaram a surgir ontem à noite a partir de postagem do perfil “formu1a.uno”, da Itália. Hoje pela manhã, a Sky Sports, da Inglaterra, noticiou a saída de Lewis da Mercedes, ainda no condicional. Liguei para um amigo ex-Ferrari, hoje ocupando cargo importante em outra casa da F-1. “Parece que desta vez é verdade”, ele me disse, profundo conhecedor das coisas e das pessoas em Maranello. Já sabia.

A situação evoluiu numa velocidade que tornou obrigatório o reconhecimento das partes envolvidas. Já não dava mais para esconder. Toto Wolff convocou a equipe para uma reunião na fábrica de Brackley, na Inglaterra. Por chamada de vídeo, no começo da tarde, avisou que Hamilton estaria deixando a equipe no fim do ano. Às 16h de Brasília, a Mercedes soltou o comunicado abaixo:

O nome Ferrari não é citado. Informa-se que Hamilton tinha um contrato até o final de 2025 — assinado no fim de agosto do ano passado — que possuía uma cláusula de opção para o segundo ano a cargo do piloto. E ele a exerceu antes mesmo de começar o primeiro campeonato do novo compromisso. “Aceitamos sua decisão de buscar novos desafios”, diz o chefe do time. “Tivemos a relação mais bem sucedida da história do esporte e temos muito orgulho do que conseguimos juntos. Sabíamos que um dia essa relação terminaria, e esse dia chegou.” Estão aí em cima os números. Pela Mercedes, Hamilton conquistou 82 vitórias em 222 GPs, subiu ao pódio 148 vezes e fez 78 poles. Ninguém tem nada para reclamar do outro. Poucos minutos depois, a Ferrari divulgou seu monossilábico comunicado. O fato estava consumado. Como disse meu amigo, “parece que desta vez é verdade”. Dependendo de quem te diz isso na F-1, “parece que” se traduz como “é isso aí, pode publicar”. Foi o que fiz no começo da manhã.

Exatamente uma semana atrás a equipe italiana renovou o contrato de Charles Leclerc até 2029. Carlos Sainz, assim, deixa Maranello no final deste ano. Seu destino está atrelado à Audi. Há quem diga que ele pode acabar na Red Bull — não é impossível –, ou na própria Mercedes — pouquíssimo provável. Claro que agora todos os holofotes se voltam para a vaga aberta por Hamilton. A lista de candidatos é vasta, tem também Alexander Albon, Mick Schumacher, Esteban Ocon… E dois nomes que teriam impacto semelhante — jamais igual — ao do anúncio de Hamilton na Ferrari: Sebastian Vettel e Fernando Alonso. Por fora, muito por fora pela idade, corre Andrea Antonelli, jovem prodígio italiano que a Mercedes pegou ainda de fraldas, no kart, quando tinha 11 anos. Ele ganhou dois campeonatos importantes de F-4 e vai direto para a F-2 nesta temporada. Mas tem apenas 17 anos. Devagar com o andor.

É cedo, isso parece muito claro, para apontar um nome com grandes chances de acerto. A Mercedes foi pega de surpresa. Sabia que um dia deixaria de contar com Hamilton, que esse dia estava cada vez mais perto — tanto que o último contrato assinado, para os padrões da F-1, era de curta duração –, mas achava que só perderia o piloto para a aposentadoria, e não para uma rival do tamanho da Ferrari. Por isso, nunca pensou em alguém à sua altura — a “solução Russell” já estava em execução para quando o momento chegasse.

Agora é diferente. Surgiu uma necessidade urgente a partir de um fato inesperado — há relatos de que Wolff só foi avisado por Hamilton ontem à noite e a imprensa italiana diz que o estafe de Sainz já sabia desde a semana passada que algo estava acontecendo; de qualquer forma, foi repentino.

ATUALIZAÇÃO: Toto Wolff contou, na sexta-feira, que foi avisado por Hamilton durante um café da manhã na quarta-feira na sua casa — dele, Toto — em Oxford.

Nas redes sociais, foram descobertas algumas pistas enigmáticas, como o anúncio da renovação do contrato de publicidade da cerveja Nastro Azzurro com a Ferrari, aí em cima.

Foi publicada, a foto da esquerda, dois dias atrás. Notem a miniatura escolhida: número 44, o de Hamilton. Usado, na Ferrari, por Maurice Trintignant na sua única vitória pela equipe, no GP de Mônaco de 1955 (outro piloto ferrarista correu com o #44 uma vez, Giancarlo Baghetti, em 1966, mas nem se classificou para o GP da Itália).

