Flavio Gomes terça-feira, 31 de maio de 2022 16:17 6 comentários
SÃO PAULO – A postagem é de um blog hospedado no “Sapo”, o maior portal de internet de Portugal. O link me foi enviado pelo Twitter por um leitor, Luis Oliveira. Nele, há uma outra remissão a pequeno texto do “Autosport” luso. “Morreu o Artur Ferreira”, começa a nota assinada por José Luis Abreu.
Morreu o Artur Ferreira.
Faltam informações básicas. De quê? Onde? Como? Quantos anos tinha o Artur?
Então me dou conta de que tais perguntas são desnecessárias e me envergonho, até.
Morreu o Artur Ferreira.
O resto não importa muito.
A notícia foi publicada em julho do ano passado. Como se vê, mesmo em dias como hoje as notícias não correm tão rápido assim. Artur era um bom amigo. Em algum momento, perdemos contato — ou por ele ter largado a F-1 e voltado a Moçambique, ou por eu ter deixado as corridas para trabalhar em TV, nunca saberei ao certo o que aconteceu primeiro. Na F-1 havia uma curiosidade nos tempos em que eu viajava. Todos começamos nessa lida quando não existiam celulares nem redes sociais. Raramente trocávamos telefones. Porque sabíamos que a cada 15 dias estaríamos juntos. Falo de todos, brasileiros e estrangeiros. Éramos, verdadeiramente, uma grande família fluente em vários idiomas que de duas em duas semanas se encontrava em algum ponto do planeta para fazer o que famílias fazem: contar as novidades, almoçar, jantar, beber. No meu livro “Ímola 1994” há um capítulo reservado à minha primeira cobertura internacional, na França em 1989. Num trecho, falo do Artur. Artur, não deve ter lido. Gostaria muito que alguém pudesse ler para ele. Está aí embaixo.
É gozado como a gente lembra de coisas aparentemente irrelevantes para o destino da humanidade quando abre as gavetas da memória. Nessa prova, cheguei à sala de imprensa como um completo desconhecido. Tinha feito, no autódromo, apenas dois GPs antes — ambos no Rio, em 1988 e no início daquela temporada. Não sabia como as coisas funcionavam, onde me sentar, como usar o telefone, como enviar uma matéria. Nada. Nada de nada. Pergunta daqui, pergunta dali, compreendi que poderia usar as máquinas de telex muito modernas, inclusive, mas teria de ser rápido. Boa parte dos jornalistas já usava computadores meio primitivos ou máquinas de escrever para enviar seus textos por fax. Mas telex ainda era bastante popular. Eram poucas máquinas, quatro, apenas, e muita gente precisava delas. Assim, sentei-me diante de uma delas e pedi para o cara me explicar como funcionava, porque o texto não era perfurado em fita de papel, como nas máquinas que tínhamos na Agência Folha, mas sim gravado num disquete daqueles flexíveis enormes, de oito polegadas – floppy disks, para os mais familiarizados com equipamentos de informática da época. “Escreve tudo, e quando acabar coloca esse disquete ali, aperta essa tecla aqui para gravar, tira o disquete, me entrega que eu envio”, explicou o rapaz responsável pelo atendimento ao pessoal de imprensa.
Ao meu lado, em outra máquina, estava um jornalista português, Artur Ferreira, que eu achava que era brasileiro. Pensava que era o Milton Coelho da Graça, de “O Globo”, não sei bem por quê – ele tinha cara de Milton Coelho da Graça, sei lá. Artur não falava com sotaque de portuga. Na verdade, cidadão do mundo que vivia entre Portugal, Angola, Moçambique e Macau, além dos países por onde a Fórmula 1 passava, fotógrafo excepcional e repórter de texto também, sabia se expressar em “brasileiro” sem sotaque algum. Sujeito grande, alto, de longos cabelos brancos, uma figura.
Não nos conhecíamos, mas percebi que era “brasileiro” ao ouvi-lo conversando com alguém. Fiquei na minha, escrevi minhas matérias, e lá pelas tantas o Artur pediu o auxílio de alguém porque não conseguia gravar (“salvar”, meninos) seus textos no telex, e o bonitão aqui, querendo dar uma de gentil e prestativo, se ofereceu para ajudar. Afinal, tinha acabado de aprender: escreve, coloca o disco, grava. E fui direto no botão indicado para gravar, e o Artur se apavorou e gritou “não, já fiz isso, não, vai…”, e foi. Vai foder tudo, era o que ele iria dizer, deu algum pau naquela merda e eu, em vez de gravar o texto, apaguei a porra toda. Todo o material que ele estava mandando para algum jornal de Luanda ou Maputo, sei lá, só sei que não era pouca coisa, os textos eram gigantescos, desapareceu. Da tela, do disquete, do mundo.
Artur deveria ter quebrado meu pescoço ali mesmo, me pouparia de muitos dissabores futuros, inclusive, mas não o fez. Suspirou, olhou para a telinha do telex (era mesmo muito moderna, aquela máquina de telex, poucas coisas haviam me impressionado mais na vida até então do que aquele telex com tela que permitia voltar o cursor e corrigir uma palavra, ou frase) e furiosamente começou a escrever tudo de novo. Não me disse uma palavra. Eu fiquei mais ou menos uns cinco anos pedindo desculpas a ele. Grande cara, o Artur.
Flavio Gomes terça-feira, 31 de maio de 2022 12:45 13 comentários
SÃO PAULO(fez bem) – Sergio Pérez assinou com a Red Bull por mais dois anos. Fica onde está até o final de 2024. O anúncio foi feito hoje e não se pode negar que a equipe escolheu um momento bem apropriado. Claro que a decisão não foi tomada por causa da vitória em Mônaco — essas coisas são conversadas bem antes. Checo até brincou que talvez tenha assinado cedo demais em breve diálogo com Christian Horner flagrado pelas câmeras domingo. Se esperasse o resultado da corrida, talvez conseguisse um pouco mais de vale-transporte ou um plano de saúde melhorzinho.
As grandes equipes têm procurado alguma estabilidade, ultimamente. Faz parte do negócio, hoje em dia. A Mercedes está há séculos com Hamilton e manteve Bottas ao seu lado por cinco anos. Na Ferrari, Leclerc tem contrato o fim dos tempos e Sainz acabou de renovar por mais duas temporadas, também. Até a Red Bull, famosa por trocar pilotos em meio de temporada, se rendeu às evidências. Assumiu o pragmatismo. Verstappen tem contrato longo e a dupla se entende bem. É com os dois que o time conta para estabelecer, quem sabe, algum tipo de hegemonia na categoria — como nos tempos de Vettel e Webber. Para o mexicano, é uma grande reviravolta na vida. No final de 2020, ele estava desempregado.
Com a assinatura, Pierre Gasly vê sepultadas suas chances de defender o time-mãe. Seu contrato com a AlphaTauri — portanto, com a Red Bull — termina no final do ano. O francês nunca escondeu seu desejo de voltar à equipe pela qual disputou 12 GPs em 2019, sendo rebaixado para a Toro Rosso antes do fim da temporada.
Caiu em depressão, deu a volta por cima, ganhou até corrida, mas nunca mais foi considerado seriamente pela cúpula do time austríaco. Seu futuro é uma das interrogações da F-1 atual. O mais provável, porém, é que fique onde está. Até por falta de opções. No ano que vem, a única vaga razoável que pode surgir é a da McLaren, isso se Ricciardo for dispensado. Ainda assim, a equipe papaia tem outros nomes em mente, como Colton Herta e Pato O’Ward.
Flavio Gomes segunda-feira, 30 de maio de 2022 21:13 16 comentários
A IMAGEM DA CORRIDA
SÃO PAULO (só confusão) – As trapalhadas da Ferrari, que perdeu uma corrida teoricamente fácil, não podem ofuscar o brilho de Sergio Pérez em Mônaco. O mexicano mereceu a vitória por sua tenacidade e por ter conseguido, na pista, pulverizar a diferença que tinha para o líder Leclerc graças à antecipação de seu primeiro pit stop, para colocar pneus intermediários.