Como boa parte da comunicação hoje em dia é feita por redes sociais — falo de perfis relevantes, não de “produtores de conteúdo” ou “influenciadores digitais” –, foi interessante acompanhar o andamento das postagens ao longo do dia. A Mercedes, por exemplo, fez um post pela manhã no Instagram lembrando o 14º aniversário do primeiro teste com um carro da equipe, em 1º de fevereiro de 2010, com Michael Schumacher em Valência. Algo como “não está acontecendo nada, pessoal!”. A Ferrari, por sua vez, colocou um breve vídeo de duas pernas de piloto entrando num cockpit e era… Leclerc! Até Vettel, fanfarrão, postou algo esquisito anteontem: um número 10, uma foto dele de macacão da Red Bull e a legenda “me preparando para a próxima temporada”. A Red Bull brincou com trecho de um vídeo de Verstappen e Pérez dizendo: “Hei, eles não trocaram os pilotos!”, fala Max, ao que Checo responde que “sim, trocaram sim!”.

Mas, àquela altura, jornalistas especializados já estavam em campo atrás de confirmações, em vez de repercutir e repostar memes, montagens fotográficas e bobagens aleatórias que inundaram as redes. A reunião de Brackley foi acompanhada por uma repórter da Sky do lado de fora da fábrica. As ações da Ferrari na Bolsa de Nova York tiveram alta expressiva, elevando em US$ 7 bilhões o valor da empresa. Todo mundo lembrou das relações de Hamilton com Frédéric Vasseur, atual chefe da Ferrari. Ele era seu comandante na equipe ART em 2006 (foto abaixo), quando conquistou o título da GP2, e na ASM Formule 3 no ano anterior, quando Lewis foi campeão da Fórmula 3 Europeia. Junte-se a isso a saída de Loïc Serra, diretor de performance da Mercedes, para a Ferrari — com quem Hamilton se dá muito bem e deposita total confiança. Por fim, foi muito lembrada a relação pessoal que o inglês tem, há anos, com John Elkann, presidente da Ferrari, neto de Gianni Agnelli (1921-2003), ex-controlador da Fiat, que o escolheu como sucessor. Elkann é hoje presidente da Stellantis, resultado da fusão dos grupos Fiat Chrysler e PSA Group, holding que detém hoje a produção de 14 marcas de automóveis diferentes — em ordem alfabética, Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati, Opel, Peugeot, RAM e Vauxhall.

O dia termina sob o impacto de uma notícia sem precedentes, dado o tamanho das partes envolvidas — o melhor piloto de todos os tempos, a equipe mais famosa de todas e a outra que detém a maior hegemonia jamais registrada na F-1, com oito títulos mundiais seguidos de construtores. No passado, muitas transferências foram rumorosas, como Senna da McLaren para a Williams, Prost da McLaren para a Ferrari, as demissões da Williams dos campeões Mansell e Hill, as contratações de Schumacher e Vettel pelo time italiano, ou mesmo as idas e vindas de Alonso entre Renault, McLaren e Ferrari. Nada, porém, pode ser comparado com o que acompanhamos hoje.

Como será o 2024 de Hamilton na Mercedes? É difícil dizer. O mais provável é que seja bem parecido com o de 2023, salvo alguma grande surpresa — com sorte, ganha uma corrida. Em algum momento, os alemães terão de esconder algumas coisas de Lewis sobre o carro de 2026, que já deve estar na prancheta. Sainz, coitado, será um morto-vivo na Ferrari. Na Itália e ao redor do mundo, os fanáticos torcedores da Ferrari contarão os dias até a virada para 2025. Nas outras equipes, que têm muitos contratos terminando no final do ano, a movimentação atrás dos melhores pilotos será intensa.

De tudo, uma conclusão difícil de negar: depois de uma temporada pouco competitiva, em que apenas um piloto e um time brilharam, uma mexida dessas faz bem para a categoria. A F-1 voltou ao noticiário com força neste primeiro dia de fevereiro. Amanhã já tem carro novo sendo apresentado, o da Haas. Daqui a 20 dias começa a pré-temporada, no Bahrein. E o Mundial de 2024 será um ótimo aperitivo para o de 2025 — que é o que importa, agora.

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HAMILTON

SÃO PAULO (será) – Hamilton na Ferrari. A coisa esquentou definitivamente hoje. Fiz o que dava pra fazer, chamei um velho companheiro de Ferrari que ainda está na F-1 mas mantém seus vínculos em Maranello. “It seems this time is true!”, ele me escreveu. A mim basta. Fontes assim são confiáveis. Muito, no caso dessa em especial — além de tudo, uma fonte COMUNISTA! Em anos de F-1 a gente aprende a “traduzir” determinadas frases. Hamilton estará na Ferrari em 2025.

Ah, o furo jornalístico é do @formu1auno italiano. Furo, queridos influencers, não é o resultado da velocidade para chupar notícia dos outros. Quem dá um furo jornalístico não é quem vê primeiro postagem nas redes sociais e sai berrando. Furo jornalístico é aquele que resulta de apuração, de ter boas fontes etc. No caso em questão, novamente, parabéns ao @formu1auno.

Mais tarde textões aqui sobre essa história e a da Andretti, ontem. E tem live no Youtube às 19h.

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