As paradas de Checo aconteceram nas voltas 16 e 22 — a segunda, para colocar pneus slicks. Charlinho parou na 18ª e na 21ª e fez a mesma coisa: intermediários e slicks. O tempo gasto pelo piloto da Red Bull nas duas paradas foi de 48s495. O monegasco perdeu 53s744. O atraso se deu no segundo pit stop por causa da confusão da equipe, que o chamou para os boxes com Sainz entrando na mesma hora. Quando desistiu e mandou o piloto ficar na pista, era tarde. Ele já tinha entrado. Mas não foram só esses quase cinco segundos que catapultaram Pérez à liderança. Suas primeiras voltas com intermediários foram fantásticas. Ali ele ganhou a corrida.
Depois, se manteve na frente sem cometer erros, o que é difícil em Mônaco, mais ainda numa condição de pista traiçoeira. E ganhou, uma semana depois de ser impedido de pelo menos tentar em Barcelona porque seu time priorizou Max Verstappen.
Assim, fiquemos com sua emoção aí em cima, junto do carro e da bandeira do México. E com as lágrimas e os sorrisos no pódio, que sempre se misturam nessas horas.
Vale a pena dar uma olhada no gráfico abaixo, da Pirelli, mostrando a dinâmica das paradas que acabou determinando o resultado final do GP de Mônaco. Ele traz uma curiosidade adicional: Tsunoda usou simplesmente todos os tipos de pneus disponíveis para a prova de Monte Carlo. Largou com os azuis, para chuva forte, trocou para os intermediários na sexta volta, colocou os slicks duros na 21ª, foi para os médios na 29ª (quando Mick Schumacher bateu) e ainda espetou os macios na 56ª. Não adiantou muita coisa, mas de tédio ele não pode se queixar.
No outro extremo, Valtteri Bottas usou apenas dois jogos de pneus: um para pista muita molhada e outro de slicks duros. Não trocou nem quando foi dada bandeira vermelha por causa do acidente com o piloto da Haas. Funcionou. Largou em 12º, chegou em nono. E marcou dois pontinhos valiosos.
Embora tenha colocado macios no fim, não foi de Tsunoda a melhor volta da corrida. Ela ficou com Lando Norris, da McLaren, 1min14s693, na 55ª das 64 percorridas até a bandeira quadriculada. A distância original de 78 voltas foi encurtada por causa do limite de tempo estabelecido para um evento, que agora é de três horas contadas a partir do horário previsto para a largada.
Ontem, o início do GP foi adiado duas vezes por causa da chuva, totalizando 16 minutos de atraso, e depois interrompido quando os carros já estavam atrás do safety-car prontos para uma largada em movimento. A chuva apertou e a prova só começaria 1h05 depois do horário original.
MÔNACO BY MASILI
E não foi só a chuva que molhou o rico asfalto monegasco, como notou nosso cartunista oficial Marcelo Masili. As lágrimas de Leclerc ajudaram…
Ah, Leclerc… Quanta infelicidade, rapaz! Mas, pelo menos, conseguiu terminar uma prova em casa, pequeno tabu pessoal que já vinha incomodando o piloto. Não serviu de consolo, porém. Era uma daquelas corridas para ganhar, ainda mais na chuva, sem spray na cara, podendo ditar o ritmo que quisesse sem ser ameaçado.
Leclerc, quarto colocado: ruim para quem largou na pole
Só que a Ferrari se atrapalhou. Claro que analisar os erros do time depois que tudo aconteceu é fácil. Devia ter feito isso, devia ter feito aquilo. Mas não fez. Na F-1, na maioria das vezes, é possível estabelecer estratégias e antever certas situações — como chamar um piloto para box na hora certa, simular tempos de volta em função do desgaste dos pneus e da redução do peso do carro na medida em que vai baixando o tanque, calcular onde e quando devolver um piloto à pista depois de um pit stop…
Mas quando chove, e quando a corrida é disputada numa pista como Mônaco, nem sempre a lógica aplicada no seco num circuito convencional funciona. É um retardatário que surge não se sabe de onde, é o tráfego que derruba os tempos de volta, é o piloto de outra equipe que bate e causa uma bandeira amarela, é o outro time que arrisca um movimento ousado e acaba dando certo.
Ontem, deu certo para Pérez. E não deu para os demais. Nem para Sainz, que mesmo com uma parada a menos — porque insistiu que iria dos pneus de chuva forte direto para os slicks — e tendo andado à frente do mexicano na primeira parte da corrida acabou chegando atrás dele.
Sainz persegue Pérez no final: tudo certo para o mexicano
O NÚMERO DE MONTE CARLO
7
…provas nos pontos tem George Russell, o único que terminou todas as corridas do ano na zona de pontuação. Mais impressionante ainda: todas elas entre os cinco primeiros colocados, com um carro reconhecidamente problemático como é o W13 da Mercedes. Em Mônaco, foi quinto. Com 84 pontos, é o quarto colocado no Mundial. Hamilton tem 50.
Russell: tirando leite de pedra da Mercedes
No Mundial de Construtores, a Red Bull ampliou sua vantagem sobre a Ferrari com o pódio duplo de Pérez e Verstappen. O time austríaco agora tem 235 pontos, contra 199 dos italianos. A Mercedes, aos trancos e barrancos, vai somando seus pontinhos. Já são 134. Longe dos vice-líderes, mas sem ser ameaçada por quem vem a seguir: McLaren (59), Alfa Romeo (41) e Alpine (40).
Como se sabe, ontem depois da corrida a Ferrari protestou o resultado acusando Verstappen e Pérez de terem cortado a linha de saída dos boxes após seus pit stops. Os comissários rejeitaram o protesto e explicaram. Até o ano passado, se um piloto “queimasse” a linha com qualquer parte do carro seria punido. Neste ano, o regulamento diz que é preciso ultrapassar a linha inteiramente com pelo menos um pneu para que ela seja considerada “cortada”.
Max e Checo passaram com seus pneus por cima da linha, é verdade, mas não inteiramente. O mal-entendido aconteceu porque a FIA, nos seus tradicionais lembretes distribuídos às equipes antes das corridas, deu um copy-paste no artigo sobre a saída de box usando o texto de 2021. A Ferrari se baseou nisso para reclamar. Mas lembrete é uma coisa. Outra é o regulamento em vigor, que segundo os comissários deve ser de conhecimento de todos e, obviamente, se impõe sobre os recadinhos emitidos apenas como forma de chamar atenção para algumas particularidades de cada circuito.
Tudo esclarecido, Mattia Binotto engoliu o choro e foi lamber suas feridas.
Verstappen sai dos boxes: tudo nas regras
A FRASE DE MÔNACO
“Aqui tudo é lindo, um espetáculo, um evento maravilhoso. Mas seria bom se a corrida também fosse do mesmo nível.”
Toto Wolff, chefe da Mercedes
Como acontece todos os anos, as dificuldades de ultrapassagem nas ruas estreitas de Monte Carlo foram alvo de críticas de muita gente, dando munição àqueles que defendem a exclusão do GP de Mônaco do Mundial. O contrato com a Liberty termina neste ano e está em processo de renovação.
As conversas não têm sido fáceis. O Principado não paga taxa nenhuma aos donos da F-1 — alguns países desembolsam até US$ 20 milhões só pelo direito de fazer um GP –, as placas de publicidade na pista são comercializadas pelo Automóvel Clube de Mônaco e até a geração das imagens de TV é feita localmente. Alguns termos terão de ser negociados. Mas, por enquanto, nenhuma das partes realmente envolvidas falou em tirar a corrida do calendário.
GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS
GOSTAMOS de ver Fernando Alonso em sétimo, seu melhor resultado no ano. Ainda que tenha puxado um longo trenzinho da relargada até o final, não fez nada de ilegal e exerceu seu direito de lutar por pontos. Disse que foi fácil segurar Hamilton, que o perseguiu até o fim. O inglês não reclamou. “Em Mônaco é assim mesmo”, conformou-se.
NÃO GOSTAMOS de ver Mick Schumacher bater de novo. Ele vem abusando do direito de arrebentar os carros da Haas. Esse de ontem deu perda total. Em tempos de teto de gastos, prejudica todo o planejamento da equipe. O alemão já está saindo caro para o time.
Flavio Gomes segunda-feira, 30 de maio de 2022 19:39 2 comentários
SÃO PAULO(sempre aparece) – O Andres Nicola me mandou a mensagem abaixo e as fotos. Agradeci a atenção e o carinho e disse a ele que esse foi um dos primeiros postos a aparecer na nossa seção “Enche o tanque”. Mas lembrei que: 1) muita gente não viu na época, e por “na época” podemos entender coisa de mais de dez anos, já que este blog nasceu em 2005; e 2) embora todas as postagens ainda estejam no ar, milhares de fotos desapareceram do blog nas diversas migrações de servidores e plataformas ao longo dos anos.
Sendo assim, repeteco do posto! Fiquem com o simpático e-mail do Nicola e as fotos maravilhosas! Para vê-las em tamanho gigantesco, só clicar em cima de cada uma.
Buenas tardes Flavinho, tranquilo? Sigo seu blog há trocentos anos, não costumo interagir, até porque nunca achei que tivesse algum conteúdo relevante para compartilhar. Isso até ontem, quando durante um passeio de bike com minha turma, na região de Rancho Queimado (SC), mais precisamente no distrito de Taquaras, nos deparamos com esta beleza de posto Texaco, que ainda funciona normalmente (lindamente fechado aos domingos e feriados). No que o grupo encosta em frente ao posto, uma senhorinha começa a conversar conosco, explica que aquela estrada já havia sido importante rota entre Florianópolis e Lages até a construção da BR 282, e então nos aponta um prédio ao lado do posto e avisa que ele, um hotel e restaurante desativado, será restaurado pela família e em breve voltará seu atendimento pois é cada vez maior o número de visitantes na região, belíssima por sinal e que certamente vale uma visita. Um grande abraço!
Flavio Gomes domingo, 29 de maio de 2022 21:35 17 comentários
O leite de Indianápolis foi para o improvável Marcus Ericsson, da Ganassi. Foi o segundo sueco a vencer as 500 Milhas, 23 anos depois de Kenny Brack — ganhador em 1999 pela A.J. Foyt.
Flavio Gomes domingo, 29 de maio de 2022 21:32 7 comentários
Drugovich vence em Mônaco. Sexto brasileiro, em várias categorias, a ganhar uma corrida no Principado. Os outros foram Ayrton Senna (seis vezes na F-1, em 1987 e de 1989 a 1993), Bruno Junqueira (2000, na F-3000), Jaime Melo Jr. (2003, na F-Renault), Bruno Senna (2008, na GP2) e Cacá Bueno (2019, de Jaguar elétrico). Drugovich lidera a F-2 com 113 pontos contra 81 de Théo Pourchaire. Foi sua quarta vitória no ano.
Flavio Gomes domingo, 29 de maio de 2022 13:19 49 comentários
Pérez vence em Mônaco: primeiro latino-americano desde Montoya, em 2003
SÃO PAULO(sem fim) – Sergio Pérez venceu o tumultuado GP de Mônaco de hoje na charmosa & chuvosa Riviera Francesa. Carlos Sainz e Max Verstappen fecharam o pódio mais de três horas depois do horário previsto para o início da corrida. Foi a terceira vitória da carreira do mexicano e a quinta da Red Bull nesta temporada, em sete provas. Max segue na liderança do campeonato, agora com 125 pontos. Charles Leclerc, que largou na pole e terminou em quarto com uma tromba do tamanho do mundo por conta das trapalhadas estratégicas da Ferrari, continua em segundo com 116. Checo chegou perto: em terceiro, tem 110.
A possibilidade de chuva esteve presente em Monte Carlo desde o fim da manhã, quando nuvens pesadas se acercaram das montanhas em torno de Principado. E dez minutos antes do horário previsto para a largada veio a primeira pancada, nem muito forte nem muito fraca. Rápida, tipo uma ducha no asfalto e nada mais. Foi aquele corre-corre típico de momentos já vividos no passado, a água que chega na hora em que uma corrida vai começar. “Eu amo isso, mas não tenho a menor ideia do que vamos fazer”, disse rindo o chefe da Mercedes, Toto Wolff, ao repórter Felipe Kieling, da TV Bandeirantes.
Momentos da chuva no Principado: atrasos e bandeira vermelha por causa da água
A direção de prova, de cara, atrasou o procedimento de largada em nove minutos e determinou que a volta de apresentação seria percorrida atrás do safety-car. A chuva parou por alguns instantes, mas o céu muito escuro logo mandou seu recado. Às 10h05, pelo horário de Brasília, as torneiras foram abertas e a água veio com gosto. A largada foi atrasada mais um pouco, para as 10h16 – pelo fuso, 15h16 em Monte Carlo.
Por motivos de segurança, a direção de prova decidiu que todos deveriam largar com pneus para chuva forte. Nada de intermediários. As estratégias pensadas para o seco foram todas, literalmente, água abaixo. A Ferrari, com dois carros na primeira fila, foi quem mais odiou a chuva. Sem água, em Monte Carlo, a chance de vitória para Leclerc largando da pole era enorme. A maioria do grid adorou.
O vencedor Pérez já com intermediários: no início, não daria
Mas, de novo, foi uma pancada rápida – embora suficiente para encharcar os poucos mais de 3 km da pista. Uma deliciosa expectativa de caos percorria o Principado.
Precisamente às 10h16 o Mercedão vermelho escalado como safety-car saiu à frente do pelotão. A pista estava muito escorregadia. Muito mesmo. A chuva voltou a apertar e o carro de segurança seguiu puxando o grid para uma segunda volta de apresentação. E antes de abrir a terceira, a direção de prova mostrou a bandeira vermelha e abortou o procedimento. “Tá chovendo loucamente”, tinha dito pouco antes, pelo rádio, Leclerc. E caiu o mundo.
Pelos padrões atuais de segurança da F-1, não havia mesmo condições de largar. Alguns anos atrás, o único critério para cancelar uma corrida por causa de chuva seria uma aparição da arca de Noé — e isso se ela estivesse quase naufragando em meio a ondas nazarenas. “Perigoso” não fazia parte do dicionário da categoria. Para quem assistia, era divertido. Para quem sentava a bunda num cockpit, um horror.
A chuva ia e voltava, apertava e aliviava, e quase uma hora depois do horário previsto para o início da corrida nada acontecia. A direção de prova esperava, apenas. Foi inevitável lembrar de Spa no ano passado – onde depois de seguidos adiamentos por causa da água na pista o diretor Michael Masi autorizou duas voltas atrás do safety-car e deu a corrida como realizada e encerrada.
Russell no piso molhado: asfalto muito escorregadio
Às 10h55, partiu um sinal de vida da torre de controle: uma mensagem nos computadores e uma placa desfilando pelo grid avisaram que dali a dez minutos o procedimento de largada seria retomado. Naquele momento, não chovia. Os pneus permaneceram os mesmos, para pista muito molhada. Às 11h05, mais uma vez atrás do safety-car, foram todos para as ruas lavadas de Monte Carlo.
O número original de voltas, 78, caiu para 77 por conta da volta de apresentação extra pouco menos de uma hora antes. A largada seria dada com os carros em movimento assim que a direção de prova considerasse que havia condições para tal. Antes disso, na Loews, Latifi bateu de leve no guard-rail. Stroll lambeu a proteção de metal e furou um pneu. A corrida ainda nem tinha começado.
Ao final da segunda volta puxando o pelotão, o safety-car recolheu para os boxes e a prova, finalmente, pôde ser iniciada. Schumacher, Latifi, Gasly e Stroll foram para os boxes e colocaram pneus intermediários. As primeiras voltas eram completadas acima de 1min40s – a pole de Leclerc, no seco, veio na casa de 1min11s.
Na sétima volta, Vettel e Tsunoda fizeram o mesmo que seus companheiros e também colocaram pneus intermediários. As demais equipes colaram o olho na cronometragem. Se seus tempos de volta começassem a cair rapidamente, era a senha para todo mundo fazer o mesmo. Já não havia mais spray na maior parte da pista e um trilho mais seco se formava.
Leclerc lidera no início: na chuva, tudo bem para a Ferrari
De início, ninguém se empolgou muito com os intermediários usados pela meia-dúzia lá do fundão. A corrida não passava de um desfile de carros de F-1 em baixa velocidade. Mas na volta 12, Gasly conseguiu ultrapassar a Alfa de Zhou. Opa, vamos ver melhor esses pneus aí, pensaram engenheiros e estrategistas espalhados pelo pitwall. Na seguinte, Pierre deixou Ricciardo para trás e assumiu o 12º lugar. O asfalto já estava bom para os “inter”. A ponto de Sainz, pelo rádio, ousar: “Quando a gente parar, vamos direto para os slicks”.
Gasly passou a virar na casa de 1min31s. Definitivamente, os pneus de faixas azuis, para piso muito molhado, não serviam mais. Hamilton parou na volta 16 e colocou intermediários. Estava em oitavo, caiu para nono. A Red Bull chamou Pérez, que estava em terceiro atrás da dupla da Ferrari. “Inter”, também. Voltou em quarto, numa boa posição para atacar quando os carros vermelhos parassem.
Sainz foi chamado, mas a equipe mudou de ideia e abortou a parada. Convocou Leclerc para parar antes, que não arriscou os slicks e colocou intermediários. Voltou atrás de Pérez, depois de uma parada ruim. Checo começou a virar na casa de 1min25s. Na 21ª volta, cinco pilotos chutaram o balde e arriscaram os pneus slicks duros: Ricciardo, Zhou, Albon, Schumacher e Latifi, os últimos cinco colocados. Enquanto isso, o povo se divertia com Hamilton brigando com Ocon pela oitava posição.
Então, os ponteiros se renderam às evidências. Sainz parou na volta 22 e colocou pneus slicks duros direto, sem passar pelos intermediários, como tinha sugerido algumas voltas antes. A Ferrari se atrapalhou e chamou Leclerc junto. Quando ele entrava no box, alguém berrou pelo rádio: “Não entra agora, fica!”. Mas ele já tinha entrado. O monegasco xingou muito, porque o ideal seria ficar mais uma volta na pista com intermediários para tentar recuperar a posição do colega — já tinha levado um “undercut” de Pérez na primeira parada.
Charles acabou perdendo muito tempo. Uma volta depois, Pérez e Verstappen pararam juntos e colocaram pneus para pista seca. O mexicano voltou na liderança, seguido por Sainz, Max e Charlinho – este, o que mais se deu mal, caindo da liderança no molhado para a quarta posição no seco. Nesgas de sol se insinuavam aqui e ali. A pista secava rapidamente, mas ainda era traiçoeira – fora do trilho, seguia molhada e escorregadia. Na volta 26, não havia mais nenhum pneu de chuva na pista.
Slicks para Sainz: ousadia & alegria
Na volta 27, porém, por alguns instantes ninguém mais pensou em pneus. A tensão se espalhou pelo circuito porque Mick Schumacher deu uma pancada fortíssima nos “esses” da piscina, partindo seu carro em dois. O alemão da Haas, felizmente, saiu andando sem maiores problemas. Alívio geral. O safety-car foi acionado para a retirada dos destroços e recuperação do “soft-wall”, o muro de proteção que absorve impactos com grande eficiência.
Depois de três voltas, a direção de prova decidiu parar tudo para que o pessoal de pista pudesse arrumar o muro direito. A bandeira vermelha foi agitada e todos os pilotos recolheram para os boxes. Leclerc saiu de seu carro cuspindo marimbondos. No molhado, era líder. No seco, caíra para quarto. Não tinha muito o que fazer. Era respirar fundo e tentar dar a volta por cima.
O carro de Mick ficou destruído……com motor e câmbio separados……assustando todos em MônacoApesar da violência, Mick nada sofreu……e o muro teve de ser reparado
A corrida foi reiniciada cerca de meia hora depois, às 12h15, atrás do safety-car. Pérez, Sainz, Verstappen, Leclerc, Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Ocon e Bottas eram os dez primeiros na volta 31. Alguns pilotos optaram pelos pneus duros – como os da Ferrari. Outros, pelos médios – foi a escolha da Red Bull. Pelo regulamento, a prova teria mais 41 minutos, sem atingir o número original de voltas.
A relargada aconteceu na volta 33 sem maiores problemas. Com o asfalto quase totalmente seco, os tempos caíam rapidamente para abaixo de 1min20s por volta. Virou uma procissão de novo. Ninguém arriscava nada, apesar das condições distintas de pneus. Nem a possibilidade de usar asa móvel ajudava muito – em Mônaco, o dispositivo é de pouca serventia.
Quadriculada para Pérez: primeira vitória no ano
Faltando dez minutos para o fim da corrida, o ritmo de Pérez caiu bastante porque seus pneus começaram a abrir o bico. Sainz colou no mexicano e trouxe com ele Verstappen e Leclerc. Os quatro ficaram empilhados ameaçando os adversários – como naquelas brigas de escola em que os moleques ficam ensaiando dar uma muqueta na fuça do outro, mas ninguém bate. Pérez precisava, basicamente, de sangue frio para se manter em primeiro. Teve.
Assim, Checo ganhou pela primeira vez no ano. Sainz e Verstappen fecharam o pódio, seguidos por Leclerc, Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Bottas e Vettel (Ocon recebeu a quadriculada em nono, mas foi punido por um toque em Hamilton e perdeu 5s, caindo para 12º). As posições na pista eram exatamente iguais às da volta 31, quando a prova foi interrompida pelo acidente de Schumaquinho. Não adianta. Em Mônaco, é assim e pronto. Ninguém passa ninguém.
No total, a corrida teve 64 voltas e foi encerrada no limite de tempo.
Se Pérez tivesse conquistado a auto-reivindicada vitória de Barcelona, semana passada, estaria apenas um ponto atrás de Verstappen no campeonato. “Ele está na briga pelo título tanto quanto Max”, garantiu o chefe Christian Horner. Ninguém acreditou, mas não se pode tirar o direito do piloto de sonhar. A próxima etapa acontece no Azerbaijão daqui a duas semanas, onde ele venceu no ano passado — vitória que caiu no seu colo quando o pneu de Verstappen furou um pneu no fim e Hamilton cometeu um erro besta na relargada.
Entre os derrotados, Leclerc era o mais frustrado do dia na comunidade monegasca. Pela primeira vez terminou uma corrida em casa, mas não ficou nada satisfeito. “A temporada é longa, mas a gente não pode mais errar desse jeito”, disse pelo rádio à Ferrari assim que recebeu a bandeirada. Mattia Binotto, o chefe, assumiu a responsabilidade pelos erros estratégicos que, segundo ele, custaram uma vitória ao time que poderia ter sido de Leclerc ou mesmo de Sainz.
Imagens de alegria e frustração: domingo bom para Pérez, ruim para Leclerc
No pódio, Pérez festejou muito e, depois chorou. Algumas horas depois, soube que a Ferrari entrara com um protesto contra ele e Verstappen alegando que ambos cruzaram irregularmente a linha de saída dos boxes nos pit stops e não foram punidos. Somente às 16h30 daqui, 21h30 pelo horário local, mais de quatro horas depois do fim da corrida, os comissários informaram que o protesto havia sido rejeitado porque Max não colocou a roda inteira além da linha e Pérez, segundo sua análise, nem beliscou a dita-cuja.
A vitória, enfim, estava confirmada. E o mexicano pôde dormir em paz.
Jornalista, dublê de piloto, escritor e professor de Jornalismo. Por atuar em jornais, revistas, rádio, TV e internet, se encaixa no perfil do que se convencionou chamar de multimídia. “Um multimídia de araque”, diz ele. “Porque no fundo eu faço a mesma coisa em todo lugar: falo e escrevo.”
Passado o primeiro turno das eleições municipais, percebemos que o esgoto do fascismo continua aberto e tomou conta do país. Em São Paulo, nos livramos por pouco de um arrivista cujo único objeti...
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A HORA DA MOLECADA (BEM, MERDINHAS #180)
Se quando começou a temporada a renovação do grid da F-1 foi nula, para 2025 os defensores da molecada não têm do que reclamar. Pelo menos quatro estreantes (ou quase isso) estão confirmados no ...